Introdução
Peacemaker é a mais nova produção da DC com a direção de James Gunn. Após o relativo sucesso de O Esquadrão Suicida (2020), a Warner logo deu sinal verde para uma série focada em um dos integrantes da Força Tarefa X, o Peacemaker. Logo que foi anunciada, a produção chamou a atenção pela escolha do personagem, pois, existem diversos outros personagens relevantes que Gunn poderia ter escolhido.
Além disso, após a conclusão do filme anterior, Peacemaker acabou não sendo o anti herói favorito dos fãs, sendo que algumas pessoas até mesmo detestam totalmente o personagem, com razão inclusive.
Portanto, depois de quase 1 ano de produção, finalmente chegamos na data de lançamento da série. Assim sendo, os 3 primeiros episódios já estão disponíveis no HBO Max, sendo que os seguintes chagarão semanalmente.
Peacemaker: babaca, machão e assassino
A narrativa de Peacemaker se inicia logo após os eventos de O Esquadrão Suicida. O anti herói interpretado por John Cena acorda em um hospital sem muito contexto de como chegou ali. Assim sendo, seu objetivo inicial é escapar o mais rápido possível para que não precise voltar para a prisão, pois ele ainda uma sentença a cumprir por seus crimes.
Portanto, nos minutos iniciais a série já deixa claro o tom que teremos nessa obra, que basicamente é algo cômico e absurdo a todo momento. Este elemento já fica evidente com o diálogo de Peacemaker com um faxineiro do hospital, em que temos piadas e deboche sendo exaltado a todo momento. Inclusive, este elemento é demonstrado diretamente ao telespectador na abertura da série, que simplesmente uma das aberturas mais inesperadas que eu já vi na minha vida, sério, é algo incrivelmente marcante e absurdo.
Além disso, fica claro que o personagem aqui não mudou muito em relação ao apresentado anteriormente, pois, ele continua tendo uma personalidade de machão babaca e que só se importa somente com ele mesmo. Entretanto, a genialidade de James Gunn logo entra em ação e conseguimos notar em que aspecto da nossa sociedade ele critica na obra.
Uma crítica a masculinidade toxica e ao patriotismo
No primeiro episódio da série, já fica evidente quais aspectos da sociedade estamos vendo naqueles personagens. Como dito anteriormente, Peacemaker representa a masculinidade toxica no seu ápice. Portanto, ele é babaca, trata todos debochadamente, e no momento que conhecemos o pai do personagem, as coisas ficam ainda mais cômicas, mas esclarecedoras. Pois, a figura paterna do protagonista simplesmente faz uma crítica ao patriotismo americano, no qual homens dizem que lutam por suas famílias, proteção e o próprio país, mas, na verdade só se importam com a sensação de poder.
Este aspecto fica evidente na forma que o pai de Peacemaker o trata, chamando-o fracassado e exigindo que ele não seja uma vergonha, pois ao fazer isto ele se sente superior ao seu filho. Com este background do protagonista, embora não mudemos de opinião sobre as atitudes terríveis do personagem, a série consegue construir uma excelente justificativa para algumas atitudes do protagonista. Assim sendo, mesmo reprovando as atitudes dele, conseguimos compreender as situações que o levaram a se tornar uma figura com uma personalidade e moralidade questionável.
A equipe de Peacemaker
Na série, temos o retorno de alguns personagens presentes em O Esquadrão Suicida. Os grandes destaques ficam a cargo dos personagens Emilia Harcourt e John Economos. Os dois agentes conseguem ter um desenvolvimento inicial mais elaborado em comparação com a aparição anterior. Além disso, os diálogos de ambos com o protagonista são incrivelmente hilários e, ao mesmo tempo, cheio de referências ao universo DC.
Outra grande adição neste grupo é a personagem Leota Adebayo. Ela é lésbica e diferente dos outros membros, não é treinada em matar pessoas e muito menos em operações secretas. Entretanto, logo fica evidente o motivo de sua participação na equipe, sendo ela uma peça crucial no andamento de alguns acontecimentos inicias no programa. A personagem consegue estabelecer uma certa conexão com Peacemaker, pois, embora ela o ache super babaca (todo mundo acha isso inclusive), Leota também consegue ver um lado triste e que talvez possa mudar nele.
