Introdução
Syberia: The World Before é um game de aventura que levará os jogadores para duas épocas distintas. A grande premissa do título é apresentar duas protagonistas diferentes, sendo que cada uma delas terá que lidar com diferentes desafios e encontrar o real objetivo de suas vidas. Assim sendo, em determinado momento da história, ambas as narrativas irão colidir e levar a história para um desfecho surpreendente.
A premissa do game é interessante e realmente faz um bom trabalho em instigar o jogador. Antes de ter acesso a versão completa do título, testei a demo que está disponivel na Steam. Logo, mesmo mesmo tendo acesso apenas ao primeiro capitulo da obra durante a demonstração, é evidente o quanto o jogo quer transmitir um sentimento de descoberta aos players. Pois, mesmo sendo uma versão limitada, a demo conseguiu entregar vários aspectos promissores envolvendo a jornada de ambas as protagonistas e uma série de desafios por meio de puzzles que realmente exigiram bastante da minha intuição. Este elemento imediatamente me lembrou Sherlock Holmes e devo dizer que o game completo comprovou está inspiração.
Assim sendo, ao decorrer do tempo, eu sempre pensava o quanto queria voltar para o mundo de Syberia: The World Before. Logo, o momento finalmente chegou. Será que o título realmente consegue representar de forma interessante toda a sua interessante premissa? Confira agora em mais uma análise do Garota no Controle.
O game foi desenvolvido pela Microids Studios Paris e será lançado no dia 18 de março para PC, via Steam.
Dana Roze e a representação Steampunk de sua época
A primeira protagonista que somos introduzidos em Syberia: The World Before é Dana Roze. Ela é uma jovem de 17 anos que vive em Vaghem no ano de 1937. A personagem é uma talentosa pianista que está prestes a seguir uma brilhante carreira. Além dissom Dana possui um excelente carisma e até mesmo inocência, sendo que durante a campanha ela enfrentará desafios, principalmente envolvendo preconceito, que ela terá dificuldades de lidar. Infelizmente, o título acaba seguindo uma linha narrativa com a personagem que descarta tudo que foi apresentado inicialmente, entretanto, falarei sobre isso mais a frente.

A cidade que Dana vive tem uma representação única no jogo. Pois, embora tenhamos elementos característicos da época, tanto por meio de vestimentas como de mentalidade, o game representa elementos steampunk durante está período. Assim sendo, as cidades do game possuem grandes mecanismos dourados, alguns com a aparência de humanos, que ajudam no avanço daquele mundo. Para exemplificar, no inicio do jogo, o objetivo de Dana é chegar a praça principal e realizar uma apresentação de piano.

Portanto, quando a protagonista toca a música, estátuas douradas musicais aparecem e começam a acompanhar o ritmo da música. Este elemento Steampunk está presente durante todo o game, tanto no passado, quanto no presente, dando assim um charme a mais para a obra e tornando alguns segmentos visualmente mais interessantes. Como, por exemplo os cenários que devemos andar de trem, sendo que o motorista é um mecanismo mecânico e não uma pessoa.
A ameaça fascista da Sombra Marrom
Embora Dana viva em uma época aparentemente tranquila e tenha grandes sonhos, logo, seus planos são interrompidos pela ameaça da Sombra Marrom. Eles são um partido politico fascista que odeia os cidadãos de Vaghem, pois, de acordo com eles, os locais daquela cidade são os grandes culpados pela ameaça marxista e possuem sangue impuro por terem traído a sua raça. O game deixa bem claro quais são as inspirações por trás deste preconceito vivido pelas pessoas de Vaghem, entretanto, infelizmente o game não se aprofunda muito neste aspecto, sendo este um dos pontos que mais me decepcionou no jogo.

