Introdução
Desde que Darkest Dungeon 2 foi anunciado, eu ansiava por joga-lo. Afinal, no primeiro jogo eu fiz centenas de horas e mal esperava para poder repetir isso na sua sequência. E para minha surpresa, ele chegou com um formato bem diferente (mas nem tanto) do primeiro.
Desenvolvido pela Red Hook Studios, a obra entrou em acesso antecipado no dia 26 de outubro, com exclusividade da Epic Games no PC. A sequência chega quase seis anos após o lançamento oficial do primeiro jogo, e com isso, adaptou sua jogabilidade com base nos sucessos do gênero.
Darkest Dungeon 2 se apegou ainda mais ao gênero Roguelike e fez mudanças que vão causar estranhamento ao jogador fã da série. Contudo, essas mudanças são positivas ao jogo e vou te contar o porquê.
Onde se passa
O primeiro título da série coloca o jogador em uma região amaldiçoada e o força a resolver os problemas e restaurar a harmonia dali. Com isso, nós precisamos evoluir nossa vila, recrutar, treinar, cuidar e equipar novos heróis. Além do fato de que cada missão tem um preparo específico, nós podemos construir um grupo que tenha maior chance de sucesso nelas. São diversos lugares que enfrentamos: ruínas, pântano, uma caverna aquática, entre outros.
Agora, em Darkest Dungeon 2, a maldição se espalhou pelo mundo inteiro e tudo está um verdadeiro caos. Morte e sofrimento para todos os lados, sem respiro para os mais fracos. Cabe a nós conseguirmos levar quatro guerreiros até o topo da montanha com a última chama de esperança para evitar o desastre.
Desse modo, é notável que o jogo se tornou ainda mais sombrio e lovecraftiano, tanto nos seus monstros quanto nos cenários. Como agora nós precisamos controlar uma carruagem que passa por diversos locais, é impossível não perceber que o mundo está à beira da loucura e do seu fim.
Portanto, esse contexto mais caótico fez o jogo adotar um tom mais rápido e dinâmico, expressando o verdadeiro sentimento dos heróis em suas jornadas em nós, os jogadores.

A nova forma do jogo
A princípio eu não recebi muito bem a nova cara do jogo, afinal, eu esperava uma evolução do sistema do primeiro jogo, com sua vila e as melhorias possíveis. Contudo, após minha primeira partida, ficou bem claro para mim que o jogo precisava desenvolver tanto sua história quanto sua fórmula. Para ser sincero, eu não consigo enxergar uma maneira melhor de fazer a junção desses dois aspectos.
O que acontece é que, agora, Darkest Dungeon 2 abraçou as famosas runs (termo em inglês para denominar uma partida, um jogo). Ou seja, cada partida tem início, meio e fim, ficando apenas o legado dos itens desbloqueados pelo nível do seu perfil de jogador. Por exemplo, a heroína Fugitiva só é liberada quando nosso perfil atinge o nível 6, até lá, só estão disponíveis 5 heróis.
Então, no início de cada run nós escolhemos os quatro guerreiros que vão tentar atingir o topo da montanha e vamos com eles até o final, seja a vitória ou a morte de todos. Não existe mais um lugar para voltar, como tinha no primeiro jogo. Agora, cada tentativa é única e independente das outras.
Por fim, o progresso ficou igual à maioria dos roguelikes de estratégia: um mapa com opções que mostram as casas futuras e suas ligações. Por isso, fica nítido a vontade de atualizar o estilo de jogo dos desenvolvedores. Em particular, eu prefiro esse novo estilo de jogar Darkest Dungeon.

A estrada
É impossível falar de Darkest Dungeon 2 sem comentar como ficou o mapa e a progressão nele. Afinal, essa é a maior mudança do jogo, pois é ela quem dita o que, como e quando algo irá acontecer, para o bem ou para o mal.
Como eu comentei na sessão anterior, agora o mapa é dividido em áreas que contém algum tipo de evento que pode beneficiar, prejudicar ou ser indiferente para seu grupo. Isso é bem comum nos jogos roguelike que se baseiam em mapas. Por exemplo, existem locais onde o confronto é iminente, outros possuem um vendedor de itens ou um hospital para cura, além dos eventos especiais que possuem características únicas.
Contudo, a escolha de onde ir pode ser mais difícil do que parece. Isto é, a cada nova região do mapa, os guerreiros do grupo costumam indicar para onde querer ir. E é aí que está o problema, visto que, muitas vezes, eles acabam indicando locais diferentes. Ou seja, seja qual for a região que escolher, algum dos personagens será contrariado e, com isso, seu estresse vai aumentar.
Assim como no primeiro título, o estresse é o seu maior inimigo aqui. É ele quem dita o quão fácil ou difícil será a sua tentativa. Para quem nunca jogou Darkest Dungeon, o estresse faz com que seus heróis percam a sanidade e comecem a brigar entre si, causando ainda mais problemas em meio a luta e a exploração.

