Introdução
The Hand of Merlin é um RPG roguelite que mistura combates por turnos com uma narrativa de horror cósmico. Embora o termo horror possa intrigar e passar a sensação que teremos algo aterrorizante no game, não é este o caso. Pois, a obra apresenta apenas poucos elementos inspirados nesta mitologia, para avançar alguns aspectos da narrativa e introduzir inimigos.
A grande premissa do título, é que o jogador precisa avançar por vários mundos do multiverso em busca de pedaços de almas perdidas. Pois, segundo o grande mago Merlin, é dessa forma que o mundo será salvo de forças malignas. Inicialmente, a história do game apresenta uma excelente premissa. Além disso, o título promete entregar uma experiência roguelite inédita, em que cada morte levará para um novo universo. Entretanto, será que uma boa ideia de storytelling e um gameplay consistente são os suficientes no jogo? Confira agora em mais uma análise do Garota no Controle.
The Hand of Merlin foi desenvolvido pela Room-C Games e Croteam. O game foi lançado no dia 14 de junho para Nintendo Switch, Xbox One, Xbox Series X|S, PlayStation 4, PlayStation 5 e PC, via Steam, GOG e Epic Games Store.
Uma história Arthuriana se choca com horror cósmico
The Hand of Merlin começa com uma narração de Merlin, contando um pouco sobre a já conhecida lenda do Rei Arthur e a sua busca por um misterioso poder. Entretanto, nesta versão da conhecida história, as coisas acabam dando errado, e o poderoso mago é aprisionado. Com isto, uma grande força maligna acaba tomando conta do mundo e se espalhando por todo o multiverso. Eventualmente, o herói consegue escapar de sua prisão e vê que precisa fazer algo para repelir o mal que se espalhou por todos os cantos.
Assim sendo, ele recruta 3 guerreiros para viajarem pelo multiverso em busca dos fragmentos de almas perdidas. Com isto, Merlin poderá restaurar o seu poder e então banir o mal de uma vez por todas. No decorrer da jornada, vamos nos deparar com diversos inimigos que tentarão nos impedir, mas também encontraremos alguns aliados. Portanto, devemos seguir de local em local, fazendo escolhas e decidindo em qual batalhas lutaremos.
Uma história contada através de um livro
Após a introdução cinemática, a história de The Hand of Merlin é contada através de um livro. Assim como em Black Book, toda a história é narrada e mostrada por Merlin através de um texto, onde faremos escolhas e conheceremos um pouco de cada mundo. Embora eu goste de formas criativas de se contar uma história, fica claro que em The Hand of Merlin este elemento acaba servindo apenas para simplificar a história.

Embora tenhamos um contexto geral e alguns NPCs que podemos conversar e fazer escolhas durante a jornada, no fim, tudo é alterado quando os personagens morrem. Pois, a cada morte da equipe no game, vamos para outro universo totalmente diferente. Está é uma ideia boa, mas isso acaba tornando as histórias apresentadas por Merlin simples demais e sem nenhum impacto. Por exemplo, existe uma situação em que ajudamos uma pessoa importante em uma grande cidade. Logo, é esperado que esta escolha possa ter alguma consequência no mundo ao nosso redor. Entretanto, isto não acontece, o que transmite a sensação de que nossas escolhas não servem para nada.
Esta falta de profundidade também está presente nos personagens jogáveis. No game, podemos controlar um grupo de até 3 heróis, cada um com uma classe diferente. As classes iniciais são mago, guerreiro e arqueiro. O game apresenta apenas uma descrição sobre a vida deles e não temos muitas informações sobre as suas histórias. Isto acaba fazendo com que eles não sejam tão relevantes na história, apenas personagens que ao morrerem serão substituídos por outros.
Um Roguelite que funciona
Em The Hand of Merlin, temos um grande mapa aonde vamos selecionando o local que queremos ir. Após escolher, aparecerá uma pequena história no livro nos oferecendo alguma escolha. Normalmente, elas envolvem escolhermos lutar contra inimigos, ajudar pessoas ou até mesmo tomar partido em alguma decisão politica. Cada escolha podem ou não levar a combates.

