Introdução
Finalmente, depois de muitos anos de espera, a sequência do “clássico cult” Psychonauts chegou. Corrigindo as falhas do antecessor, e melhorando o que já era bom, Psychonauts 2 apresenta uma aventura que consegue misturar humor pastelão e arte cartunesca, com temáticas sérias sobre problemas mentais e dramas familiares, em uma história que diverte e emociona.
Este jogo foi desenvolvido pela Double Fine e publicado pela Xbox Game Studios, e lançado no dia 24 de agosto para Steam e Playstation e Xbox, sendo que está disponível também no Game Pass.
16 anos depois (ou alguns dias)
Apesar de se chamar Psychonauts 2, esta é uma continuação direta do jogo de VR Psychonauts In The Rhombus of Ruin, lançado em 2018, e este é a continuação direta do primeiro jogo. Portanto, se não quiser ficar perdido na história, recomendo jogá-los, ou ler algum resumo.
Curiosamente, apesar da grande diferença entre os lançamentos, tendo pulado duas gerações inteiras de consoles, a história desde segundo jogo se passa apenas alguns dias depois do final do primeiro. Isso é um fato bastante citado pelos personagens, que precisam se lembrar que sua batalha contra o Doutor Loboto e o sequestro de cérebros aconteceu muito recentemente, e não 16 anos atrás.
Enfim, aqui vemos nosso protagonista, Razputin Aquato, retornando de uma missão de resgate bem-sucedida, onde ele e os outros agentes invadiram o esconderijo secreto do Doutor Loboto para resgatar o líder dos Psychonauts. Assim, eles estão viajando para o Quartel General, onde reportarão as descobertas da missão para a vice-líder, a agente Forsythe.
Apesar da missão ser um sucesso, com o resgate do diretor e a captura do Doutor, eles também descobriram algo preocupante. Existe um espião dentro do QG dos Psychonauts. Ele faz parte de um grupo chamado “Diluvianos”, cujo objetivo é ressuscitar uma antiga paranormal muito poderosa conhecida como Malígula.
Mas estes são assuntos para os adultos. Raz agora vai entrar no programa de estagiário do QG, onde conhecerá outras crianças com poderes, e poderá treinar para se tornar um Psychonaut Júnior.

Melhor que antes
Eu não fui uma das pessoas que jogou o primeiro jogo na época do primeiro Xbox. Sempre ouvi falar muito bem sobre, mas sempre ficava na eterna lista de coisas a jogar. Porém, com a iminente chegada de uma continuação, me vi com a desculpa perfeita para jogar este clássico, e me surpreendi muito. O primeiro Psychonauts é um jogo com muito bom humor e uma criatividade tremenda para o design de fases e personagens. Se quiser, pode ler nosso review completo clicando aqui. Resumindo, adorei o jogo, o que me deixou empolgada pelo segundo.
E fico feliz de dizer que a continuação superou, e muito, o primeiro que já era um jogo fantástico. A criatividade continua incrível, mas a jogabilidade é o ponto que mais evoluiu.
Jogabilidade refinada
Psychonauts é um jogo de aventura com plataforma 3D, onde você pode vasculhar os cenários atrás de colecionáveis escondidos. Enquanto explora a mente das pessoas, também encontrará diversos inimigos, com um combate que envolve socos psíquicos, e poderes mentais.
O combate e os desafios de plataforma eram um problema no primeiro jogo. Os controles não eram muito precisos, o que dificultava os saltos, sendo que o personagem pulava sempre um pouco depois de apertar o botão. Já o combate, não tinha muita variação, dependendo apenas de dar socos e tiros psíquicos.
Porém, isso está no passado. Agora, a exploração e os desafios estão bem mais prazerosos de se resolver, já que os controles estão bem melhores. Foi-se o tempo de errar o salto por controle ruim, agora é tudo culpa sua!
Além disso, o combate também está bem melhor, com uma variação maior de inimigos, cada um com um jeito diferente de se derrotar. Agora, temos inimigos como o “Mau-Humor”, uma bola de energia negativa invulnerável a todos os seus ataques. Para derrotá-la, é preciso usar o poder da clarividência, que te faz enxergar o mundo pelos olhos dos outros, e procurar no cenário a fonte deste mau-humor, e acabar com esta fonte. Também temos inimigos como o “Ataque de Pânico”, muito ágil e agressivo, onde precisamos usar o poder de Desacelerar o Tempo para conseguir atingi-lo.

O sistema de evolução também “evoluiu”. Agora, conforme evolui e consegue rankings, você ganha pontos para melhorar seus poderes, liberando novas funcionalidades, ou deixando mais fortes nas batalhas. Além disso, também temos um sistema de broches, itens que você equipa e modificam o comportamento dos poderes. Estes, podem servir para combate, ou para interação no mundo, como o broche que permite fazer carinho nos animais usando a Telecinese.
Criatividade à solta
O que mais me prendeu sobre o primeiro jogo era a criatividade, tanto no design das fases, quanto no design dos personagens. O segundo, expande ainda mais esse conceito.
Boa parte do jogo se passa na mente das pessoas. Pois, este é o trabalho de um Psychonaut, entrar no inconsciente das pessoas, e investigar a causa de seus problemas. O especial dessa temática é que abre espaço para todo tipo de fase maluca. Como estamos dentro da mente, tudo é possível, e os criadores não deixaram a oportunidade escapar de criar cenários psicodélicos e cheios de coisas estranhas.
Em um momento, estamos dentro de um cassino, na mente de uma pessoa com problemas com apostas. Em outro, estamos navegando por um mar de bebidas, explorando a psique de um alcoólatra. Eventualmente, você estará explorando um mundo feito de cabelo, com pentes como plataforma, e piolhos impedindo seu caminho.

