Introdução
Sherlock Holmes é um dos personagens mais populares da cultura pop. O famoso detetive foi criado pelo escritor Arthur Conan Doyle e teve sua primeira aparição no ano de 1887. Ao decorrer dos anos, Sherlock foi tendo cada vez mais aparições, sendo elas em filmes, séries e até mesmo games.
O personagem ganhou destaque por ter uma forma incrivelmente ágil de dedução. De acordo com Sherlock, ele pode deduzir a profissão de uma pessoa apenas observando a forma que ela escolhe se vestir. Além disso, por ter uma personalidade anti-social e até mesmo arrogante em alguns casos, o detetive acaba transmitindo um sentimento de superioridade, ou em outras palavras, passa a impressão que todos ao redor dele são burros. Portanto, na ficção, este tipo de constraste acaba sendo interessante de se observar.
Além disso, outro personagem muito presente nas narrativas de Sherlock é Jon, o melhor amigo do detetive e de acordo com ele, a única pessoa que o suporta. O papel de Jon é auxiliar o detetive e, ao mesmo tempo ajuda-lo em situações que envolvam comunicações humanas. Pois, a arrogância de Holmes pode acabar sendo um problema eventualmente.
Assim sendo, juntos os dois residentes da casa 221b Baker Street resolvem crimes como consultores para a polícia, desvendando diversos mistérios intrigantes e desafiadores.
Chapter One
Como deve ter ficado evidente, sou um grande fã das histórias de Sherlock Holmes. Embora eu não tenha me aprofundado muito na literatura do personagem, assisti todos os filmes, séries e joguei os games anteriores do detetive, sendo que Sherlock Holmes Crimes and Punishments foi o que mas se destacou. Assim sendo, logo que vi a notícia que mais uma história original do personagem estava sendo produzida, logo me interessei e comecei a acompanhar o projeto.
Diferente das abordagens anteriores, Chapter One irá apresentar um detetive mais jovem. Portanto, teremos aqui um Sherlock mais humano e de certa forma, até mais arrogante. Além disso, seu melhor amigo Jon também estará presente, sendo que os dois deverão resolver diversos mistérios, incluindo um envolvendo a morte da mãe de Sherlock. Portanto, chegou a hora de vermos se teremos aqui mais uma obra prima do famoso personagem de Arthur Conan Doyle.
Sherlock Holmes Chapter One foi desenvolvido pela Frogwares e lançado no dia 15 de novembro para Xbox Series X|S, PlayStation 5 e PC, via Steam. As versões de Xbox One e PlayStation 4 já estão confirmadas, mas devem chegar em uma data posterior.
Sherlock e Jon
Sherlock Holmes Chapter One começa com Sherlock e Jon em um barco indo em direção a uma ilha paradisíaca chamada Cordona. O local é a terra natal do famoso detetive e lá ele tem o objetivo de visitar o túmulo de sua mãe para finalmente aceitar a perda e encontrar a paz. Este é um aspecto interessante e notável logo de cara. O game irá abordar de uma maneira madura os traumas de Sherlock e as consequências disso em sua vida. Portanto, desde a primeira cena do jogo, fica evidente o quanto a perda de sua mãe transformou o personagem, sendo que em muitas situações ele usa a arrogância para esconder a sua dor.
Jon também é um personagem que apresenta um plot curioso na trama, pois, ele não é o Jon Watson que os fãs estão acostumados. O desenvolvimento dele é semelhante ao do famoso detetive, porém iremos saber mais sobre ele ao decorrer da narrativa. No geral, os dois personagens possuem um bom desenvolvimento e conseguimos ver a evolução deles durante a história, até mesmo quando temos o sentimento que a narrativa não está avançando muito.
O primeiro caso e um tutorial que deixa a desejar
Após está introdução inicial dos personagens, chegamos ao hotel no qual a dupla ficará hospedada. Ao falarem com o recepcionista, ele diz que o quarto dos dois ainda não está pronto e que eles devem esperar um pouco. Logo, eles ficam entediados e resolvem fazer uma aposta. Em uma das mesas de espera, está uma bengala perdida. Assim sendo, Jon desafia Sherlock a encontrar o dono daquele objeto.
Portanto, nosso primeiro caso começa. Devemos analisar aquele objeto em busca de pistas e buscar informações ao redor sobre o paradeiro do dono daquela bengala. Entretanto, aqui temos os primeiros sinais do maior problema de Sherlock Holmes Chapter One, a falta de indicativos dos objetivos.

