A importância do início nas mídias
Assim como nos filmes, séries, música e nos livros, o início dos jogos são muito importantes. É no início que somos apresentados ao mundo, aos personagens e temos uma prévia do que iremos encontrar durante toda a nossa experiência. Por isso o início é impactante, ele fica marcado na nossa memória.
Dando um exemplo usando outra mídia, vamos analisar rapidamente o início do filme Vingadores: Guerra Infinita. Logo de cara vemos o vilão Thanos derrotando os heróis Hulk e Thor sem fazer esforço algum. Além disso, vemos Thanos matar Loki, o maior vilão do MCU até então. Esse início serve para entendermos que o perigo que veremos durante o filme será maior do que nunca e que no filme podemos esperar por mortes e dificuldades por parte dos nossos heróis. Contudo, esse é apenas um resumo, caso ainda não tenha visto o filme de 2018 ainda, não quero estragar sua experiência.
Agora saindo dos filmes e indo para os jogos, estamos em uma era onde os games estão cada vez mais cinematográficos, semelhantes as experiências que vimos no cinema. Afinal, um dos maiores responsáveis por essa nova mentalidade na indústria tenha sido o início de The Last of Us, lançado em junho de 2013. Mas em 2014, o exclusivo de PlayStation 3, ganhou uma versão remasterizada para PlayStation 4, que é considerado um dos melhores jogos já feitos por muita gente. E a maior qualidade de The Last of Us está na sua história e como ela é impactante. Logo no seu início já podemos ter ideia de como será a experiência durante as aproximadamente 15 horas de campanha.
O texto terá spoilers do início de The Last of Us.
Como tudo começou
O game começa com uma cutscene, no dia do aniversário de Joel. Ele chega em casa e encontra sua filha, Sarah, dormindo no sofá, após um breve diálogo, Sarah presenteia Joel com um relógio. O diálogo se estende, de forma engraçada, sobre como ela arruma dinheiro para comprar presentes e sobre ela poder ajudar nas despesas de casa. Aqui já podemos ver um pouco dos personagens, da sua relação, da ausência de uma figura materna e no carinho que pai e filha tem um com o outro.
Depois desse diálogo, a garotinha pega no sono novamente e agora acorda no seu quarto, mas com a ligação de seu tio, Tommy, precisando falar urgentemente com seu irmão. Assim, a partir desse momento, começa a gameplay, onde controlamos Sarah. Podemos interagir com alguns itens, inclusive com um jornal, que quando interagimos, nos dá 3 notícias sobre o que está acontecendo no mundo.
Primeiramente, um alerta sobre uma infecção misteriosa que aumentou o número de internações em 300%. A segunda notícia é sobre alguns produtos sendo recolhidos de supermercados por estarem infectados e que é esperada um recolhimento de produtos em massa. A última dela é sobre uma mulher enlouquecida que matou o marido mais 3 outras pessoas. Então o mais interessante é que os jogadores recebem esses fragmentos de mundo de forma bem discreta, deixando claro a importância da exploração no jogo e que a essa exploração sempre será bem recompensada.

O começo do fim
Até esse momento de gameplay, as coisas estão sob controle com Sarah. Então, continuamos a exploração pela casa, procurando por Joel, agora em seu quarto. Ao entrar no ambiente, vemos uma TV ligada, com uma reportagem ao vivo, nessa reportagem há um incêndio em algo que parece um hospital e a repórter fala que os infectados aparentam sinais de agressividade e é nesse momento acontece uma explosão, que pode ser vista também por Sarah, através da janela do quarto de Joel.
Mas é nesse momento que Sarah começa a ter uma noção de que algo sério está acontecendo, agora o clima de tensão está ficando maior e continuamos a busca pelo nosso pai. Na cozinha, vemos o celular de Joel com várias chamadas perdidas feitas por Tommy, além de algumas mensagens de texto não respondidas.
Ao chegar na sala, Joel entra na casa, procurando uma pistola, alegando que os vizinhos estão doentes. Assim que ele termina de falar isso, um dos vizinhos aparecem, gritando e batendo na porta de vidro, até quebrar. Rapidamente a pessoa levanta e já corre em direção aos dois os atacando, então, para se defender, Joel atira no infectado, o matando. Tommy chega a casa onde os dois estão, e os 3 saem para a cidade tentando fugir, e é a partir daí que começamos a entender o tamanho da gravidade da situação e que é de uma proporção maior do que o pensávamos. No caminho já é possível ver muitas pessoas mortas, casa pegando fogo, acidentes e muita destruição, isso já é um sinal do que vamos encontrar durante a campanha.

