A mão de Deus, a obra traz o jovem Fabietto superando o pior período de sua vida
A mão de Deus (È stata la mano di Dio) mais um filme com roteiro e direção de Paolo Sorrentino, apresenta Fabietto (Filippo Scotti) um jovem napolitano apaixonado por futebol. Ele vive com seus pais Saverio (Toni Servillo) e Maria (Teresa Sponangelo) junto com o irmão mais velho Marchino (Marlon Joubert), em Nápoles. Instantes de felicidade são compartilhados, típico retrato de uma família bastante calorosa e unida.
Apaixonado por futebol em especial pelo seu time Napoli, Fabietto vive a ânsia da chegada de Maradona ao clube. No entanto, apesar do filme acontecer na mesma época em que jogador atue no Napoli a presença dele se dá através de imagens de arquivo vistas na TV durante diversos períodos da trama.
Além de estar vivendo a emoção de Maradona atuar no Napoli, o protagonista se encontra na época que nasce os lampejos sexuais. Então, mistura a ansiedade pela chegada do ídolo e o nascimento dos desejos. É a melhor fase de sua vida. Contudo, a alegria do jovem acaba após um triste episódio que o força a amadurecer mais cedo. Sendo assim, acompanharemos a felicidade, a dor e os meios que Fabietto encontra para superar estes desafios em sua vida.
Por mais que seja uma obra dramática, A mão de Deus traz de forma sutil alguns traços de humor. É uma obra bem artística capaz de identificar traços da direção de Sorrentino ao expor de modo bem aconchegante assuntos como dor, alegria, juventude, relações, desejos e superação.
A alegria some e a solidão toma conta da tela
A mão de Deus tem um visual bem artístico. A câmera tem postura criativa quando está estática e quando se move, explorando ângulos que dão um ar especial à obra.
As imagens mais comuns para dar força ao filme são planos que mostram elementos naturais como mar, céu e árvores. Inegavelmente, transmitem a sensação de intensidade e verdade no que os personagens estão vivendo. Em resumo, eles desfrutam de maneira genuína de momentos simples. Nesses instantes as cores são mais quentes e os personagens são felizes.
No entanto, este elemento muda quando Fabietto passa por uma situação trágica. As imagens que até então são alegres se tornam escuras e um tanto tristes acompanhado o sofrimento do personagem. E os espaços que até então eram cheios de gente se tornam vazios e solitários. As imagens que trazem o verde da natureza é ocupada pela presença constante de mar, trazendo a solidão e a dor que o jovem sente.
Entretanto, nessa tristeza profunda aos poucos as cores são recuperadas, mas não trazem toda a vivacidade de antes. Até porque nada voltará a ser como antes. Desse modo, através da fotografia é possível notar que Fabietto está se adaptando a uma nova realidade.

A mão de Deus, diálogos descontraídos dando lugar ao silêncio
Apesar da fotografia de A mão de Deus deixar mais intensas as sensações dos momentos de alegria e dor, a questão sonora também é importante para surtir esse efeito. Pois, é um dos elementos da obra construído nos mínimos detalhes. São diálogos, trilha sonora e ruídos que permitem sentir o espírito do filme.
As conversas dos personagens ás vezes são filosóficas e com pitadas de humor, porém essa parte descontraída não está presente apenas nas falas, por meios visuais a trama também tira risos do público. Mas, isso ocorre apenas na primeira parte do filme, período em que Fabietto ainda não conhece a dor.
Os ruídos da obra tal qual a fotografia trazem a presença da natureza, dando tom mais forte ao ambiente onde os personagens estão, e transmite paz e harmonia. No entanto, na segunda parte o ruído do mar é mais presente e os diálogos acalorados somem dando lugar ao silêncio.
Por fim, a trilha sonora de A mão de Deus não é composta por muitas música, mas todas elas são usadas pontualmente. É visível a sincronia das canções com a dor e a alegria de Fabietto, logo transitam entre alegria, dor e recomeço.
Ritmo de A mão de Deus respeita a dor de Fabietto
A obra traz um ritmo um pouco lento. Na primeira parte vemos ele e sua rotina familiar. Na segunda, esse ritmo continua, porém muda o tom do filme. O que até então apresenta vigor dá espaço à amargura sentida pelo jovem. Esse sofrimento é tratado de modo bem cuidadoso respeitando o tempo necessário para o protagonista superar a dor. Sem pressa.
A reviravolta na trama muda o fluxo da vida do protagonista e esse drama faz com que ele de forma nada espontânea pule da fase da juventude cheia de euforia diretamente para a fase adulta. Sendo a única maneira dele superar tamanha aflição e decidir qual o caminho deseja traçar nessa nova realidade.
No início da trama o clima é de alegria e harmonia, não traz muitos dilemas, mostra momentos descontraídos entre os personagens, mas também através de alguns fatos desconstrói lentamente esse cenário. Entretanto, há ausência de conteúdo dramático impactante no início da obra, que ao entrar na segunda parte surge e segura o filme até o fim.
Em suma, na primeira metade da obra é apresentar os personagens e as rotinas que os cercam, enquanto a segunda metade é o local que o drama começa a se estruturar. E como o fato dramático é coerente com a trama, ao surgir o público se surpreende e sente a dor de Fabietto, pois já foi criado vínculo com o público.
Como Fabietto supera a dor
A mão de Deus é desenvolvida de maneira gradual e se divide em três partes, alegria, dor e superação. No início do filme é apresentado ao público Fabietto e sua vida familiar, em seguida traz o fato dramático e como ele vive a dor, e por último o caminho percorrido para superar o obstáculo que atravessou seu caminho. Desse modo o foco em Fabietto é maior quando ele está sofrendo, pois, no início essa atenção é divida entre os demais personagens que fazem parte de sua vida.
Em suma, são nos minutos iniciais do filme que é criado o vínculo entre personagem e público para entender a dor sentida por ele.
Apesar de ser jovem o seu convívio com pessoas mais velhas influenciam não só na sua visão de mundo como também em seus desejos sexuais. O sexo na obra é abordado de modo simples e natural, os desejos que começam a surgir no protagonista aparecem em qualquer jovem da mesma idade.
Além de ser muito ligado ao laço familiar, por estar no momento da vida em que os desejos começam a crescer, Fabietto se apaixona por futebol. Porém, essa paixão está presente apenas na primeira parte do filme, após a reviravolta em sua vida o jovem muda sua atenção ao cinema como um meio de fuga da dor que sente.
Enfim, A mão de Deus traz a dura realidade que é viver. Nada é para sempre e o riso pode se tornar pranto num piscar de olhos. No entanto, por mais que a dor seja intensa sempre há um recomeço.