Introdução
Lost Judgment mostra o retorno do detetive mais durão de Kamurocho, Takayuki Yagami, onde ele investigará mais um caso que desafia o sistema de Justiça, onde dessa vez, ele precisa encontrar a verdade por trás de um assassinato impossível.
Ao mesmo tempo um Spin-Off e continuação da série Yakuza, ele foi desenvolvido pelo studio Ryu Ga Gotoku, responsável por toda a série. Foi lançado no dia 24 de setembro para Playstation e Xbox.
O Mistério
Era para ser um julgamento simples, onde o réu é claramente culpado. Todas as provas apontam para isso. É fácil provar que Akihiro Ehara é culpado da acusação de abusar de uma mulher em um trem. Desde o relato de testemunhas, câmeras de segurança e filmagens de celular do momento em que ele é pego. Todos os seus passos nessa fatídica manhã, foram registrados.
Porém, assim que ele recebe a sentença, uma expressão de vitória surge em seu rosto, e então ele revela algo perturbador. Um corpo seria encontrado em um armazém abandonado. O cadáver, pertence a um homem que, 4 anos antes, era um Bully na escola de seu filho, que se suicidou pelos abusos que sofria nas mãos desse homem.
Esta afirmação causa grande comoção, pois ele sabia de um crime antes de qualquer um. Sua declaração, também dá uma grande motivação para cometer o crime, se vingar de seu filho.
Para piorar, alguns dias depois, uma filmagem do momento do assassinato viraliza na internet, e nele vemos claramente que o culpado é Akihiro. Mas, como é possível ele ser o culpado do assassinato, se ele já está condenado por outro crime, que aconteceu no mesmo horário?
O único capaz de encontrar a verdade neste caso é o nosso querido detetive Tak, que irá investigar o submundo do crime japonês, lidar com Bullies na escola, e desenterrar traumas do passado, que muitos prefeririam esquecer.
A Investigação
Antes de mais nada, é preciso esclarecer que este jogo é uma continuação direta de Judgment. Assim, ele assume que você já conhece estes personagens e suas histórias. Portanto, recomendo jogar o primeiro antes de começar este aqui. Também recomendo dar uma lida na nossa análise, pois estes são jogos que valem o seu tempo.
A história de Lost Judgment segue o mesmo estilo do anterior. Um mistério que parece não solucionável no começo, seguido de uma investigação que segue por caminhos inesperados, com diversas pistas espalhadas sendo descobertas, analisadas e reveladas. Além disso, conta com muitas lutas e Kung-Fu, seja para conseguir informações, se defender do crime organizado japonês, ou se livrar da perseguição dos verdadeiros culpados pelos crimes.
Porém, onde Lost Judgment se destaca está em sua temática, que dessa vez aborda o problema do Bullying nas escolas japonesas. Isso está ligado à motivação do acusado que inicia esta história. Seu filho sofreu durante muito tempo nas mãos de Bullies na escola, que ignorou tudo o que ele passava, com a desculpa de “são apenas crianças”. Até mesmo seu pai, ignorou os sinais e os pedidos de socorro de seu filho, o que o levou ao suicídio.
Assim, a história vai interligando diversos acontecimentos aparentemente desconexos, em uma teia de crimes, corrupção, e disputas de poder. É uma ótima história policial, pois ela constantemente te entrega as pistas, mas não revela sua importância imediatamente. Até mesmo comentários feitos de passagem podem se mostrar cruciais mais para frente. Mesmo que você não participe ativamente da investigação, pois ele te dará a resposta eventualmente, é empolgante tentar adivinhar tudo antes do momento, e ver se suas suspeitas se confirmaram.

