Introdução
Apesar de uma experiência interessante, Jett pode servir de exemplo em discussões sobre o que faz um jogo ser divertido, e como a personalidade de cada um pode afetar o seu envolvimento com a obra.
Lançado no dia 5 de outubro, Jett: The Far Shore é um jogo de exploração e aventura, desenvolvido pelos estúdios SuperBrothers e Pine Scented Software. Está disponível para PC, Playstation 4 e 5.
Mil Anos de Distância
O que leva uma pessoa a participar de uma viagem interestelar para um planeta tão distante, que ao chegar lá, toda uma era terá passado em seu planeta natal? O que leva uma civilização a dedicar 300 anos, além de incontáveis recursos e vidas, para desenvolver a tecnologia capaz de realizar tal viagem? Tudo isso para talvez encontrar um planeta, que não se pode ter certeza que existe, ou que consiga suportar vida.
Pois, em Jett: The Far Shore, a resposta para estas perguntas é a fé. Isso, e a conclusão de que esta é a única esperança que resta a um mundo condenado à morte.
Neste jogo, assumimos o papel de uma garota chamada Mei, uma sacerdotisa dos ensinamentos do profeta Tsosi, que guiam esta expedição intergalática. Ela faz parte de um grupo de exploradores, escolhido para ser os primeiros a explorar o novo planeta. Apesar da grande honra desta escolha, seus feitos e descobertas não serão lembrados em contos em canções de seu povo. Pois, esta viagem só de ida durará 1000 anos, tempo o suficiente para que este planeta encontre seu fim.
E assim, Mei e seus colegas exploradores, partem nesta viagem, levando apenas uma pequena fração da população mundial, em busca da fonte de um sinal misterioso, descrito nos livros sagrados da religião de seu povo.

A HymnWave
Este esforço foi dedicado com base em uma única coisa: a HymnWave. Ela é um sinal vindo do espaço, que antes era tratado apenas como um mito. Descrito pelo profeta Tsosi em seus livros, foi detectado pela primeira vez pelos sacerdotes de sua religião, utilizando equipamentos avançados de pesquisa estelar. Assim, com sua existência provada, um grande projeto mundial começou, para encontrar a fonte deste sinal. Nos livros, ele é descrito como sendo uma grande montanha, é um planeta oceânico a milhões de quilômetros de distância.
Depois desta viagem de 1000 anos, a nave espacial, carregando o futuro deste planeta, chega ao seu destino. Assim, começa a aventura de Mei e seus colegas, pioneiros na exploração deste novo mundo. Seu objetivo, é estabelecer uma base de operações, pesquisar a flora e fauna do planeta, e determinar se é possível sobrevier nele.
Para isso, você pilotará uma nave chamada Jett. Ela é capaz de voar apenas alguns metros acima do solo, e está armada de diversos aparelhos de exploração. Dessa forma, vamos usar a lanterna, o gancho e o scanner para interagir com este mundo e coletar informações.

No entanto, logo fica claro que esta não será uma tarefa tão fácil. Pois, o planeta é lar para criaturas hostis, chamadas de Kolos pelo profeta, além de orbitar um gigante planeta, cuja luz é perigosa para os humanos.
Além disso, outras partes das profecias começam a se mostrar incompletas, e estranhas visões afligem a equipe de exploradores. Sua missão será perigosa, e repleta de descobertas, que colocarão suas crenças e força de vontade à prova.
Exploração
Jett é um jogo que foca bastante na parte de exploração. Controlando a nave, você flutua em alta velocidade pelas ilhas e mares deste mundo. Sua nave, chamada Jett, é capaz de analisar as diferentes plantas, animais, ou estranhas formações rochosas encontradas neste planeta. O Jett é uma nave diferente. A primeira característica, é que ele não voa de verdade, mas apenas plana. Com isso, para se movimentar por este planeta, é preciso considerar bem a sua rota, pois locais mais altos exigem que você procure por rampas e elevações para alcançar. Portanto, a exploração também exige uma pequena dose de estratégia e cuidado.
Boa parte do jogo, é dedicado a isso. Cada capítulo começa com você viajando a um novo local, e explorando esta região. Por isso, você gastará um bom tempo na viagem de um ponto a outro, tendo como companhia as conversas de rádio com seus companheiros, e a incrível trilha sonora do jogo.

