Introdução
Os jogos brasileiros estão dando show em 2021. Afinal, tivemos diversos lançamentos ótimos como, por exemplo, Dodgeball Academia, Unsighted e Dandy Ace. E agora, para tentar aumentar o sucesso essa lista, Evertried chega e busca seu espaço.
O Roguelite brasileiro chegou no dia 21 de outubro de 2021 para todas as plataformas Playstation, Xbox, PC e também para o Nintendo Switch. Esse é o primeiro projeto da Lunic Games, uma desenvolvedora situada em Santos que teve seu Kickstarter para o Evertried financiado, inclusive, batendo algumas metas extras.
A obra consegue reunir combate em turnos, estratégia e ação de uma forma natural, criando uma cadência de jogo interessante.
História e Personagens
Não há enrolação para entrar no mundo de Evertried, isto é, tudo o que nos espera no início é um rápido tutorial e, depois disso, já estamos jogando para valer. O tutorial não aborda nada além da movimentação, até porque não precisa mesmo. Então, agora que já aprendemos como andar e atacar as criaturas, nos resta chegar ao topo da torre.
No início, nós não sabemos de nada além de que precisamos chegar no topo da torre para recuperar nossas memórias. Agora, nós somos uma alma perdida que precisa provar seu valor para alcançar o pós-vida. Depois que derrotamos um lobo com uma foice que surgiu para nós, lembramos que fomos um guerreiro em vida que morreu sem honra, por isso devemos provar o nosso valor.
O enredo corre conforme nós subimos a torre. Em diversos andares existem NPC’s que contam um pouco da sua história, filosofam, oferecem serviços ou tentam te catequizar. Apesar de não serem muito profundos, eu gostei da personalidade de cada um, todos são únicos, até mesmo no visual. Suas falas são divertidas e, muitas delas, confusas. Algumas de propósito, outros porque também são personagens que não lembrar de muita coisa.
Embora a história não seja o foco dos jogos do gênero, Evertried não deixa a desejar e cria uma ótima atmosfera para o jogador.
O tabuleiro em que jogamos
Evertied nasceu do combate tático. Pelo menos, é o único pilar que sustenta a obra. Mesmo que seu enredo seja interessante, é difícil dizer que vale a pena jogar por conta dele. Isto é, essa fala vale para a maioria dos rogue-like(lite).
Indo ao que importa, o combate dividido em turnos com um cenário “pequeno” é perfeito. Já que os inimigos e o ambiente só agem depois da nossa ação e o jogador pode tomar o tempo que for necessário para definir seu próximo passo, fica muito mais fácil analisar o todo. Com isso quero dizer que o tamanho do cenário é perfeito para o que o jogo propõe e também para sua cadência.
Como cada inimigo tem um padrão de ação claro, é possível planejar jogadas muito a frente do turno em que estamos. Para isso, basta observar os inimigos e conhecer seus padrões, depois disso, é só executar os melhores movimentos com calma que tudo vai dar certo. Ou deveria. Embora os inimigos tenham seus padrões, hora ou outra eles se movimentam de maneira mais inteligente, fugindo das armadilhas que você pode criar.
Essas armadilhas podem ser criadas de duas maneiras: através das suas próprias habilidades ou utilizando os mecanismos de cada fase. Cada parte da torre (dividida em 5) possui uma mecânica de armadilha diferente. Na primeira parte, um dispositivo dispara estacas de gelo, na segunda, um jato de chamas que afeta a linha toda. Enquanto isso, nossas habilidades podem criar linhas ou áreas de perigo também.
A movimentação também flui muito bem, sendo necessário observar as casas que podem te congelar, ou então cair e deixar um buraco, impedindo sua movimentação para lá. Cada passo tem que ser muito bem pensado antes.