O Bullying
Com um tema sensível como esse, é preciso tomar cuidado como será abordado, e o jogo acerta em alguns pontos, mas erra em outros. Quanto aos acertos, ele trata o problema como algo difícil de se resolver, que não tem uma solução imediata que mudará da noite para o dia. Entre elas, está o fato de cuidar melhor das crianças, e as escolas realmente combaterem este problema, além de dar apoio às vítimas, que geralmente têm medo de apenas piorar sua situação.
Em um dos momentos mais emocionantes da história, Tak também propõe o ato de que alguém precisa erguer a voz pela primeira vez. É isso que dá a coragem aos outros denunciarem o que vêem de errado. Pois, somos psicologicamente preparados para pensar que, se não tem ninguém defendendo a vítima, então o problema não é tão grave assim, mesmo que seja.
Outro ponto abordado, e essencial à história, é como a violência não é uma boa resposta ao Bully, apesar deste geralmente ser nossa primeira reação. Violência pode impedir momentaneamente, mas não resolverá o problema de vez.
Porém, também temos cenas destoantes, onde o protagonista se vê em diversos confrontos diretos contra os Bullies. Por pior que estas pessoas sejam, ainda estamos falando de um mestre de Kung-Fu de 40 anos espancando adolescentes de 16. Então há um certo encontro entre o gameplay e a história neste ponto. Felizmente, isso acontece apenas nos primeiros capítulos, e nos seguintes mostram Tak conquistando a confiança e o respeito dos bullies na escola, de forma que eles também passam a entender o quão ruim era seu comportamento.
A Escola
Dessa vez, além de termos todas as atividades secundárias e missões já características da série Yakuza, também temos uma série de missões focadas na vida escolar. Ou, pelo menos, em uma versão bem mais empolgante e animada do que eu me lembro.
Estas são chamadas “School Stories”, onde Tak precisa trabalhar como um conselheiro dos diversos clubes, para acessar a escola e seguir com a investigação da história principal. Apesar destas histórias estarem completamente separadas da narrativa principal, também podemos dizer que são parte do conteúdo principal do jogo.

Além de histórias, elas também trazem mini-games bastante elaborados. O primeiro que encontramos é o do clube de dança, onde devemos ajudar os alunos a executarem coreografias em um jogo de ritmo, parecido com Guitar Hero.
Com o tempo, também liberamos batalhas de robôs no clube de robótica, treinamos no clube de Boxing, participamos de corridas pela cidade com a Gangue dos motociclistas, e fazemos manobras radicais com o novo skate do Tak.
São missões bastante elaboradas, que misturam as histórias malucas, com uma lição de moral por trás, das histórias secundárias, e a diversão dos mini-games.
As Cidades
Assim como em Yakuza:Like a Dragon, Lost Judgment conta com duas cidades para explorar, Kamurocho e Ijincho. Cada uma consta com sua própria coletânea de mini-games e histórias secundárias para resolver. Além disso, explorar estas regiões ficou mais fácil com a adição do Skate. Tak pode usar este skate para realizar manobras em certos locais, ou simplesmente andar mais rápido por aí.
A exploração também deu uma melhorada em Lost Judgment, com a adição de alguns Gadgets de detetive, e a habilidade de escalada do Tak. São eles o Amplificador de sons, Detector de sinais, e o incrível cachorro detetive.
Cada um desses itens está associado a diversas missões secundárias. Por exemplo, o cachorro detetive é famoso na região por farejar problemas. Ele então, corre para tentar resolver o caso. Assim, se você levar o cachorro para passear, ele pode sentir o cheiro de confusão, e te levar até lá.

