Até que ponto uma boa história compensa uma gameplay ruim?
Há alguns anos, muitas pessoas jogavam seus joguinhos mesmo sem entender direito a história, pois, antigamente, não existiam muitos jogos com legendas em português. Com isso muitas das histórias eram feitas na mente de quem estava jogando, criadas a partir da imaginação de cada um.
Já atualmente, alguns títulos, como os do gênero Souslike, por exemplo, têm lores complexas, mesmo para o gênero RPG. Contudo, esse fator é deixado de lado também pela sua ótima gameplay. Isso deixa claro que bons jogos não precisam necessariamente de uma campanha boa ou marcante, afinal o principal de um vídeo game é a sua jogabilidade.
Mas, e quando o cenário é o inverso? Quando temos uma gameplay ruim, mas com uma boa história. Isso gera um questionamento interessante. Até que ponto uma experiência cansativa, pouco inspirada ou com mecânicas genéricas, conseguem nos prender somente pela qualidade de sua narrativa?
O caso Guardiões da Galáxia
A chegada de Marvel’s Guardians of The Galaxy no Game Pass em março desse ano foi o que me motivou a pensar sobre esse tema interessante. Esse game me chamou muito a atenção após ganhar prêmio do The Game Awards como melhor narrativa em 2021. E isso mesmo disputando contra Psychonauts 2, It Takes Two e Life is Strange: True Colors. O meu hype em cima do título mais recente da Eidos Montreal e da Square Enix, aumentou mesmo sabendo do fracasso de Marvel’s Avengers, jogo da mesma desenvolvedora.
Todo esse hype sumiu logo nas primeiras horas de campanha, gerando assim, diferentes sentimentos. Logo de cara, fiquei totalmente imerso com a história. Certamente, foi aqui onde o estúdio deu o maior foco do desenvolvimento. Cada personagem tem uma personalidade diferente, a dinâmica entre eles funciona perfeitamente, e eles são engraçados juntos. Em vários momentos não fazer nada é a melhor opção, pois existem incontáveis diálogos entre eles e sobre os assuntos mais variados e aleatórios. Portanto, a melhor coisa é apenas parar e curtir essa interação. Para muitas pessoas, esses são os Guardiões definitivos, melhores até que os dos filmes da Marvel.
Porém, junto da imersão gerada pela história, veio uma grande frustração. Isso porque o jogo traz uma experiência muito genérica, com cenários pobres e repetitivos, sem contar que a cada 5 minutos precisamos passar por corredores estreitos, estratégia utilizada para esconder loadings de novas áreas. Além dos problemas técnicos, o gameplay também é repetitivo e cansativo, com mecânicas genéricas e preguiçosas. Nos combates, por exemplo, basta segurar o botão de atirar em todos os momentos, que é o suficiente para zerar o game. Embora existam algumas habilidades, a maioria delas é desbalanceada e pouco ajudam contra inimigos que são esponja de balas.
Outros exemplos com o mesmo “problema”
Essa característica não é uma exclusividade de Marvel’s Guardiões da Galáxia. Existem vários outros títulos com uma boa história, mas com um gameplay ruim ou genérico. Spec Ops: The Line, lançado em 2012 é um bom exemplo. Afinal, ele traz uma abordagem totalmente diferente do que vemos no gênero de tiro, pois mostra os efeitos que a guerra traz para o soldado. Toda a carga emocional que ele tem que enfrentar e sobre matar em nome de pessoas que nem conhecemos. A história é ótima, entretanto, o gameplay nem tanto. Ele é genérico para games de tiro, com cenários pobres e que não contam muita coisa. As mecânicas de tiro não são polidas o suficiente, sendo bem cansativo e pouco atrativo.
Além disso, temos o gênero de jogos narrativos, como a franquia The Walking Dead, desenvolvida pela Telltale, ou a famosa franquia Life is Strange. Aqui, o foco do desenvolvimento é totalmente na história e na variedade das escolhas. Inegavelmente, esse gênero traz excelentes experiências e histórias marcantes. Entretanto, um de seus maiores defeitos é seu gameplay, ou a pouca coisa para se fazer. Na maioria das vezes, a única opção que temos é interagir com os objetos do cenário até chegamos a um ponto de avançar na história. Isso pode se tornar tedioso, principalmente porque não podemos pular essas partes desinteressantes e lentas, ou que não acrescentam muito no que está sendo contado. É claro que além de todos esses exemplos já citados, existem vários outros que entram nesse padrão.
E qual é o limite?
Mas até que ponto uma boa história compensa uma gameplay ruim? Isso é muito difícil de responder. Cada pessoa tem o seu limite. Além disso, existem fatores que podem fazer essa resposta mudar. Alguns gêneros, por exemplo, trazem consigo algumas características que deixam o gameplay menos dinâmico, enjoativo ou até mais lento do que outros. Porém, isso faz parte de sua proposta.
Contudo, é preciso analisar todas essas variáveis e identificar se todas essas características não são um erro do estúdio. Seja por preguiça, falta de investimento ou qualquer outro motivo. Ou se são propositais, para gerar sentimentos diferentes para os jogadores.
Death Stranding, por exemplo, nós precisamos andar por longas distâncias, a maioria delas a pé. Mas isso é com intenção de passar uma sensação de solidão. Já Life is Strange nos faz interagir com vários itens de uma casa. Somente para o personagem falar uma breve frase sobre o item que interagimos. Então essa é a análise necessária para entender até onde vai o limite de cada jogador.