Entretanto, estes cenários não são estranhos e malucos sem um motivo. Algo que Psychonauts faz muito bem é conseguir dar forma aos medos e anseios das pessoas. Mesmo que num primeiro momento o cenário pareça apenas uma coleção de coisas sem sentido, conforme avançamos na fase e entendemos melhor a mente da pessoa, conseguimos ver o que aquilo tudo significa para ela.
Mais um ponto forte destes cenários é que nenhum deles é convencional. É comum os jogos de plataforma apresentarem uma “receita de bolo” em relação a suas fases. Precisamos ter uma fase no deserto, outra na neve, talvez um castelo com lava, e com certeza uma fase na água para passar raiva. Porém, aqui não encontramos nenhuma dessas temáticas clássicas, o que nos surpreende sempre que entramos em uma nova mente.
Muito Bom-Humor
Outro ponto forte dessa história é seu bom-humor. Toda a aventura tem uma aura tão animada e divertida, que é difícil passar muito tempo sem encontrar nada para rir.
Os diálogos estão cheios de piadas e trocadilhos, seja entre os personagens principais, ou com os NPCs passeando pelo quartel-general. Cada canto que você olha pode encontrar alguma coisa divertida. Mesmo andando pelo mapa atrás de colecionáveis, você irá encontrar algum lugar secreto com uma piadinha escondida.

Isso quando não temos alguma cena que existe explicitamente para te fazer gargalhar. Por exemplo, quando Raz encontra com a Sam, outra estagiária do programa, preparando panquecas em um restaurante abandonado. Ela tem o poder de conversar com os animais, e temos um bode, um pássaro e alguns esquilos a ajudando na receita. Porém, toda a situação é extremamente inusitada, e um tanto desconfortável, com os animais claramente aterrorizados com a menina, e ela se esquivando de responder sobre a origem dos ingredientes da panqueca. Como ela mesma diz: “De galinha ou de cobra, depois que o ovo tá na receita, não faz diferença”, e que “Não se deve levar datas de validade à sério”.
Completando este ar de diversão, temos uma trilha sonora que cria o clima perfeito de relaxamento e energia positiva. Quer estejamos dentro das mentes, quer explorando os arredores do quartel-general, as músicas criam a sensação de estarmos andando por um desenho animado, como Adventure Time. Em especial, posso citar a música tema do Circo dos Aquatos, com sua energia circense, e a música do próprio QG, que te deixa empolgado em conhecer mais deste mundo paranormal.
Equilíbrio Entre o Sério e o Pastelão
Apesar de todo o ar divertido que o jogo passa, ele não deixa de se levar a sério quando necessário. O jogo não se esquece que ele está lidando com a mente de pessoas com algum problema emocional ou mental. Então, por mais divertido que seja explorar estes mundos doidos, e por mais criativo que sejam as situações, há um tom mais sério por trás de tudo.
Depois de brincarmos pela mente da pessoal, caçando colecionáveis, resolvendo desafios de plataforma e enfrentando inimigos, a história sempre culmina em algum momento profundo. Em diversos momentos da exploração, o jogo para com a parte divertida para te explicar o que está se passando na mente dessa pessoa, e quais problemas trouxeram este mundo à tona.
Por exemplo, enquanto navegamos pelo oceano de bebida de uma pessoa alcoólatra, encontramos uma garrafa, onde lá dentro temos uma festa de casamento. Apesar de um momento feliz em sua vida, este é também um dos motivos que esta pessoa foi levada à depressão e a se afogar na bebida. Então, mesmo enquanto nos divertimos ao escalar um bolo de casamento gigante, também estamos descobrindo o quanto isso pesa no coração da pessoa.

Por isso, Psychonauts se destaca ao tratar com um certa leveza, assuntos bastante pesados e dolorosos para alguns. Apesar de arriscar tratar estes assuntos de forma leve demais, tratando desses problemas com um “basta derrotar o chefão”, o jogo deixa claro também que o trabalho de um Psychonauts é apenas o começo para a pessoa começar a se recuperar. Pois, dentro de sua mente, enfrentamos os seus medos e ajudamos o seu subconsciente a recuperar o controle. Porém, o caminho para a recuperação ainda não terminou, mas agora ela está melhor equipada para enfrentar seus problemas.
Conclusão
Eu até poderia dizer que Psychonauts 2 é a surpresa do ano para mim. Mas, considerando que eu já esperava grandes coisas de uma continuação de um dos melhores jogos de plataforma, ele apenas entregou o que eu já esperava.
Este é um jogo que transborda criatividade e diversão de todos os cantos. As mentes trazem cenários completamente diferentes do que você já encontrou em outros jogos, cada uma apresentando temáticas e mecânicas diferentes. Isso evita dele se tornar repetitivo, e dá aquela sensação de expectativa para ver que forma o jogo vai nos surpreender a seguir.
Com uma jogabilidade divertida, personagens carismáticos e memoráveis, cenários inesquecíveis, diálogos engraçados e emocionantes, Psychonauts é um dos melhores jogos de 2021, e entrará para a lista dos meus melhores jogos da vida.