A problemática da humanização do protagonista
Um dos pontos que mais me preocupa inicialmente em Peacemaker é a série tentar humanizar demais o personagem e fazer forçadamente que os telespectadores sintam empatia por ele. No terceiro episódio ocorre uma situação assim, e acaba soando de uma forma completamente desconexa com a personalidade do protagonista apresentado até então. Assim sendo, este é um aspecto que espero que o programa não exagere, pois, Peacemaker não é um herói e no ponto que o personagem chegou, não existe nenhuma forma de redenção que seja minimamente aceitável. Claro, tem o clichê do sacrifício, mas duvido que a série siga este rumo, justamente por ser algo extremamente batido narrativamente.
O Vigilante e os ideais de paz e justiça
Os grandes destaques nos primeiros episódios com certeza foram o Vigilante, melhor amigo do protagonista (pelo menos é que ele pensa) e Eagly, a águia de Peacemaker. Inclusive, presenciamos uma cena em que o animal abraça ele, sendo este segmento extremante engraçado. Em relação ao Vigilante, ele também é um assassino de aluguel como nosso não querido Peace. Porém, suas cenas aqui são trabalhadas em um aspecto de espelho ao protagonista, no qual o telespectador pode facilmente comparar os personagens.
Assim sendo, fica claro que embora os dois tenham uma visão deturpada da realidade, eles buscam objetivos bem diferentes. Está situação até mesmo faz o protagonista questionar seu principal lema de vida, “vale tudo pela paz, até matar homens, mulheres e crianças”. Portanto, a frase dita anteriormente em O Esquadrão Suicida retorna aqui como um dos dilemas principais do Peacemaker. Assim sendo, é esperado um desenvolvimento ainda maior neste aspecto nos próximos episódios.
Portanto, o vigilante acredita que para se alcançar a justiça, tudo é liberado, inclusive a brutalidade, pois, em teoria eles estão matando apenas pessoas ruins, justificativa está que logo cai por terra na primeira missão de Peacemaker. Assim sendo, o grande questionamento que fica no ar é: a paz e a justiça são justificativas para eliminar vidas? ou isto é apenas uma desculpa para homens que sentem prazer evitarem o sentimento de culpa após realizarem alguma brutalidade?
Fotografia e cenas de ação
Fica evidente que em Peacemaker, James Gunn teve uma liberdade criativa maior do que no seu projeto anterior. Pois, temos ângulos ousados e cenas de luta com coreografias de destaque. Um dos segmentos que mais se destaca é uma cena em que Peacemaker luta com uma mulher em um pequeno apartamento. A escolha do diretor por ângulos que priorizam a tensão e o sentimento de que algo trágico irá acontecer a qualquer momento, tornam a cena altamente imersiva. Além disso, nesta mesma parte, quando a ação começa, os personagens possuem um combate que vai se locomovendo pelo pequeno ambiente, tornando tudo fluido, sendo uma ação cinematográfica de arrepiar.
A fotografia geral também não fica para trás. Pois, temos aqui um grande foco em cores vivas, além de muitas bandeiras e objetos que remetem diretamente ao sentimento de patriotismo. Entretanto, ao decorrer dos episódios inicias é possível observamos bandeiras americanas, estrelas e águias em vários locais durante as cenas. Este elemento consegue sempre transmitir com clareza os ideais deturpados de paz que o protagonista possui.
Trilha Sonora com foco no rock
Outro elemento que se destaca aqui é a trilha sonora. O diretor usa músicas clássicas e de rock, escolha está que potencializa a forma “old school” de pensar do protagonista. Além disso, o excelente uso das trilhas nas cenas de ação, torna estes segmentos divertidos, mas, em simultâneo, engraçados. Pois, a forma de combate de Peacemaker não é convencional. Para exemplificar, temos a cena que citei anteriormente no apartamento. Assim sendo, o protagonista ao entrar em combate, faz constante uso dos objetos no cenário na luta, variando seu estilo, mas de uma forma bem mais desengonçada.
Conclusão
Peacemaker é uma série que muitos dos fãs não acreditavam que poderia ser um sucesso. Pois, o protagonista não foi bem aceito na obra anterior de James Gunn. Além disso, o anti herói apresenta uma personalidade altamente condenável e que não incentiva o telespectador a sentir empatia por ele.
Entretanto, ao usar este elemento ao seu favor e adicionar uma dose de crítica social e humor, a obra consegue se render ao ridículo e se mostrar algo divertido. Mas, ao mesmo tempo, apresentar reflexões para os telespectadores que prestarem atenção nos detalhes.
Portanto, Peacemaker é uma série que apresenta um grande potencial inicial, tendo personagens que se destacam, seja por sua brutalidade, babaquice ou até mesmo comédia. Assim sendo, para finalizar deixo o questionamento principal da série em questão, realmente vale tudo pela paz?