Introdução
Já faz alguns anos que a Square-Enix vem trazendo lançamentos para a franquia SaGa, porém nada de realmente grandioso tem feito parte dessa onda, como um novo título para consoles ou PC. Nesse sentido, o que tem sido visto foram jogos para navegadores da web como Imperial Saga, SaGa Re;univerSe para smartphones e versões remaster dos clássicos de gerações passadas (Romancing SaGa 2 e 3 de Super Famicom e SaGa Frontier de PsOne).
Assim, a Square-Enix anunciou para Steam e celulares iOS/Android o mais recente relançamento feito para Switch em 2020. Trata-se do compilado Collection of SaGa Final Fantasy Legend, que consiste em um bundle com os 3 primeiros títulos de toda a franquia. Estes jogos fizeram sucesso nos anos 90, sendo que o primeiro sendo lançado em 1989 para o Game Boy clássico. Por consequência, deram origem a uma gama de fãs que até hoje guardam boas lembranças deles.
Franquia SaGa

A princípio, após o lançamento do segundo título da franquia Final Fantasy, parecia que seu sistema de progressão incomum dentre os JRPGs seria descartado. Essa mecânica se resume ao fato dos personagens não terem um level que indique seu poder, msa evoluem através de suas ações em batalha. Portanto, eles aumentam sua força golpeando os inimigos e também sua aptidão com a arma equipada ou ataques com as mãos nuas. Em seguida, podem aumentar seu HP e defesa física recebendo ataques, tanto quanto aumentar inteligência conjurando magias.
Desse modo, segundo reportagens de vários anos atrás (link para um artigo arquivado da finada 1UP) muitos consideram a franquia SaGa como sucessora de Final Fantasy II, pelo menos no modo de se evoluir. Todavia, tirando este elemento, temos as diferenças da franquia em questão que marcaram e consolidaram todos os títulos que vieram depois, através dos anos.
Em primeiro lugar, o plot não-linear em que raros jogos possuíam algo igual, inclusive no Gameboy com todas as suas limitações. Em segundo lugar, foi uma das primeiras franquias a trazer a ideia de mundo aberto para a indústria, bem como a situação de quebra de armas após o uso frequente delas. Aliás, este elemento fez parte de outros jogos da série.
Makai Toushi SaGa/ Final Fantasy Legend


Em 1989, o sucesso de Tetris para Gameboy levou a Squaresoft (atual Square-Enix) a querer emplacar uma nova IP que pudesse aproveitar a febre com o portátil da Nintendo. Logo, um integrante da empresa foi posto nesta missão, Akitoshi Kawazu.
Kawazu foi o designer de batalha de Final Fantasy II, e mesmo com seu estilo não retornando nesta outra franquia, o sucesso do jogo o colocou em um novo caminho. Dessa maneira, ele foi diretor, coautor e designer do primeiro título SaGa – Makai Toushi, que traduz em algo como “Guerreiro na Torre do Mundo Espiritual”. Com isso, a Squaresoft presenciou a primeira vez em que uma obra sua atingiu mais de 1 milhão de vendas (cerca de 1,3m, segundo a revista Retro Gamer edição 180 – pág. 80-85).
Em se tratando do port para o ocidente, a empresa considerou melhor aproveitar o sucesso de Final Fantasy na região. Então, Makai Toushi Saga chegou nos EUA com o novo nome de Final Fantasy Legend, o que rendeu cerca de 200 mil cópias vendidas e marcando época com o Gameboy americano.


Os Reis e a Torre
Em síntese, a trama diz sobre uma Torre onde seus andares atravessam quatro mundos, e que é o caminho para o Paraíso (Torre de Babel??). Assim, na base dela temos o Mundo do Continente, a seguir do Oceano, daí vem o do Céu e por fim o da Ruína. De início, para entrar na torre é preciso conseguir a Esfera Preta que abrirá seus portões. Porém, três reis que governam o primeiro mundo carregam itens necessários para a aquisição da esfera.
Porém, estes 3 reis não entregarão os itens de maneira fácil. Cada um ou pedirá um favor, ou terá que ser vencido em batalha. Além disso, ao conseguir a esfera os heróis terão que enfrentar os deuses protetores da Torre à medida em que avançam pelos andares a caminho do Paraíso.
Gameplay e o sistema de Kawasu

De acordo com o gameplay, o jogador escolhe o personagem principal, com as opções de classe entre Humano, Mutante (Esper no Japão) e Monstro. Logo após, ele escolhe outros três integrantes para fazer companhia ao principal, mas estes podem ser dispensados durante o jogo e substituídos caso se mostrem pouco úteis.
Em resumo, os humanos são grandes guerreiros com acesso a uma grande seleção de armas e armaduras que aumentam seus atributos com ações em batalha, mas não possuem aptidão mágica. Por outro lado, os Espers usam magia devido a sua origem vir de humanos com antigos seres nascidos da Torre, e possuem um limite menor de equipamentos. Enfim, os Monstros são variados em atributos e formas, e podem se alimentar da carne de outros, sofrendo mutações que influem em suas habilidades. Estes não podem equipar item algum.
Como dito antes, a evolução dos personagens seguem um esquema parecido com o de Final Fantasy II, levando em frente o legado criado por Akitoshi Kawasu por toda a franquia SaGa.
SaGa 2: Hihou Densetsu/Final Fantasy Legend II