O combate
Por si só, ele é muito simples. Cada inimigo tem um padrão de ações e nós precisamos lidar com eles com magias ou golpes corpo a corpo. Foi por isso que decidi colocar a sessão de movimento e do mapa antes dessa. É impossível enxergar o combate sem usar a fase a seu favor.
Para começar, os inimigos morrem com apenas um golpe, exceto por aqueles que se protegem e precisam tomar dois. Contudo, também existem aqueles que tem maneiras específicas de derrotar. E então é simples assim: encontrar uma abertura segura para derrotar nossos inimigos.
Claro que não é tão simples assim. Conforme avançamos no jogo, mais inimigos nos enfrentam de uma vez e isso dificulta encontrar brechas seguras. E é aí que entram as habilidades. Elas funcionam tanto ofensivamente como defensivamente. Existem magias que dão dano em área, que curam, que te fazem avançar pelo mapa ou que criam uma distração para os inimigos.
Porém, para usar essas magias, é necessário gastar cargas. Cada andar da torre inicia com zero cargas e ganhamos uma ao nos movimentar sem usar o dash. Ou seja, conforme andamos, é possível usar as magias. O problema é que sempre que nos mexemos, os inimigos ficam mais próximos e preparados para atacar. Então, é sempre uma balança do que vale a pena ser feito.
O dash é um elemento essencial no combate de Evertried também, pois ele permite andar duas células de uma vez, ao invés de apenas uma. Isso permite você passar por buracos, inimigos, armadilhas e qualquer outro perigo. Além disso, é a maneira mais fácil de ganhar vantagem sobre um inimigo, quebrando o ritmo que ele teria vantagem sobre você.
Os elementos que auxiliam a subida
Evertried traz variedade nas tentativas de subida através das suas magias e também das passivas que podem ser compradas durante a tentativa. Cada inimigo derrotado nos concede fragmentos para poder comprar habilidades e passivas. Mesmo que o jogo mude as opções da loja a cada parte da torre e tentativa, é muito fácil conseguir sua build favorita. Afinal, a variedade das magias e modificadores não é grande e o valor para mudar os itens da loja também não é alto.
Aliás, existe a barra de focus. Ela é responsável por definir a quantidade de fragmentos que teremos. Quanto mais rápido o jogador tomar as ações e conseguir eliminar os inimigos, mais fácil de alcançar o valor máximo dessa barra. Para explicar melhor, essa barra diminui enquanto você não faz nenhuma ação no seu turno. Ou seja, os jogadores que gastam mais tempo pensando nas suas ações, são mais punidos na quantidade de fragmento adquirido do que aqueles que jogam de maneira mais rápida.
As habilidades que usamos evoluem e melhoram. Esse é o único elemento que se mantém de uma tentativa para a outra. Uma vez melhorada, a magia estará para sempre melhorada, custando o mesmo preço de antes nas lojas.
Eu senti falta de mais elementos que diversificassem as minhas tentativas, afinal, por vezes eu morria e começava outra partida e ainda parecia estar na partida anterior. A falta de uma gama maior de modificadores passivos e também de habilidades é um problema para Evertried.
Conclusão
Com um belo gráfico de pixel art e uma trilha sonora bem gostosa que combina com o jogo em todos os momentos, Evertried chega com uma proposta interessante: cadenciar jogos roguelike de ação. O mais comum é encontrar jogos frenéticos de esmagar botões e ficar cada vez mais forte nesse gênero, principalmente nos últimos anos. Não que seja ruim, mas agora surgiu uma obra que mostra um lado diferente desse estilo.
Criado para jogar com calma e com muito raciocínio, Evertried tem seus erros e acertos, mas no final, consegue entregar uma experiência diferente do que existe no mercado hoje. E é essa a função dos jogos indies, então está tudo bem. Ao mesmo tempo que o jogo oferece esse jogo mais calmo, ele estimula o jogador a ser mais rápido. Com mais acertos do que erros, Evertried é um bom início para o estúdio brasileiro.
*Chave concedida para análise