O terror visto através de uma câmera
Câmeras e terror são uma combinação que se torna cada vez mais comum no mundo dos games. Recentemente, fiz a review de Madison, jogo que também apresenta esta dupla, e que é um exemplo do quão interessante é uma obra que sabe usar adequadamente estes dois recursos. Fatal Frame foi o título que popularizou estes dois elementos. A obra original criada por Makoto Shibata criou uma atmosfera assombrosa ao misturar de forma genial fantasmas, fotos amaldiçoadas e um grande mistério.
Dreadout 2 segue estes elementos à risca, com novas adições. Diferente do primeiro jogo, essa nova aventura vem com a proposta de introduzir combate ao survival horror e não apenas a câmera como defesa. Inicialmente, fiquei receoso em relação a esta nova adição. Pois, em um título com a principal proposta de avançar usando nosso celular e lutar usando as fotos, adicionar algo que tire o foco disso pode ser prejudicial à experiência. Infelizmente, eu estava certo, e é justamente isto que acontece. Para entender mais, me acompanhe em mais uma análise do Garota no Controle.
Dreadout 2 foi desenvolvido pela Digital Happiness e lançado no dia 22 de junho para Xbox One, Xbox Series X|S, PlayStation 4 e PlayStation 5. O título também está disponível no PC, via Steam.
Uma garota, vários fantasmas e uma arma improvável
Dreadout 2 começa apresentando um flashback dos eventos do primeiro game. Para evitar spoilers, não falarei muito sobre isso, mas em resumo, um grupo de jovens se depara com um terror sobrenatural. A partir daí, precisam sobreviver e descobrir a entidade por trás do terror.
A continuação desta história tem uma premissa semelhante, mas em uma escala maior. No game, controlamos uma jovem que vê sua cidade ser consumida por uma força maligna. Porém, usando o seu celular, ela consegue encontrar os monstros e os repelir.

O game faz um excelente trabalho nos primeiros cenários do jogo. Estamos em um prédio fechado, escutando barulhos estranhos e somos rapidamente cercados por uma névoa que lembra aquele título que vocês já sabem qual é. Após isto, várias criaturas começam a aparecer e devemos enfrentá-las. Logo, é neste momento que o game começa a tropeçar e só vai ladeira abaixo até o final.
Sobretudo pela história ser tão simples, que com essa minha descrição eu já revelei mais da metade dela. A jornada se resume a, basicamente, andarmos de local em local, lutarmos contra monstros e repetir isso do começo ao fim. Embora o jogo tente apresentar um plot twist na reta final, foi algo tão anti-climático que, se existia alguma parte de mim que estava gostando minimamente da narrativa, ela simplesmente não existe mais.
Uma jogabilidade problemática
Dreadout 2 pega alguns dos conceitos básicos do título anterior e tenta expandi-los. Logo, no game podemos andar, correr, explorar um mundo semi-aberto, interagir com alguns NPCs, que mais parecem parte da paisagem de tão sem graças, e claro, podemos lutar contra os monstros. Para isto, temos o nosso celular, que ao acessarmos a visão fica em primeira pessoa e podemos usá-lo para atacar fantasmas e monstros. Entretanto, alguns deles não podem ser derrotados apenas com o uso da câmera. Por isso temos acesso a um machado, que nos permite lutar contra estas criaturas.

Porém, o combate não funciona bem, com controles extremamente imprecisos. A impressão que tive, é que a ideia dessa função foi adicionada de última hora por isso não funciona adequadamente. Além disso, quando enfrentarmos inimigos mais poderosos, teremos que alternar entre o celular, para atordoar os vilões e depois atacar usando o machado. Bom, se uma coisa já não funciona direito, imagine duas. O combate alternado em Dreadout 2 é algo simplesmente frustrante. Além dos comandos que não funcionam direito, o game apresenta ocasionalmente travadas durante as mudanças de perspectiva, tornando os confrontos ainda mais complicados.
Monstros interessantes e um mundo semi-aberto variado
Dreadout 2 consegue se destacar em dois aspectos. O primeiro é a variedade de cenários que o título apresenta. Temos escolas, ruas com uma misteriosa nevoa e todos estes elementos são apresentados de uma forma detalhada e convincente. Tanto que apenas andar pelos cenários do jogo é algo interessante, além de poder observar as referências à cultura japonesa.

Acima de tudo, o título apresenta monstros verdadeiramente assustadores. Embora os mais comuns sejam os fantasmas, encontraremos criaturas ainda mais demoníacas e com um visual extremamente amedrontador. Porém, mesmo com estes segmentos, os problemas já citados de Dreadout 2 acabam eliminando quase que por completo qualquer sentimento de medo.
Trilha sonora
Dreadout 2 apresenta um maior foco nos sons ambientes. Os monstros, a névoa, os passos e até mesmo o som dos nossos ataques. Estes são elementos que o game tenta usar para criar uma maior imersão aos jogadores. Isto é, tenta, porque na maior parte do tempo eu senti que o título não estava fazendo um bom trabalho neste aspecto. Pois, as trilhas no jogo são repetitivas demais e sempre passam um sentimento de que a atmosfera não muda ao decorrer da campanha. Logo, o mesmo sentimento que o jogador tem explorando uma rua qualquer é o mesmo ao entrarmos em locais fechados, já que o game não apresenta uma diferença sonora que transmita algo autêntico aos cenários que visitamos.
Gráficos e desempenho
Os gráficos de Dreadout 2 cumprem a proposta. Neste aspecto, ele acerta bastante nos cenários e principalmente no visual dos monstros. Entretanto, acaba deixando a desejar ao apresentar personagens humanos com pouca expressão e que não transmitem sentimentos. O mesmo pode ser dito da protagonista, que consegue ser tão caricata quanto um NPC aleatório no mapa.
Minha experiência foi no Xbox Series S. O game apresentou quedas de frames bem frustrantes nos segmentos de combate, principalmente os que envolviam usarmos o celular e o machado em simultâneo. Durante a exploração, não tive problemas e o mesmo pode ser dito em relação a bugs.
Conclusão
Em suma, Dreadout 2 é um game que apresenta uma proposta batida e que não consegue apresentar nada de novo. Assim sendo, o título tenta ser ambicioso demais e entregar várias coisas em simultâneo, e no fim, falha em quase todas elas. Afinal, a história é inexistente, a gameplay é problemática e nenhum dos personagens apresenta algo de interessante. Portanto, ainda que os cenários sejam variados e as criaturas possuam um visual macabro, isto não é o suficiente para sustentar a experiência.
*Chave cedida para análise no Xbox Series S.