Introdução
Para os fãs de League of Legends, um delírio. Para aventureiros de primeira viagem, uma aula de como dar Boas-vindas. Ruined King é uma surpresa das boas, daquelas que não se anuncia e, quando chega, entra com os dois pés na porta.
A obra é um dos produtos lançados pela Riot Games para expandir o universo de Runeterra além do League of Legends. Contudo, ela não expandiu somente o conteúdo desse mundo, afinal, pessoas que nunca jogaram League of Legends podem entrar nele sem nenhuma barreira.
Criado pela Airship Syndicate através do Riot Forge (uma iniciativa da Riot Games para criar jogos que contam histórias do mundo de Runeterra), o jogo chegou para Playstation, Xbox, Nintendo Switch e PC no dia 16 de novembro.
Primeiramente Ruined King é um ótimo RPG de combate em turnos, mas, além disso, entrega uma aventura que te instiga a todo momento procurar mais sobre o mundo. Além de contar com um enredo bem escrito que satisfaz aqueles que chegaram agora em Runeterra como, também, àqueles que moram aqui faz tempo.
Contexto
A fim de explorar todas as regiões de Runeterra, a Riot decidiu começar por Águas de Sentina. Contudo, essa não foi uma decisão aleatória. Isto é, ela trabalhou a imagem de seu primeiro vilão no League of Legends recentemente com o lançamento de Viego. Não é coincidência que pouco tempo depois do evento no jogo principal da franquia terminar, Ruined King é lançado.
Viego é da Ilha das Sombras, uma região bem próxima às Águas de Sentina, ou seja, explorar essa região agora era realmente o ideal. É importante lembrar também que, o primeiro evento grande que aconteceu no League of Legends envolvia Gangplank, um personagem muito importante do local.
História
A cidade portuária de Águas de Sentina é uma terra sem leis, literalmente. É normal que o mais forte comande ela, que os mais espertos tomam vantagem sobre os mais ingênuos e que a corrupção e roubo aconteçam ao ar livre. Esse cenário é perfeito para que gangues surjam e tentem arrumar seu lugar ao sol. Assim sendo, a maior rivalidade da região nasce quando Gangplank mata a mãe de Miss Fortune e cria nela um sentimento de vingança intenso.
Ruined King inicia que Miss Fortune acabou por matar Gangplank e agora é a líder da cidade. Porém, logo ela percebe que a névoa negra está mais agitada do que costuma ser, e em um desses ataques, quase perde seu braço direito. A investigação da névoa e das Ilhas das Sombras são o verdadeiro foco do jogo, até porque Miss Fortune não está sozinha.
Além dela, estão investidos nessa causa Illaoi, Pyke, Yasuo, Ahri e Braum. Os dois primeiros são também de Águas de Sentina, enquanto os outros três vieram de fora para resolver assuntos. Ahri busca mais conhecimento sobre si mesma, enquanto Yasuo é seu guarda-costas com um juramento sob teste e Braum veio em busca das águas mágicas das Ilhas das Bençãos (agora, Ilha das Sombras).
Cada um tem seu objetivo e o jogo encaixa eles muito bem, não forçando em momento algum o porquê deles estarem ali. Quando eu vi o trailer que teria Yasuo e Ahri em Águas de Sentina, confesso que fiquei confuso e me perguntei porquê. Hoje, vejo que souberam explorar muito bem o mundo e encaixar eles.

O mundo em Águas de Sentina
Com certeza o que eu mais estava ansioso para ver em Ruined King era a ambientação. Afinal, são mais de dez anos jogando League of Legends e com pouco conteúdo além das histórias que a Riot oferece no site principal, algumas animações rápidas. É difícil ter noção de como realmente são os lugares de Runeterra, além de saber seus aspectos principais. Por exemplo: Noxus é militar, Demacia proibi magia, Águas de Sentina é uma terra sem lei, Bandópolis a terra dos Yordles, etc.
Portanto, saber dos pequenos momentos e características do lugar, ficava quase impossível. Mas agora, não. Eu tenho plena consciência de como é Águas de Sentina, consigo imaginar cada canto dela, quão sujo podem ser seus habitantes.
Ruined King conseguiu criar uma ótima ambientação, que cativa qualquer jogador, seja ele novo ou não na franquia. Os mapas possuem detalhes em todos os cantos, seja através de objetos nele, nas ações dos NPC’s ou em suas falas. Caminhar pelos mapas da cidade dá uma sensação de MMORPG, visto que são populosas pelos NPC’s e muito agitadas.
As missões secundárias também são muito bem construídas, tanto na história quanto nos objetivos. Claro, elas não são inovadoras que mudarão o sistema de fazer missões secundárias, porém, são bem diversas e não cansam, além de que não são em grande número.
É tudo na quantidade exata, sem cansar o jogador e entregando muito conteúdo para ele.

