Nós humanos, desde antes do fim da Era do Gelo e começo dos assentamentos e criação de vilas, somos seres competitivos, e isso é inegável. Desta forma a nossa evolução, assim como a de outros animais, dependia de uma série de provas de competências impostas pela natureza. Assim, é muito seguro dizer que a competitividade e o esporte estão no nosso sangue, seja ela mais branda ou mais ávida, somos competidores.
Diferente dos outros animais, conseguimos viver, de nos adaptarmos e, de certo modo, de usar a natureza a nosso favor – chegando até ao ponto de a prejudicarmos. Por isso, criamos várias coisas como arte e agricultura, e ainda de formulamos competições entre nós mesmos, o que demos o nome de esporte. Não é novidade alguma que a arte imita a vida, e os jogos eletrônicos, como uma forma de arte, são um retrato da nossa sociedade.
E é por isso que eu venho aqui mostrar um pouco sobre a evolução e a importância dos jogos de esporte, muitas vezes esnobados porque pressupomos que eles não têm história, ou que são jogos para serem jogados com o cérebro vazio. Pois bem, é possível afirmar que, em um chute ou arremesso de uma bola de couro, temos toneladas de história. Ou, levando isso para o mundo dos games, Gigabytes de história.
A Largada para os jogos

Os primeiros relatos que temos sobre esportes competitivos vêm da Grécia, em meados do sétimo século antes de Cristo. Os habitantes daquelas ilhas no Mediterrâneo já praticavam o atletismo. Mas, e nos games? Esquecemos que o primeiro jogo eletrônico do mundo foi baseado num esporte. Sim! Ele se chamava Tennis for Two, criado pelo físico nuclear William Higinbotham na década de 1950, como uma forma de entreter as pessoas.
O jogo foi criado num computador analógico e exibido num osciloscópio. Algumas décadas depois, tivemos o advento de Pong, outro jogo de esportes que se tornaria um dos primeiros títulos mainstream daquela nova mídia. Um game baseado em tênis de mesa, simples, mas magnífico. Se contarmos com suas limitações tecnológicas, o que o engenheiro e cientista da computação Allan Alcorn fez com Pong foi quase tão gigantesco quanto seu sucesso.
O milagre do esporte
Desta forma, é bom notar que esses primeiros milagres do mundo dos games foram sobre esporte, algo que está tão enraizado na nossa cabeça, nos nossos costumes e na nossa cultura, que nem pensamos muito sobre.
Assim, tanto pela simplicidade de alguns ou pelo sucesso de outros, títulos de modalidades esportivas vieram logo a se tornar comuns. Veja bem, é fácil imaginar um garoto dos anos 1970 ou 1980 sonhando em rebater como seus astros favoritos da Liga Americana de Baseball (MLB) ou chutar como nosso Rei Pelé. Pensando nisso, os marketeiros e mestres do business de empresas como Sega e Taito encheram as prateleiras com produtos como: Davis Cup e Soccer, jogos que usavam tecnologia muito semelhante à usada em Pong. Ver aquilo sendo empregado para outros esportes já devia ser maravilhoso.
É engraçado quando percebemos que a tecnologia de gráficos de rolagem, que vemos até recentemente em jogos de corrida, foram inventados nessa época pelo ilustre criador de Space Invaders, Tomohiro Nishikado.
Jogos ao som de Queen e Nirvana
Desenvolvedoras de jogos nasceram, cresceram e faliram entre os anos 70 e 80. Mas foi na década de 1980, ao lado de Madonna, o início do Guns’n’Roses e todo o glamour das batidas de Synthpop, que vemos as grandes obras de esporte chegarem no mundo dos videojogos. Com a grande exposição e a globalização atingindo ápices absurdos, era comum que esportes se tornassem cada vez mais universais. Ter Michael Jordan, Mohamed Ali, Joe Montana, Maradona e outras estrelas de variados esportes, faziam com que a demanda por jogos de várias modalidades aumentasse. É a partir desse ponto que entram nos gramados títulos hoje muito conhecidos, aquecendo a guerra de consoles da época.

