Uma nadadora premiada observa sua sala de estar, cheia de troféus e medalhas. Mesmo com o grande sucesso em sua carreira, ela não parece feliz. Ao dormir, sonha com um mundo submerso e busca, nesse sonho, se reencontrar emocionalmente. Assim, a Annapurna Interactive entrega A Memoir Blue, sua mais nova aventura.
A Memoir Blue foi desenvolvido pela Cloisters Interactive e publicado pela Annapurna Interactive. Lançado em 24 de março de 2022, o jogo está disponível para PC, Playstations 4 e 5, Nintendo Switch, e Xbox Series S|X e Xbox One, através do GamePass.
Uma história tocante e significativa
A Annapurna já tem um histórico de entregar histórias que partem seu coração. What Remains of Edith Finch, Florence, Journey e Outer Wilds são alguns dos jogos mais famosos da desenvolvedora. Portanto, já era de se esperar uma narrativa bonita e que deixará uma marca na sua alma.
A Memoir Blue conta a história de Miriam, mas seu nome nunca é revelado em gameplay. Ela é uma atleta de peso, que alcançou o lugar mais alto da sua carreira com uma medalha olímpica.
No entanto, ao observarmos atentamente, ela está sozinha. A poeira acumula em seus troféus e medalhas. Ao se ver na televisão, ela não está feliz. Em busca de um pouco de paz, Miriam adormece no sofá e sonha.
Sabemos que riqueza e glória sempre estarão acompanhadas de isolamento e confusão. Tudo isso vem com o medo crescente de perder tudo conquistado ao longo dos anos. Para Miriam, ela perdeu outra coisa: o contato com a mãe.
A partir do sonho, retornamos à infância de Miriam, onde conhecemos a história de sua mãe, uma mulher que lutou muito para dar o melhor para filha, e assim como Miriam, se envolve na natação.
Sem nenhum tipo de diálogo, A Memoir Blue deixa para o jogador imaginar que palavras são ditas durante os encontros entre mãe e filha. Nada é muito confuso: graças a trilha sonora e o trabalho de arte primoroso, é possível ter uma bela ideia do que é dito.
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Entenda através da música
O jogo é muito baseado na sua trilha sonora. Joel Corelitz comanda as músicas instrumentais, que utiliza sons para fazer com que o jogador se sinta isolado e distante do mundo real. Afinal, estamos submersos em um sonho.
Imogen Williams dá voz a belíssimas músicas que acompanham a jornada da protagonista. A voz dela é necessária para externalizar os sentimentos de Miriam. Inclusive, pensei que fosse outra cantora famosa no mundo indie, a Birdy, que estava à frente das composições do jogo.
Assim como Life is Strange, as canções são acústicas e gostosas de se ouvir. Os vocais, por vezes soturnos, nos lembram que as personagens estão tristes e sozinhas. A Memoir Blue é um jogo que deve se tomar lentamente, então, aproveite esse tempo contemplativo para bebericar o jogo tranquilamente.
Dois mundos se encontram
O que mais chama atenção no visual do jogo é o encontro entre cenários renderizados em 3D e os personagens de flashback feitos em animação 2D. Tudo isso é feito de maneira incrível pelos desenvolvedores. A versão criança de Miriam e sua mãe em 2D são tão partes do jogo como a personagem adulta em 3D.
Inclusive, a criança ilumina muito mais os cenários, trazendo cenas que tocam o jogador de todas as maneiras.
Por outro lado, você movimenta a narrativa usando a clássica esquemática do point-and-click para avançar na história. Mesmo assim, essas interações são limitadas: colocar moedas em uma máquina, tirar placas de madeira do seu caminho, e limpar locais empoeirados e cheios de mofo.
Não existem puzzles na pouco mais de uma hora desse “poema interativo”, como a própria Annapurna define o jogo. No entanto, o jogador não está aqui por eles, e sim pela história.
Conclusão
A Memoir Blue chega a ser constrangedor. Como podemos nós, os jogadores, entrarmos no sonho de uma campeã olímpica para descobrirmos mais sobre seu relacionamento com a mãe? Ainda assim, são momentos bonitos, belamente idealizados pela Annapurna, que me mantiveram presa ao jogo do início ao fim.
Ao final, há esperança de reconciliação entre Miriam e sua mãe. Mas o jogo é primeiramente sobre a ideia trágica de uma pessoa que se convenceu de que não há mais esperança neste relacionamento. Frágil e simples, A Memoir Blue ganha o jogador em criar momentos de melancolia, potencializados pela trilha sonora de Joel Corelitz e Imogen Williams.
O jogo é muito pessoal e faz parecer fácil essa narrativa que é tão universal: o amor entre mãe e filha.