Revivendo o legado dos ladrões
Uncharted Legacy of Thieves Collection foi anunciado em setembro de 2020. A coleção é a remasterização para a nova geração do clássico Uncharted 4: A Thief’s End de 2016 e seu standalone, ou um jogo derivado, como preferir, Uncharted: The Lost Legacy, lançado no ano seguinte. Originalmente, ambos foram lançados no PlayStation 4. Legacy of Thieves Collection chegou no dia 28 de janeiro de 2022, exclusivamente para PlayStation 5. Entretanto, uma versão para PC via Steam e Epic Games Store já foi confirmada e deve chegar em breve.
O lançamento deste pacote é uma nova iniciativa da Sony em trazer seus games para PC. Inclusive, recentemente a empresa adquiriu o estúdio Nixxes, especializado em trazer essas versões para os computadores, trabalhando em conjunto com os estúdios já adquiridos. Dessa forma, o mais recente resultado desta colaboração é o lançamento de Uncharted Legacy of Thieves Collection.
Além disso, é importante mencionar que o jogo contará com upgrade pago para os proprietários do título no PlayStation 4. Ele sai por R$ 50, independente da versão do jogo. Entretanto, os assinantes PlayStation Plus que tiverem adquirido Uncharted 4: A Thief’s End através da PlayStation Plus não terão direito ao upgrade digital para o PS5.
Está rodando melhor no PlayStation 5?
Em Uncharted Legacy of Thieves Collection existem três formas de exibição. A primeira é o modo fidelidade, favorecendo a resolução, rodando em 4k, 30 FPS. O segundo é o desempenho, rodando a 60 FPS, na resolução 1440p. Existe também o Modo Desempenho +. Esta opção roda em 1080p e está disponível caso você tenha uma tela com taxa de atualização compatível com 120hz.
Além das novidades visuais, existe a possibilidade de carregar seus dados salvos do PS4, o que deixa as coisas mais fáceis. Os loadings no PlayStation 5 são quase inexistentes, o que é excelente. O DualSense também chama muita atenção, com uma vibração melhor e os gatilhos adaptáveis roubam a cena. Eles se comportam de uma forma diferente a cada arma que utilizamos. O áudio 3D deixa tudo mais imersivo, com melhorias perceptíveis mesmo se você não estiver utilizando um headphone, mas que fica ainda melhor se usar.
Sobre os gráficos, a remasterização não traz tantas novidades assim. Não que isso seja um defeito, já que a Naughty Dog se destacou nessa última geração pelos seus gráficos maravilhosos. Então é difícil no começo de geração pedir gráficos melhores do que os já trazidos em Uncharted 4 e em The Lost Legacy, mesmo com os títulos sendo originalmente lançados em um hardware de 2013. Mesmo assim, existem algumas melhorias pontuais. Principalmente quando estamos falando em iluminação, deixando os cenários ainda mais reais. Porém, o foco aqui é realmente trazer uma coleção dos últimos dois jogos com as novidades que o hardware do PlayStation 5 proporciona.

Entendendo a história
Em Uncharted 4, temos a conclusão do arco de Nathan Drake. O protagonista sai da aposentadoria para ajudar seu irmão Sam na busca pelo tesouro perdido do famoso pirata Henry Avery. Sem contar que Nathan encontra Samuel 15 anos após ele ter sido considerado morto em uma de suas missões.
Já em Uncharted: The Lost Legacy somos levados para a Índia no meio de uma guerra civil, onde controlamos Chloe Frazer. A famosa caçadora que vimos em Uncharted 2 retorna ao lado de Nadine Ross, mercenária que vimos em A Thief’s End. A motivação é um pouco previsível para quem já jogou algum título da franquia, com a busca de um grande e valioso tesouro.

Protagonistas carismáticos
O carisma dos protagonistas sempre foi um dos pontos fortes da franquia Uncharted. De um lado, temos Nathan Drake, quem acompanhamos durante os 4 títulos numerados da série. Nate, para os mais íntimos, além de ser um galã, é o personagem mais carismático e inteligente de toda a franquia. Ele leva quase tudo na brincadeira, e com seu sarcasmo e humor ácido, é capaz de fazer piada com quase tudo.
Do outro lado, temos Chloe Frazer e Nadine Ross. Quando Uncharted: The Lost Legacy foi anunciado sem a presença de Nathan, muito se foi falado. Principalmente, sobre se as duas protagonistas poderiam realmente substituir o personagem que acompanhamos durante 4 jogos. Mas, logo nas primeiras horas, já vemos que essa escolha por parte da Naughty Dog foi um baita acerto.
Tanto Chole quando Nadine são carismáticas, com longos diálogos, muitas vezes engraçados, porém com um tom ácido e provocador. A relação das duas fica muito mais interessante quando elas começam a divergir sobre o que pensam em alguns assuntos, ou até quando tomam atitudes diferentes. Contudo, isso faz com que o jogador se importe com ambas as personagens.
A fórmula de sucesso é a mesma…
Como a Naughty Dog optou por não mudar nada no enredo dos dois jogos, Uncharted Legacy of Thieves Collection mantém a fórmula de sucesso que fez com o que o estúdio se tornasse um dos mais influentes da Sony. Pois, ambos os games seguem uma linha de direção mais cinematográfica, algo que vimos com frequência na última geração. Tudo isso é combinado a uma hud desligada na maior parte do tempo, aumentando a imersão, sem ícones no meio da tela. Tanto as cut-scenes quanto cenas de ação são bem empolgantes e de tirar o fôlego, algo que é um padrão na franquia Uncharted. Toda essa fórmula de sucesso é obviamente mantida em Legacy of Thieves, mas agora com todas as melhorias que o PlayStation 5 poderia trazer.
Tudo isso é combinado com uma gameplay divertida, satisfatória na maioria do tempo, que nos dá a opção de sermos furtivos ou irmos para cima de todo mundo como se não houvesse amanhã. Tudo isso é aliado a uma exploração em ambientes lindos, os mais detalhados e bonitos da franquia. Além disso, não podemos esquecer dos puzzles, que são realmente incríveis, inteligentes e dos mais variados, fazendo com que o jogador pense e erre muito antes de conseguir resolvê-lo. Toda essa fórmula de sucesso faz com que os jogadores considerem a franquia Uncharted uma das melhores da PlayStation e com total razão para pensar isso.

