Assim como muitas pessoas traumatizadas por Marvel’s Avengers, de 2020, eu também não estava muito animada quando a Square Enix anunciou Marvel’s Guardians of the Galaxy. Achava que seria a mesma bomba do ano anterior.
Qual foi a minha surpresa quando o jogo saiu e foi aclamado por diversas reviews. Guardians levou, inclusive, o prêmio de Melhor Narrativa no The Game Awards, o que começou a chamar a minha atenção para o game.
Em uma promoção recente, acabei comprando o jogo. Coloquei-o para jogar e os primeiros minutos já me conquistaram. Era o primeiro jogo que chamava a minha atenção desde que minha vida tinha virado de cabeça para baixo.
Conforme o jogo avançava, fui percebendo que ele ia muito além do que ser só um jogo sobre super-heróis.
Já deixo claro que esse artigo contém spoilers!
Leia mais: Análise de Marvel’s Guardians of the Galaxy
“Everybody hurts sometimes”

Devido aos filmes de James Gunn, já estava familiarizada com os heróis que compunham os Guardiões: Star-Lord, Gamora, Drax, Rocket e Groot. O que eu não estava acostumada era a profundidade dos traumas que os cercavam.
O jogo traz muito mais disso e deixa explícito a dor que cada personagem está passando. Peter Quill nunca superou a morte da mãe, Gamora jamais soube lidar com o assassinato da irmã que ela mesmo cometeu e Drax… ele jamais aceitou a perda da família.
Todo mundo está machucado de alguma forma. No início, é palpável a dor da equipe. Nenhum deles sabe lidar com si mesmo e muito menos com os outros. Apesar das discussões engraçadas que alimentam as cutscenes do jogo, é possível entender nas entrelinhas suas dores.
Eu também estou passando por um processo de luto. Recentemente, minha namorada escolheu terminar nosso relacionamento de um ano. Todos os dias ainda dói um pouquinho. É lento e cansativo passar por isso tudo.
Se a Promessa fosse oferecida a mim, eu com certeza a aceitaria. Quando os créditos sobem após Peter aceitar a sua Promessa, fiquei sem entender. Ele está com a mãe! Todo mundo estava feliz! Porque não é possível aceitar essa realidade?
Então, reparei no que ele diz enquanto a mãe o abraça. Ela estava machucando o próprio filho no abraço. Algo não estava certo e eu precisava tirar Peter daquilo.
“So I must be on my way, and face another day”

Ainda tinha muita coisa para rolar, precisava continuar o jogo. Peter se livrou do abraço doloroso da mãe e conseguiu voltar à realidade, ainda embasbacado e impressionado com o que acontecera.
O mais incrível de tudo é que, quando o próximo combate rola, Star-Lord tem mais uma habilidade! Está escancarado na tela: ele superou a morte da sua mãe e está inteiro novamente.
Ao ver isso, não demorei a perceber que o mesmo aconteceria com os outros personagens e, por fim, com Nikki. Que, apesar das dificuldades e tretas que eles enfrentavam a cada capítulo do jogo, os integrantes da Milano conseguiriam superar seus medos e enfrentar seus traumas.
São muito jogos que lidam com o luto (The Last of Us Part II sendo o mais chocante deles), mas nenhum têm o toque de Marvel’s Guardians of the Galaxy. Ele entende que os personagens não são iguais e todos eles possuem jeitos únicos de lidar com o que estão passando.
Isso mostra para o jogador que cada um enfrenta seu luto do seu próprio jeito. Que, apesar das diferenças, você pode encontrar apoio nos seus amigos.
Assim como Peter Quill, eu preciso continuar o meu jogo e enfrentar a minha Promessa. Afinal, ainda há muitos capítulos da minha vida para frente. Talvez não envolva lidar com uma organização religiosa que quer acabar com a galáxia, mas que seja tão divertido quanto.
Guardiões da Galáxia é muito além de um jogo sobre super-heróis surtados. É sobre o processo de luto e como enfrentá-lo, tendo seus amigos ao seu lado.