O game não explica adequadamente o funcionamento das mecânicas do game, isso faz com que o jogador se sinta perdido e não consiga progredir. Por mais que o grande apelo do personagem seja a dedução, não é interessante quando o game exige que o player “se vire nos 30” logo no tutorial. O ideal, é que no primeiro caso o título explique as mecânicas e a partir do segundo caso as coisas se tornem mais desafiadoras. Assim sendo, este elemento acaba sendo um forte obstaculo inicial que pode afastar novatos no gênero.
Tudo leva a um crime
Outro aspecto que me incomodou um pouco é como todo local que o Sherlock vai do nada aparece um corpo morto para ele solucionar o mistério. Por mais que estejamos falando de um game de detetive, o título não realiza um bom trabalho ao desenvolver adequadamente os motivos do porque tantos corpos estarem espalhados por Cordona.
Para exemplificar, temos o primeiro caso que citei anteriormente. Ele começa com o protagonista procurando o dono da bengala. Ao acha-lo, ele descobre que o dono é um conde que teve um diamante roubado em uma sessão espirita no hotel. Portanto, ao investigar, ele encontra a esposa da vítima morta e desvenda o mistério. Na verdade, a mulher roubara o diamante e o assassino é o condutor da sessão espirita, sendo que ele era o melhor amigo da vítima na infância.
Pareceu confuso e até meio forçado né? Pois é, esse é um sentimento que infelizmente é muito recorrente no game. Nos títulos anteriores do personagem, existia a justificativa que Sherlock era um consultor da polícia, portanto, faz sentido que ele esteja na cena de um crime desvendando o mistério. Com este elemento em falta aqui, fica difícil ignorar as incoerências envolvendo a profissão do personagem e até mesmo sua cidade natal que começa apresentar inúmeras mortes logo que o protagonista chega.
Uma narrativa boa, porém sem foco
A história principal de Sherlock Holmes Chapter One é ótima. Todo o mistério envolvendo a misteriosa morte da mãe do protagonista e as peças que precisamos juntar, são elementos que deixam o jogador intrigado. Entretanto, o game tira o foco deste caso em muitos momentos da história, o que acaba sendo um incomodo em determinado ponto. Pois, estamos a todo vapor investigando e querendo descobrir a verdade, quando de repente um corpo aparece na frente de Sherlock e ele decide resolver aquele caso.
Embora o título até tente fazer uma conexão com o mistério principal, está solução acaba não sendo efetiva e até soando ainda mais forçado em alguns casos. Felizmente, Sherlock e Jon possuem um excelente desenvolvimento e são carismáticos. Este elemento faz com que o jogador mesmo que cercado de inúmeras incoerências, consiga se manter interessado, pois os personagens principais são interessantes.
Um mundo aberto que poderia ser melhor
Uma das novidades de Sherlock Holmes Chapter One é que a aventura se passa em um mundo aberto. Infelizmente, este elemento não funciona como deveria aqui. Lembra que citei anteriormente a falta de indicativos presente no game, bom, este elemento, ou melhor, a falta deste recurso também está presente no mundo aberto. Assim sendo, fica difícil para o jogador descobrir o local que ele deve ir em seguida, pois o game não dá nenhum indicativo claro disso.

Existe sim uma forma de descobrir, lendo as anotações de Sherlock. Entretanto, este elemento é confuso e pode fazer com o que player explore uma área grande demais. Para exemplificar, geralmente existe a seguinte descrição “tal pessoa pode ser encontrada na região tal do mapa”. Assim sendo, abrimos o mapa e vemos uma grande localidade. Portanto, Sherlock deve ir lá e explorar aquele ambiente em busca do objetivo. Embora o objetivo possa ser estimular a exploração e as habilidades de dedução, acaba não funcionando.
Além disso, o mundo aberto apresentado aqui não é cheio de vida e com diversos objetivos secundários. Sinceramente, em muitos momentos da narrativa eu me perguntava o porquê da decisão de um mundo aberto no game, sendo que ele mais confunde o jogador do que estimula a exploração.
Dedução e investigação
O grande foco de Sherlock Holmes Chapter One é a investigação e as habilidades de dedução de Sherlock. Portanto, sempre que estamos em um novo caso, podemos usar as habilidades do protagonista para desvendar o mistério. Assim sendo, o personagem possui uma espécie de visão especial, que faz com que ele deduza rapidamente algumas características das pessoas ao redor. Está skill acaba sendo extremamente útil ao explorarmos em busca de pistas.
Logo, em cada novo caso terenos um corpo ou um mistério que devemos investigar. Sherlock então irá buscar pistas no ambiente e ao encontrarmos todas, é preciso reconstruir a cena do crime. Ao fazermos isto, precisamos encaixar as pessoas nos locais corretos para que o protagonista consiga deduzir o acontecimento de maneira acurada.
Para não ficarmos perdidos durante as investigações, é preciso estarmos sempre de olho no caderno de anotações de Sherlock. O game utiliza este elemento para que o jogador não fique perdido (recurso este que é pouco eficaz por sinal). Então, ao observarmos as anotações do protagonista, teremos algumas dicas do que fazer em seguida, podendo ser ir para um novo local ou até mesmo falar com um personagem.

