Introdução
Alfred Hitchcock – Vertigo é baseado no filme clássico do famoso diretor lançado em 1958. A versão cinematográfica apresenta uma história na qual um policial se envolve em um acidente trágico que resulta na morte de seu parceiro. Após isso, ele se aposenta e decide que precisa superar os seus medos e realmente seguir em frente. Embora pareça uma narrativa simples, a obra se destaca com diversos plot twists e um clima de mistério e peso psicológico acima da média, principalmente se considerarmos o ano de lançamento do filme.
Portanto, em 2021, tivemos o lançamento de uma nova adaptação do clássico de Hitchcock. É importante dizer, o game que será analisado aqui não segue a mesma narrativa apresentada no filme de 1958. Assim sendo, a obra segue um rumo original, apenas usando alguns conceitos introduzidos na versão cinematográfica. Em tempos de reimaginações controversas, será que o título consegue entregar uma jornada tão única quanto a obra original? Confira agora em mais uma análise do Garota no Controle.
Alfred Hitchcock – Vertigo foi desenvolvido pela Pendulo Studios. Além disso, o título está disponível para PC, via Steam, sendo que as versões de Xbox One, Xbox Series X|S, PlayStation 4 e PlayStation 5 chegam ainda este ano.
O acidente de Ed Miller
Alfred Hitchcock – Vertigo começa introduzindo o jogador ao protagonista, Ed Miller. Ele é um escritor, que misteriosamente acorda e vê um homem prestes a pular de uma ponte. Neste momento, assumimos o controle do personagem e devemos realizar uma série de click time events para alcançarmos o cidadão antes que ele pule. Ao nos aproximarmos, é revelado que o homem é o pai de Ed, entretanto, o protagonista não chega a tempo e seu pai acaba pulando.

Após isto, o controle do personagem muda para uma psiquiatra, chamada por um amigo do escritor, pois de acordo com ele, Ed precisa imediatamente de ajuda. Assim sendo, vamos até à casa do escritor e começamos uma conversa em que ele nos diz que sua esposa e filha morreram em um acidente de carro na ponte. Bom, a questão é que Ed não possui uma esposa e nem uma filha. Assim sendo, com este mistério inicial, devemos realizar diversas sessões de conversas com o escritor, onde ele nos falará sobre várias etapas de sua vida. Com estas informações, a psiquiatra deve guiar o protagonista e ajuda-lo a entender o que aconteceu no dia do acidente.

Ao mesmo tempo, um policial começa a fazer sua própria investigação sobre este mistério, sendo que as conclusões levaram o jogador para lugares inesperados, com reviravoltas únicas.
Uma narrativa com potencial, mas que se perde no meio do caminho
A história de Alfred Hitchcock – Vertigo apresenta um grande potencial inicial. As conversas com Ed sempre são cheias de mistério e com um clima de tensão constante. Pois, nunca sabemos se ele está ou não contando a verdade, sendo que cabe a psiquiatra descobrir isso durante as sessões de hipnose, elemento que falarei mais a frente. Entretanto, logo esta tensão começa a perder força quando o game começa a usar de elementos pesados para tentar chocar o jogador. Vertigo, aborda temas como suicídio, estupro, violência contra crianças e outros temas sérios e chocantes de uma maneira irresponsável.
Embora aspectos inaceitáveis da nossa sociedade sejam abordados em diversas obras, usar estes elementos gratuitamente e não apresentar nenhuma critica construtiva ou desenvolvimento sobre isso é simplesmente decepcionante. E o pior no caso do game em questão, é que algumas destas situações são abordadas na perspectiva do protagonista executando o ato, é apenas isso que eu posso dizer sem dar spoilers. Embora a ideia central, seja adentrarmos na mente do personagem, a forma que Alfred Hitchcock – Vertigo executa isso, simplesmente não funciona e chega a ser incomodo a forma rasa e gratuita que estas situações aparecem aqui.
Além disso, o game escorrega demais no desenvolvimento a partir de determinado ponto da história. Pois, ao decorrer da narrativa alternaremos entre três personagens, sendo eles Ed, a psiquiatra e o policial. Entretanto, o arco narrativo do policial se demonstra distante dos outros personagens e embora ele se conecte em determinado momento, algumas coisas acabam não se encaixando de forma clara. Fica evidente que o game tenta criar um ar de mistério, mas na reta final, quando o jogador está em busca de respostas, este “vai, mas não vai” da narrativa acaba sendo algo que incomoda.
Adentrando na mente de Ed Miller
Grande parte do gameplay do game será na mente de Ed Miller. Pois, durante as conversas com a psiquiatra, ela irá fazer uma série de perguntas ao protagonista, no qual ele irá responder durante as suas histórias sobre o seu passado. Durante estes segmentos, controlaremos Ed por um cenário pré determinado, no qual deveremos interagir com diversos itens, falar com personagens presentes ali e realizar ações usando click time events, similarmente a Heavy Rain.
Após Ed contar sua versão dos acontecimentos, a psiquiatra irá realizar uma sessão de hipnose com ele. Neste momento, assumiremos uma versão “astral” de Ed, em que podemos avançar e retroceder a cena que o protagonista contou durante a terapia. Assim sendo, devemos analisar alguns segmentos do relato, para ajudar o personagem a descobrir o que realmente aconteceu.

