Introdução
The Caligula Effect 2 é um RPG por turnos que promete entregar uma narrativa profunda e existencialista. Este tema já foi abordado de diferentes maneiras na cultura pop. Na arte cinematográfica, um filme de grande destaque sobre o assunto é Matrix. Pois, durante a obra, o protagonista Neo, deve questionar tudo que acredita e decidir se deve ou não aceitar as verdades ocultas que lhe são reveladas ao decorrer da jornada.
De forma similar, agora no mundo dos games, tivemos Nier Automata, game este que aborda de forma inteligente a psique humana e reflete junto com o jogador, sobre o verdadeiro significado da vida e nosso papel como indivíduo no mundo. Portanto, The Caligula Effect 2 aborda estes mesmos assuntos citados acima, entretanto, será que o título consegue entregar uma reflexão sobre estes temas de uma maneira interessante? Confira agora em mais uma análise do Garota no Controle.
The Caligula Effect 2 foi desenvolvido pela FuRyu e será lançado no dia 19 de outubro. O game chegará nas plataformas Nintendo Switch e PlayStation 4.
O que é real? até que ponto você iria para se livrar dos seus arrependimentos?
O subtítulo citado acima, basicamente resume a proposta inicial de The Caligula Effect 2. O game começa com o protagonista e uma figura misteriosa em uma grande sala branca. Logo, este personagem misterioso se revela como Regret. Ela nos diz que após entrarmos por um portal presente na sala, iremos nos livrar de todo o nosso fardo e arrependimentos. O discurso inicial da intrigante figura se mostra vago e até mesmo sem sentido inicialmente, entretanto, as respostas irão aparecer mais tarde.
Após alguns diálogos cheios de frases enigmáticas, temos que selecionar o gênero, nome e definir algumas características visuais do protagonista. A customização é bem singela e não chega a ser nem um pouco complexa, honestamente, eu esperava algo mais elaborado e variado, entretanto, a forma de criação de personagem apresentada cumpre o propósito levantando. Pois, o protagonista do game será uma casca vazia, ou seja, ele não terá diálogos próprios ou personalidade, cabendo ao jogador decidir as falas do personagem.
Portanto, logo depois de criarmos nosso herói, devemos adentrar o misterioso portal. Assim sendo, mesmo com todos os indícios que abandonar todos os fardos e arrependimentos terá um custo caro, a personagem entra pelo portal em busca de algo melhor, mesmo que esteja abrindo mão da verdadeira liberdade.
Enter the Redo
Logo depois que a protagonista adentra no portal, somos apresentados a uma realidade simulada chamada de Redo. Este mundo foi criado por Regret, e habita diversas pessoas que resolveram se livrar dos seus arrependimentos. Portanto, no momento que estes personagens entram nesta nova realidade, eles esquecem de toda a sua vida no mundo real e tem um histórico falso introduzido em suas mentes.
Assim sendo, eles sentem que viveram toda a sua vida naquele local, sendo que em nenhum momento questionam se aquele ambiente é ou não real.
Depois de uma pequena introdução, a protagonista do game se encontra em um colégio. Portanto, somos apresentados de forma rápida a rotina que ela exerce naquele ambiente, como também as relações da personagem. Embora tudo aparente estar relativamente normal, fica evidente em como tudo naquele mundo parece falso ou até mesmo questionavelmente comum demais. Assim sendo, fica claro que a protagonista tem questionamentos sobre a realidade que está exercida.
O despertar
Após realizar algumas tarefas, a protagonista se redireciona ao refeitório. Chegando lá, ela se depara com uma estranha rachadura em uma janela. Neste momento, a personagem começa a ter flashs sobre a sua vida fora da realidade simulada. Portanto, as misteriosas forças que controlam os fios do mundo simulado fora do local, imediatamente mandam agentes de contenção para atacar a protagonista.