Alguns problemas permanecem
Em Uncharted 4, por exemplo, por ser um jogo com duração maior (cerca de 15 horas para terminar a campanha se você jogar sem pressa), em alguns momentos o gameplay fica repetitiva. Afinal, por mais que escalar seja legal, com o tempo cansa um pouco. As únicas mudanças durante a campanha ficam mesmo com os cenários, mas sempre estamos escalando montanhas para chegar em um novo lugar. Caso você seja novo na franquia, pode ser que não sinta isso, afinal você está jogando o que a franquia tem de melhor em gameplay. Entretanto, se você é um fã de longa data e quer reviver os momentos ao lado de Nathan e companhia, pode ser que se canse em algum momento.
Para entender melhor a jogabilidade, em Uncharted temos mecânicas características de jogos de ação e aventura. Podemos correr, escalar paredes, estruturas e montanhas, nada muito realista, na verdade. Mas isso é algo que nos importamos apenas durante 5 minutos. Após isso, entramos de cabeça no mundo e esquecemos isso. Além disso, podemos nos escorar em paredes, nos esconder de inimigos nos matos e atrás das paredes também. E claro, não podemos esquecer da gun play, que para mim não é tão empolgante quanto a série merecia. Podemos utilizar duas armas, uma arma leve e outra pesada, e enfrentamos inimigos, tanto no stealth quanto no modo rambo, indo para cima deles freneticamente. E isso se repete em todos os combates, não tem nenhuma diferença de um combate para o outro.
Mas o que poderia ser melhor?
Após 4 jogos numerados e um standalone, a franquia teve poucas inovações e mudanças na sua gameplay ao longo dos anos. Talvez esse seja o maior ponto negativo da Naughty Dog até hoje. Principalmente quando falamos de Uncharted 4. Após 3 games numerados na série, fica evidente a falta de novidades na jogabilidade. Seja uma mudança radical na fórmula do game (o que obviamente seria um erro, já que é um sucesso até hoje), ou nas suas mecânicas de gameplay, que para mim é aonde a franquia poderia ser melhor.
Claramente, a Naughty Dog preferiu polir e melhorar as mecânicas que os fãs já estão acostumados a ver, como por exemplo, escalar nos lugares mais malucos e impossíveis. Contudo ela opta por deixar os jogadores mais familiarizados com algo que já conhecem. Em vez disso, deveriam trazer novas mecânicas ou uma nova estrutura de jogo. Diferente do que é feito hoje, uma maneira de inovar seria a narrativa levar o protagonista até um cenário lindo onde escalamos, algo dá errado, mudamos a rota, chegamos em um lugar novo, enfrentamos inimigos, após vencermos, algo novo da história é revelado e o ciclo se repete. Mas estamos falando de uma das melhores e mais amadas franquias da PlayStation. Portanto, acredito que mudanças seriam bem vindas pelo público e dariam um fôlego maior para Uncharted.

Mesmo com ressalvas, é muito bom
Uncharted: Legacy of Thieves Collection é a forma definitiva de relembrar e reviver as aventuras do título clássico de 2016 e seu standalone de 2017. Ao mesmo tempo, é a porta de entrada ideal para quem não conhece a franquia ou não jogou os dois últimos títulos. Aqui temos dois games fantásticos, que apesar de seus probleminhas aqui e ali, se mantêm fortes na seleta lista de melhores exclusivos do PlayStation 4. Só que agora, jogamos com as melhorias do novo hardware da Sony. Para quem quer novidades sobre a franquia nos consoles, é bom se contentar com esse remaster. Provavelmente levará mais alguns anos para voltarmos a ver um novo game.

Por fim, a Naughty Dog deixa evidente que a franquia Uncharted continua forte e relevante na indústria. Além disso, o lançamento de O Legado dos Ladrões dá para nós fãs um ótimo aquecimento para o filme Uncharted: Fora do Mapa, que irá estrear dia 17 de fevereiro desse ano nos cinemas. Enfim poderemos dizer se Tom Holland e Mark Wahlberg serão bons Nathan Drake e Sully e se poderemos ter uma franquia nos filmes tão boa como temos nos jogos.
*Chave cedida para análise no PlayStation 5