Introdução
Resident Evil é uma franquia consagrada no mundo dos games. O primeiro título foi lançado em 1996 e mudou para sempre o gênero do survival horror. Durante os anos seguintes, tivemos várias novidades na franquia, algumas que causaram inclusive controvérsias entre os fãs. Mesmo assim, fato é que RE nunca perdeu sua popularidade, mesmo em anos sombrios, no qual os games acabaram dando uma decaída.
Com o sucesso dos jogos, era questão de tempo até que tivéssemos uma adaptação cinematográfica. Assim sendo, em 2022, Paul W.S Anderson dirigiu Resident Evil: O Hóspede Maldito, sendo este um filme aceito de forma mista pela crítica e com desconfiança pelos fãs.
Logo, foi confirmado que a desconfiança realmente tinha base, pois, as sequências lançadas pelo diretor acabaram fugindo do que a franquia representa. Portanto, os filmes de Resident Evil se tornaram apenas obras cheias de ação e com um ou outro personagem clássico descaracterizado, sendo que de RE, estes títulos tinham apenas o nome e os zumbis.
Um novo reboot
Mesmo com a baixa expectativa dos fãs em relação a um novo filme de Resident Evil, todos fomos surpreendidos com o anúncio de Resident Evil: Welcome to Reccoon City. O projeto tinha uma proposta diferente dos filmes de W.S Anderson, pois agora, o diretor afirmava estar fazendo um filme para os fãs. Além disso, ele afirmou publicamente que não erá fã das abordagens do diretor anterior, afirmação está que encaro apenas como uma forma de acalmar os ânimos de alguns fãs desconfiados em relação ao projeto.
Assim sendo, com um orçamento extremamente baixo de apenas 25 milhões de dólares, uma nova produção de RE finalmente chegou. Portanto, Resident Evil: Welcome to Raccoon City foi dirigido por Johannes Roberts e lançado no dia 2 de dezembro nos cinemas. A Sony Pictures Brasil convidou o Garota no Controle para uma sessão fechada do filme e chegou a hora de sabermos o que está nova aventura em Raccoon City irá nos proporcionar.
O orfanato de Raccoon City
Resident Evil: Welcome to Raccoon City começa apresentando uma pequena Claire Redfield no orfanato de Raccoon City. Este elemento já chega para mostrar logo de cara, que embora o diretor tenha prometido mais fidelidade, o projeto acaba tomando vários rumos diferentes. Assim sendo, ela está sendo cuidado pelo cientista Willian Birkin, o homem que está no comando daquele local.
Na cena seguinte, Claire avista uma figura misteriosa que a está observando. Enquanto ela procura a figura, o filme já começa a estabelecer um clima para um jumpscare previsível e exagerado, situação está que ocorre bastante na obra. Após finalmente termos o “momento extremamente assustador” da criatura aparecendo, é revelado que uma Claire, agora adulta, estava apenas sonhando com está memória.
No presente, ela está pegando carona com um caminhoneiro em direção a famosa cidade. Bom, para os fãs da franquia é evidente o que acontece em seguida. O motorista acidentalmente atropela uma mulher na estrada e no momento de desatenção, eles são atacados… mas não é isso que acontece aqui.
Zumbis? só da metade do filme pra frente
Uma das coisas que mais me desagradou no filme foi a “ausência” dos zumbis. Pois, em Resident Evil: Welcome to Raccoon City, os cidadãos de Raccoon City demoram para se transformar nos come carnes que estamos acostumados. Assim sendo, mesmo que tenhamos a justificativa que a infecção demora um tempo, em questão de ritmo narrativo, não é interessante que um dos principais inimigos, apareça apenas na metade do filme.
Portanto, na cena em questão com Claire e o motorista, a zumbi apenas desaparece da estrada. Assim sendo, ela toma seu rumo novamente até a cidade para encontrar seu irmão, Chris, e juntos eles desvendarem os segredos que a Umbrella, empresa farmacêutica do local, está escondendo.
A obra é fiel aos jogos?
Infelizmente, a grande promessa de maior fidelidade aos games não se cumpre no filme. Pois, temos uma narrativa totalmente diferente e apresenta algumas mudanças drásticas em relação a alguns personagens. Para exemplificar, neste filme Jill e Wesker são um casal (é, eu sei…), e esse relacionamento não apresenta nenhuma construção básica, sendo que a cena mais “romântica” entre os dois é quando a Jill faz uma aposta com Wesker e ela logo em seguida joga um ketshup no Leon.
Assistindo à obra, acredito que o diretor pensou que apenas apresentar fidelidade nos locais seria o suficiente. Pois, neste aspecto, o filme realmente faz um bom trabalho. A delegacia, as ruas da cidade e até mesmo os ambientes internos apresentam uma alta fidelidade visual aos games. Entretanto, para por ai. A narrativa faz uma junção de RE 1 e RE2, em uma história que tenta contar várias coisas ao mesmo tempo, e no fim, acaba não apresentando nenhuma das histórias de forma satisfatória.
Mudança nos personagens clássicos
Outro aspecto que fica bem diferente em Resident Evil: Welcome to Raccoon City são alguns dos personagens clássicos. Os dois que mais se destacam por estás alterações, são Leon e Wesker. No caso de Leon, eu gostei bastante da abordagem nova do personagem, pois não sou fã do rumo que o herói tomou nos jogos. Assim sendo, temos aqui um Leon que comete erros e aparenta realmente não fazer ideia do que está fazendo, já que este seria o seu primeiro dia de trabalho.

