Introdução
Simular uma vida pacata distante da cidade e seus problemas ganhou força na indústria nos últimos anos, basta a ver a quantidade de jogos do gênero que saíram. Infelizmente, Monster Harvest é apenas mais um deles.
Apesar de ter uma ideia com potencial, a equipe da Maple Powered Games não conseguiu executar da melhor forma. Afinal, unir dois estilos de jogos bem aceitos pelo público é uma faca de dois gumes. Para nosso azar, essa junção de simulador de fazenda com batalha de monstros em turno não deu certo.
Lançado e publicado pela Merge games no dia 31 de agosto de 2021 para Nintendo Switch, Playstation 4, Xbox One e PC, Monster Harvest toma como inspiração sucessos como Pokémon e Stardew Valley para tentar fazer algo único.
Um pouco de contexto
Não foi difícil eu me apaixonar pelo game quando vi seu trailer, afinal, eu sou fã do jogo de criaturas da Nintendo e amo jogos de simulador de fazenda, ou seja, enxerguei em Monster Harvest a combinação perfeita. Entretanto, minha animação não durou muito tempo quando eu comecei a jogar. Para mim, vários aspectos do jogo poderiam ser de outro jeito para facilitar o jogador em diversos pontos.
O primeiro deles é na história. Assim como em vários jogos desse gênero, nós herdamos a terra de um parente e devemos cuidar dela. Desse modo, já não consegui me conectar com a obra logo no início, pois é apenas mais um enredo comum. Além disso, mesmo o jogo mostrando que existem conflitos locais, a história não se desenvolve rápido e logo perde o interesse, assim sobra apenas a jogabilidade.
Isso me faz ter que apresentar onde estamos. Essa terra que herdamos está situada em uma vila do interior que evoluiu recentemente devido a uma descoberta recente. Existe aqui uma substância (tipo uma slime) que afeta as plantas e as transforma em animais, originando assim os planimais!
Já que existe um recurso não explorado e novo, é óbvio que os humanos não podem deixar assim. Por isso, a SlimeCo se instala no vilarejo e começa suas pesquisas nessas substâncias. Apesar de ficar evidente no início que eles são malignos, certo dia nós recebemos a visita de um deles que nos ameaça de forma bem… aleatória. Isso me distanciou ainda mais da história da obra, pois já mostrou um “inimigo” bem desinteressante.

A Fazenda
Como vimos, a história passa longe de ser o foco de Monster Harvest, então vamos direto ao que interessa, a jogabilidade e suas mecânicas.
Primeiramente vamos falar da parte de simulação da fazenda. É de longe o conteúdo mais legal e completo da obra. Apesar de ser bem simples mesmo com a mecânica nova que o jogo implementa, o cultivo das plantas e animais é legal e funciona bem. Temos três estações que duram um mês cada (o que achei pouco, mas tudo bem) e em cada estação temos algumas opções de sementes para plantar que são únicas do período.
Quando as sementes crescem e ficam prontas para a colheita, nós podemos escolher o que fazer com elas. A parte mais óbvia é colher e vender, para conseguir dinheiro e progredir no jogo. Porém, a aposta de Monster Harvest é nesse momento, pois podemos fazer essas plantas virarem monstros de luta, gado ou crescer imediatamente. Para isso, basta adicionar uma das três opções de slime que temos.
Ao mesmo tempo, existem versões mais potentes dessas slimes que fazem o monstro nascer mais forte, virar uma montaria ou dar mais frutos do que o normal. Então, existe bastante opção do que fazer e de como crescer sua própria fazenda.
A maneira de vender itens continua sendo a mesma de sempre: coloca os itens no quadro de vendas e, no dia seguinte, você recebe o dinheiro.
Nem tudo são flores
Apesar de ser a melhor parte do jogo, ela não está livre dos problemas.
O maior deles é a falta de variedade no que fazer com o que produzimos na fazenda. Liberamos algumas máquinas que processam esses insumos e podemos vender por mais dinheiro ou recuperar mais energia. O problema é que são apenas três máquinas, duas processam a colheita e a outra processa o que tiramos do gado. É bem simples e com pouca variedade.

O Combate e a Masmorra
Como segundo elemento mais importante do jogo, temos as batalhas. Com os monstros que cultivamos na fazenda, nós devemos ir à masmorra ao norte da cidade para desvendar os planos da SlimeCo. Não só por esse motivo, até porque lá nós encontramos minérios e conseguimos mais sementes para plantar.
Não há segredos aqui, é só pegar nossos monstrinhos e, durante a noite, ir até lá. A masmorra é gerada de forma aleatória e dividida em salas, onde cada uma tem um monstro inimigo (algumas não tem) e algumas pedras, toras, ferro, ouro e minério coloridos que servem para criar nossas slimes. Nosso objetivo aqui é derrotar esses inimigos para upar os nossos parceiros e ficarmos mais fortes para avançar, além de juntar alguns recursos úteis.
Os problemas
Começando pela luta em si, ela é bem simples, mesmo. Usando Pokémon como inspiração, nós batalhamos sempre um contra um com 3 opções de ataques (que são liberadas por level). Ou seja, nos dois primeiros levels de nossos monstros a batalha nada mais é do que usar o mesmo golpe várias vezes seguidas até derrotar o inimigo. E torça para isso acontecer, pois, caso você perca, seu monstro morre e você o perde para sempre. Se isso acontecer, você ganha corações que servem para melhorar o solo da sua fazenda e fazer as próximas criaturas nascerem com leveis mais altos.
A câmera durante a luta também não ajuda. Ela segue um ciclo onde foca em quem está atacando, volta para o centro, foca no outro que ataca. Soma esse vai e vem da câmera com um balanço natural que ela tem e pronto, dor de cabeça! Eu precisei colocar meu jogo no modo janela para que não ficasse tonto depois de uma hora jogando.
Por fim, uma vez em combate, é luta até morte. Seja quem for, a batalha só termina quando algum dos monstros morrerem. Não existe opção para trocar por outro do seu grupo, nem para usar itens, nada. É cada um por si e Deus por todos. Isso faz com que pessoas como eu, que criam laços com seus monstrinhos desde o começo não o façam com tanta facilidade. Afinal, você pode andar errado, ou ficar desatento por 1 segundo e perder o seu bichinho para sempre.

