High Score Girl é um mangá criado por Rensuke Oshikiri e publicado pela Square Enix, lançado pela primeira vez em 2010. Ele recebeu uma adaptação para anime lançada em 2018 pela J.C. Staff, que foi renovada para uma segunda temporada em 2019. As duas temporadas estão disponíveis na Netflix.
Mas por que falar de anime em uma página de jogos?
O motivo é simples. O anime, que se passa no início dos anos 90, conta a história do estudante Haruo Yaguchi. Haruo é um aluno bem medíocre, sem boas notas, perfil atlético ou boa aparência. Para ele, sua única habilidade “especial” se resume a jogar Street Fighter II, onde se acha invencível por conseguir fazer um movimento quase impossível com o personagem Guile.
Contudo, um dia no fliperama Haruo acaba derrotado pela aluna mais inteligente da escola, Akira Ono, que joga com o personagem Zangief. A partir daí a história se desenvolve traçando paralelos entre o relacionamento quase impossível dos dois e seu amor por jogos de luta. Além disso, o anime se passa durante o auge dos fliperamas, mostrando também a chegada e a popularização dos primeiros consoles portáteis.
As duas temporadas estão disponíveis na Netflix e prometem trazer uma nostalgia muito bem vinda. Ele é uma homenagem a todos que acompanharam o desenvolvimento dos jogos naquele período e/ou que se interessam pela história dos jogos de luta. Se você algum dia sonhou em poder visitar Akibahara e ver com seus próprios olhos onde tudo começou, esse anime foi feito para você! Confira o trailer abaixo:
O problema com crossovers
Como esperado de qualquer mídia que se proponha a fazer um crossover deste tipo, o mangá envolveu diversas disputas por direitos autorais. Ele chegou a ter sua publicação paralisada devido a um processo movido pela SNK pelo uso de personagens de The King of Fighters e Samurai Showdown. Contudo, a Square Enix conseguiu fechar acordos tanto com a SNK quanto com a Capcom, a Bandai Namco e a Sega e utilizar os personagens tanto no mangá quanto no relançamento em anime. Esses acordos foram muito comemorados pelos fãs, já que escrever sobre a história dos jogos de luta sem mencionar esses jogos e seus personagens icônicos tornaria a história vazia e sem sentido.
Agora livres de problemas, o mangá e o anime são repletos de referências a jogos que marcaram a história dos fliperamas e dos primeiros consoles. Eles possuem ótimos diálogos entre os personagens e seus “mains”, Haruo e Guile e Akira e Zangief, que atuam como guias ao longo da trama. Para os fãs mais aficionados, o anime consegue mostrar com delicadeza a emoção dos dois ao descobrir cada novo jogo lançado, novos combos ou novos personagens. Você consegue perceber que, na época, cada jogo era realmente único. Como novos lançamentos também eram raros tudo sempre parecia estar sendo jogado pela primeira vez. E afinal, se manter em uma partida não era só uma prova de habilidade, era a chance de gastar menos dinheiro e poder jogar por mais tempo.
Um belo exemplo de representatividade
Além disso, o mangá também fala sobre um tema importante, representatividade. As duas meninas, Akira e Hidaka lutam não só pelo coração do protagonista, mas também para mostrar que podem jogar videogames tão bem quanto (e muitas vezes até melhor!) que os garotos.
Koharu Hidaka, que é a antagonista, trabalha na loja dos pais e divide seu tempo entre cuidar da loja e jogar nas máquinas disponíveis. Já Akira (que é de uma família extremamente tradicional) é proibida de se envolver com o que sua tutora chama de “comportamento delinquente”, e joga nos fliperamas escondida. Para jogar ela conta apenas com a ajuda de seu mordomo, que a acoberta por sentir pena de sua falta de liberdade. Apesar da falta de prática, ela é tão boa que chega a ganhar campeonatos e se torna a “arqui-inimiga” de Haruo. Ela não apenas é uma das poucas mulheres no fliperama que não está lá para acompanhar um cara, mas a única pessoa que consegue derrotar dezenas de jogadores consecutivamente sem nenhum esforço.
Se considerarmos que Street Fighter II foi um dos primeiros jogos a trazer uma personagem feminina como protagonista em um jogo de ação (nossa querida Chun Li), o que consequentemente motivou a entrada de novas personagens nesse universo, nada mais justo do que usá-lo como base em um anime que faz questão de mostrar que as mulheres estavam interessadas em jogos e eram tão boas quanto qualquer homem. Isso também contraria a crendice popular dos famosos “nerdolas” de que as mulheres só começaram a se interessar por jogos recentemente com o surgimento dos mobiles.
Vocês não concordam comigo que isso já deveria ser motivo o suficiente para Chun Li entrar como a última DLC do SSBU? (Pô Sakurai, ela tá até no Fortnite, ajuda a gente aí!)
Sobre a história
A história de High Score Girl é nostálgica e mostra um romance que nos é bem familiar, pois se desenvolve em meio aos videogames. Além disso, a personagem Akira é muda, o que cria certas barreiras no início, mas torna o relacionamento entre os dois ainda mais especial. É encantador ver como eles conseguem se comunicar através do contato visual e, principalmente dos próprios jogos.
Apesar de alguns pequenos dramas adolescentes, a história é bem fluida e divertida. Ela é o passatempo perfeito para assistir com a família, os amigos ou aquela pessoa especial. O anime tem apenas 24 episódios e todos os seus personagens são cativantes. Ele mistura originalidade e saudosismo na medida certa, criando uma história nova com boas referências ao passado. Além disso, o estilo dos personagens é totalmente único, e a mistura entre 2 e 3D funciona bem já que ele combina a animação “tradicional” com a dos personagens originais dos jogos em pixel art.
Vale a pena?
Até 2017, Street Fighter II fazia parte dos 3 jogos mais lucrativos de todos os tempos. O jogo foi o mais vendido do gênero no mundo até 2019, e foi ultrapassado apenas pelo lançamento de Mortal Kombat 11 (2019). O anime é uma bela homenagem à história dos jogos de luta e a esse que marcou gerações, revolucionou o gênero e é até hoje considerado um dos melhores jogos já lançados. Você vai se apaixonar pelos personagens e, se não viveu nessa época, provavelmente desejará ter visto o auge dos fliperamas de perto.
Além disso, a personagem Akira Ono ficou tão popular que teve uma participação especial no jogo de luta Million Arthur: Arcana Blood (Square Enix, 2017) e até ganhou um nendoroid exclusivo produzido em edição limitada. (Que honestamente é meu sonho de consumo!)
Mas e você, já assistiu High Score Girl ou jogou Street Fighter II? Se você prefere os jogos de luta da nova geração também não tem problema! Confira nossa análise de Street Fighter V clicando aqui!