Introdução
White Shadows é um game de plataforma e quebra-cabeças. O título é inspirado nas obras 1984, a revolução dos bichos de George Orwell, e tem a proposta de apresentar uma aventura intrigante e realizar uma crítica social forte. Particularmente, eu gosto de games que se propõem a fazer críticas e incentivar o jogador a refletir sobre a humanidade e até mesmo a sociedade em que vivemos. Entretanto, para isto acontecer, é preciso que a mensagem do game seja transmitida adequadamente e com foco. Com isto em mente, será que a aventura da pequena menina corvo consegue entregar uma narrativa interessante e, ao mesmo tempo, realizar uma crítica social poderosa? Confira agora em mais uma análise do Garota no Controle.
White Shadows foi desenvolvido pela Monokel e foi lançado no dia 7 de dezembro para Xbox Series X|S, PlayStation 5 e PC, via Steam.
A pequena garota corvo
White Shadows começa logo de cara nos colocando na pele da menina corvo. Sem muita introdução, devemos apenas começar nossa aventura avançando pelos cenários a frente. Portanto, desde o início da jornada fica evidente que o game segue inicialmente a linha de Limbo e Inside, contando uma história interpretativa. Assim sendo, cabe ao jogador observar com cautela o mundo que exploraremos e tentar entender o mundo que rodeia a protagonista.
Nesta jornada, estaremos avançando por um mundo dominado pela elite dos Lobos, uma classe social alta que abusa constantemente dos abaixo deles usando a luz, um produto que afasta a escuridão dos animais. Além disso, temos os corvos, considerados as minorias aqui, a escória, sendo que temos até propagandas espalhados por este mundo em que estimulam os outros animais a ficarem longe dos corvos. Pois, fazendo isto, não serão infectados pela praga.
Portanto, ao explorarmos os locais do game, iremos nos deparar com várias situações que tentam ser uma crítica social. Assim sendo, seremos apresentados a situações que envolvem violência contra a mulher, trabalho infantil, dominância da Elite, problemas do capitalismo, repulsa contra minorias e até mesmo uma menção sobre o culto do salvador. Embora tenhamos diversos elementos apresentados aqui, este acaba sendo o grande ponto negativo do game.
Críticas sociais que no fim… não criticam nada
Para uma crítica social ser efetiva, é preciso que ela faça o jogador refletir sobre algo. Infelizmente, este acaba não sendo o caso de White Shadows. Pois, o game é extremamente curto, podendo ser zerado em menos de 2 horas na primeira jogada. Isto faz com que estes elementos que citei anteriormente não sirvam como críticas sociais, apenas elementos jogados rasamente na tela do jogador. Além disso, o game em determinado momento, ignora toda a sua apresentação de elementos narrativos subjetivos e apresenta uma forma mais direta para transmitir a mensagem central da obra, o que quebra totalmente a imersão e o sentimento de auto descoberta do player.
Isto acontece quando em um segmento de White Shadows, o jogo simplesmente exibe uma pequena peça de teatro contando um pouco do passado daquela civilização. Este elemento me incomodou bastante, pois, como dito anteriormente, o game se propõe a ser algo subjetivo e intriga o jogador com estes elementos e no meio do caminho simplesmente muda de ideia. Portanto, fica evidente que a obra começa de uma forma e no fim… não sabe aonde quer chegar. Isto fica ainda mais claro com a conclusão do título, que simplesmente é decepcionante e não faz nenhuma conexão com o resto da narrativa.
A jogabilidade é simples demais
O gameplay de White Shadows não foge muito do que se espera de um game plataforma. Podemos andar, correr, pular obstáculos e interagir com objetos pré determinados pelo cenário. Para avançarmos no jogo, a protagonista precisa andar por diversos locais e resolver puzzles. Portanto, neste aspecto a obra apresenta outro ponto que deixa a desejar. Pois, o game não apresenta desafios que irão exigir muito do jogador, sendo que a maioria dos quebra-cabeças são repetitivos e simplificados demais. Assim sendo, os obstáculos que a garota corvo irá enfrentar se resumem apenas em pular em plataformas no momento certo e interagir com objetos na ordem correta. O puzzle mais desafiador presente no título é um que exige que o player organize alguns mecanismos na ordem correta e mesmo assim, não chega a ser um grande desafio.
