Jogar Horizon Forbidden West foi uma das melhores experiências do ano. A jogabilidade, a história, os personagens, tudo foi drasticamente melhorado para essa sequência. É incrível ver como a Guerrilla Games evoluiu em um espaço tão curto de tempo para dar à Aloy a sequência que ela merecia.
Contudo, a coisa que mais me chamou a atenção no jogo é o carinho da desenvolvedora para com as missões secundárias e suas personagens. E é aí que o jogou brilhou ainda mais para mim: observar personagens LGBTQIAP+ vivendo o dia a dia em um mundo prestes a acabar. Normalmente. Sem que a sexualidade deles afetasse de alguma forma suas vidas.
Pode parecer bobo de fora, para quem não está na comunidade, mas isso é gigante – ainda mais no mundo dos games. Por isso, separe um tempinho da sua vida para ler mais sobre a representatividade LGBTQIAP+ em Horizon Forbidden West.
E eu já aviso: terá spoilers daqui pra frente!
Missões profundas e personagens interessantes

A presença de personagens LGBTQIAP+ não é novidade no mundo de Horizon. Desde o primeiro jogo, é possível encontrar dados que contam histórias de pessoas da comunidade.
Existe um NPC lido como uma pessoa trans. Há uma personagem que termina com sua namorada, pois ela simplesmente fez um trocadilho péssimo. É absurdo e hilário ao mesmo tempo. Mas parece tão comum, tão natural, que cai como uma luva naquele momento.
Com Forbidden West, a Guerrilla expandiu ainda mais seus personagens LGBTQIAP+. Há uma guerreira trans chamada Wekatta, no território Tenakth, que corrige Aloy quando ela usa a palavra “louca”. No entanto, a dublagem brasileira peca ao colocar um homem para dublar Wekatta.
Kristia, uma personagem da cultura Quen, deseja mais do que tudo voltar para a sua terra e reencontrar sua amada. Dados incluem mais e mais personagens LGBTQIAP+, inclusive um personagem não-binário.
É importante ressaltar que Kristia e Wekatta possuem missões secundárias profundas e bem desenvolvidas. Nelas, elas ganham voz. Ao contrário dos dados, em que apenas observamos a história se desenrolar, aqui temos a oportunidade de interagir com essas personagens. Entendemos suas dores e conflitos. Aprendemos a respeitar sua história.
É óbvio que, sendo missões secundárias, as pessoas preconceituosas podem simplesmente ignorá-las. Podem permanecer em seu mundo fechado e seguir com suas vidas.
O problema (para eles) é quando as personagens LGBTQIAP+ aparecem justamente na missão principal e contribuem ativamente para o desenrolar da história.
O maior trunfo do jogo

Se você leu até aqui, imagino que já tenha terminado o jogo. Sabemos que a Far Zenith, empresa rival de Ted Faro, conseguiu levar para o espaço a galera mais rica da Terra. Nessa nave, a Odisseia, eles se tornaram imortais. Entre essas pessoas, está Tilda van der Meer.
Ao contrário dos Far Zenith, Tilda está disposta a ajudar Aloy na sua missão. O motivo? Ela era completamente apaixonada por Elisabet Sobek. E não só isso, as duas tiveram um relacionamento de alguns meses.
A partir daí, o jogo se transforma em uma bola de neve bastante gay. Tudo se eleva a tal ponto que a luta principal acontece porque Tilda quer levar Aloy para o espaço, transformá-la em imortal e destruir o que restou da humanidade. Carrie Anne-Moss, a eterna Trinity de Matrix, é tão perfeita no papel de Tilda que eu quase não acreditei no que acontecia. Ela me convenceu de tal forma que a ideia de lutar com Tilda parecia impossível.
É a ideia de que personagens LGBTQIAP+ existem e que eles vêm de diferentes formas. Seja como uma guerreira trans ou a maior vilã do game. Nós existimos e sempre iremos existir.
O que é mais especial sobre esses relacionamentos é que Aloy parece totalmente alheia a isso tudo. Não é o fato de Tilda ser obsessivamente apaixonada por Elisabet que a assusta, mas sim o fato de que ela quer acabar com a humanidade.
Outra surpresa interessante é que Alva, amiga Quen de Aloy, também é lésbica. Em um diálogo que é possível perder, ela confessa que está doida para voltar para casa e reencontrar seu amor. E Aloy, boa amiga que ela é, fica feliz por Alva.
Aloy merece uma namorada?
Sendo curta e grossa, sim. Contudo, manter Aloy assexual também seria uma boa oportunidade para compreender que nem sempre mulheres precisam de um interesse romântico.
Durante Horizon Forbidden West, é possível perceber diversos flertes que Aloy recebe, tanto de homens como de mulheres. A última missão é praticamente um guia do que você não deve fazer para conquistar alguém, inclusive.
Aloy é uma menina que passou grande parte da sua vida sozinha, acompanhada apenas de Rost. O primeiro jogo era sobre se entender como ser humano. Já o segundo jogo é sobre compreender a humanidade ao seu redor e, mais importante, fazer amigos.
O terceiro jogo da saga (convenhamos, terá um terceiro jogo) será sobre salvar a Terra do Nêmesis. Acredito que, bem, se estamos no fim do mundo, é melhor aproveitar, não é mesmo? Ou, talvez, Aloy devesse seguir os passos de sua “mãe”, Elisabet, e deixar o romance de lado para ajudar o planeta.
De qualquer forma, cabe a Guerrilla Games continuar o excelente trabalho em trazer mais vozes LGBTQIAP+ para seus jogos. Incluindo Aloy ou não.