Introdução
Silver Chains apresenta uma premissa clássica do terror. O protagonista se encontra preso em uma misteriosa mansão e deve encontrar uma maneira de escapar. Entretanto, para alcançar este objetivo, será preciso que ele explore cuidadosamente este estranho ambiente e descubra os segredos ocultos daquele local. Além disso, será preciso que o personagem sobreviva às forças malignas da mansão.
Embora não apresente uma proposta nova, o game chamou minha atenção justamente pela premissa simples. Pois, no gênero horror, é comum nos depararmos com narrativas que tentam se reinventar demais e acabam não entregando o básico da coerência. Portanto, chegou a hora de vermos se Silver Chains consegue cumprir sua premissa e entregar uma narrativa memorável de terror.
Silver Chains foi desenvolvido pela Cracked Heads Games e lançado no dia 20 de outubro no Xbox Series X|S. Além disso, o título também está disponível no Nintendo Switch, Xbox One, PlayStation 4, PlayStation 5 e PC, via Steam.
Um começo misterioso
Silver Chains começa com o protagonista, Peter, caminhando em direção a uma mansão. Ele havia acabado de sofrer um acidente de carro, por isso ainda estava meio atordoado. Enquanto caminhamos para a misteriosa residência, já é possível notar alguns aspectos interessantes. O game logo de cara já estabelece algumas tentativas clichês de criação de ambientação. Assim sendo, temos barulhos sinistros ao fundo e uma suposta pessoa olhando de uma janela da casa.

Pessoalmente, penso que este método de criação de atmosfera já está muito batido no gênero. Desde Outlast, game este que Silver Chains se inspira, apenas sustos baratos e jumpscares previsíveis não são o suficiente para uma boa construção do terror. Entretanto, falarei mais sobre isso num tópico adiante.
Ao se aproximar da mansão, o personagem repentinamente desmaia. Depois de um tempo, ele desperta em um sujo e estranho quarto dentro da casa. A partir daí, devemos explorar o ambiente em busca de pistas e progredir pela mansão em busca de respostas e de uma forma de escapar deste estranho lugar.
Um mistério que não intriga
Silver Chains se esforça em apresentar um mistério interessante ao jogador. Enquanto exploramos a mansão, vamos encontrar documentos com estranhos relatos dos antigos residentes. Além disso, o lugar é assombrado por fantasmas, sendo que alguns têm uma aparência assustadora. Entretanto, a maioria dos espíritos que encontramos são de crianças.
Inicialmente, eu achei intrigante este fato e fiquei curioso para entender como as peças se encaixam. Infelizmente, o game acaba não fazendo um bom trabalho ao instigar o jogador e, a partir de certo ponto, eu perdi totalmente o interesse na narrativa. Este sentimento acontece, pois, o título usa de documentos para explicar ao jogador o que acontece na história. Assim sendo, a única motivação para se procurar estes textos é entender a narrativa.

Infelizmente, este recurso acaba não sendo eficaz. Pois, a história acaba deixando a desejar em vários aspectos, principalmente na cronologia dos acontecimentos, apresentação dos personagens e até mesmo coerência na sua conclusão.
Uma perseguidora com movimentos pré-determinados
Como eu disse na introdução, o protagonista terá que lidar com algumas forças malignas da mansão. Assim sendo, em certo ponto da história, Peter irá se deparar com uma fantasma. O intuito deste inimigo é ser um perseguidor, similar aos de Outlast, por exemplo. Logo, o personagem principal não consegue lutar contra esta força maligna. Portanto, ele precisa se esconder em armários espalhados pela mansão até que a ameaça se afaste.
Entretanto, a fantasma acaba não sendo uma força ameaçadora e aterrorizante no game. Pois, todos os seus movimentos são pré-determinados e de fácil dedução do jogador. Isto é, sempre que interagimos com um objeto importante ou entramos em um novo local, a queridona aparece. Além disso, quando ela sumir, sua próxima aparição será apenas quando uma das ações que citei acima forem feitas. Sem surpresas, o medo e desespero de ser perseguido desaparecem.
Uma história que poderia ser melhor
Mesmo com a sua proposta simples, Silver Chains não entrega uma narrativa satisfatória. O game apresenta várias ideias interessantes envolvendo casas assombradas, porém a sua forma de contar a história através de documentos e entregar desdobramentos pouco coerentes na narrativa, deixam o storytelling longe do ideal.