Os jogos que hoje em dia parecem datados, já eram uma captura da cultura, das artes e dos sentimentos daquele tempo. Por meio dos videojogos esportivos, a explosão midiatica, a arte, a música, e os jogos, tudo girava em torno dos esportes e seus holofotes
Era muito possível pegar a estética e arte dos anos 90 ligadas ao basquete e ao Hip Hop com NBA Jam (93) e, logo depois, ouvir a guitarra distorcida do grunge que tocava na introdução de FIFA 98 Road to World Cup. Dos anos 90 para os dois mil teríamos batalhas titânicas entre franquias de esporte e consolidações de outras. Para os brasileiros, é difícil não lembrar o dilema de escolher entre FIFA 2002 ou Winning Eleven 11, por exemplo. E isso era só um vislumbre do que acontecia no mundo inteiro com outros títulos das mais variadas modalidades.
Se tornando um esporte
Nos anos 2000, com advento da internet, unir pessoas se tornou mais fácil e mudou como as pessoas jogavam, não só títulos esportivos, mas tudo. Com máquinas como PS2 e, principalmente, o Xbox Original, era possível fazer partidas de baseball ou correr em Forza Motosports com amigos do outro lado do mundo. E isso veio se tornar mais comum quando a Nintendo e a Sony apostaram ainda mais nas jogatinas em rede. Porém, vamos aqui parar um pouco e pensar em como é incrível e natural o fato de jogos eletrônicos terem se tornado esportes com a democratização da Internet.

A princípio no Brasil, era comum ver pessoas apostando dinheiro sobre quem venceria em Batalhas de C.S 1.6, ou em partidas de Winning Eleven. Além disso, mostrar um momento especial do mundo, onde pessoas estavam conectadas jogando e criando campeonatos. Mostra também o quanto somos cíclicos e obviamente transformaríamos os videogames em esporte. Não demorou muito para aparecer os campeonatos de jogos de luta, como KOF e Street Fighter. Mas não se engane, não eram campeonatos fracos e mal organizados, mas eventos de alto porte, que só iriam se tornar ainda mais profissionais com o tempo.
E como vimos antes, as coisas evoluíram. De assistir campeonatos amadores em Lan Houses com seus amigos, agora você pode entrar em streams com milhares de pessoas assistindo simultaneamente torneios grandiosos desses jogos. Counter Strike, StarCraft, Overwatch e o gigantesco League of Legends puxaram a barreira e fizeram jogos eletrônicos se tornarem verdadeiros esportes. Hoje é muito normal dizer que você, que está em casa jogando seu “lolzinho” casual com amigos, está fazendo algo parecido com seu tio Geraldo na pelada do bairro, ambos estão praticando esportes.
Indo além do esporte! A captura do espírito do tempo
Portanto, com o avanço dos videogames vimos títulos sobre elfos, magias e espadas se tornando esportes mundiais. Tivemos jogos sobre carros voadores que chutam uma bola para o gol se tornando uma febre. E sim, eu poderia listar como os jogos de esporte saem do comum e extrapolam a realidade, mas não acho que seja a hora certa.
É nítido que, o que mostramos aqui foi que os jogos de esporte, muitas vezes desprezados por uma parte dos jogadores, podem ser ferramentas incríveis para olharmos para o passado. Podemos ver como era o tempo naquela época, quais eram os nomes que faziam história. Hoje temos Messi e LeBron, mas nos anos 90 era Ronaldo e Michael Jordan. Através dos games, podemos ver relatos de eventos históricos, como Copas do Mundo, Grand Prix e Olimpíadas, vislumbrados em jogos antigos e novos. Temos oportunidade de conhecer a história chutando ao gol, e isso é algo que só os videogames podem nos proporcionar. Fazer com que possamos nos sentir dentro da história, no retrato tirado do espírito do tempo, dentro de um simples jogo eletrônico.