Arte e Trilha Sonora
Para ser sincero, até agora eu não sei o que senti exatamente com o gráfico do jogo. Sinto que alguns elementos são bem feitos, como, por exemplo, a vegetação, e outro nem tanto, como o personagem principal. Além disso, a direção dos elementos no cenário me incomodou, visto que a nossa casa está com profundidade e a máquina que fica ao lado dela, não. Esses detalhes me chamam a atenção para o lado negativo.
Já para o lado positivo, a vegetação e, com ela, os monstros. Mesmo não entendendo muito bem a inspiração das criaturas, elas são simpáticas e carismáticas. Isso porque temos variedade em Monster Harvest. Enquanto temos um rato, também existe um olho, ou um dinossauro! Com exceção do olho, eu gostei do restante dos designs das criaturas.
Por outro lado, a trilha sonora deixa bastante a desejar. São poucas músicas que integram o jogo, sendo que elas se repetem muito durante a jornada. Sempre é a música da estação, a da exploração da masmorra, a da batalha e uma que rola durante a noite. Elas não possuem variação e sempre acontecem no mesmo ritmo e intensidade. Essa falta de variação e emoção da trilha aliada ao combate repetitivo e simples me deixou muitas vezes jogando no automático.

A progressão do jogo
Acima de tudo, um jogo precisa de motivação para fazer o jogador seguir e Monster Harvest não possui. Durante toda minha jogatina eu não tive nenhum objetivo a ser atingido, eu fui jogado no mundo para fazer o que bem entendesse. Porém, a obra não explica quase nada com profundidade, o que me deixou bastante perdido e com receio.
Por exemplo, as receitas para crafting. Para conseguir elas, precisamos subir o nível do nosso personagem. Nós também possuímos nível, que evoluímos conforme gastamos energia coletando recursos. Aqui nós encontramos dois problemas. O primeiro deles é a velocidade com que a stamina acaba e o segundo é que nós só liberamos uma receita de crafting após upar.
Ou seja, no início do jogo, quando não temos itens que regeneram stamina (e os que existem quase não fazem diferença) ou ferramentas melhoradas, nos resta ficar passando os dias gastando energia para tentar evoluir e conseguir novas receitas. O pior é que, quando conseguimos passar de nível, nós somos recompensados com a receita de um caminho de madeira, ou então da cerca de madeira. Isso definitivamente desanima o jogador, que se esforça e gasta seus dias para conseguir um item tão simples assim.
Uma maneira de corrigir isso seria colocar receitas de crafting nas masmorras, assim o jogador teria uma motivação maior para ir até lá todas as noites, reservaria sua energia para gastar lá dentro e ainda sairia com uma recompensa. Da maneira que o jogo funciona, você gasta sua energia para evoluir, não consegue muitos recursos da masmorra e acaba frustrado.

Observações finais
Sem dúvida, uma mecânica que marcou os jogos do gênero é o desenvolvimento da nossa relação com o pessoal da cidade. Infelizmente, esse é outro ponto em que Monster Harvest não consegue atingir muito bem. Os diálogos se repetem quase sempre e não há incentivo para entregar presentes aos moradores. A maioria das vezes que entreguei, foi sem querer, e eles respondem de maneira bem sem sal.
Existem alguns eventos que acontecem durante a estação e estes são indiferentes, também. Quando vi que chegou o dia de um evento, eu me animei e corri para lá, mas logo vi que não teria nada demais. Além de dialogos novos com os moradores com relação ao evento (mas nada demais), eu encontrei um NPC que vendia materiais de decoração para a casa (que não tinha nada a ver com o evento). Outro festival aconteceu e foi a mesma coisa, dialogos vazios sobre o tema e outro NPC vendendo os mesmos itens do evento anterior.
Para finalizar, toda sexta acontece uma disputa entre os moradores da vila com seus monstros. Aqui nós precisamos derrotar 3 NPC’s para conseguir toda a recompensa do baú que fica no fundo do lugar. Se quisermos derrotar apenas um e pegar o baú, também é possível. Não existe um refino ou cuidado com essa parte do jogo.
Conclusão
Monster Harvest tem uma ideia bem interessante e com potencial, mas peca na execução. Dá para comparar ele com Biomutant, já que almeja muitas coisas e acaba não fazendo nenhuma delas com o cuidado que precisam. Para mim, parece que o jogo ainda está em algum momento do seu estágio beta, com falta de conteúdo. Além de diversos bugs que encontrei na jogatina (inclusive um que impedia minhas sementes mais raras de crescerem), a minha vontade de seguir jogando diminuia a cada jornada, pela falta de incentivo principalmente. É difícil indicar esse jogo para alguém em seu estado atual, mesmo que a pessoa goste bastante desses dois gêneros que ele combina. Quem sabe, daqui um tempo e atualizações, Monster Harvest não nos supreende…
Jogo ruim demais, nossa. Tive a tristeza de jogá-lo e acabei ficando deprimido com tantos bugs. Perdi minha montaria várias vezes sem nem saber o motivo.