Além disso, estes fatores juntos levam o título para uma conclusão que faz pouco sentido. Mesmo com um esforço do jogador para juntar todas as peças, no fim, a história não empolga.
Gameplay
A jogabilidade de Silver Chains não foge muito do normal no gênero. O game tem a visão em primeira pessoa, sendo que o jogador pode andar, interagir com objetos, usar um lampião para enxergar no escuro e, em determinado ponto da história, teremos acesso a uma luz ultra violeta. Portanto, todo gameplay se resume em andarmos pelos locais da mansão resolvendo puzzles, lendo documentos e, claro, fugindo da previsível perseguidora.
Embora a jogabilidade não fuja do padrão, ela acaba tendo algumas falhas. Pois, os comandos não são responsivos como deveriam, já que em muitos momentos eu precisei apertar varias vezes o botão de interação para que realizar a ação. Isso se torna ainda mais frustrante nos momentos de perseguição, pois, algumas vezes o comando não funcionou como deveria na hora do protagonista entrar no armário, o que acabou levando ao game over.
Quebra-cabeças poderiam ser mais desafiadores
Outro elemento fraco em Silver Chains são os seus quebra-cabeças. Pois, não temos uma grande variação na hora de resolve-los. Basicamente, a maioria envolve buscar um item em outro comodo, para então combinarmos com o outro item que temos em mãos. Só então abrimos uma porta e avançamos para um novo cenário.
A única variação nessa ideia acontece quando pegamos a luz ultra violeta. Entretanto, não espere grandes mudanças no gameplay, já que a novidade deste novo equipamento, é que ele mostra setas no cenário e que nos levam aos itens necessários.
Trilha Sonora
A trilha sonora de Silver Chains é ausente em grande parte do game. Como já é característico do gênero, o game tem um maior foco nos sons do ambiente. Portanto, vamos ouvir janelas batendo, madeira rangendo e o barulho de coisas sendo jogadas e quebrados para todos os lados. Além disso, quando a perseguidora aparece, ela faz um som que indica a sua presença no local.
Em minha experiência, eu senti falta de uma música melancólica tocando de fundo. Está trilha poderia adicionar um ar mais macabro na mansão, o que tornaria a jornada um pouco mais cativante.
Visuais que poderiam ter sido melhor trabalhados
Silver Chains apresenta visuais simples que poderiam ter sido melhor trabalhados. As texturas dos cenários, em grande parte, têm um visual simples e muito semelhante umas com as outras. Assim sendo, fica evidente que uma maior variação ajudaria o game e a estrutura dos ambientes.
Além disso, temos quadros espalhados pela casa, que contem apenas um borrão nos locais que deveriam ter alguma fotografia. Normalmente, este elemento não seria incomodo. Entretanto, o título exagera no número de quadros espalhados pela mansão, escolha de design está que torna este algo incômodo durante o gameplay.

Embora o visual tenha seus problemas, o game apresenta uma boa variedade nos cômodos que o jogador explora. Portanto, temos quartos, cozinhas, escritórios e até mesmo uma grande biblioteca.
Desempenho
Minha experiência foi no Xbox Series S. Assim sendo, eu esperava uma jornada fluída e uma jogabilidade responsiva. Infelizmente, Silver Chains falhou nos dois pontos citados. Além dos problemas de comandos pouco responsivos que citei acima, o game apresenta diversos problemas de desempenho. Durante o meu gameplay, tive muitas quedas de FPS, sendo que o jogo chegava até mesmo a travar por alguns segundos.
Além disso, os tempos de carregamentos são muito maiores do que o ideal. Portanto, existem casos que o loading demorou mais de 1 minuto, situação decepcionante considerando o hardware de nova geração. Fica evidente que o título precisava de mais otimizações e polimentos antes de lançar no console.
Conclusão
Silver Chains apresenta uma boa premissa, entretanto deixa a desejar em todos os outros aspectos. O game entrega uma narrativa com poucos momentos coerentes, uma perseguidora com movimentos pré determinados e previsíveis, além de graves problemas de desempenho que comprometem demais a experiência.
Por fim, Silver Chains poderia ter sido um grande título se focasse em contar uma história centrada e direta. Entretanto, a escolha de storytelling através de documentos, em conjunto com todos as questões técnicas citadas acima, tornam o título uma obra com potencial, mas que no fim, deixa o sentimento de decepção.
*Chave cedida para análise no Xbox Series S