Pois, o game inicialmente deixa bem claro que apresentará elementos políticos em sua narrativa, principalmente na jornada de Dana. Entretanto, mesmo que a personagem passe por mal bocados durante a história, apenas pela sua origem, o título acaba não desenvolvendo este núcleo e acaba levando a protagonista por outro caminho que não me agradou tanto. Pois, logo quando ela parte para buscar o sonho de se tornar uma pianista, o título caba levando a personagem por uma história clichê de romance proibido e deixa totalmente de lado os aspectos sombrios do mundo em volta dela, sendo que este erá um elemento promissor.
O game possui alguns momentos sem próposito na campanha de Dana
Ao decorrer dos capítulos, iremos alternar entre as duas protagonistas. Portanto, chegou um ponto que ficou bem tedioso seguir a história de Dana e eu só conseguia pensar que queria voltar logo para o controle da segunda personagem principal. Para piorar ainda mais as coisas, os segmentos com Dana possuem um dos momentos mais cringes que eu já vi em um game. Nesta cena a personagem começa a tocar um piano em uma pousada e do nada, todos os cidadãos naquele local ficam em volta dela e começam a olhar para a personagem como se estivessem hipnotizados. Logo, esta cena é bem sem sentido e acaba não tendo um proposito na obra, além de causar vergonha alheia.
Kate Walker e a sua busca por respostas
A segunda protagonista que iremos controlar é Kate Walker. Logo no inicio de Syberia: The World Before, ela se encontra presa em uma prisão localizada em uma Mina, pois, cometeu o crime de protestar contra um governo opressor. A história dela se passa no ano de 2004, na Taiga. Quando somos introduzidos a personagem, o game mais uma vez introduz um elemento politico, entretanto, desta vez conhecemos o oposto do governo fascista. Entretanto, de forma similiar a história de Dana, não teremos um aprofundamento neste aspecto aqui, sendo que este elemento logo é descartado por completo.
Kate trabalha regularmente em uma escavação para diminuir a sua pena na prisão. Neste local, ele fez amizade com uma outra prisioneira e o game deixa subentendido que elas estão em um relacionamento. Durante umas das escavações, elas acabam encontrando uma saida e um trem cheio de tesouros antigos. Ao explorarem o local, elas encontram uma pintura de Dana, que coincidentemente, se parece muito com Kate.
Entretanto, um acidente acontece e apenas a protagonista consegue fugir da prisão. Assim sendo, o ultimo pedido da sua amada foi que ela procurasse a garota presente naquela pintura. Portanto, cabe a Kate ir atrás de respostas e descobrir a identidade da garota misteriosa e o seu destino agora que alcançou a liberdade.
Uma história interessante, mas com pouca profundidade
Syberia: The World Before apresenta diversos conceitos interessantes. Temos um mundo com elementos Steampunk, uma clara disputa de governos e até mesmo um excelente mistério envolvendo o destino das suas protagonistas. Porém, ao decorrer da campanha, fica evidente que o jogo deixa a desejar no quesito de desenvolvimento de personagens. Pois, embora Kate e Dana sejam carismáticas, eu não senti um crescimento e desenvolvimento adequado durante a jornada de ambas as personagens. Primeiramente, porque as motivações não são tão convincentes assim.

Primeiro temos Dana, que o game até diz que ela se apaixonou por um cara a primeira vista e começou a segui-lo em seu caminho… este trajeto seguido pela personagem soa forçado durante a história, com direito aos personagens quase se beijarem logo que se conhecem. Portanto, eu esperava que o game desenvolvesse o lado das origens da personagem, com ela tendo que superar os desafios de lidar diariamente com o preconceito. Entretanto, este aspecto fica muito de lado e o game acaba não mostrando uma real evolução dela durante a campanha.
A motivação de Kate deixa a desejar
Felizmente, o lado narrativo de Kate até consegue ser melhor neste aspecto. Pois, durante a campanha ela consegue ter um bom desenvolvimento e vemos ela sempre enfrentando novos desafios em busca de seus objetivos. Logo, ela explorará lugares antigos sozinha, resolverá mistérios antes nunca descobertos e conhecerá personagens que a ajudarão em sua busca pela garota misteriosa. Entretanto, mesmo tendo um bom desenvolvimento, as motivações dela não são convincentes.
A idéia dela estar em busca de uma garota que se parece com ela até é interessante no começo. porém, quando toda a base da jornada dela se baseia apenas nisso, e vemos todos os quebra-cabeças e lugares que ela adentra, apenas por uma garota em uma pintura antiga? Logo, o game deixa a desejar neste sentido e poderia ter dado uma motivação mais convincente para Kate.
O clássico point and click
A jogabilidade de Syberia: The World Before segue na linha da velha guarda, point and click. Assim sendo, clicamos com o mouse o local que queremos que a protagonista anda e ela irá até aquele local. O game é bem linear, entretanto, existem segmentos especificos no qual teremos uma certa liberdade de exploração. Normalmente, isto ocorre quando devemos resolver um quebra cabeça ou interagir com algum personagem. O título oferece uma boa quantidade de NPCs para conversamos, sendo que nestes diálogos podemos aprender mais sobre a lore do game.
Além disso, durante a jornada, tanto assumindo o papel de Kate como de Dana, teremos vários puzzles bem criativos para serem resolvidos. Para exemplificar, logo no começo do título temos um quebra cabeça no qual é preciso montarmos a figura de uma montanha. Assim sendo, precisamos girar e alinhar todas as peças até que a imagem fique completa. Existem alguns segmentos mais simples envolvendo a resolução de puzzles, por exemplo, quando estamos com Dana e devemos acender um fogão a lenha. Portanto, é preciso realizarmos as ações de colocar a lenha e girar os botões na ordem correta.
Excelentes quebra-cabeças
Syberia: The World Before faz um excelente trabalho com os seus quebra-cabeças, sendo este um elemento que realmente irá desafiar a intuição dos jogadores em alguns momentos.