O gatilho para a mudança
The Last of Us não se preocupa em não colocar os personagens principais em perigo. Logo apos a chegada na cidade. eles sofrem um sério acidente de carro. Aparentemente Sarah quebrou sua perna e não pode andar. É nesse momento que controlamos Joel pela primeira vez, outra característica já apresentada logo na introdução. Assim como já tínhamos ideia, o mundo está um caos, Joel está com Sarah no colo, enquanto Tommy está com sua arma, quase somos pegos por infectados durante a fuga, mas graças ao nosso irmão, conseguimos fugir através de um bar, porém nos separamos dele. Agora, pai e filha continuam correndo, até se depararem com um policial.
E é nesse momento que The Last of Us nos traz um dos momentos mais tristes em toda sua franquia. Afinal, esse policial recebe ordens para matar Joel e Sarah, que tentam convencer que não são infectados, tiros são disparados em direção aos dois que caem barranco abaixo. Aparentemente nada aconteceu com os dois. Quando o policial chega mais perto, para atirar novamente, Tommy aparece, os salvando. Mas quando parecia não ter acontecido nada vemos que Sarah foi acertada por um dos tiros. Joel tenta acalmar sua filha, mas já é tarde demais, ela morre, deixando seu pai sem chão.
A trilha sonora de Gustavo Santaolalla
O início de The Last of Us é marcado pelo drama logo de cara. Porém, outro ponto positivo do jogo que é nos apresentados de maneira impecável é a trilha sonora. Então, é indiscutível o quão rica e marcante é a trilha sonora do músico e compositor argentino Gustavo Santaolalla. Além da premiada trilha sonora do game, Santaolalla já ganhou dois Oscars, pelos filmes Brokeback Mountain, de 2005 e Babel, de 2006.
A trilha sonora minimalista é extremamente pontual, porém nos momentos marcantes é totalmente visível, e não só no começo da campanha as músicas são marcantes, durante todo o game podemos ver o quão impactante as músicas são e a preocupação em casar a música com a narrativa, tentando não se sobressair com o mais importante, que é a história. Dessa forma, Gustavo Santaolalla opta por não colocar muitos instrumentos na trilha, optando assim, por apenas um banjo. Talvez toda essa simplicidade tenha sido o fato de destaque quando falamos de The Last of Us. Hoje em dia, na indústria cada vez mais vemos trilhas sonoras mais épicas, totalmente o oposto do que vemos aqui.

Um exemplo na indústria
Não é atoa que The Last of Us é um dos melhores jogos já feitos. E seu início deixa claro como será toda a campanha. Somos introduzidos ao personagem principal. Entendemos o que faz ele ser um personagem quebrado e tão marcante. Contudo, vemos logo de cara o caos do mundo que estamos, toda a crueldade dele e dos infectados e como a Naughty Dog não se preocupa em trazer finais felizes para os protagonistas.
Em todas as mídias, os inícios servem para nos impactar nos prender e nos entreter. The Last of Us criou um novo padrão para indústria e que já foi seguida diversas vezes, até mesmo por jogos da Sony. Ainda assim, podemos ver o quão bom eles foram, pois, mesmo que tentem, outras empresas não conseguem trazer o nível de drama e imersão como o jogo lançado em 2013 para PlayStation 3.