Além disso, alguns elementos da jogabilidade sofrem de um certo atraso de comandos. Para exemplificar, existe um segmento do game no qual devemos pular em um trem em movimento no momento correto. Embora pareça uma tarefa simples, o comando de pulo da personagem sofre de um atraso que tornou esta parte simplesmente frustrante. Este problema, acompanhado da simplicidade dos puzzles deixa evidente que o game poderia ter sido muito melhor neste aspecto.
Trilha Sonora
A trilha sonora de White Shadows consegue fazer um bom trabalho em imergir o jogador naquele mundo. Pois, temos aqui trilhas que focam nos sons ambientes de máquinas e fábricas, além das próprias propagandas elitistas, que possuem um som característico sempre que aparecem. Entretanto, fica evidente uma falta de variação, pois mesmo com uma aventura curta, chega um momento no qual os sons se repetem em diferentes ações. Portanto, sempre que interagimos diferentes objetos é emitido o mesmo som, mesmo que isto não faça sentido nenhum. Pois, não faz sentido que um mecanismo tenha o mesmo barulho de uma caixa sendo movida, por exemplo.
Uma ambientação bonita, mas com pouca variação
White Shadows se passa inteiramente em preto e branco. Isto faz com que não seja tão notável alguns dos aspectos gráficos. Assim sendo, fica difícil avaliar se eles são ou não tão bons quanto aparentam inicialmente. Entretanto, mesmo com um design visual com poucas cores, o game consegue entregar uma aventura sem muita variação visual. Está situação é altamente decepcionante, pois era esperado que o título usasse seu visual tão distinto para apresentar diversas facetas daquele mundo. Além disso, preciso mencionar que em alguns momentos o game usa pequenos vídeos para mostrar propagandas que aparecem naquele mundo.
Embora sejam bem feitos, este elemento simplesmente não se encaixa em nada na narrativa e muito menos com a ideia proposta. Assim sendo, é comum estarmos andando por algum local e do nada este video propagandista aparece na tela de forma pouco explicativa e sem contexto narrativo. Portanto, este é outro elemento que vai totalmente contra a proposta apresentada inicialmente. Pois, como citado anteriormente, o contexto inicial apresentado pelo título, é que teríamos um game que efetuaria uma crítica social usando elementos subjetivos. Entretanto, o game no meio do caminho muda de idéia e começa exibir coisas na tela que simplesmente não casam com a proposta inicial.
Desempenho
Minha experiência foi no Xbox Series S. White Shadows tem um desempenho sofrível em alguns momentos do gameplay. Durante a minha jornada tive segmentos em que o título ficava em um framerate tão baixo que beirava o injogável. Embora a desenvolvedora já tenha lançado alguns patchs que corrigiram parte destes problemas, eles ainda estão presentes. Além disso, o game ‘crashou’ algumas vezes durante o meu gameplay. Em relação aos tempos que carregamentos, posso dizer que eles são rápidos, o que é esperado graças ao poder do SSD.
Conclusão
White Shadows é a primeira grande decepção de 2022. O game apresenta uma proposta interessante, mas a falta de foco e o gameplay simples e problemático acabam prejudicando o desenvolvimento da obra. Além disso, a narrativa do game tenta entregar algo inicialmente e no meio do caminho muda de ideia e no fim… não entrega nada.
Este fator fica evidente no aspecto da crítica social que o game promete transmitir. Portanto, o jogo acaba mostrando vários elementos e tentando criticar várias coisas ao mesmo, sendo que ao chegarmos no final da obra, simplesmente não existe nenhum elemento de reflexão ou que fará o jogador sentir algum impacto.
Por fim, White Shadows é um game que tentou ser demais e acabou ficando abaixo do ok, sendo um game que recomendo apenas para os jogadores que são fãs da obra de Orwell ou que procuram um título de plataforma para ser zerado rapidamente.
*Chave cedida para análise no Xbox Series S