De qualquer forma, você não precisa andar muito para encontrar alguma história maluca para se envolver. Seja ela resolver o mistério de um manequim vivo assombrando os corredores da escola, ou ajudando um homem a encontrar a lendária “barraca de Ramen Fantasma”.
Quanto às escaladas, são sessões lineares, onde você precisa descobrir o caminho para subir algum prédio. São sessões simples, e sem muito desafio, onde basta seguir o caminho marcado. Além disso, só estão disponíveis em certas missões, não podendo usar para explorar a cidade livremente.
No entanto, nem todas as adições funcionam bem. Alguns momentos exigem que você passe de forma furtiva por guardas, evitando ser visto e nocauteando silenciosamente alguns. Porém, são sessões bastante frustrantes, fáceis de dar errado, e muito simplistas. Geralmente, exigem apenas que você espera o alvo virar de costas, ou jogar uma moeda no chão para que ele vire.
Lutando por Justiça
O combate segue o estilo Beat’em Up da série Yakuza, mas com algumas mudanças. Desta vez, Tak conta com três estilos marciais para lutar pelas ruas de Tokyo. O estilo da Garça e do Tigre repetem sua participação do primeiro jogo, mas acompanhados de um novo estilo, o da Cobra.
Cada um altera a forma com Tak luta, e tem diferentes objetivos, dependendo do tipo de oponente, ou da quantidade. O estilo Garça usa golpes mais amplos e rápidos, perfeito para acertar todos os inimigos em volta. Já o do Tigre usa socos focados em um inimigo só, e seus golpes carregados conseguem quebrar a defesa de qualquer um. Enquanto isso, o estilo Cobra é mais defensivo, focando em contra-golpes, desarmamentos, e rasteiras bem dadas.
De qualquer forma, o combate continua prazeroso como sempre, com seu Kung-Fu misturado com poderes, que é ao mesmo tempo, impactante e divertido de se olhar. Assim, continua a sensação de ser invencível e capaz de encarar todos os capangas de Kamurocho apenas com os punhos da Justiça!

Visitando o Japão
Não só de lutas e crimes vive Lost Judgment. Aproveitando bem o hardware da nova geração, Lost Judgment apresenta uma versão do Japão realista e linda de se visitar. Sempre me impressiono com o nível de detalhe da cidade e suas lojas. Todo canto está cheio de coisas para encontrar, e detalhe. Aliás, se olhar com atenção, encontrará vários desenhos de esquilo pintados nas paredes. Talvez algo de bom acontecerá se encontrar todos…
Além disso, se você já jogou o anterior (que recomendo), e Like a Dragon, poderá conferir como essas regiões de Kamurocho e Ijincho mudaram neste meio tempo. É algo prazeroso andar por estar ruas, e visitar os locais que você conheceu, vendo as lojas novas que abriram, ou as antigas que fecharam no período. .
Talvez o que faltou nesta visita foi uma trilha sonora mais marcante. Apesar do espetáculo visual que a cidade oferece, as músicas de Lost Judgment não chamam tanta atenção. Consigo lembrar das ruas, dos letreiros, dos personagens, mas não me lembro de nenhuma das músicas tema. Até mesmo a que toca durante as lutas, é difícil de me lembrar. Portanto, chego à conclusão que as músicas deste jogo são apenas funcionais, não sendo boas o suficiente para grudar na mente, nem ruins o bastante para eu ter o que reclamar.

Conclusão
Lost Judgment é mais um grande título da série Yakuza. Com uma história de detetive intrigante, você estará o tempo todo buscando ligações entre as diversas pistas, e na ponta da cadeira para saber o que acontecerá a seguir. Além disso, o fato de que cada um dos capítulos acabam em alguma forma de Cliffhanger, só incentiva ainda mais a continuar atrás desta história.
Mecanicamente, o jogo segue a mesma fórmula do Beat’em Up normal de Yakuza, com suas lutas de rua e golpes exageradamente divertidos. Assim, pode-se dizer que o jogo não inova muito nesse quesito, mantendo o que já era bom. Quanto às histórias, o maior foco nas atividades escolares traz uma boa novidade, com atividades bem diferentes das lutas. Você se divertirá com estas histórias, essenciais para aproveitar bem a experiência que Lost Judgment tem a oferecer.
Enfim, este é mais um grande acerto do estúdio Ryu Ga Gotoku, que segue brilhando em seus jogos, trazendo histórias profundas e emocionantes, mas que nunca deixam o pastelão de lado por muito tempo.
*Chave cedida para análise