Quando um combate se inicia, temos o já conhecido sistema por turnos. No entanto, é extremamente importante criar estratégias, pois, os heróis morrem muito rápido. Se um dos personagens morrer, a equipe pode continuar sem ele. Entretanto, o game se torna muito desafiador desta maneira, sendo que será quase impossível progredir. Quando todos os guerreiros morrem, o título reinicia em uma nova jornada em que estamos em outro mundo do multiverso.
Portanto, este sistema acaba sendo um destaque no game, tornando cada run diferente da outra e oferecendo uma boa variação durante o gameplay. Além disso, ao decorrer da jornada, podemos fazer melhorias nos personagens, fornecendo novas habilidades como novos ataques e mais resistência, para que eles sobrevivam por mais tempo.
Um combate inconsistente
O combate é um aspecto que não funciona bem em The Hand of Merlin. Embora ele tenha uma boa variação de cenários, inimigos e formas de se combater os vilões, os comandos não funcionam tão bem como deveriam. Pois, em vários momentos, tive problemas em que mandava um personagem fazer uma ação, mas ele simplesmente não fazia nada e o combate seguia em frente. Isto foi bem frustrante durante a minha jornada e comprometeu a minha experiência em algumas runs.

Mesmo assim, quando as coisas funcionam como deveriam, os combates se tornam divertidos e interessantes. Quando ele se inicia, devemos posicionar nossos heróis e ir avançando aos poucos fazendo ataques usando as habilidades. Minha principal estratégia, sempre era realizar ataques à distância usando o arqueiro e o mago e apenas aproximar o guerreiro dos inimigos para realizar um ataque final quando eles estivessem com pouca vida. No geral, eu tive sucesso com este esquema, conseguindo finalizar duas runs no game.
Trilha sonora
A trilha sonora em The Hand of Merlin não apresenta muito destaque. As faixas são simples demais e acabam não combinando muito bem com os combates ou as histórias que estão sendo contadas. Embora elas possuam aquele aspecto medieval épico que já é esperado do título, fica evidente que o game poderia ter apresentado mais variação de músicas e uma melhor escolha de faixas.
Gráficos
Os visuais de The Hand of Merlin são interessantes, porém não apresentam nada de novo. A história é contada através de um livro, sendo que durante estes segmentos é feito o uso de desenhos para mostrar alguns locais. As artes são bem feitas, e conseguem manter o jogador imerso na narrativa, mesmo ela não sendo tão profunda quanto poderia.
Já quando vamos para os cenários de combates, temos uma visão isométrica sobre os personagens. Nestes trechos, fica evidente a limitação visual do título, mas que ainda funciona na proposta, o que acaba não sendo um problema. Os ambientes não são muito detalhados e o design dos personagens principais poderia ser mais variado. Entretanto, os efeitos durante os combates, principalmente os de magia, são bem feitos e conseguem se destacar.
O game também apresenta uma boa variação de cenários para as lutas. Pois, a ideia de multiverso faz com que os protagonistas viagem para vários reinos diferentes com cidades, florestas e outras localidades únicas.
Desempenho
Em relação ao desempenho, minha experiência foi no PC, com uma GTX 1650. O game rodou de forma excelente e não apresentou problemas de performance e nem bugs visuais. A única situação foi os comandos pouco responsivos que citei anteriormente.
Conclusão
The Hand of Merlin apresenta uma excelente proposta, entretanto, não atinge todo o seu potencial. A história não se aprofunda demais, tirando o impacto das escolhas que fazemos durante a campanha. O sentimento que eu tive, é que o próprio jogo se limita usando seus próprios sistemas. Pois, enquanto ele quer contar uma história interessante, ele acaba se limitando pelo sistema de roguelite, que descarta quase toda a narrativa após a morte dos personagens.
O combate é interessante, mesmo sendo prejudicado por problemas na jogabilidade. Entretanto, caso este sistema seja atualizado no futuro, posso dizer que este aspecto será um dos grandes acertos do game.
Por fim, The Hand of Merlin é um jogo que recomendo para os fãs de roguelite, desde que estejam cientes dos problemas que podem encontrar e que não esperem nada de novo ou inovador no gênero.
*Chave cedida para análise no PC