Além de observar o planeta das alturas, de vez em quando o jogo permite que você pouse a nave para curtas explorações em primeira pessoa. Infelizmente, isso só acontece em pontos específicos, e não temos a opção de pousar quando quiser. Uma pena, pois explorar este mundo a pé poderia ser muito interessante, já que é um lugar muito belo do alto.
E isso é um dos pontos fortes de Jett. Pois, sendo um mundo alienígena, ele tem diversas coisas diferentes a se descobrir. Além disso, uma das mecânicas do jogo envolve escanear vários exemplares de uma mesma espécie para liberar mais informações sobre. Isso incentiva a sempre interagir com tudo o que é novo, o que dá pistas de como esta planta ou animal, pode ser usado em suas missões.
Os perigos
Apesar do foco em exploração, Jett também vem com seus momentos de tensão e perigo. De certa forma, pode-se dizer até que os perigos deste mundo têm inspirações Lovecraftianas. Pois, este mundo é lar de criaturas gigantes, descritas como deuses nas lendas, além de estar na sombra de um planeta gigante e perigoso. Não bastasse isso, a história constrói todo um mistério em torno da origem da HymnWave, cuja fonte pode não ser algo natural, e possuir um propósito sinistro por trás. Dito isso, Jett não apresenta um grande combate, sendo que estes perigos são resolvidos em forma de puzzles, ou de fugas desesperadas. Por exemplo,
Portanto, sua história toca em diversos temas relacionados à busca pela verdade por tras dos mitos, as dúvidas em relação à fé dos exploradores, e sua determinação em realizar a missão. Então, há um toque de civilizações perdidas, deuses antigos e terrores cósmicos, apesar de não pesar muito no terror.
Uma boa experiência, mas divertida?
Sinceramente, é difícil dizer se Jett é um bom jogo ou não, pois ele é daqueles jogos minimalistas, com poucas mecânicas, mas com uma grande ambientação.
O mundo alienígena é bastante belo, com diferentes biomas e temáticas em suas ilhas. Acompanhado de uma trilha sonora impecável, descobrir os segredos deste mundo é uma experiência memorável e bastante prazerosa.
Porém, por ser minimalista, ele também não apresenta grandes desafios, e tem poucas mecânicas para explorar. Por exemplo, o único upgrade da nave está relacionado ao tamanho de seu tanque de aceleração. Para expandi-lo, é preciso encontrar uma espécie de planta especial, e interagir com ela. Porém, este upgrade não é necessário para avançar na história, e ajuda apenas a avançar mais rápido.

Por fim, grande foco está na história, mas ela também pode não agradar todo mundo. Este é o tipo de história que esbanja nas perguntas, mas economiza nas respostas. Ao invés disso, a interação dos personagens e seus anseios são mais importantes. Ao longo do jogo, vemos como eles reagem aos problemas, às diversidades, às descobertas, e ao encanto do planeta. Que sua missão é apenas o pontapé da colonização, e que em breve eles devem voltar ao hipersono, também pesa em suas mentes, já que se falharem, pode custar todo o sucesso da missão.
Pessoalmente, eu gostei da abordagem, pois ela se encerra com uma sensação de mistério, e de esperança para o futuro. Porém, também entendo se sua reação for de frustração, com tão poucas respostas dadas.
Conclusão
Jett: The Far Shore é um jogo bastante contemplativo, com uma trilha sonora fantástica, e um mundo belo de se explorar. Porém, é um jogo com uma jogabilidade simples, e uma história que cria diversos mistérios, mas não se aprofunda, nem responde, a maioria.
Jett é o tipo de jogo que vai depender muito do que você gosta, para dizer se é bom ou não. Apesar dessa frase ser verdade para a maioria dos jogos, é especialmente verdade para Jett. E um dos motivos disso, é que Jett é difícil de classificar em um gênero. Inicialmente, eu o classifiquei como exploração e aventura, o que é verdade, mas também não diz muito sobre o que é esse jogo.
Assim, termino esse texto arriscando dizer que Jett é um ótimo jogo para quem é fã de jogos do tipo “Walking Simulator”, onde o foco não está em superar desafios, mas de aproveitar uma narrativa interessante, com uma arte bonita, e uma experiência difícil de encontrar igual por aí.