Outro recurso presente é o palácio mental. A cada nova descoberta de Sherlock, devemos usar este recurso para conectar as pistas e chegar em determinadas conclusões para avançar o caso. Portanto, ao juntarmos todas as pistas, podemos concluir usando este elemento quem é o culpado ou qual a solução do mistério.
Customização e combate
Sherlock Holmes Chapter One apresenta elementos de customização de personagem. Assim sendo, ao decorrer do mundo aberto podemos encontrar um vendedor que irá nos vender roupas e acessórios, que incluem ternos, cartolas, barbas e até mesmo alguns óculos. No game, este elemento é chamado de “disfarces”, sendo está uma característica importante do protagonista. Pois, além de mudar o seu visual, podemos usar novas roupas para nos infiltrar em locais especificos, infelizmente, este recurso acaba não sendo muito explorado no título.

Em relação ao combate, ele deixa a desejar e não funciona de uma maneira convencional. Pois, sempre que temos uma situação de confronto, Sherlock deve atirar com sua arma em algum elemento de cenário para atordoar o inimigo e se aproximar. Ao fazer isso, um click time event irá aparecer, no qual devemos apertar o botão no momento certo e nocautear o capanga.
Portanto, ao lutarmos contra um inimigo, o sistema funciona de forma razoável. Entretanto, quando temos muitos inimigos no cenário, fica extremamente frustrante o confronto, pois não existem elementos de atordoamento suficientes no ambiente. Assim sendo, em muitos momentos do título, eu ficava correndo e girando pelo cenário em busca de objetos para usar, e quando finalmente o encontrava, era preciso levar o capanga até lá. Para isso, era necessário se aproximar dele e então correr para perto do objeto, torcendo para que o inimigo se aproximasse.
É importante dizer, que uma das opções de acessibilidade do game é remover por completo está mecânica de combate do jogo. Então, ao ligar está opção, o game irá pular estes segmentos sempre que eles surgirem.
Uma trilha sonora boa mas com pouca variedade
A trilha sonora presente em Sherlock Holmes Chapter One é boa. Ela possui um tom calmo e sereno que dá enfase no pensamento dedetivesco do protagonista. Portanto, durante os momentos de investigação, ela é bem usada e cumpre perfeitamente o seu o proposito.
Entretanto, ao explorarmos o mundo aberto do game, fica evidente uma repetição na trilha. Este elemento pode incomodar os jogadores, principalmente pelo fato que passaremos bastante tempo explorando diversos locais em busca do nosso objetivo. Outro fator que contribui para este sentimento de repetição, é que o ritmo das trilhas não muda. Assim sendo, seja qual for a situação, ele será sempre o mesmo, escolha está que não combina em alguns segmentos do título, principalmente nos momentos de ação.
Visuais que precisavam de mais polimento
Os gráficos de Sherlock Holmes Chapter One são altamente inconstantes. Logo, passaremos por locais muito bonitos, pontos turísticos, ambientações paradisíacas lindíssimas e muito mais. Entretanto, ao observamos de perto cada um destes ambientes citados, fica evidente que faltou polimento. As texturas não carregam como deveriam, objetos aparecendo do nada enquanto andamos pelo cenário, paredes invisíveis em locais que deveríamos progredir e até mesmo NPCs que não carregam de forma adequada e se tornam um borrão andando nas ruas.

Fica evidente que faltou um cuidado maior nos visuais do game, pois eles são bonitos vistos de longe, porém, ao nos aproximarmos, tudo desmorona.
Desempenho
Falando em falta de polimento, o desempenho é a parte que mais sofre em Sherlock Holmes Chapter One. Minha experiência foi no Xbox Series S, entretanto, foi altamente decepcionante. O game não entrega um framerate estável, sendo que o título apresenta grandes quedas e travamentos ao explorar o mundo aberto.
Além disso, existem muitos bugs visuais, como delays de render, NPCs que não carregam de forma adequada e até mesmo alguns crashs, sendo que durante minha jogatina eu tive 5. Como dito anteriormente, fica evidente que faltou polimento, principalmente no aspecto visual e de desempenho.
Conclusão
Sherlock Holmes Chapter One apresenta uma ótima história e desenvolvimento de personagens. Sherlock e Jon ganham grande destaque e conseguimos compreender a jornada que levará o protagonista a se tornar um grande detetive. Além disso, os mistérios propostos aqui são desafiadores e por mais que sejam frustrastes às vezes, no geral são divertidos.
Infelizmente, o game deixa a desejar a apresentar um mundo aberto vazio e que não tem muito relevância na narrativa. Além disso, a falta de indicações para o próximo passo do jogador é um recurso usado de maneira exagerada aqui, sendo que por mais que isso combina com a ideia de dedução, acaba não sendo algo gratificante e estimulante.
O título também poderia ter sido melhor trabalhado em alguns aspectos, principalmente em relação aos gráficos. O desempenho é outro problema grave no jogo, sendo esta uma questão que deve ser corrigida em futuras atualizações.
Por fim, Sherlock Holmes Chapter One é um excelente game, mas que apresenta muitos problemas. Eu recomendo fortemente para os fãs do personagem e de jogos de investigação, desde que aguardem futuros updates com correções.
*Chave cedida para análise no Xbox Series S