Introdução
Já pensou em estar no lado dos demônios na guerra contra os caçadores de demônios? Diversas obras nos colocam no papel de caçador, mas Rogue Lords é diferente. Após uma guerra perdida, o Diabo decide recuar e reunir forças novamente para retomar seu espaço no mundo. Cabe a nós, controlar seus discípulos para alcançar esse objetivo.
Rogue Lords é um roguelike de RPG baseado em turnos com tema gótico. Sendo assim, utiliza recursos do gênero de uma forma bem inteligente e criativa. Além disso, a estética da obra é fiel ao que propõe e as lutas são o ápice da obra.
Antes de mais nada, o game saiu para várias plataformas, sendo elas Playstation 4, Xbox One, Nintendo Switch e PC no dia 30 de setembro. Produzido pela Leikir Studio junto da Cyanide Studio e distribuido pela Nacon.
Narrativas
Bem como um bom RPG, Rogue Lords traz um enredo principal recheado de pequenas narrativas que dão vida ao mundo. Não é apenas seguir e derrotar os inimigos em busca do objetivo principal. É provável que, caso tente fazer isso, o jogo te puna por não ler as histórias e tomar decisões erradas.
A história central do jogo é a derrota do Diabo na luta contra as forças do bem, portanto, se retirou para reagrupar forças. Agora, com os discípulos mais fortes, nós voltamos no papel do Diabo controlando esses capangas para lançar terror em todo mundo.
Porém, agora existe uma religião fanática que pune todos aqueles que seguem o Diabo. Isso torna nosso trabalho ainda mais difícil, já que eles estão em todos os lugares prontos para nos enfrentar e atrapalhar. Não apenas em batalhas, mas também em desafios sociais que o jogo propõe.
Com todo esse cenário de fundo, Rogue Lords cria diversas missões secundárias que brincam com o status quo do mundo. São diversos eventos diferentes, com diálogos próprios para cada personagem diferente que usamos. Todas as conversas e eventos desenvolvem o mundo muito bem e nos dá um panorama do que realmente está acontecendo.
Por outro lado, o jogo é dividido em atos que simbolizam a história principal. Eles são o que guiam o jogo, com mapas gerados de forma aleatória a cada tentativa de vencer os caçadores de demônios. Nós precisamos recuperar os artefatos para que a nossa força seja reestabelecida.

Como o jogo funciona
Bom, como eu disse antes, o jogo funciona através de atos. Cada um deles guarda um dos artefatos que precisamos recuperar. Então, toda vez que vamos iniciar um jogo, precisamos escolher um ato e nossos três heróis que irão para a batalha. Contudo, os atos são liberados conforme vencemos eles, por isso, é comum que joguemos um após o outro, mas não somos impedidos de voltar em algum que já concluímos.
Decidido em qual ato vamos e com quais personagens, o jogo de fato começa. O mapa é no estilo de jogos como Slay the Spire e Curse of the Dead Gods, onde temos os caminhos pré-definidos e cada mapa tem sua ligação com outros, o que faz necessário um planejamento de qual caminho é melhor para seguir conforme suas ideias. Eu gosto bastante desse estilo de mapeamento, traz uma dinâmica maior para o jogo.
Em seguida, temos o combate. Esse é baseado em turnos, com a ação do inimigo mostrada previamente e nós agindo antes deles. Além disso, nós possuímos pontos de ação, o que limita bastante nossas ações. Muitas vezes não temos os pontos necessários para fazer tudo o que queremos, então precisamos fazer escolhas que podem mudar o rumo da batalha.
Por fim, o diferencial do jogo, o modo do Diabo. Podemos fazer um paralelo dele com um hack, porque podemos fazer alterações no jogo que são injustas, mas tem um custo. Por exemplo, podemos aumentar a chance de sucesso em um teste social, colocar ele em 100%, ou então trocar as bençãos e fraquezas dos monstros.

Mapas e cenários
Por serem gerados de maneira aleatória, é impossível saber o que vai aparecer ou não e, mais importante, em qual ordem isso vai acontecer. Por isso, conseguir se adaptar a todos os obstáculos ou imprevistos que o jogo colocar na sua frente é essencial.
Isto é, diversas vezes eu planejei meu caminho para montar minha build de maneira mais eficaz e, no meio do caminho, um mapa que eu ia sofreu uma influência dos humanos e colocou uma passiva que pode me atrapalhar. Esse problema me fez mudar a rota para evitar a derrota ou uma perda muito grande naquele mapa.
Dito isso, é hora de explicar o que são essas influências. Elas são dos dois tipos: positivas (quando causamos terror) ou negativas (quando os humanos conseguem influenciar a área). Elas variam entre fazer você ganhar ou perder almas, deixar o combate mais fácil ou mais difícil, deixar suas relíquias inúteis ou te dar descontos na loja, etc.
Não apenas isso, mas cada mapa serve para te fazer evoluir. Quando estamos em um mapa de batalha, podemos escolher entre receber almas para gastar na loja, causar o terror em alguns mapas ou ganhar habilidades dos discípulos. Já nos mapas de eventos, os testes sociais entram em jogo para dar mais atributos para nossos heróis (ou tirar em caso de falha) e, vezes ou outra, uma batalha, relíquia ou almas extras.
Ainda que alguns mapas podem conter eventos extras e tornar-se um mapa 2 em 1. Com um teste social e uma batalha, por exemplo. Esses eventos que surgem nos mapas são sempre opcionais, enquanto os eventos do mapa é obrigatório.