À medida em que cada vez mais fãs surgiam com o primeiro SaGa, de modo inesperado, Kawasu e a Squaresoft se veem obrigados a trabalhar em uma sequência. Por isso, em 1990, veio à luz SaGa 2: Hihou Densetsu (subtítulo traduzido em algo como “A Lenda do Tesouro”) para Gameboy no Japão. O jogo foi outro sucesso, com vendas chegando a 850,000 unidades no Japão [Retrogamer ed. 180). Um remake foi lançado para Nintendo DS em 2009.
Pelo mesmo motivo do jogo anterior, em 1991 este também teve o nome mudado para o ocidente, lançado como Final Fantasy Legend 2.
A Torre agora como o Pilar do Céu
Novamente, a Torre retorna na história desta sequência, agora chamada de Pilar do Céu. Segundo a lenda, existiu uma estátua da deusa Isis que poderia conceder poderes de um Deus, mas também pode trazer a ruína para os mundos. Por isso, a estátua foi separada em 77 partes, prismas chamados de Magi por conter grande essência mágica e concedendo habilidades sobrenaturais para o usuário.
Nesse ínterim, seres intitulados “Os Novos Deuses” querem reunir o máximo destes fragmentos para alcançar o patamar divino da lenda de Isis. Dessa forma, quatro heróis irão partir na busca por estes fragmentos, ao mesmo tempo que o herói principal tentará achar seu pai. Na trama, ele partiu enquanto o herói era ainda criança, e deixou com ele um prisma que mais tarde descobre-se ser um dos fragmentos Magi. O pai pertence a um grupo secreto chamado Os Guardiões, que também buscam pelas partes da estátua.
Gameplay com poucas mudanças
No geral, pouco foi mudado nas mecânicas ao se comparar SaGa 2 com o anterior. Das poucas adições, o cenário teve algumas mudanças nos mundos que envolvem a Torre principal e nos NPCs, monstros e deuses inclusos.
Assim também ocorre com as classes, na qual recebeu apenas a adição dos Robôs. O robô pode utilizar um número de armas e armaduras semelhante ao humano, com a diferença de que a duração delas foi reduzida pela metade. Além do mais, ao quebrarem, se recuperam com uma noite de sono. Esta classe evolui nas batalhas da forma já conhecida do título anterior.

Jikuu no Hasha ~ SaGa 3 [Kanketsu Hen]/Final Fantasy Legend III


Esta sequência foi marcada pela a ausência de Kawazu no processo de produção. No entanto, o mesmo não estava muito longe, pois estava trabalhando no primeiro jogo da franquia SaGa para consoles, o Romancing Saga para Super Famicom de 1992 (Retrogamer ed. 180).
Então, um ano antes, a Squaresoft trouxe o que seria o último episódio da trilogia para Gameboy, sob o nome Jikuu no Hasha ~ SaGa 3 [Kanketsu Hen]. O título traduz-se como O Governante do Tempo e Espaço ~ SaGa 3 [Capítulo Final], bem como recebeu seu nome ocidental Final Fantasy Legend III quando lançado nos EUA em 1992. As vendas chegaram a 650,000 unidades no Japão, segundo a revista japonesa Dorimaga (ed. 19, pag. 46-47).
Mudanças de temática
Sobretudo, SaGa 3 trouxe elementos de sci-fi como a viagem no tempo para o enredo na qual os personagens precisam viajar por presente, passado e futuro na tentativa de impedir que o mundo seja submerso por completo pela Entidade da Água. Um Deus chamado Sol selou o mundo da Pureland após conflitos com o Deus Xagor. Assim, Xagor tenta se vingar lançando o mundo em um dilúvio.
De todo modo, o game traz o protagonista Dune junto de seus amigos Polnaref, Milfie e Sireugh (Nos EUA se chamam Artur, Curtis, Gloria e Sharon). O quarteto é de jovens reunidos e trazidos do futuro por Sol para impedir o dilúvio de Xagor. Logo, Sol fornece a nave Stethros (Talon/EUA) capaz de viajar pelo tempo e auxiliar com que os heróis salvem o mundo.
Gameplay também com mudanças
Neste último SaGa de Gameboy, surgiu pela primeira vez na série a evolução de personagens por XP e níveis. apesar de ainda manter parte da mecânica de aumento de atributos por batalhas. Agora, o jogador decide entre duas raças no lugar de classes, sendo elas Humanos e Espers (Mutantes).
Os Humanos evoluem através de XP e nível, e os Mutantes através do modo clássico em SaGa com ações em batalha. Durante o jogo, o jogador encontrará carne de monstro e partes mecânicas. Assim, ao digerir a carne, os personagens começam ganhando formas de animais, podendo chegar a um Monstro. O mesmo acontece ao usar as partes mecânicas, evoluindo para ciborgue e em seguida, um robô.
Além disso, os heróis podem equipar pedras mágicas para ganhar magias e outras habilidades. Há também lojas espalhadas pelos cenários para se comprar itens e equipamentos como armas e armaduras.

Detalhes de Collection of SaGa
Embora esse novo lançamento conserve boa parte da trilogia original de Gameboy, o pacote vem com algumas novidades. Em primeiro lugar, o jogador pode escolher entre inglês e japonês nos textos de jogo. Em segundo lugar, além da visão original vertical do Game Boy, estas versões trazem a visão horizontal. Ainda mais, temos a opção de alta-velocidade que afetam o texto e o combate. Por fim, é possível jogar com a imagem em 4k, exclusivo da versão Steam.

Fim da SaGa… Por enquanto
Após tanto tempo desde a chegada da trilogia original para Game Boy clássico, é muito importante que apareçam jogos marcantes do passado que os jogadores de hoje não fazem ideia de sua existência. Com isso, é possível até mesmo reavivar o estilo único que esses títulos trazem. Por mais que sejam JRPGs, por outro lado, elementos presentes neles destoam em muito do que já foi visto e o que é lançado nos dias de hoje.
Em conclusão, esta versão da Steam, como também a de smartphones, será muito bem-vinda. Certamente será uma bela adição a toda a gama de jogos do gênero que temos hoje.