Uma das frases mais conhecidas entre os gamers no final dos anos 2000 era: “Seu PC Roda Crysis?” Mesmo antes de o termo “meme” ser popularizado, Crysis conseguiu ser um dos primeiros.
Lançado originalmente em 2007, somente para PC (aliás, somente para as mais potentes máquinas), Crysis era simplesmente fenomenal, uma peça a frente de seu tempo. O jogo era graficamente muito superior a qualquer outro disponível na época.
Desta maneira, a franquia se tornou referência em termos gráficos. Contudo, Crysis não era reconhecido apenas pelo belo visual, já que o jogo conseguiu trazer uma sensação de liberdade e exploração diferenciada para o momento.
No fim de 2020, 13 anos depois do lançamento original, Crysis ganhou uma versão para os consoles da geração: PlayStation 4 e PlayStation 4 Pro, Xbox One e Xbox One X e Nintendo Switch.
E agora, em Outubro de 2021, o jogo volta para um relançamento para o PlayStation 5 e Xbox Series S|X, mas acompanhado dos Remasters também de suas continuações.
História
Apesar da revolução visual, Crysis segue uma linha conservadora e não muito surpreendente com relação à narrativa.
Ainda assim, a aventura de Jake “Nomad” Dunn em uma ilha fictícia é aceitável.
Crysis começa de forma aparentemente simples, quando uma agente americana envia um pedido de socorro, após um meteoro cair em solo norte-coreano. Você, um soldado condecorado da Força Delta do exército dos Estados Unidos, é enviado para investigar o local da queda.
A equipe de soldados que escolhidos para a missão está equipada com trajes especiais chamados Nanosuit. Eles são altamente tecnológicos e considerados o equipamento perfeito de guerra.
Contudo, ao chegar no local, os soldados do exército coreano já estão lá. Além disso, com o tempo, o jogador é surpreendido com a presença de alienígenas na ilha, conhecidos apenas como Ceph. Eles congelam o lugar com o propósito de preparar uma invasão e o domínio da Terra.
Com o ataque dos aliens, poucos soldados sobrevivem e agora cabe apenas a você salvar a humanidade.
E é basicamente isso, algumas cutscenes durante o gameplay desenvolvem a narrativa, mas é tudo bem clichê: Invasão alienígena, Coreia do Norte inimiga do mundo e exército dos Estados Unidos como salvadores da humanidade.
Nem mesmo a mudança dos cenários de ilhas tropicais para os terrenos alienígenas do planeta Ceph conseguem surpreender o jogador.
Evidente que os cenários, especialmente quando foi lançado, renderam ao game o sucesso que é até hoje, entretanto, a história de Crysis não é seu forte.
O Jogo
Crysis tinha de fato todos os requisitos para ser um jogo que se destacaria no gênero FPS por muito tempo. A desenvolvedora alemã Crytek baseou o título na CryEngine 2, a segunda geração do motor gráfico usado para desenvolver o Far Cry original.
Porém, tudo foi em maior escala e Crysis se destacou como um dos melhores jogos da década.
O quesito exploração talvez mereça o destaque inicial. Especialmente quando foi lançado, Crysis trouxe uma sensação de liberdade quase não visto nos games deste gênero.
No controle de Nomad, você terá várias opções enquanto joga. Ignorar várias missões secundárias que aparecem e seguir sempre em frente para seu objetivo, ou então, explorar, pegar caminhos alternativos e conhecer Crysis como os desenvolvedores queriam.
Os cenários, especialmente na ilha, são cheios de atalhos e locais que permitem ao jogador sair matando todo mundo de peito aberto ou se esgueirar e ter uma abordagem quase stealth, até pela possibilidade de ficar invisível por um tempo com seu Nanosuit.
Falando nele, o traje especial é um dos grandes diferenciais e acertos de Crysis. Ele pode conceder a você invisibilidade ou armadura extra por um tempo.
Conforme você usa, uma barra de “bateria” vai acabando, e ao zerar a habilidade especial é interrompida. Mas ela se enche sozinha em seguida, então não se preocupe.
Mesmo assim, você precisa saber o momento certo de utilizar essas habilidades para não ficar desprotegido no meio de uma horda de inimigos.