Estas criaturas assumem o corpo das pessoas dentro da simulação e tem o papel de serem agentes de extermínio para corrigir a anomalia, ou seja, a pessoa que acordou para a realidade. Neste momento, a misteriosa X aparece no local, de uma maneira bem inusitada inclusive, e ativa de forma definitiva as memórias da protagonista. Assim sendo, por ter aberto sua mente e estar plenamente consciente de seu estado em uma realidade simulada, a protagonista libera algumas habilidades, aspecto este que falarei mais pra frente.
Logo depois que derrotamos os inimigos iniciais, ao andarmos pela escola encontramos mais um personagem que está “acordando”, assim X o ajuda a se libertar por completo. Portanto, ele também se vê livre das amarras daquele sistema, sendo que também possui habilidades especiais, assim como a protagonista. Então, o objetivo principal dos personagens é descobrir a real razão do despertar e escapar para o mundo real.
Uma boa história com personagens que se destacam
The Caligula Effect 2 apresenta uma história interessante e misteriosa. Portanto, a trama não tem pressa em relevar a verdade logo de cara. Assim sendo, os acontecimentos vão caminhando aos poucos na medida que o jogador progredi no game. Como dito anteriormente, era esperado que a obra abordasse de forma profunda e filosófica questões existencialistas. Infelizmente, neste aspecto o título poderia ter tido mais profundidade, sendo que a narrativa apenas arranha a superfície e não se aprofunda nas filosofias apresentadas.
Entretanto, a história apresentada aqui é interessante, fator este que ocorre graças aos personagens que acompanham a protagonista. Embora nosso personagem não tenha uma personalidade, os nossos companheiros tem este elemento de sobra. Logo, ao conversarmos com eles, poderemos compreender a forma que cada um deles pensa sobre toda a situação.
Este elemento se mostra importantíssimo durante a jornada, pois ao mesmo tempo que alguns deles se apegam ao sentimento de justiça, no qual precisam alcançar o mundo real a qualquer custo, outros tem dúvidas. Pois, se eles estão ali por livre e espontânea vontade, algo os fez tomar esta escolha. Então, uma parte importante do game é descobrir a real motivação que levou os nossos companheiros a adentrar a realidade simulada.
Antes de continuar, é preciso dizer que os jogadores não precisam ter jogado o título anterior para entender a narrativa de The Caligula Effect 2. Pois, embora se passe no mesmo universo da obra antecessora, todos os eventos aqui são próprios deste game, tendo apenas algumas poucas menções ao jogo anterior.
Missões secundárias interessantes porém confusas
Um dos aspectos que poderia ser melhor em The Caligula Effect 2 é o sistema de missões secundárias. Pois, os ícones destas missões são muito similares ao das principais. Além disso, o game não fornece nenhum indicativo sobre o tipo de quest que o jogador está realizando. Logo, na minha experiência, eu acabei perdendo tempo demais nas missões secundárias, achando que estava nas principais, pois, em nenhum momento o jogo forneceu um indicativo do contrário.
Portanto, com exceção deste pequeno elemento, no geral as quests secundárias são interessantes. Elas envolvem ajudarmos algum personagem em algum objetivo. Por exemplo, um dos primeiros NPCs que encontramos, pede para que nós encontremos algo para ele comer, pois está em jejum faz alguns dias. Ao fazermos isto, nosso relacionamento com eles irá aumentar de nível.
O fator de level de relação está presente em quase todos os personagens de missões secundárias, e principais, incluindo nossos companheiros de jornada. Ao aumentarmos este nível, será possível desbloquearmos novos diálogos, missões e até mesmo a opção de ganharmos um boost em batalha.
Além disso, a protagonista possui um celular, no qual ela pode mandar mensagem para todos os personagens que interagir no game. Sim, TODOS, e por incrível que pareça, este sistema é muito bem feito. Pois, embora as mensagens que mandamos sejam iguais, as respostas dos NPCs apresentam uma variação incrivelmente alta.
