Sakuna: Of Rice and Ruin é um RPG com simulação de fazenda. Este foi desenvolvido pela Edelweiss e publicado pela Marvelous para as plataformas: PC, Playstation 4 e Nintendo Switch. O seu lançamento aconteceu em 10 de novembro de 2020.
Para aqueles que assim como eu caem de paraquedas nessa aventura, a primeira impressão que temos de Sakuna: Of Rice and Ruin é:
- Ver estampando a capa uma doce e determinada garotinha com caracterização típica de um Japão antigo.
- Um rápido olhar para o visual do jogo remete a uma sensação de aventura, tranquilidade e pureza.
Por isso é tão impactante quando logo nas primeiras cenas vemos Sakuna, nome da garota que estrela a capa, bêbada.
Não só bêbada como recepcionando de forma bastante agressiva e relaxada o resto do nosso elenco principal. Estes são humanos que se perderam e acabaram invadindo o reino dos deuses.
Claro que ao saber que a menina é uma deusa adulta, que apenas se manifesta com tal aparência faz com que tudo se torne bem menos confuso. Normalmente esse é o tipo de desculpa perfeita que encontram para sexualizar garotas com traços infantis em obras asiáticas. No entanto nada disso é feito aqui, então podem ficar tranquilos.
Eu diria inclusive que muito pelo contrário. Ao invés de sua aparência ser apenas um capricho duvidoso, a aparência de Sakuna capta completamente sua personalidade da qual falaremos mais agora.
Quem é Sakuna?
A personagem como dito é uma deusa. Membro de um grupo de deuses com fortes inspirações na cultura japonesa, Sakuna é a filha de um deus guerreiro com uma deusa da colheita.
Enquanto é uma poderosa guerreira no que herdou de seu pai, a deusa consegue produzir arroz com altíssima qualidade devido ao dom da colheita que herdou de sua mãe. Por ter nascido em tal berço de ouro viveu uma vida bastante privilegiada.
Por conta disso nunca antes precisou ter empatia por outras pessoas, aprender o valor do trabalho duro (e longe de mim romantizar trabalho, principalmente em um contexto japonês mesmo que fictício), ser humilde, dividir entre outras coisas. Isso pelo menos até encontrar com nossos outros protagonistas.
O Grupo de humanos citados, acabam por ignorar a agressiva recepção de Sakuna, que os adverte dos perigos de entrar nos reinos dos deuses. Ao adentrar no reino, os humanos todos famintos, acabam por se alimentar do arroz que Sakuna havia ofertado para a deusa maior daquele panteão.
Em uma tentativa desesperado de impedi-los, a garota acaba por acidentalmente incendiar todo o local em que se encontravam todas as oferendas que seriam entregues no mesmo dia. A deusa se enfurece perante tamanho descuido.
Então decide que como punição, Sakuna ao lado daqueles que haviam comido a oferenda, teriam de lidar com uma ilha repleta de demônios que a deusa gostaria de ter sob seu controle, para assim receber o perdão.
Até então Sakuna ficaria banida da capital aonde os deuses habitam.
Os amigos que fazemos no caminho
Tematicamente falando, as relações são muito importantes para essa obra. Após banida tendo de trabalhar junto com humanos Sakuna já se mostra bastante insatisfeita.
Imagine então quando descobre que sua equipe é composta por um especialista em plantio só que sem habilidade manual, uma cozinheira capaz porém sem familiaridade com ingredientes e pratos daquela terra e um ferreiro que mal parece ter idade para ser capaz de colaborar de alguma forma.
Sendo ela a única capaz de caçar, coletar materiais importantes, e enfrentar demônios, tendo os outros apenas como sua equipe de apoio. Sakuna, é posta contra a parede na necessidade de assumir responsabilidades por tarefas e pessoas além de si mesma e seus interesses.
Criando a ideia trabalhada durante a história de que todos ali dependem um do outro e são imperfeitos. Enquanto o especialista em campo não pode lidar com trabalhos manuais, Sakuna não pode sentir empatia pelos humanos que devia proteger, tornando eles igualmente falhos.
Sei que esse tipo de história não é exatamente original, uma pessoa importante é forçada a viver no meio de pessoas boas e humildes e se torna mais empática. Mas a sensibilidade e humanidade com que isso é tratado nessa obra se destacam.
A obra está sempre se lembrando de que tudo bem ser imperfeito, todos somos sem exatamente glamourizar a simplicidade e humildade, apenas aceitando esse elementos com natural. Mas chega de interpretações da mensagem, vamos para a ação.
O arroz e a Ruína de Sakuna
O jogo mescla com bastante qualidade dois estilos de jogabilidade. O primeiro trata-se do plantio e o segundo da exploração. Assim, o plantio se deve ao fato de que Sukuna precisa se alimentar enquanto reside nessa ilha, bem como alimentar seus companheiros. Além da caça realizada através do abate de monstros durante a exploração, o plantio do arroz se mostra uma opção perfeita. Principalmente tendo em vista que é a especialidade de Sakuna.
Por conta do plantio ser focado somente em arroz, ao contrário de simuladores de fazenda mais comuns que se diversificam entre espécies e utilidades, ele tem uma densidade muito interessante.
Todas as etapas do plantio exigem atenções específicas. Desde retirar ervas indesejadas, controlar o volume da água, arar, adubar entre outras atividades que vão das mais simples as mais complexas.
