Introdução
Em 21 de abril deste ano, a empresa Quantic Dream soltou um pronunciamento (aqui, em inglês) sobre sua posição em relação à representatividade LGBTQIA+ em seus trabalhos. Então, um site brasileiro traduziu e postou a notícia. Infelizmente, os comentários tinham um teor um tanto “pesado” (para não usar outros tipos de palavras). Dentre eles, havia alguns que provavelmente confundiram a postura da empresa com algo relacionado a imposição de alguma coisa.
Contudo, a empresa apenas não quer problemas com determinado grupo específico. Isso representa algo muito positivo, e já é adotado em outras mídias. Se chegou até aqui e ficou confuso, não tem problema. Vamos explicar em como a Quantic Dream acertou e como isso deveria ser não apenas para grupos LGBTQIA+, mas também para outros grupos como de nacionalidade, profissional, por exemplo.
Quantic Dream
Caso o nome não lhe soe familiar, vamos dizer que empresa é a Quantic Dream. Confesso reconhecia o nome, mas eu não sabia dizer quais jogos ela faz. Pois bem, ela é responsável por títulos de peso no estilo cinematic, um estilo em que o jogador apenas decide o caminho da história. Meu único contato com um jogo da empresa foi Heavy Rain. Eu me lembro que o jogo tinha uma frase que dizia que não “havia decisões erradas” no jogo. Confesso que, por melhor que tenha sido os títulos dela, não fazem meu estilo.
Mas, não estou aqui para falar de meu gosto pessoal, mas de como uma atitude dessa empresa foi mal interpretada. Também, devo deixar claro em que o Garota no Controle não recebe patrocínio dessa empresa. Este post visa explicar uma ação tomada pela empresa, interpretada de forma negativa por algumas pessoas.
O pronunciamento da empresa
O pronunciamento da Quantic Dream se resume às medidas que tomarão internamente de acordo com orientações de organizações governamentais e não governamentais da França, referentes ao público LGBTQIA+. Dessa forma, a empresa pretende tomar medidas para respeito de diversidade e evitar situações que levem a desinformações desse público.
O site PSXBrasil traduziu o pronunciamento e você pode ver na íntegra aqui. Mas descaremos uns pontos bem pertinentes:
“Estamos fazendo parceria com uma organização LGBTQIA+ para aconselhar sobre a representação autêntica de personagens, histórias e temas LGBTQIA+ em nossos jogos. As sessões de treinamento e brainstorms já começaram.“
Neste aqui, mostra a vontade da Quantic Dream de evitar estereótipos que não coincidem com a realidade em seus próximos títulos. Assim, evitando propagação de mitos sobre a comunidade LGBTQIA+.
“A Quantic Dream está engajada com a Carta da Diversidade promovida pelas organizações francesas SNJV e SELL, as agências governamentais DGE e CNC.“
Já neste, a empresa mostra que essa atitude de respeito à diversidade não é apenas um plano de inclusão. Mas também, algo de acordo com as leis da França. Pois, tanto DGE (DIRECTORATE GENERAL FOR ENTERPRISE) e CNC (CENTRE NATIONAL DU CINÉMA ET DE L’IMAGE ANIMÉE) são órgãos reguladores de mídia e entretenimento daquele país. Mostrando assim que é mais do que o apoio de uma pauta. Mas também, estar de acordo com as leis vigentes.
“Nossa comunidade LGBTQIA+ nomeou representantes para garantir que vozes diversas e representação autêntica sejam infundidas em tudo o que fazemos e que uma diversidade de pontos de vista seja representada em todos os níveis do estúdio.”
Este outro, mostra sobre pessoas responsáveis por avaliar e garantir que a representação seja feita de forma não nociva. Porém, o que pode deixar passar é que eles vão servir como consultores. Afinal, nada melhor que alguém do meio LGBTQIA+ para ter mais propriedade para dizer se algo está ou não bem representado.
Por que isso é importante?
Agora vem o esclarecimento da maior dúvida. Apesar de o pronunciamento falar exclusivamente de LGBTQIA+, isso pode ter aplicação em outros campos. Melhor, isso já tem aplicação em outros campos. Lembrando que a Quantic Dream trabalha com material cinematográfico, isso faz muito sentido.
Por exemplo, uma série famosa, Dr. House, usava consultores médicos para trazer maior veracidade aos casos dos episódios. Mesmo sendo uma série ficcional, ela não pretendia criar mitos e espalhar coisas sem sentido sobre doenças ou situações médicas. Por isso, contratava médicos para debaterem os casos de cada capítulo. Inclusive, pode ver uma entrevista com uma médica consultora aqui.
Para os amantes de leitura, Stephen King sempre pesquisou sobre alguns assuntos que pretendia colocar em seus livros. Desde assuntos médicos, passando por situações advocatícias, até procedimentos militares. Afinal, ele não fazia parte de nenhuma das classes. Porém, sempre procurava especialistas em cada área para colocar em seus livros, dos quais, muitos viraram filmes depois.
Sem contar inúmeros atores que fazem pesquisa de campo para entender melhor personagens que pretendem interpretar. Muitos passam por situações bem complicadas, tudo para dar mais realismo em suas atuações.
Como isso se aplica à Quantic Dream?
O que essa empresa faz é apenas o que exemplos citados acima já faziam antes. Procuram dar mais fidelidade ao seu material com o intuito de trazer uma obra de qualidade. Como dito anteriormente, ninguém melhor que uma pessoa de um grupo LGBTQIA+ para indicar como uma pessoa desse grupo agiria ou não, quais lugares frequentaria e assim por diante. E se ela fez para esse grupo, pode fazer para outros. Resumindo, a única coisa que a empresa de games faz é procurar a referência certa.
E se ela não fizesse isso?
Vou evitar falar das questões legais envolventes, porque não sei como funciona essa lei de diversidade na França. Porém, sejamos práticos. O leitor já deve ter visto algum filme que representa de forma bem errada ou estereotipada um país, imputando uma imagem negativa. Isso muitas vezes ocorre por desconhecimento e falta de alguém para falar “que esse lugar não é bem assim”.
Há muito tempo atrás, o Brasil foi vítima de algo assim. O filme Turistas jogou uma imagem totalmente polêmica e errada sobre o país da América do Sul. Afinal, retratou um Brasil totalmente diferente do que nós brasileiros estamos acostumados. Então, houve uma fúria nas redes e o filme não teve uma bilheteria tão boa.
Para ver o nível do esteriótipo, veja a sinopse:
“Um grupo de estrangeiros sofre um acidente de ônibus e se perde em uma remota floresta brasileira. O local é visto como o paraíso, onde os jovens jogam futebol, dançam com mulatas e bebem caipirinha. Após uma festa, acordam atordoados em uma praia e percebem que foram roubados. A partir daí, eles se encontram perdidos em uma casa estranha, onde seus piores pesadelos acontecem”.
Quanto mais informação, melhor
Conforme o tema deste artigo, a empresa apenas quer fazer o que é certo e não gerar problemas (além de cumprir leis do seu próprio país). Fazendo assim por buscar na fonte certa. Claro, que isso pode se aplicar a outras áreas, como também mostrado aqui. Assim, vale a conscientização que não chega a ser uma defesa ou imposição de pauta. Mas, apenas garantir respeito aos grupos mencionados. Sejam eles quais forem.