Embora eu tenha gostado desta abordagem, fica evidente que o personagem é usado como alivio cômico no filme, sendo um rumo este que particularmente eu não achei tão interessante. Em relação aos Wesker, a situação já é diferente. Pois, temos aqui uma mudança quase que completa da personalidade e motivações do personagem, sendo que muitas das atitudes dele não são explicadas adequadamente.
Uma narrativa muito corrida
Outro problema que Resident Evil: Welcome to Raccoon City apresenta é em relação ao ritmo da narrativa. Pois, temos aqui uma história contada de forma rápida demais e pouco explicada. Assim sendo, fica claro que o filme espera que os telespectadores tenham um conhecimento prévio da franquia para uma compreensão completa, sendo está uma abordagem que não é a ideal.
Um exemplo claro disso é a personagem Lisa Trevor. Sua função na narrativa é quase que nula, porém, sua participação se torna interessante para os fãs que conhecem a personagem. O mesmo pode ser dito sobre Cherry, personagem está que aparece pouquíssimo e não tem importância nenhuma, sendo sua única função ser salva por um dos protagonistas.

Na minha perspectiva, construir uma obra que mistura RE1 e RE2 não foi uma boa idéia. Pois, ao tentar focar em duas histórias ao mesmo tempo, o título acabou entregando pouca profundidade e não conseguiu desenvolver nenhuma delas adequadamente.
Efeitos especiais que poderiam ser melhores
No começo da crítica, eu disse que o orçamento do filme foi de apenas 25 milhões de dólares. Bom, isto meio que já diz por si só que os efeitos especias de Resident Evil: Welcome to Raccoon City não são os melhores do mercado. Entretanto, o diretor até que fez um trabalho competente na maior parte do tempo. Pois, o visual de alguns monstros realmente convencem.

Infelizmente, algum aspecto teria que ser prejudicado. Portanto, logo fica claro que os zumbis acabaram sendo os mais prejudicados. Na obra, temos uma longa demora até que o primeiro zumbi realmente apareça, escolha está que acaba não sendo tão interessante. Entretanto, quando a presença dos comedores de carne se torna mais ativa, fica evidente o porquê da introdução prolongado dos inimigos clássicos.
O visual, movimentação e até mesmo forma de agir dos zumbis não convence em Resident Evil: Welcome to Raccoon City. Em todos os aspectos, principalmente no visual, fica evidente que eles poderiam ter sido melhores.
Terror e cenas de ação
O filme tenta entregar um foco maior no terror. Entretanto, o diretor usa de recursos que todos os fãs do gênero já estão cansados de ver. Portanto, temos a criação de um clima de terror que não causa medo, jumpscares exagerados, previsíveis e claro, diálogos clichês e até meio cringes em alguns casos. Assim sendo, embora tenha sido feita uma tentativa de criar uma ambientação de horror, o uso exagerado de recursos já batidos prejudicou a obra por completo, sendo este um filme que em alguns momentos parece mais de comédia do que de terror.
Em relação às cenas de ação, bom…… não tem basicamente. Os momentos no qual os protagonistas enfrentam os inimigos duram poucos minutos, e quando temos uma cena mais prolongada, ela é cheia de cortes de uma forma que fica até dificil de entender o que está acontecendo. Este aspecto me decepcionou bastante no filme, pois, mesmo em um momento que a obra indica que teremos uma cena de ação interessante….. não acontece, cortando todo o clima criado.
As referências para os fãs são boas
O aspecto que eu mais gostei em Resident Evil: Welcome to Raccoon City foram as referências. Elas realmente são introduzidas pensando nos fãs, sendo que ao ouvir, eles vão reconhecer na hora. A obra realmente tenta apresentar elementos que os telespectadores que acompanharam a franquia por estes anos irão reconhecer. Um exemplo que acontece e já foi mostrado no trailer, é a aparição do primeiro zumbi, sendo esta uma cena que foi recriada de forma quase que idêntica.

Entretanto, nem tudo acaba funcionando adequadamente. Pois, existem algumas tentativas de referenciar algo relacionado aos games que acaba soando forçado ou fora de tom.
Fotografia e Trilha Sonora
A fotografia de Resident Evil: Welcome to Raccoon City não apresenta nada de muito espetacular. Temos uma cidade de noite, com um tempo chuvoso, e os personagens explorando alguns locais internos e externos. Como foi dito anteriormente, a obra faz um trabalho competente em apresentar os locais conhecidos pelos fãs de RE de forma fiel. Assim sendo, a delegacia, a mansão Spencer e até mesmo o orfanato, são representados de forma idêntica.
Já no aspecto da trilha sonora, eu não gostei das escolhas músicas presentes na obra. Desde o primeiro trailer, eu já me incomodei com a música fora de tom. Infelizmente, este aspecto se mantém no filme, portanto, se prepare para momentos de tensão com uma música animada totalmente fora de tom tocando ao fundo.
Conclusão
Embora tenha prometido uma obra mais fiel aos games, Resident Evil: Welcome to Raccoon City acaba não entregando isto. Temos aqui uma obra que se apega demais nas referências para agradar os fãs, entretanto, a narrativa corrida e os personagens pouco desenvolvidos acabam tornando a experiência imcompleta e até mesmo insatisfatória em alguns aspectos.
Embora esteja fora do ideal, admito que alguns aspectos me agradaram no filme, como a ótima atuação de Kaya Scodelario como Claire Redfield.
Por fim, Resident Evil: Welcome to Raccoon City é uma obra que prometeu entregar mais fidelidade aos fãs, porém, por tentar adaptar varias narrativas ao mesmo tempo e abusar de recursos já batidos, acaba entregando uma obra sem identidade e pouco memorável.