Uma série de camadas
Missa da Meia-Noite ou Midnight Mass é uma série de terror criada e dirigida por Mike Flanagan em parceria com a Netflix. A série estreou em setembro de 2021. E mesmo com pouca divulgação ganhou muito destaque. Sendo considerado por muitas pessoas uma das melhores séries do streaming no último ano.
E para uma série ganhar destaque em meio a tantos lançamentos, algo ela tem que ter de diferente. Contudo, a obra logo de cara chamou a atenção por ser diferente das outras obras de horror convencionais. Se assemelhando a obras da nova geração do terror, que apostam mais no horror psicológico e explorando temas complexos. Entretanto, aqui a série explora o fanatismo religioso, o que é um dos seus pontos mais altos.
Mas afinal, o que fez Missa da Meia-Noite uma das obras mais interessantes do ano passado?
Essa análise não tem spoilers sobre a história.
Quem é Mike Flanagan
Antes de falarmos da sua obra mais atual, precisamos saber quem é Mike Flanagan. O diretor e roteirista é conhecido pelos filmes Hush e sua última obra nos cinemas, Doctor Sleep. Já para a Netflix ele ganhou destaque ainda em 2018. Pelo roteiro e direção da série Maldição da Residência Hill. Dois anos depois repetiu os feitos com a série Maldição da Mansão Bly.
Flanagan é conhecido pelo equilíbrio em seus roteiros e na sua direção. E ele o responsável por trazer esses temas importantes e complexos. Além disso, ele ganha mais destaque pela forma como traz isso em uma obra de horror. Sem grandes exageros e recursos do horror tradicional que vemos em terror blockbuster. Como jump scares, por exemplo. Contudo, outra característica marcante nas obras de Mike Flanagan são seus planos sequência e seus diálogos longos. Assim, dando uma maior profundidade para a história que ele está nos contando. E consequentemente dando maior profundidade nos personagens.
A história de Missa da Meia-Noite
A história acontece em uma pequena ilha. Onde todos se conhecem e interagem entre sí . Principalmente pelo fato de ser uma comunidade católica bem unida. Entretanto, o velho padre dessa cidade é substituído ao sair para uma expedição pela igreja. Deixando todos preocupados com o futuro da comunidade. Mas toda essa insegurança das pessoas dura pouco tempo. A chegada do novo padre e todo o seu carisma, convencem rapidamente as pessoas da importância da sua presença nesse pequeno povoado. Contudo, essa chegada traz consigo algo maligno e desconhecido para a ilha. Mas a princípio sem o conhecimento das pessoas.
Além disso, a série nos traz algumas histórias paralelas. Mas que se misturam com todo o entorno dessa ilha. Um exemplo é a de um dos protagonistas, chamado Riley. A princípio ele é nos apresentado como um jovem, rico e irresponsável. Que é preso após atropelar e matar uma mulher enquanto dirigia bêbado. E após alguns anos na cadeia, volta para a ilha para de viver dias calmos e próximos a sua família.
Outra trama que merece destaque é a de Erin Greene. Uma antiga namorada de Riley. Porém, ela viveu toda sua vida na ilha. Logo de cara descobrimos o que aconteceu durante a gravidez da personagem e todo o impacto que este acontecimento traz para a vida de Erin e seu relacionamento com os outros personagens.
A critica sobre fanatismo religioso
Em Missa da Meia Noite, o ponto alto é sua crítica. Aqui o foco é sobre o fanatismo religioso. E é muito interessante a forma que essas questões se misturam com o plot da série. Até que ponto os personagens são influenciados e cegados pela religião. Até que ponto fazemos coisas (boas ou ruins) em nome de algum Deus. Ou como o fanatismo religioso exclui pessoas de outras religiões por apenas não terem as mesmas crenças.
O maior exemplo disso é a personagem Bev. Ela é uma fanática religiosa que trabalha em conjunto com o novo padre da ilha. Ela faz coisas terríveis. Sempre usando algum trecho ou texto famoso da bíblia como justificativa. É nessa personagem que a série foca quando mostra que existem pessoas que parecem ser boas. Mas que estão apenas se escondendo por trás da igreja para fazer coisas ruins.
Além disso, a série traz questionamentos interessantes sobre outros temas relacionados ao plot principal. Como, por exemplo a vida e a morte. Questionamentos sobre o que acontece quando nossa vida está chegando ao fim. Ou até mesmo se existe algo após o fim das nossas vidas. Entretanto, estás questões são mais restritos a alguns personagens. Como Riley e Erin, por exemplo. O envolvimento e a complexidade desses dois personagens dão um tempero especial para a história e os mistérios que acontecem na ilha.
Tomando cuidado com os exageros
Não podemos falar que a história de Missa da Meia Noite é normal. Afinal, temos uma ilha, com algo assustador e desconhecido, além de uma pitada de fanatismo religioso. Isso parece não fazer muito sentido. E todo o cuidado de Mike Flanagan para tudo isso não parecer um exagero deu muito certo. Os episódios são longos, duram cerca de 1 hora cada. Então há tempo suficiente para desenvolver todos os personagens e sobra tempo para os elementos de terror na história terem destaque também.
Em Midnight Mass, os problemas começam pequenos e gradualmente vão escalonando. Primeiro vemos alguns gatos mortos. Após isso aparecem vários pássaros mortos na ilha. Logo em seguida, temos a primeira pessoa morta. Mas tudo bem discreto, sem mostrar muito o que realmente aconteceu. Deixando um suspense e mistério no ar. Aos poucos, vemos realmente o que é o verdadeiro terror de toda a história.
Assim, existe um cuidado em deixar as coisas todas no seu tempo. Quando a história traz elementos que elevam o tamanho dos problemas da história, nós conseguimos aceitar bem. Até mesmo quando o que vemos parece um pouco estranho. Como, por exemplo, quando o motivo de todo esse terror é revelado. Contudo, a série não exagera no terror do que é mostrado. O diretor traz pequenos sustos e detalhes importantes nos diálogos. Sem apelar para jump scares, por exemplo. Entretanto, quando menos estamos esperando, algo extremamente violento e assustador acontece.
Uma ótima surpresa da Netflix
A Netflix acertou bastante com está nova obra feita pelas mãos de Mike Flanagan. Fazia tempo que o serviço de streaming não trazia uma obra tão profunda. Contudo, vale lembrar que essa série não é para todos os fãs do gênero. O ritmo da série é bem lento, com muitos diálogos longos e profundos. Se você está procurando aquele terror tradicional que nos pega de surpresa e nos assusta, não é aqui que encontrará.
O mais interessante é que mesmo sendo uma série de terror, ele vira secundário em alguns momentos. Dando destaque para toda a crítica que a princípio é secundária na série. Mas, o melhor disso tudo é como um tema tão delicado que é a religião é abordado com tanto respeito. Mesmo sem esquecer um minuto de criticar os extremos. Esse é um baita acerto da Netflix e pelo que parece, o casamento entre eles e o diretor Mike Flanagan está longe de acabar.