Explorar a mente do protagonista é uma experiencia única na trama
Para exemplificar, durante a primeira sessão, ele conta sobre uma garota que misteriosamente chegou na sua porta em uma noite, enquanto ele tentava escrever uma história. Segundo o relato de Ed, ele conseguiu seduzir a moça e os dois acabaram tendo uma noite de amor acompanhados de uma bela taça de vinho. Entretanto, durante a sessão de hipnose, fica claro que a narrativa de Ed não foi exatamente o que aconteceu. Assim sendo, cabe a psiquiatra fazer as perguntas certas e entender a verdade e do porque do protagonista estar mentindo.
Para isto,a psiquiatra faz uma série de perguntas e caberá ao jogador decidir qual serão. O game apresenta diferentes abordagens durante os dialogos e estas escolhas terão consequências em determinados momentos da narrativa. Mas não espere nada muito vasto, no qual as escolhas farão toda a diferença. No geral, elas terão mais relevância durante as conversas e nos momentos de hipnose com Ed.
Momentos de investigação com o policial
Como dito anteriormente, em paralelo às sessões de terapia do protagonista, iremos ter alguns segmentos de investigação com um policial. neste cenários, teremos que procurar pistas em um determinado local e começar a desvendar um grande misterio. Estes segmentos começam de forma lenta mas vão se intensificando ao decorrer do game, mesmo que não se encaixem adequadamente com os núcleos dos outros personagens.

Entretanto, preciso elogiar o trabalho da desenvolvedora durantes estes momentos, pois realmente é transmitido a sensação de estarmos investigando algo intrigante e interessante, sendo que os segmentos com o policial foram os que eu mais curti no game. Principalmente porque a partir de determinado ponto, as sessões de Ed abordam temas sérios de uma forma que não me agradaram.
Trilha Sonora
A trilha sonora de Alfred Hitchcock – Vertigo foca em trilhas que transmitem o misterio no ar e as reviravoltas durante determinadas cenas. Portanto, quando temos momentos de revelações, um som mais agudo entra em ação demonstrando o quão impactante aquela revelação é. No geral, as trilhas usadas aqui são repetitivas e depois de 3 horas de jogo, eu já estava enjoado delas. Embora elas sejam eficazes em determinados momentos, este aspecto deixa a desejar pela falta de variação.
Gráficos
Os gráficos de Alfred Hitchcock – Vertigo não apresentam nada de muito inovador, entretanto, cumprem a sua proposta. O visual segue uma linha mais cartoon, e temos vários locais diferentes para explorar no game. Alguns deles são a casa de Ed, as casas que visitamos com o policial e até mesmo um grande celeiro. O aspecto mais interessante em relação aos visuais é que muitas vezes ouviremos os relatos do protagonista, mas depois que encontramos a verdade, muitos dos elementos daquele ambiente mudam. Este foi um toque que deixou a estética bem mais atrativa e contribui para a surpresa das grandes reviravoltas.
Entretanto, nem tudo é perfeito. As expressões faciais dos personagens poderiam ser melhores. Pois, este aspecto deixa a desejar nos momentos de tensão do game, pois eles não conseguem transmitir muito sentimento. Por outro lado, a dublagem consegue ajudar a aminizar este problema, pois ela é excelente.
Desempenho
Minha experiencia foi no PC com uma GTX 1650. O game teve um desempenho no médio em 60 FPS, sendo que em alguns momentos em aréas abertas tive quedas de FPS bruscas. Portanto, o título não apresentou problemas, os loadings foram rápidos graças ao SSD e não houve nenhum crash ou travamento.
Conclusão
Alfred Hitchcock – Vertigo tinha a promessa de apresentar uma reimaginação do classico de Alfred Hitchcock. Entretanto, embora a obra apresente elementos interessantes em sua narrativa, a pouca coesão e a busca constante por reviravoltas e misterios acabou prejudicando o andamento da trama, tornando ela algo que mais apresenta questões do que realmente entrega respostas. Embora estas caracteristicas se destaquem em histórias subjetivas, em Vertigo, esta forma de storytelling consegue apenas frustrar o jogador.
Além disso, o game aborda de maneira irresponsável e vazia situações sérias e pesadas da nossa sociedade, sem o intuito de apresentar uma critica construtiva. Esta escolha faz com que a narrativa se torna algo sem real objetivo de fazer o jogador imergir e refletir sobre as situações que estão sendo apresentadas na tela.
Entretanto, o mistério apresentado aqui provavelmente será o suficiente para manter alguns jogadores imersos, sendo que a jogabilidade é interessante.
Por fim. Alfred Hitchcock – Vertigo é um game que eu recomendo para os fãs da obra original e para os players que gostam de um bom mistério. Mas fica o aviso, se voce não gosta de ver temas sérios abordados de uma maneira vazia, este título não é a melhor indicação.
*Chave cedida para análise no PC