Um marco para o desenvolvimento no Brasil
Dolmen é um jogo do gênero Souls-Like com elementos Sci-Fi e influencias de HP Lovecraft desenvolvido pelo estúdio brasileiro do Rio Grande do Norte Massive Work Studio. O game será lançado no dia 20 de maio de 2022 para PS5, Xbox Series, PS4, Xbox One e PC.
O título chamou a atenção na Brasil Game Show de 2017 pela sua ambição e depois de um ano conseguiu arrecadar 20 mil dólares na sua campanha de financiamento coletivo. Em 2021 eles assinaram um acordo com a Prime Matter para publicação do game. Esse impulso foi essencial para o futuro de seu desenvolvimento. Por ser um jogo brasileiro, ele é 100% localizado para PT-BR, com dublagem e legendas no nosso idioma.
*Chave cedida para análise
História
Nós estamos em um planeta chamado Revion Prime e nossa missão é coletar amostras de um cristal chamado Dolmen. O cristal é extremamente necessário durante um o processo de colonização de sistemas solares, pois com ele é possível realizar interações com outras realidades. Quem leu ou assistiu Duna facilmente se familiarizar com essa premissa. O problema é que a mineração dessa pedra abriu uma fissura na terra, que permitiu a invasão de criaturas. Basicamente o que precisamos fazer limpar o local para que seja possível continuar a mineração de Dolmen.
O game tem uma narrativa bem simples, o que é bom até certo ponto. Nesse gênero geralmente vemos histórias bem complexas e as vezes lores confusas. Esse é um ponto que geralmente afasta alguns jogadores da experiência. Já em Dolmen não temos esse problema. Entretanto mesmo com uma premissa bem interessante, ela não se mantem durante toda a campanha. Em alguns momentos é fácil esquecer qual o nosso objetivo atual, deixando a experiência um pouco desinteressante. Principalmente quando não estamos enfrentando inimigos ou quando já estamos fortes demais ao ponto deles não serem um grande problema .
A temática Sci-Fi que Dolmen possui merece elogios. Principalmente se você sente saudade de jogos como Mass Effect ou de filmes de Aliens. Como estamos falando de colonização de sistemas solares, toda a tecnológico é visualmente estranha e desconhecida. O que é bem representado aqui, sempre fica no ar um clima de estranheza ou um incomodo por não conhecemos o ambiente. Além disso essa temática não é muito vista no estilo Souls-Like, o que dá uma sensação de novidade para quem já é familiarizado com esse gênero.
Problemas de desempenho
Certamente o maior problema de Dolmen é o seu desempenho, até mesmo em consoles de nova geração. Quando estamos falando em Souls-Like, precisamos que tudo seja extremamente polido. Seja nas suas mecânicas ou em performance. E aqui onde os problemas são graves. O game possui dois modos de exibição, qualidade e desempenho. O modo qualidade tem um foco maior em gráficos porém com a promessa de taxa de frames cravadas em 30FPS . Já o modo desempenho promete uma resolução um pouco menor, porém rodando a 60 FPS.
Entretanto tudo isso é apenas na teoria, pois na prática as coisas são bem diferentes. É praticamente impossível jogar no modo qualidade. Isso porque temos constantes quedas de frames. Logo, em um gênero onde tudo precisa estar bem, errar a ação por um frame é o suficiente para sofrer um golpe fatal, eliminar um inimigo ou conseguir uma esquiva perfeita por exemplo. Assim, a melhor alternativa é jogar no modo desempenho. Contudo temos problemas aqui também. Pois as quedas também aparecem e são bem perceptíveis, porém mesmo com bastante dificuldades é possível prosseguir na maior parte do tempo.
O título tem a Prime Matter como publicadora e certamente esse fator fez com que o estúdio pudesse focar mais suas energias no desenvolvimento. No entanto faltou um pouco mais de polimento e melhoria no desempenho. Não se sabe o certo se existe alguma pressão para lançar logo o game. Porém certamente o estúdio precisaria de mais alguns meses para deixar tudo um pouco melhor. Fica o alerta para quem irá jogar nos consoles da geração passada, então o estúdio precisa correr para acertar esse ponto
Gráficos, direção de arte e cutscenes
Dolmen possui cutscenes bonitas e bem detalhadas. Através delas conseguimos entender um pouco mais sobre o mundo que estamos colonizando. Claramente vemos aqui o cuidado que o estúdio teve em cada detalhe nesse quesito. É um baita acerto da Massive Work Studio. Entretanto é na direção de arte que o jogo realmente brilha. Os cenários são bem variados e acertam em passar uma sensação de desconhecido, nos deixando curiosos para explorá-lo. É como se fosse um trabalho em conjunto para que tudo possa funcionar muito bem.
Ainda falando sobre os cenários, é interessante ver uma mescla entre elementos orgânicos e tecnológicos. Como por exemplo em algumas regiões onde temos estruturas que parecem ser naves destruídas ou tecnologias destruídas e esquecidos pelo tempo. Mas ao mesmo isso tudo é misturado com a vegetação, como penhascos, passagens ou estruturas outro tipo de coisa estranha que esse mundo possa ter.

