O lutador, uma história que mostra amor, dor e glória nos ringues de luta livre
O Lutador (The Wrestler) é uma obra dirigida por Darren Aronofsky com roteiro de Robert Siegel. Lançada em 2008, apresenta no elenco Mickey Rourke (Randy “The Ram”), Marisa Tomei (Cassidy) e Evan Rachel Wood (Stephanie).
Randy (Mickey Rourke) é um astro da luta livre, tem o esporte como profissão e dedicou a vida aos ringues. No entanto, passam-se os anos e como a prática exige muito do quesito físico ele se vê desgastado e forçado a abandonar a vida de lutador. Isso causa muita tristeza ao personagem e o faz refletir sobre suas relações pessoais.
O Lutador apresenta alguns momentos de sucesso do protagonista que durante boa parte do filme vive o dilema de deixar ou não deixar os ringues. Apesar de não ter mais capacidade de continuar lutando, Randy resiste. Durante sua vida não construiu nenhuma outra relação e quando chega o momento da aposentadoria não se encaixa em lugar nenhum.
A obra ainda que seja ficção tem um clima de documentário e mostra ao público sinceramente o amor, a dor e a glória que marcam a carreira de Randy. O tom mais realista que O Lutador possui se dá muito pela forma com que a trama é conduzida, porém, esse tema será abordado mais adiante.
Por mais que a narrativa acompanhe a vida de Randy, não se trata apenas de um personagem, mas representa tantos outros lutadores apaixonados pelo que fazem e se sentem perdidos quando o corpo já não pode seguir a paixão.
A procura da verossimilhança
A fotografia de O Lutador é bem marcante por tentar alcançar naturalidade e deixar o mais próximo de experiências reais. Sendo assim, o movimento da câmera, iluminação, figurino e cenário, são bem convincentes e geram impacto.
O uso da câmera no filme é bem autoral. Ela acompanha o protagonista, observa e é instável dando a sensação de que o equipamento é um personagem na trama. Em outras palavras, tem como característica marcante a instabilidade da câmera. Ou seja, ela não está fixa num suporte, mas sim é conduzida por uma pessoa assim a imagem fica tremula e produz movimentos orgânicos.
Além da movimentação da câmera para transmitir essa sinceridade ao filme não houve tanta alteração nas cores e iluminação. Os ambientes frequentados pelo personagem parecem reais e isso fica bem claro quando muda de um cenário para o outro. Não se procura a uniformidade entre as cores e luzes, pois, a obra faz muito o uso da iluminação natural do ambiente.
Por fim, quando se trata de cenas em que Randy está lutando, são instantes bem convincentes, tanto pelas características físicas de Mickey Rourke quanto pelo figurino e cenário. O protagonista é semelhante a astros da luta livre, os cabelos longos, o porte físico malhado, bronzeado e bem comum na área. Além do protagonista, o cenário e a euforia do público ao acompanhar um embate é semelhante às torcidas de luta livre, ou seja, O Lutador é uma obra que procura a verossimilhança.

O saudosismo que acompanha o personagem
Tal qual a fotografia, o elemento sonoro em O Lutador aparece de maneira bem natural. Algumas músicas estão presentes no próprio ambiente, deixando claro que não foram colocadas no momento da edição.
O rock americano da década de 80 é presente na trama até mesmo para traçar a personalidade do protagonista. Randy é um homem saudoso dos tempos de glória profissional. E como ele é um astro da luta livre é comum que ao subir no ringue o lutador tenha uma música de entrada, isto é, além do cenário a trilha do filme também cria a atmosfera dos espetáculos pop de luta livre.
Por mais que esteja presente músicas um tanto entusiasmantes, a trilha sonora como a vida do protagonista tem instantes melancólicos principalmente quando ele está só. Em algumas cenas o personagem tem os passos pesados, como se estivesse cansado e a respiração ofegante. Sendo assim enfatiza o drama de Randy, já não está bem fisicamente, mas teima em continuar lutando.
Por fim, alguns diálogos de O Lutador são nostálgicos e isso traz um ar melancólico. Outros são bastante doloridos, quando o próprio Randy verbaliza a solidão que ele se encontra trazendo ao personagem carência afetiva e vulnerabilidade. No mais, a atuação de Mickey Rourke tem muita potência e as falas soam verdadeiras, o que sensibiliza quem acompanha a trama.
Um personagem intenso, um ritmo intenso
O Lutador é uma obra que possui um ritmo forte e intenso. A obra tenta sintetizar a vida do protagonista desde os tempos que se encontra no auge até o instante em que envelhece e já não pode mais lutar.
A obra se distingue da maioria dos filmes americanos, não só pelo roteiro, mas pela forma com que Darren Aronofsky conta a história. Os cortes são aparentes ao assistir o filme o espectador percebe a técnica, mas isso não tira a imersão da trama, pelo contrário, dá mais força para a verdade que se tenta passar. O público nas grandes produções norte-americanas está acostumado a ver filmes montados nos mínimos detalhes para esconder a parte técnica visando mergulhar o espectador na narrativa e causar uma descarga emocional. O Lutador não tem essa linguagem.
Resumindo, ao observar a narrativa, fotografia, som e a maneira que a obra é montada todos esses elementos estão funcionando com o desejo de causar realismo e o ritmo da obra acompanha a rotina do personagem. Randy sente dores físicas, não tem vida social fora da luta, contudo tem prazer no que lhe traz dor e é assim que ele escolhe viver. O protagonista é intenso, o ritmo do filme é igual e o final não contradiz.
O momento da aposentadoria e a dificuldade de adaptação
O Lutador é um filme que traz de maneira sincera a vida de profissionais de luta livre os chamados wrestler. Existem os tempos de sucesso, porém não são tão longos em razão do desgaste físico e o corpo paga pelos excessos. Randy é um personagem que sedimentou sua vida tanto pessoal quanto profissional nesse ambiente esportivo. Entretanto, ele não tem estrutura econômica que possibilite sua aposentadoria. Ao encarar o fim da carreira percebe que ao longo dos anos não conquistou nada fora dos ringues tanto na parte financeira quanto afetiva.
Frente essa situação, tenta se adaptar a nova realidade e recuperar o tempo, porém está entregue ao universo da luta livre e tem dificuldade ao fazer a transição. Sendo assim, isso fica claro ele não se sente tão confortável em outros ambientes, pois, o lugar que está adaptado é com o público ovacionando. Isso afeta o emocional de Randy que fica vulnerável e tenta se redimir com a filha Stephanie (Evan Rachel Wood) e construir uma relação amorosa com a dançarina Cassidy (Marisa Tomei).
Em suma, o filme tem como cenário o ambiente da luta livre, contudo o que acontece com Randy pode acontecer com qualquer outra pessoa. Abrir mão das relações pessoais em busca de uma realização profissional. O filme faz refletir sobre o preço que se pega pelas escolhas ao longo dos anos e as coisas que ficam para trás quando se escolhe seguir paixões. Afinal, não se pode ter tudo na vida.