Combate
A parte mais importante de Rogue Lords, sendo que todas as mecânicas giram em torno dele.
Como já disse, ele é baseado nos pontos de ação que temos a cada turno. Ou seja, temos cinco pontos de ação por turno, além de conseguir pontos extras através das habilidades de personagens ou relíquias. Sempre existe um ônus quando o assunto é ganhar pontos de ação através das relíquias, aumentando o nível do risco vs recompensa.
Mesmo que tenhamos mais pontos de ação, o nosso objetivo é derrotar os inimigos e isso pode ser feito de duas formas: dano no HP ou dano no SP. Dá para dizer que o HP é o dano físico e o SP é o dano mental. Depois que uma dessas barras dos inimigos for reduzida a zero, ainda é necessário dar um golpe final para derrotar ele. E não se engane, isso pode atrapalhar muito os seus planos.
Nossos heróis possuem funções e podem desempenhar elas de diferentes maneiras. Dá para fazer o Drácula agir como um suporte para o grupo, dando vantagens para eles, ou então melhorar a si mesmo e destruir os inimigos por si só. Além disso, ele também consegue causar tanto dano físico quanto dano mental. Essa variedade em um mesmo personagem é muito interessante e um ponto alto do jogo.
Para finalizar, as recargas das habilidades. Sempre que usamos uma magia, ela entra em recarga e só pode ser usada novamente quando usamos habilidades de recarga. Cada herói tem a sua própria magia de recarga com diferentes aspectos. A do Drácula, por exemplo, recarrega as habilidades de todos do grupo, já a da Bloody Mary coloca um espelho no inimigo (que reflete toda a ação usada por ela) e recupera a recarga das suas magias.
Relíquias e Habilidades
Enquanto o combate é a parte mais importante do jogo, esses dois pontos agem de forma direta nele e são os responsáveis por possibilitar uma gama de variedade de builds. Você pode conseguir as habilidades após um mapa de combate, em um altar de sacrifício ou com o Ceifador (o lojista do jogo). Já as relíquias, sempre que você derrota um mini-chefe ou enche a barra de terror você consegue uma, além de também poder comprar na loja.
As relíquias dão melhorias passivas para o grupo ou então apenas para um personagem, ou os dois juntos! Por exemplo, uma relíquia que você pega com um personagem, faz ele sofrer o dobro de dano enquanto oferece mais dois pontos de ação para o grupo. Ou então, faz você coletar 20% a mais de alma. São dezenas delas e você libera mais conforme avança no jogo e completa conquistas.
Já as habilidades em Rogue Lords possuem níveis. São três deles e, conforme uma habilidade melhora o nível, ela passa a gastar menos ponto de ação e/ou dar mais dano. É possível subir o nível delas ao pegar três da mesma magia no mesmo nível ou então através do Ceifador, onde entregamos a habilidade e, na próxima vez que o encontrar, pegamos ela evoluída.
Por fim, cada herói tem espaços de magias que podem ser liberados a cada tentativa. Para isso, precisamos encontrar um altar de sacrifício. Nele, nós sacrificamos uma habilidade para descobrir outras e abrir um novo espaço para aquele personagem.

O modo do Diabo
Quem nunca quis dar aquela roubadinha para conseguir passar alguma parte do jogo? Então, agora tá tudo liberado! É sério, o próprio Rogue Lords fala que o sistema funciona como um “hack”.
Isso porque nós podemos alterar itens muito importantes no jogo com esse sistema. Contudo, é claro, não é de graça. Nós gastamos vida para fazer as alterações, então, não dá para sair mudando tudo sem pensar nas consequências. Às vezes, você pode reduzir a vida de um oponente, gastar muitos pontos de vida e, depois, tomar mais dano do que imaginou e acabar perdendo.
As alterações que podem ser feitas são várias: reduzir ou aumentar a vida dos aliados e inimigos, passar as fraquezas dos nossos heróis nos inimigos ou roubar suas bençãos, pular um mapa que você acha que pode causar problemas, aumentar a chance de sucesso em um teste social, etc.
Particularmente eu gostei bastante dessa mecânica, ela conversa muito bem com o estilo Roguelike. O valor no quesito risco vs recompensa é muito alto, é sempre arriscado. Eu nunca tinha visto um sistema desse em algum jogo, foi uma inovação muito legal e criativa.

Conclusão
Rogue Lords é uma incrível adição ao gênero Roguelike. Com seu tema gótico e gráficos bem bonitos e exóticos, que misturam elementos 3D com cenários 2D em uma paleta de cores macabra. A trilha sonora é decente, e todo o jogo é narrado, seja pelo Diabo na maior parte do tempo ou pelos próprios personagens em alguns momentos. O Design do jogo é muito bem construído e a maneira de liberar novos conteúdos te motiva a sempre querer continuar. Não tive quase nenhum problema com bugs ou crashes, apenas um bug de audio que o efeito de páginas do livro continuava eternamente ativo. Rogue Lords é incrível, desde o aspecto gráfico até sua jogabilidade, qualquer um que goste do gênero, deve dar uma chance para a obra.
* Chave cedida para análise