Classes e criação de personagem
Antes de começar a campanha, a primeira coisa que precisamos fazer é criar nosso personagem. Escolhemos o nome e o gênero, porém essa mudança as escolhas são apenas estéticas, em questão de atributos nada muda. Após isso vem a parte mais importante que é a escolha do nosso arsenal, que é a classe do nosso personagem.
Em Dolmen temos 5 classes disponíveis e cada uma delas possui atributos e armamento diferentes. A primeira classe é a Encouraçada, aqui o personagem utiliza uma espada pesada de duas mãos e atributos distribuídos com foco em sobrevivência. Ou seja, maior resistência e receber menos dano dos inimigos. A próxima é a Híbrida, nela podemos utilizar uma espada e um escudo. Assim aqui temos um foco maior no uso de equipamentos. A terceira é a Recruta, ela é de longe a mais desafiadora para se começar a campanha. Aqui temos apenas um ponto em cada atributo disponível. Além disso não temos nenhum tipo de equipamento, o que é diferente de todas outras classes.
Existe também a Atirador de Elite, ela é especializada em habilidades de disparo e provavelmente será a escolha de quem gosta de combates a distância. A última delas é o Caçador de Recompensa. Ela tem como objetivo um personagem mais ofensivo. É de longe a mais estilosa e talvez será a queridinha dos jogadores. Afinal ela tem duas espadas de energia bem diferentes das outras armas. As duas espadas deixam nossos ataques bem mais rápidos. Portanto independente das características, todas as classes são interessantes e bem distintas. Então o gameplay vai variar bastante da nossa escolha.

Customização e Evolução
Em Dolmen, nós conseguimos evoluir nosso personagem a partir de pontos conquistados ao derrotar os inimigos, como se fossem as almas de qualquer Souls. Esses pontos ficam visíveis no campo superior direito da tela. E com eles podemos aumentar nossos atributos. Contudo, caso nosso personagem morra, voltamos sem nenhuma e precisamos voltar no mesmo lugar da última morte para pegar tudo de volta. O local exato da nossa última morte é marcada com um holograma do nosso próprio corpo. Caso morremos novamente antes de pegá-las, perdemos permanentemente tudo o que tínhamos coletado anteriormente e um novo holograma é gerado nesse novo lugar de morte.
Essas melhorias são feitas na nossa nave, ela serve como nossa base. Para acessá-la precisamos acionar pontos de teleporte espalhados no cenário. Sobre as melhorias, existem 6 categorias que podemos evoluir. Constituição, Resistência, Energia, Força, Perícia e Ciência. Cada uma tem uma importância e são mais importantes de acordo com que escolhemos ou a build que queremos. A utilização desses pontos melhoram nossa Defesa, Ataque corporal, Resistência a Elementais e Ataque com Disparos. Dolmen é bem complexo nesse aspecto. Então é bem importante analisar a necessidade e prestar bem atenção antes de subir nossos status pois os impactos podem ser irreversíveis.
Além de dar um up no nosso personagem podemos criar equipamentos e customizar nosso personagem. A customização é bem simples e é basicamente a mesma que podemos fazer no momento da criação do personagem, que é basicamente a cor de cada parte da armadura. Outro detalhe que podemos acrescentar detalhes, como se fossem aranhões. Tirando isso não temos nenhum outro tipo de customização, um detalhe a mais que seria interessante ter.

Tudo o que um Sous-like precisa ter
É correto dizer que Dolmen possui todos os elementos que o gênero precisa ter. Podemos executar ataques rápidos pesados. Além disso utilizamos uma arma de tiro a distância ou carregar um escudo, variando dependendo da classe que escolhemos. Além dos golpes, o parry também está presente aqui caso você consiga acertar a defesa no momento correto. Assim deixando o inimigo vulnerável a golpes diretos.
Contudo o acerto é um pouco mais difícil do que o comum. Pois há um pequeno atraso do momento que executamos a ação até realmente o personagem reagir ao nosso comando. Em jogos Souls-Like, mecânicas desse tipo precisam ser bem polidas. E mesmo que estejamos falando em um jogo Indie. Entretanto isso é algo que a principio seja fácil do estúdio corrigir. Portanto atualmente é um pouco complicado acertar o tempo correto da mecânica.
Dolmen sofre em alguns momentos com a falta de itens no cenário. Jogos Souls geralmente uma alta quantidade de itens, alguns com uma função confusa ou até inúteis para alguns jogadores. Entretanto aqui temos uma experiência completamente diferente. Existem poucas opções para nos auxiliar durante a gameplay, o que as vezes faz falta. Então não achar um meio termo foi uma boa oportunidade que o estúdio deixou passar. Somos acostumados com o excesso e aqui a variedade é bem pequena. Certamente temos espaço para mais nesse quesito, quem sabe numa possível futura DLC não tenhamos mais conteúdo.
A história do mundo contada por documentos e tablets espalhados nos cenários. Em alguns momentos, diálogos automáticos são ativados entre o personagem e nossa nave. Eles contam mais sobre o mundo ou sobre o que aconteceu com a região que estamos. Dolmen é fiel até na forma que conta a história e desenvolve sua lore.

