Introdução
O Homem-Aranha definitivamente é um dos heróis mais conhecidos e amados do público geek. O nível de identificação com o personagem transcende o espirito de bom moço e nos acerta em cheio com um personagem que precisa lidar com vários de problemas pessoais enquanto luta para salvar o mundo.
Claro, este sempre foi um dos principais pontos de crítica ao teioso interpretado por Tom Holland. Pois, ele conta com toda tecnologia Stark ao seu dispor, ajuda dos vingadores, decisões atrapalhadas e inconsequentes, somado à ausência da figura do Tio Ben, sendo substituída de uma forma quase imposta por Tony.
Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, chegou prometendo em seus trailers e sinopses, que isso iria mudar. Que, finalmente, o Peter Parker que conhecemos ia aparecer e assumir o protagonismo, praticamente deixado de lado nos dois filmes anteriores.
Como era de se esperar, a direção de Kevin Feige tinha uma intenção clara: fazer os fãs pularem das cadeiras, aplaudirem no cinema, comemorar como se estivessem assistindo tudo ao vivo. Pois bem, Sem Volta para Casa consegue tudo isso, e é, sem sombra de dúvidas, o melhor filme da atual fase cinematográfica do herói.
O filme é cheio de surpresas, um fan service bem aplicado, além de muita emoção. Contudo, não da para dizer que o filme é “sombrio” como foi vinculado em algumas mídias. Mas, o final da trilogia estrelada por Tom Holland é a origem definitiva que o personagem merecia.
Sem mais delongas, confira a nossa crítica Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, e sem spoilers.
O início que Todos Esperavam
O filme se inicia imediatamente após o segundo, quando J.J Jameson (J. K. Simmons), está revelando ao mundo a identidade do Homem-Aranha.
Isso traz consequências imediatas para Peter e para as pessoas que ama. Ele perde sua privacidade, seu final de vida acadêmica fica difícil e até sua vaga na faculdade passa a ser ameaçada. Da mesma forma, MJ (Zendaya) e Ned (Jacob Batalon) sofrem, não apenas com a revelação, mas também acabam ficando sem chances em faculdades por serem amigos de um “herói em julgamento”.
Nesse meio tempo, uma das primeiras agradáveis surpresas do filme nos é apresentada. E, após Peter descobrir que toda essa revelação está afetando diretamente a vida de seus amigos, ele recorre ao Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch) para tentar descobrir uma forma de reverter isso.
Como já apresentado anteriormente, a magia do Dr. Estranho aparentemente falha, e o desejo de Peter vêm acompanhado de consequências severas: a abertura das barreiras de outras dimensões, resultando em uma invasão de vilões de outras realidades, já conhecidas pelos fãs do personagem.
Chega de trapalhadas – Chega de Mentores
Outro ponto baixo dos filmes estrelados por Tom Holland é que, aparentemente, as “trapalhadas” do Homem-Aranha são sempre o motivo dos acontecimentos terríveis do filme. Apesar do começo lembrar isso, com o jovem herói atrapalhando o Mago ao realizar um feitiço de esquecimento, os “erros acidentais” param por aí.
Peter, finalmente, parece abandonar esse lado e não erra mais por meros descuidos, mas toma decisões, muitas vezes arriscadas. Entretanto, as defende, até mesmo lutando com Strange, como visto nos trailers, mesmo que os resultados não sejam os esperados.
Contudo, um dos mais relevantes acertos de Sem Volta para Casa, é que, após dois filmes de um protagonista omisso, sempre se apoiando em alguém, como Tony Stark, Mystério e até Nick Fury, Peter Parker enfim passa a se impor e aprender de verdade o que significa assumir responsabilidades
Em muitos aspectos, o filme parece ter sido pensado para “limpar a barra” de Tom Holland como Homem-Aranha. Já que vários dos principais problemas apontados anteriormente foram claramente corrigidos neste longa. Mas isso não é uma coisa ruim, muito pelo contrário, Kevin Feige ouviu os fãs e conseguiu tirar boas coisas disso.
De Volta a Um Lugar de Destaque
Tudo isso, já fariam deste o longa mais destacado desta trilogia, mas a Marvel e o diretor Jon Watts foram mais além. Ele se arrisca em cenas de ação bem mais empolgantes, trechos em primeira pessoa, e até mesmo um plano-sequência.
Além disso, todo o elenco ganhou mais espaço para brilhar, não apenas o Peter Parker de Tom Holland. O protagonista deixa de ser apenas um garoto carismático, para sentir raiva, arrependimento e uma angústia evidente em determinados momentos.