Embora seja divertido e explorar os ambientes do game, tanto nos anos de 1937, como 2005, é evidente que a linearidade acaba comprometendo o sentimento de imersão na obra. Pois, existem vários trechos em cidades, que eu queria explorar mais os ambientes, entretanto, era impedido por uma parede invisivel. Mesmo com este problema, o título acaba compensando com a variedade de locais que podemos descobrir, que incluem cidades, montanhas e até mesmo pequenos vilarejos. Todos estes ambientes terão segredos e cabe ao jogador explorar e descobri-los.
Trilha sonora
Syberia: The World Before consegue emergir o jogador em ambas as épocas fazendo um excelente uso das músicas. Cada uma das épocas entrega diferentes faixas, que correspondem a jornada de cada personagem e os desafios que ambas irão se deparar. Ao jogarmos com Dana, temos faixas mais serenas e calmas, que representam tanto a inocencia como o sentimento de descobrimento e aventura que a personagem sente ao decorrer da campanha.
Por outro lado, ao assumirmos o controle de Kate, trilhas mais de urgentes e pesadas entrarão em ação, o que deixa evidente o sentimento de urgencia da personagem para encontrar a garota misteriosa. Entretanto, a protagonista também terá seus momentos de calmaria, sendo que a trilha se torna mais suave durante a exploração em locais fechados e ao resolvermos quebra cabeças.
No geral, o jogo faz um bom trabalho em manter as faixas sempre variadas, evitando sempre a repetição de músicas. Em alguns momentos, uma ou outra irá se repetir, entretanto, não chega a ser algo incomodo.
Gráficos e desempenho
Syberia: The World Before apresenta gráficos muito bonitos, mantendo sempre uma alta fidelidade as respectivas épocas que as histórias são ambientadas. Além disso, o game faz um excelente trabalho na introdução dos elementos Steampunk no cenário, sendo que este aspecto vez ou outra me surpreendia. Além disso, as expressões faciais dos personagens são boas e conseguem transmitir sentimento durante a jornada.
Outro destaque é a ambientação. Durante a jornada de ambas as protagonistas iremos explorar muitos locais diferentes, interior de lojas, praças, lojas, cabanas, florestas e muitos outros. Todos estes ambientes possuem um visual único e caracteristico, sempre surpreendendo com a originalidade e a atenção aos detalhes. Este foi um aspecto que se destacou bastante no título.

Infelizmente, não posso falar o mesmo em relação ao desempenho. Minha experiencia foi no PC, com uma GTX 1650. Logo, Syberia: The World Before apresenta um desempenho muito incostante. O título tem quedas de FPS em situações que simplesmente não fazem sentido, como por exemplo, durante uma simples conversa, o framerate vai de 60 para 20 do nada e se mantém em queda até que o angulo da cena mude. Este problema acontece com muita frequencia, logo, está situação não é a ideal. Além disso, eu tive vários crashs durante a resolução de puzzles, mais uma situação que não fez nenhum sentido. Portanto, fica evidente que o título precisava de uma melhor otimização em alguns trechos do game.
Conclusão
Syberia: The World Before é um game que possui uma incrivel premissa, entretanto, ela não é explorada e acaba entregando apenas uma narrativa pouco memoravel. É realmente uma pena, o primeiro capitulo é excelente e tinha tudo para ser uma baita jornada. Entretanto, o foco quase nulo nas questões politicas no mundo do game e a escolha questionavel do rumo narrativo de Dana, fazem com que o jogo não atinja todo o seu potencial.
Entretanto, eu me diverti bastante. A obra entrega dialogos interessantes e um desafio competente nos momentos com quebra cabeças, segmentos estes que irão exigir uma boa intuição dos jogadores. Além disso, o game apresenta uma boa variação de locais e ambientações, o que passa a sensação de sempre estarmos descobrindo algo novo. Além disso, o excelente uso da trilha sonora e dos elementos Steampunk, tornam Syberia: The World Before uma experiencia única.
*Chave cedida para análise no PC