Além disso, o arroz também possui diferentes status, como dureza e aroma por exemplo, podendo também resultar em diferentes tipos de arroz dependendo do processo de produção.
Todos os detalhes nesse sistema enriquecem muito essa experiência, mas ainda assim o jogo te deixa regular separadamente a dificuldade para plantio e para exploração.
Podendo fazer do plantio apenas um detalhes relaxante para o jogador mais casual, ou um desafio mais estratégico para o jogador que busca um estimulo nesse sentido.
Sukuna a princesa guerreira
Sem sombra de dúvida os momentos que mais me diverti nesse jogo foram os de exploração.
Essas seções são áreas de plataforma 2D de ação, com fortes elementos de jogos de RPG, como skills equipáveis, um nível de exploração, quests, entre outros.
O move set básico da Sakuna contém um ataque rápido e um forte, um pulo e um botão para ativar suas habilidades.
Caso essas habilidades ou golpes sejam ativados com algum direcional ativo apresentaram variações expandindo as possibilidades.
Mas a principal mecânica diferente é a faixa do kimono da protagonista, que funciona como um gancho que ela pode usar para se puxar a paredes, se aproximar de um inimigo e até desviar de golpes.
Ela dá uma sensação de fluidez e liberdade incríveis na movimentação da personagem, facilitam combos aéreos, esquivas e engrandecem a exploração como um todo.
Estrutura da aventura
Ok, eu expliquei como funciona a jogabilidade desse jogo e a movimentação da personagem, mas vamos abrir mão da impessoalidade um pouco.
As aventuras serão selecionadas de um mapa da ilha, como se fossem as fases do jogo. Dentro dela, Sakuna irá coletar materiais úteis como carne, madeira, metal, vegetais, entre outros.
Tais materiais podem ser usados tanto em refeições, quanto para construções de armas mais poderosas, completar side quests para seus aliados entre outras utilidades durante o jogo.
Além disso, cada uma dessas “fases” possui uma lista de tarefas que exigir que você a complete mais de uma vez.
Por exemplo, dentro da lista de objetivos pode existir um objetivo como “encontrar 5 madeiras”. Sendo que a fase pode oferecer apenas 3 chances de drop, fazendo com que você precise passar a fase 2 ou 3 vezes dependendo da sua sorte.
Conforme você conclui essas missões seu nível de aventura aumenta.
Todavia, quanto mais alto for esse nível mais fases estarão disponíveis. Além disso, a ilha se divide em áreas que contem algumas fases, que contarão chefe na ultima de suas fases.
As fases de uma maneira geral são bem pensadas e divertidas. Mesmo que os cenários sejam parecidos ocasionalmente elas conseguem se distinguir muito bem uma da outra.
Lar Doce Lar
Entre uma fase e outra, você muito provavelmente irá retornar ao seu lar. Em tal lugar todos os seus aliados estarão reunidos para prestar seus serviços e apoio a você, desde os mais simples como instruções sobre como plantar arroz, até os mais diretos como confeccionar armas.
Em seu lar também é onde se encontra sua plantação de arroz. Você pode checar como cada status do arroz está crescendo durante cada etapa da crescimento, e controlar os portões de água ao redor da plantação e o nível da água. Uma das funções de seus amigos que é mais interessante é a da cozinheira.
Nesse jogo a alimentação é levada bastante a sério. caso você não esteja saciado, sua vida não irá regenerar dentro das fases, por exemplo, tornando sempre importante a atenção ao plantio e a repetição de algumas fases para drop de carne para nunca acabar em situações complicadas, sem vida e sem alimentos.
Logo, uma atenção ao detalhe diferencial é que os alimentos trazidos estragam de um dia para o outro. Para conservá-los é preciso uma quantidade maior, como por exemplo 3 carnes (que estragam rápido), para produzir uma carne seca (que não estraga).
Conheça tudo que Sukuna tem a oferecer!
Eu recomendo muito a experiência de Sukuna: Of Rice and Ruin! Acho uma aventura tocante, não atoa separei um espaço maior para falar de sua mensagem no início.
Os personagens são muito carismáticos e o crescimento de Sukuna faz cada minuto da experiência valer a pena.
A arte é muito linda, sendo ao mesmo tempo muito estilizada mas sem nunca cometer excessos, conseguindo se destacar justamente pela simplicidade muitas vezes, que tem bastante a ver com a mensagem da história.
A trilha sonora é muito boa e coerente, conseguindo agradar nos momentos calmos tanto quanto nos momentos agitados e empolgantes.
A mitologia do mundo em que eles vivem que vai sendo pincelada lentamente no decorrer da história é muito envolvente. As únicas leves críticas que tenho que fazer são referentes a falta de explicações sobre como proceder.
Tudo é bastante intuitivo e jogadores irão se encontrar mas o jogo poderia facilitar a explicação de como funciona as fases e objetivos delas e como isso impacta na liberação de novas fases.
Logo, também acho que pode se tornar um pouco repetitivo a obrigatoriedade de se jogar algumas fases várias vezes.
No mais recomendo essa experiência para todos os jogadores que tenham interesse em uma experiência que consiga ser intimista encantadora e carinhosa, sem abrir mão da ação.
* Chave cedida para análise
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