A Michelle de Zendaya não ficou para trás. Ela brilha em vários momentos, não apenas pelo mau-humor ácido, mas como uma companheira indispensável nos momentos mais difíceis do herói. Ned, para completar o trio, continua sendo o braço direito, melhor amigo e uma peça fundamental na resolução dos problemas enfrentados.
Contudo, quem mais brilha são os vilões.
Corrigindo o Passado
Como já era de conhecimento de todos, o Homem-Areia, Electro, Lagarto, Duende Verde e o Doutor Octopus são as figuras trazidas dos outros filmes do Homem-Aranha para o Sem Volta para Casa.
A performance de Alfred Molina como Doutor Octopus, como já era de se esperar, é tão boa quanto em 2004, com a mesma dualidade entre arrependimento e monstro. Enquanto isso, Jamie Foxx, que teve o azar de estar naquele enredo terrível de Espetacular Homem-Aranha 2, de 2014, alcançou sua redenção com uma versão digna do vilão.
Electro, dessa vez não é um ser azul e sabe usar todo o estilo e charme de Foxx ao seu favor. Até mesmo o Homem-Areia e o Lagarto ganharam papéis mais plausíveis e motivações convincentes dentro do contexto, conseguindo entregar a profundidade e ameaça que deles era esperado.
Porém, não há dúvidas de que o destaque entre os vilões é o Duende Verde de Willem Dafoe.
No confronto com o jovem Peter Parker, ele traz de volta um Norman Osborne insano e cruel, que não é comum de se encontrar no MCU. Sua atuação é deslumbrante, fazendo com que, assim como em 2002, sintamos ódio de seu personagem e conseguindo despertar o pior lado de um super-herói.
Os Mesmos Pecados de Sempre
Homem-Aranha: Sem Volta para Casa trata-se do peso e das consequências do amadurecimento. De tomar as suas próprias decisões, certas ou erradas, e arcar com essas escolhas. De ser obrigado a aprender através do sofrimento e da perda. Entretanto, todo esse pesar acaba sendo desconstruído na tentativa de deixar isso “leve”.
São vários momentos de tensão, até mesmo de sofrimento, quebrados com “piadinhas” ou “graçolas” desnecessárias, na intenção de amenizar o clima. Mas que acabam, por vezes, tirando a profundidade e importância daquele momento.
Infelizmente, isso não é nenhuma novidade no MCU.
Contudo, o maior problema é que isso gera uma contradição. Você tenta impor uma evolução de sofrimento e perda ao protagonista, mas, ao mesmo tempo, força a realização disso do mesmo jeito descompromissado dos outros dois filmes.
É evidente que dificilmente isso será sentido pelo público. Marvel Studios é um relógio suíço que funciona em perfeita sincronia. Além disso, como já dito, o filme proporciona muitas cenas que deixam o espectador em total euforia e estado de êxtase.
De volta as Origens
Homem-Aranha: Sem Volta para Casa é tudo que os fãs queriam.
Vilões clássicos, momentos surpreendentes, participações especiais, fan service, uma crise no Multiverso, que dá um belo pontapé para a Fase 4 do MCU, e, principalmente, um futuro bem mais promissor para o herói de Tom Holland.
Após ser coadjuvante, não só nos Vingadores, mas praticamente em seus próprios filmes, onde vivia a sombra de literalmente qualquer um, haja visto Mysterio, essa versão “final” do Homem-Aranha se afirma como protagonista de sua própria história, em um filme que realmente condiz com uma boa história de origem.
Não resta nenhuma dúvida de que esse é seu melhor filme, com boas atuações, uma boa direção e uma dose maior de seriedade e sobriedade à história.
Mas ainda falta um pouco mais de ousadia a Marvel. Falta coragem de deixar o sofrimento ser sentido pelos espectadores. No fim, há sempre um tipo de alívio cômico a qualquer situação, por pior que esta seja.
Não, o estúdio não precisa de filmes +18, cheios de sangue e violência, mas sim de aceitar que despertar tristeza e sofrimento em quem assiste a essas histórias, é uma forma sagaz de entreter.
Porém, absolutamente nenhum desses problemas vai afetar a experiência cinematográfica que Sem Volta para Casa proporciona. O filme traz emoção, nostalgia, surpresas, tristezas, superação e, acima de tudo, alegria para um público sedento por uma sala de cinema, onde podemos compartilhar com outra centena de pessoas uma experiência inesquecível.
Este filme é incrível, incrível, incrível.
Direção: Jon Watts
Roteiro: Chris McKenna e Erik Sommers
Data de lançamento: 16 de dezembro de 2021
Duração: 2h 28min