O arsenal é bem variado, onde podemos personalizar as armas a qualquer momento. Além disso, podemos segurar o inimigo como um escudo humano ou sair no soco, graças à força ampliada da Nanosuit.
Destrua tudo o que quiser
Outro grande destaque de Crysis são os cenários destrutíveis, onde até mesmo a vegetação é afetada pelos tiros. Ainda hoje é muito surpreendente ver como a equipe fez um bom trabalho neste aspecto, imagina então lá em 2007.
Além dos ambientes destrutíveis, a jogabilidade continua boa. Mesmo que a mira não seja tão precisa e boa como de outros FPS mais recentes, de uma maneira geral Crysis continua sendo um game atual neste sentido.
Além disso, os controles são simples e diretos, o que torna atividades como a troca de equipamentos, recarregar armas e utilizar os poderes de seu traje uma tarefa de fácil execução, o que é essencial considerando momentos com hordas de inimigos.
Aspetos Técnicos
A pergunta, “Seu PC roda Crysis?”, não era à toa. Desde seu lançamento, ele tem um visual absurdo que salta aos olhos e claro que não seria diferente agora.
Mas é importante salientar, em Crysis 1 as mudanças estão lá, mas não chegam a ser um “game change”. Claro que há texturas mais bem definidas, o Ray Tracing traz detalhes de iluminação antes não vistos na versão de console e a possibilidade de 8K no PC faz diferença.
Contudo, mesmo nos consoles de nova geração, ainda será possível ver certas falhas nesses pontos.
Porém, nada disso afeta a beleza paradisíaca de Crysis. O jogo é bonito, explorar é prazeroso e nada pode ser dito ao contrário.
Os detalhes da sua Nanosuit são impressionantes, mesmo que você jogue “apenas” em 1080p. Toda a vegetação das densas florestas estão ainda mais belas com as novas texturas. Além disso, a séria questão das quedas de quadro não é mais um problema nos consoles.
Crysis de PlayStation 3 e Xbox 360 era tortuoso. Mesmo com o downgrade, a taxa de quadros era instável e baixa, prejudicando demais a experiência. Agora, na nova geração, é possível jogar com prazer e aproveitar o game como deveria.
A sonoplastia do jogo é bom, de uma maneira geral. Os sons das armas não são tão bons quanto de jogos atuais, mas não chegam a incomodar. A trilha sonora combina com os momentos de calmaria e tensão.
Contudo, assim como no original, o jogo não conta nem com legendas em português, prejudicando a experiência para alguns.
Problemas
Crysis tinha problemas em 2007, em 2020 e tem de novo em 2021.
Começando pela Inteligência Artificial, ela é irritante e inconstante. Por vezes você está abaixado, escondido ou até invisível e os inimigos te encontram. Por outras você passa correndo atrás deles e nada acontece.
A IA dos inimigos é bem ruim e a Crytek resolveu não se importar com essa questão e ponto.
Se fosse apenas isso estaria bom, mas não para por aí. Também não é raro ver o jogo crashar, e bugs de som e física acontecem regularmente.
Por exemplo, numa cutscene a música começa a tocar extremamente alta, ficando impossível de ouvir o que os personagens estão conversando. Ou então, você pega uma caixa para lançar e ela vai estranhamente longe.
Quem já jogou Crysis no PC ou consoles, está familiarizado com tudo isso. Entao, o remastered veio “atualizar” o jogo para rodar na nova geração, mas deixou todos os conhecidos bugs intactos.
Conclusão
Crysis sempre foi uma demonstração da melhor tecnologia possível em um jogo de vídeo game. Sua narrativa é clichê e nada surpreendente, mas isso é compensado pela jogabilidade fluida e possibilidade de ampla exploração de cenários.
A beleza segue linda e conseguiu ser realçada em vários aspectos. Jogar Crysis Remasterd é encantador aos olhos.
Mas não há nenhuma novidade. Os bugs irritantes continuam lá e não há absolutamente nada na narrativa que vale a pena ser revisitado.
Crysis Remastered ainda é um belo FPS, mas se por algum motivo ele não te agradou lá no fim dos anos 2000, nada mudou. Contudo, se você já era uma fã de longa data do jogo, com certeza será prazeroso reviver todas essas experiências.
* Chave cedida para análise