O corpo, um suspense policial que nos traz o prazer em sermos surpreendidos
O corpo é um suspense policial de origem espanhola realizado em 2012. A obra dirigida por Oriol Paulo, roteiro criado pelo diretor em parceria com Lara Sendim parte da premissa do sumiço de um corpo em um necrotério. A partir desse ponto o filme já traz uma problemática bem atrativa. No entanto, com o desenlaçar da trama consegue apresentar surpresas atrás de surpresas.
A princípio, Mayka (Belén Rueda) falece numa tarde vítima de um infarto então seu corpo é levado para o necrotério, porém desaparece misteriosamente. Dessa forma Álex (Hugo Silva), seu marido, é comunicado sobre o desaparecimento e precisa acompanhar as investigações com o detetive Jaime Peña (Jose Coronado).
O corpo é uma obra que tem resolução em menos de um dia. Ou seja, desde o sumiço do cadáver até o fim do mistério se passam apenas horas. Contudo, usa-se muito o recurso de flashback para solucionar pequenos enigmas que aparecem durante a narrativa.
Ademais, a obra é cheia de camadas e induz o público ao erro, porém nunca deixa sem respostas. Para quem tem o prazer de ser surpreendido O corpo não frustra a expectativa. A trama consegue levar o espectador às conclusões erradas e quando alcança o fim traz o ar soberbo de que conseguiu nos ludibriar por quase duas horas sem que suspeitássemos. E ao escurecer a tela fica a sensação de que fomos “tapeados”.
O passado e o presente se conectando através da vivacidade e da morbidez
Como foi dito, o recurso do flashback (volta no tempo) contribui para fazer a narrativa caminhar. Para ser notado ele se diferencia visualmente do resto filme. É o momento em que as cores estão vivas, e, ao mesmo tempo, a esposa de Álex ainda não havia falecido.
Desse modo, as tonalidades vivas e claras durante o flashback é bem contrastante, pois em O corpo as cores são frias, sem vida e com tons esverdeados quando a ação está acontecendo no presente, tempo em que Mayka é apenas um corpo sumiço.
Além da tonalidade fria que marca certas cenas, os cenários são escuros. Como resultado a imagem não fica iluminada não sendo possível enxergar claramente o que está acontecendo. E, com efeito, esse desconhecimento aumenta o aspecto de suspense.
Apesar de ser usado incessantemente, o recurso do flashback é um tanto capcioso, ajuda a narrativa avançar. Entretanto, não significa que a trama caminha para a direção capaz de resolver o mistério.
Por fim, além das questões acima citadas, o enquadramento se torna não só um elemento visual como também auxilia diretamente na narrativa fornecendo pistas para a resolução da obra. E ao final da trama fica claro que a maioria dos objetos mostrados em plano detalhe têm relevância dramática.

Uma trilha sonora construída nos detalhes para imergir o público no mistério
O aspecto sonoro de O corpo apresenta um ar enigmático e nos primeiros minutos da obra através de uma trilha instrumental robusta o espectador pode identificar que se trata de uma obra de suspense. É um elemento tão marcante que sem ele a obra perderia toda a força que tem. Eis que a forma que a trilha é construída gera tensão e inquietação por respostas, aumentando o suspense.
O som de O corpo é feito nos mínimos detalhes em total sincronia com a imagem. E deixa claro que um dos gêneros que o aspecto sonoro é capaz de moldar a narrativa, é o suspense. Pois, esses tipos de obras se sustentam por meio da criação de atmosfera e saber usar o elemento sonoro no momento adequado e com a intensidade compatível a narrativa, é essencial.
Além da trilha sonora o ruído também é importante, não só através de sons com a intenção de causar impacto no público, como também através silêncio. É típico deste gênero de obra o silêncio vir antes do ruído. Cria-se uma atmosfera da surpresa deixando o ambiente silencioso para quando o ruído chegar ser uma situação contrastante. E nessas obras o público espera esse momento, no entanto, desconhece quando acontecerá.
O ruído e a trilha ajudam na construção do clima de suspense, porém não são os únicos aspectos sonoros relevantes. Os diálogos em O corpo são indispensáveis, pois expõem a resolução de pequenos enigmas e trazem a resolução final. Porém, não se tornam expositivos, pois todos os fatos comunicados por meio de diálogos veem de modo sutil e muitas vezes junto de imagens associadas a fala.
Outro aspecto marcante no som é o caos. Em certas cenas trilha sonora, diálogos e ruídos acontecem de modo simultâneo e essa desordem é ótima para gerar inquietude.
O corpo traz um ritmo dinâmico que nunca deixa a peteca cair
O corpo é uma obra que sempre traz fatos desconhecidos do público. E para somar já estabelece os momentos que a narrativa será apresentada, passado, através de flashback e presente tendo como localização temporal as horas seguintes da morte de Mayka e o sumiço do corpo. Nesse viés a obra já traz uma problemática estabelecendo no início uma meta a ser alcançada. Solucionar o mistério do sumiço do corpo.
Conforme o parágrafo anterior é possível concluir que o ritmo do filme não causará tédio. Pois, possui sequencias de acontecimentos que não permitem a perda do foco narrativo. É semelhante com a dinâmica do jogo “frio e quente”, durante a obra Álex não para de levantar possibilidades do paradeiro do corpo de Mayka e isso faz com que se afaste ou se aproxime da resolução do mistério.
A aproximação e o distanciamento que acontece na obra se dá pelo modo que os fatos são apresentados, a maioria deles tem origem na perspectiva de Álex. Ele é o personagem que determina o ritmo da trama, pois tem a necessidade de desvendar o mistério, está eufórico e traz diversas possibilidades e isso reflete no ritmo. Ou seja, quem conduz o público é Álex.
Ademais, todos os elementos funcionam em sincronia com a narrativa. O movimento de câmera muitas vezes acompanha a trilha sonora incrementando o charme do suspense que a trama tanto entrega.
Um típico suspense policial
O corpo é uma obra com estrutura convencional, mas isso não significa que seja ruim só porque a estrutura é comum. Filmes como este já foram apresentados diversas vezes no cinema de suspense. No entanto, o que diferencia a obra são as camadas narrativas e a coerência no momento da resolução.
Em outras palavras, o corpo traz ao público diversos cenários narrativos que podem ajudar na resolução da trama e mostra elementos que permitem que a obra faça sentido para quem assiste. Sendo assim, não é egoísta, pois traz meios para o público desvendar o mistério junto com o andar da trama.
Além disso, deixa diversas pontas soltas e conforme a história se encaminha ao desfecho elas vão se amarrando e é apresentada a verdadeira face dos personagens.
Por fim, apesar da narrativa partir da premissa do sumiço de um corpo do necrotério não explora a camada sobrenatural. Trata-se de um suspense policial que tenta solucionar o mistério através de respostas presentes no mundo real. Sendo uma mescla das aventuras de Sherlock Holmes, Scooby-doo e claro, aquela pitada de inspiração nas obras de Hitchcock. Resumindo, O corpo é um suspense que vale a pena assistir.