O combate
Sem dúvidas esse é o maior trunfo de Ruined King. Afinal, de nada vale um RPG de luta baseada em turnos se ela não é agradável.
Em um cenário onde lutamos no máximo 3 contra 3 e sendo possível enfrentar hordas inimigas em sequência, a obra conseguiu desenvolver um sistema de batalha onde é quase impossível ser monótono. Isto é, muitos jogos com essas características possuem uma luta que acaba ficando repetitiva demais e quebram a magia do jogo.
Cada herói possui três tipos de ataques: ultimate, instantâneo e rota. Eles definem como seu personagem vai agir. Os ataques de rota precisam de um tempo de conjuração (curto, médio ou longo). Os instantâneos são imediatos, assim como os ultimate, porém esses precisam carregar uma barra para ficarem acessíveis e são muito poderosos.
Cabe a nós decidirmos o que fazer e como fazer. O jogo mostra a linha do tempo e a posição da ação de cada ataque. Ela é essencial para nos guiar e desenvolvermos a estratégia. Todas as habilidades de rota podem ser usadas em três rotas: velocidade, equilíbrio e poder. Usar a rota de velocidade te faz agir mais rápido, porém com menos poder, já na rota de poder é o inverso, mais tempo para agir com mais força. A rota do equilíbrio é a padrão.
Ou seja, é uma verdadeira dança, visto que cada inimigo tem suas características e habilidades que são fortes contra uma ou duas rotas e fraca contra outra. Ou então, você precisa agir antes do inimigo para evitar uma morte, uma dificuldade. A adaptação é constante e gostosa de fazer.

Campeões e Builds
Para completar a parte de combate, é obrigatório falar sobre as diversas possibilidades que existem na criação de build de cada herói.
Devo confessar que me surpreendi na complexidade que Ruined King traz nas builds. Mas não entenda isso como dificuldade, e sim, como possibilidades e em como elas se encaixam. E também, a função dos personagens foram muito bem aproveitadas das suas habilidades no League.
A build é dividida em três partes: equipamentos, habilidades e runas. Nos equipamentos é possível adicionar os atributos principais como dano, vida, defesas, chance de crítico, evasão, etc. Já as habilidades podem ser melhoradas conforme upamos, sendo assim possível colocar até três efeitos adicionais. As runas são as que tem efeitos mais fortes, afinal é através delas que guiamos como vamos jogar com aquele personagem.
Todos esses recursos são entregues através do jogo de maneira bem equilibrada e é possível ver uma evolução constante no seu herói sem desequilibrar as lutas. O mais importante é que você pode testar à vontade, já que não gasta nada para realocar os pontos, basta tira-los e coloca-los novamente.
As classes dos campeões variam. Por exemplo, dá para usar o Braum como um ótimo tanque para o grupo, mas também é possível fazer ele virar um forte guerreiro. Já o Yasuo, dá para fazer ele ter uma chance de crítico muito alta ou agir muitas vezes em um turno. O leque de possibilidades é bem extenso e me satisfez bastante.
Vale ressaltar também que o trabalho feito em adaptar as habilidades dos campeões dentro do League em Ruined King foi perfeito. Todas estão inclusas de alguma maneira ou outra e fazem muito sentido.

Conteúdos Legais
Algo que Ruined King fez e trouxe um charme especial para a obra são os conteúdos “extras”. Isto é, eles não são necessários para finalizar o jogo, nem perto disso, mas adicionam poder no seu grupo e ainda traz horas a mais de jogo. Por que não derrotar um chefe extra que está solto pelo mapa? Ou então fazer uma pescaria?
É provável que você queria alguns itens diferentes e únicos, e uma forma de conseguir eles é pescando! Sim, pescando! Cada peixe que nós fisgamos nos dá uma quantia de determinado item e, quando juntamos dez partes de cada, é possível vender ao NPC por moedas do mercado negro. Desse modo, a busca por uma vara melhor e isca de maior nível tem o objetivo de facilitar a pesca e, portanto, a aquisição de itens exclusivos.
Além dos peixes, existem artefatos que conseguimos ao derrotar monstros pelo mundo que também podem ser vendidos no próprio mercado negro. Então, não é apenas através da pesca que é possível conseguir essas moedas, e sim também batalhando.
Por outro lado, temos um quadro de alvos. Nele, estão dispostos alguns alvos que alguém manda matar, por algum motivo. Basta ter um alvo e uma recompensa, qualquer um pode fazer parte desse quadro. Aqui, nós vemos qual o alvo e sua recompensa, a partir daí é encontra-lo no mundo e, quando o matar, voltar aqui para pegar as recompensas.
Por fim, existe a arena, um lugar com desafios difíceis que nos forçam a lutar com um campeão contra um monstro. Apesar das dicas dadas pelo instrutor antes da batalha, as lutas não são simples e exigem atenção e planejamento.

Conclusão
Confesso que eu não estava esperando um grande jogo desde seu anúncio. Talvez o medo de estragarem a franquia ou o mundo dela que eu tanto admirei por diversos anos seguidos, ou só pé atrás mesmo. Não importa, e sim, o que o jogo se tornou. Ruined King é uma viagem espetacular até as Águas de Sentina e a Ilhas das Sombras, daquelas que não dá vontade de ir embora. Entregando aos fãs da franquia e dos campeões um desenvolvimento rebuscado de todo o universo (inclusive com referências a campeões que não estão presentes no jogo nas conversas) e apresentando o que é League of Legends para os marinheiros de primeira viagem.
Através de suas animações bem feitas, falas icônicas e impactantes dos heróis, uma trilha sonora de tirar o chapéu com músicas instrumentais lindas (inclusive, uma lembra Baile de Favela) e muito amor na produção da obra, Ruined King é um dos melhores jogos lançados em 2021. Simples, completo e diversificado, mostra como nem tudo precisa ser uma inovação fora de série para ser bom. Que essa obra seja a primeira de várias do mesmo nível da iniciativa Riot Forge!