Um combate satisfatório e variado
O combate de The Caligula Effect 2 é por turnos. Portanto, ao entrarmos em uma batalha, devemos selecionar qual ataque iremos dar. Após selecionarmos a opção, uma simulação do ataque irá aparecer e mostrar ao jogador a previsão do dano que será exercito ao inimigo. Esta previsão acaba sendo altamente eficaz nos confrontos contra mais de um inimigo, pois, é possível termos uma base se iremos levar dano do vilão ou não.
Além disso, nos momentos de confrontos, iremos assumir o papel dos companheiros para atacar. Cada um deles possui uma especialização única e forma de ataque distinta. Assim sendo, nosso protagonista ataca usando atacas, o outro companheiro atira a distância com uma besta e por fim, a personagem ataca usando uma foice. Ao avançarmos no game, outras pessoas irão despertar para a realidade. Portanto, podemos trocar os membros da nossa equipe, sendo que o limite de integrantes são 4 personagens, incluindo a protagonista.
Após cada confronto, os personagens irão ganhar XP e upar de nível, sendo que a caba novo level liberado, novas habilidades serão desbloqueadas. Durante os combates é possível usarmos habilidades especiais de personagem e da X, que começa a cantar uma música super animada enquanto ataca inclusive.
Uma exploração que cumpre seu proposito
The Caligula Effect 2 apresenta cenários semi abertos para o jogador explorar. Então, ao adentrar em cada um destes locais, é possível encontrarmos itens, personagens com missões secundarias e até mesmo colecionáveis. Mas cuidado, pois cada um destes locais também terá inimigos a espreita prontos para atacar.
Trilha Sonora
The Caligula Effect 2 apresenta um grande foco em sua trilha sonora. As músicas aqui apresentadas são parte da narrativa, e este fator acaba fazendo mais sentido enquanto o jogador progride na campanha. Assim sendo, o game consegue fazer um excelente trabalho em entregar uma trilha variada, altamente bem composta e que encaixa nos momentos certos.
Nos confrontos, embora as músicas tendam a se repetir, elas acabam não se tornando cansativas. Pois, o título apresenta a criativa solução de alternar a intensidade das melodias dependendo do tipo de inimigo que estamos enfrentando. Esta solução foi genial, pois impede que a trilha se torne repetitiva.
Um visual excelente que passa a sensação proposta
The Caligula Effect 2 faz um excelente trabalho em entregar uma ambientação que faz o jogador questionar a realidade. Portanto, muitos dos cenários apresentados do game são os do dia a dia, como escolas, estações de metrô e até mesmo shoppings. Este elemento faz com que o player se sinta imerso naquele ambiente comum, entretanto, agora com a consciência que tudo aquilo não passa de uma simulação.
Além disso, o game faz um excelente trabalho em apresentar um visual que se assemelha muito a um anime. Isso torna os elementos gráficos interessantes e satisfatórios, mesmo que não apresentem uma grande inovação gráfica. Portanto, posso dizer com certeza que os visuais de The Caligula Effect 2 cumprem de forma maestral o que é proposto.
Desempenho
Infelizmente, The Caligula Effect 2 não é perfeito, mesmo que chegue bem perto disso. O game possui alguns problemas de quedas de FPS, principalmente em cenários abertos. Minha experiência foi no PS4 Slim, sendo que outro fator que poderia ter sido melhor trabalhado são os loadings. Pois, eles são muito frequentes e demorados em alguns locais. Isto dito, o título não apresentou nenhum problema envolvendo bugs ou crashs.
Conclusão
The Caligula Effect 2 é um excelente RPG que cumpre a maioria dos elementos que propõe. Embora deixe a desejar na profundidade das filosofias existencialistas apresentadas, o game consegue entregar um gameplay divertido e viciante, que irá agradar os fãs de JRPG, principalmente os por turnos.
Além disso, a trilha sonora incrivelmente bem encaixada e os personagens cativantes, fazem com que The Caligula Effect 2 seja um título que recomendo fortemente para todos que estão em busca de uma jornada fora do padrão, divertida e com uma pitada de questionamento existencialista.
*Chave cedida para análise no PlayStation 4 Slim