Mecânica de tiro
Talvez a maior adição que Dolmen traz para o gênero é a mecânica de disparo de armas de fogo e toda a estratégia de gestão de itens para que possamos utilizá-la. Além das tradicionais, existem também as armas de disparos elementais. São 3 tipos no total, gelo, fogo e ácido. Como na maioria dos Souls-Like, existe no campo superior esquerdo a barra de vida e a barra de vigor. Contudo aqui temos uma terceira barra, a de energia, ou se você preferir, barra de de bateria. Ela controla a quantidade de tiros que nós temos. Então conforme vamos utilizando, ela cai, porém carrega automaticamente com o tempo, mesmo que de forma bem lenta
Além disso ela possui uma segunda função. Quando apertamos quadrado no PlayStation, ou o botão X no Xbox, ela recarrega o nosso HP. Contudo ao encher a vida, a barra diminui. É necessário ter cuidado e escolher bem a forma que utilizaremos essa barra de energia. Se vamos utilizá-la para atirar ou para recuperar nossa vida. Podemos também recuperar nossa energia com um item que serve como uma recarga. Ela fica visível no canto inferior esquerdo e podemos encontra-las ao derrotar inimigos ou espalhadas em certas áreas da região.

Boss, mini boss e trilha sonora
Durante a gameplay enfrentamos alguns mini chefões , eles são como um aquecimento para o que os verdadeiros boss que iremos enfrentar. Entretanto a maioria deles funcionam apenas quando falamos de mecânicas. Elas são bem criativas e variam bastante dos inimigos que vemos nas regiões que ele aparecem. Apesar disso, em estética eles não funcionam muito bem, a maioria deles é bem genérica.
O que é totalmente o contrário dos chefões principais do game. Eles são bem interessantes e imprevisíveis mecanicamente. Então pode ter certeza que vamos morrer bastante até entendermos seu movie set e suas variações. Além disso eles são bem criativos em termos de estética. Geralmente eles são bem parecidos com algum tipo de inimigo que enfrentamos durante o cenário. Mas sempre com diferenças, ou um algo a mais do que já vimos anteriormente. Outro ponto interessante é que os primeiros aparentam ser mais fáceis, agindo como uma espécie de introdução para o verdadeiro desafio que enfrentaremos posteriormente.
Outro destaque positivo em Dolmen é sua trilha sonora. Nos confrontos com os bosses tudo se eleva de maneira épico. As trilhas são bem marcantes, algumas delas não ficam nem um pouco atrás das trilhas de qualquer Dark Souls. Contudo durante a gameplay com inimigos normais ou na exploração a trilha é bem discreta e pontual. Faltou um pouco mais de emoção durante esses momentos “menores” , essa adição traria pontos a mais para a experiência que ainda assim é boa.
É Brasil!
Podemos dizer que o dia 20 de maio de 2022 é um marco para o desenvolvimento de jogos no Brasil. Dolmen é um daqueles jogos que jogamos com um sorriso no rosto. É um orgulho ver a evolução dos estúdios brasileiros e seus desenvolvimentos. É claro as vezes aquele inimigo insuportável tira o sorriso do nosso rosto as vezes, mas faz parte da experiência. Podemos dizer que temos aqui um Souls-Like divertido e merece ser notado pela comunidade.
Entretanto estamos falando de um gênero com uma comunidade bem exigente. Dolmen tem alguns erros notáveis, principalmente em desempenho. As constantes quedas de FPS atrapalham muito durante os combates. Então temos um sinal de alerta para quem vai jogar na geração anterior dos consoles. Porém é algo que os desenvolvedores podem corrigir com o tempo.
Em um ano de Elden Ring, é de se elogiar a coragem de um estúdio independente em lançar um game do mesmo gênero. Em algum momentos fica aquele sentimento estranho de que ele poderia ter sido melhor aqui ou ali. Mas não podemos esquecer que estamos falando de um jogo Indie, com orçamento limitado. Então devemos elogiar a Massive Work Studio que mesmo com todas as dificuldades que enfrentou durante todos esses anos, conseguiu entregar uma experiência tão divertida como a que temos aqui.