Gerenciamento de grupo
Como se já não bastasse ser bom na tática do seu grupo e como atuar nas batalhas, agora é necessário ser um bom gestor de equipe. Em resumo: os heróis possuem relacionamento que crescem ou diminuem conforme o jogo avança. O pior de tudo é que muitas dessas alterações de amizade são baseadas em RNG (expressão usada para definir gerações aleatórias). É claro que os traços positivos e negativos dos heróis influenciam nesses relacionamentos.
Por exemplo, seu personagem atacou um monstro e o deixou com pouca vida, aí você decide eliminar ele com seu próximo herói para negar a ação inimiga. Pode ser que o herói que o deixou com pouca vida não goste e sinta que você tenha roubado a eliminação (o famoso KS), e aí ele vai resmungar e adicionar um ponto negativo no relacionamento dos dois. Ou então, o inverso pode acontecer, onde você mata e ele enxerga como uma ajuda, aumentando o nível.
Quando o nível de amizade bate o máximo (negativo ou positivo), a relação dos personagens se transforma. Caso seja uma relação positiva, eles irão se ajudar em combate com frequência, curando um ao outro, diminuindo o estresse, atacando juntos, etc. Agora, caso contrário, eles vão atrapalhar um ao outro a cada rodada. Ou seja, pode ser você decida por uma ação e ele não consiga realizar, te forçando a mudar de estratégia. Ou então, aumenta um ponto de estresse a cada turno.
Além disso, quando um herói atinge o máximo de estresse na sua barra, ele perde as esperanças, piora o relacionamento com todos do grupo e fica com pouca vida. Por isso, eu recomendo a todos que fique de olho no estresse e cuide muito bem dele.

Mecânicas velhas atualizadas
A vila no primeiro jogo era a base de tudo. Recrutar os heróis, evoluir seus equipamentos e habilidades, curar suas doenças e traços e diminuir seus estresses eram feitos todos em algum prédio da vila. Por isso, a cada final de exploração era preciso gastar um bom tempo lá para preparar tudo e decidir o que fazer.
Agora, todas essas funções estão espalhadas no jogo.
Não existe mais um banco de heróis. Agora, são apenas quatro até o final da partida. Não existem mais a evolução dos equipamentos, agora só os berloques continuam em jogo, obtidos através da exploração de lugares abandonados e das batalhas. Para ajudar na batalha, foi adicionado um espaço para itens de batalha que são utilizáveis sem gastar seu turno.
Quando um herói visita um Santuário de Reflexão, ele visita seu passado e deve enfrentar seus problemas. Caso tenha sucesso, o personagem libera uma nova habilidade (que permanece para as próximas partidas também). Essa foi uma boa adaptação que entrega profundidade aos heróis que, no primeiro jogo, não existia.
Para curar o estresse e a vida, aumentar o nível das habilidades, melhorar (ou não) o relacionamento entre os heróis e decidir o próximo objetivo, foi criada a pousada. Ela está no final de cada mapa, ou seja, para ter melhorias e um controle maior da condição do grupo, nós precisamos passar pelo mapa inteiro.

Conclusão
Darkest Dungeon 2 é uma sequência muito bem feita e fiel ao primeiro jogo. Apesar de possuir uma fórmula bem diferente da que fez sucesso, eu duvido que os jogadores não gostem desse novo formato. A dificuldade do jogo permanece, e arrisco dizer que agora está mais difícil ainda, devido aos relacionamentos. Eu confesso que a parte de gerenciamento dos recursos do primeiro jogo e da vila me cansavam um pouco, então, eu fiquei muito contente com a adaptação feito pela equipe aqui. Contudo, sinto que ainda falta conteúdo para o jogo ficar tão grande quanto foi seu antecessor, mas com certeza isso vai acontecer com o tempo. Darkest Dungeon 2 mantêm a essência da série: te levar do céu ao inferno a cada turno.