Introdução
Fobia – St. Dinfna Hotel é um survival horror desenvolvido no Brasil. Embora o mercado de jogos brasileiro tenha crescido nos últimos anos, nunca tivemos um game que se destacasse no gênero survival horror. O game tem a promessa de apresentar uma campanha de horror e sobrevivência, onde passado, presente e futuro colidem. Além disso, a narrativa apresenta um grande foco em criaturas invocadas por um misterioso culto e cabe ao protagonista desvendar este mistério. Portanto, a premissa de Fobia é interessante logo de cara.
Cada vez que Fobia – St. Dinfna Hotel aparecia, tínhamos novidades empolgantes, o que criava uma boa expectativa. Particularmente, joguei as duas demos disponibilizadas na Steam e elas me surpreenderam. Pois, ter sucesso no survival horror é complicado, e admito que sou bem rígido quando o assunto é terror. Pois, este é o meu gênero favorito e já tive a oportunidade de apreciar várias obras. Algumas excelentes e outras nem tanto. Felizmente, já posso adiantar que o novo game brasileiro consegue se destacar e se tornar o primeiro grande survival horror com qualidade do Brasil. Portanto, venha comigo em mais uma análise do Garota no Controle.
Fobia – St. Dinfna Hotel foi desenvolvido pela Pulsatrix Studios e lançado no dia 28 de junho para Xbox One, Xbox Series X|S, PlayStation 4, PlayStation 5 e PC, via Steam.
Um começo promissor
Fobia – St. Dinfna Hotel começa com um personagem misterioso acordando em uma cela. Não temos informações sobre o seu nome e nem porque ele está ali. Assim sendo, devemos escapar da cela e explorar o local em busca de documentos com informações e itens para avançarmos. Portanto, fica evidente que o título terá um grande foco na exploração de cenários e resolução de puzzles. Após coletarmos alguns documentos e explorarmos com atenção, conseguimos abrir uma porta. Entretanto, uma grande criatura começa a nos perseguir e o personagem é morto.
Muitos anos se passam depois deste evento, e vemos um carro indo em direção ao Hotel Santa Dinfna. Ao chegarmos lá, assumimos o papel do protagonista, o jornalista Roberto Leite Lopes. Ele recebeu uma dica de uma mulher chamada Stephanie, que relatou acontecimentos estranhos naquele local. Portanto, ele aluga um quarto e começa a sua investigação. Após alguns dias, Roberto começa a ter estranhas visões e apaga de forma misteriosa por um bom tempo.

Quando o protagonista acorda novamente, encontra o seu quarto totalmente bagunçado. Portanto, cabe ao jogador interagir com os objetos, resolver puzzles e descobrir o que realmente está acontecendo neste hotel. Durante esta jornada, Roberto terá que lidar com estranhas criaturas e a influência de um misterioso culto que está puxando as cordas dos acontecimentos neste local.
Uma história interessante, mas sem inovações
Como já é característico do gênero survival horror, a maior parte da história de Fobia é contada por meio de documentos de texto. Assim, encontramos diversos textos escondidos ao explorar os quartos, salões e diversos outros locais no hotel. Eles contam um pouco sobre as pessoas que passaram pelo hotel e as experiências que elas tiveram. Isto inclui situações sobrenaturais, bizarras ou apenas um relato comum sobre a hospedagem.
Em minhas análises, costumo dizer que em uma história com várias peças espalhadas, é preciso que o game forneça informações importantes para que o jogador possa juntá-las e deduzir os acontecimentos. Felizmente, o jogo consegue fazer isto, sendo que os documentos expandem de forma satisfatória os acontecimentos da campanha e auxiliam para que o player tenha um total entendimento da narrativa.
Logo, posso dizer que dificilmente os jogadores terão dificuldade em entender a história. Entretanto, buscar os arquivos espalhados pelo cenário, traz um entendimento mais completo. Porém, mesmo sendo interessante, a história de Fobi não apresenta nada novo em relação a obras clássicas do horror, como Silent Hill, Resident Evil e até mesmo Fatal Frame. Portanto, fica evidente o caminho que a narrativa seguirá em relação aos mistérios envolvendo o culto e até mesmo no aspecto do desenvolvimento do protagonista. Infelizmente, Roberto acaba sendo outro ponto negativo no game, pois, ele apresenta uma personalidade caricata demais e que não transmite sentimentos. Lembrou-me inclusive, Ethan, de Resident Evil 7.
Um sentimento genuíno de survival horror
O ponto que Fobia mais acerta é em transmitir o sentimento de horror ao longo da campanha. Nos deparamos com criaturas assustadoras, somos perseguidos por um monstro imbatível e, ocasionalmente, o protagonista tem visões envolvendo uma garota usando uma mascará de gás. Além disso, o level design do hotel é muito bem feito, com o elemento de leva e traz de itens sempre presente. Logo, o progresso do jogo funciona na base da exploração, em encontrarmos itens ou chaves e então voltarmos a um local anterior que possuía um ambiente fechado por um cadeado ou tranca.

Além disso, para encontrarmos estas chaves, será preciso resolvermos vários puzzles verdadeiramente desafiadores. O game usa bastante enigmas do tipo que precisamos usar uma combinação correta de números para abrir uma tranca. Logo, de tempos em tempos, precisamos explorar em busca destas combinações. O jogo não pega na mão do player, sendo que encontrar estes itens depende apenas da exploração e atenção, pois, o título não dá dicas, escolha que achei excelente.
Outro recurso essencial durante a campanha é o gerenciamento de itens. Temos um pequeno inventário, que pode ser expandido ao decorrer da campanha. Logo, é preciso gerenciarmos ele com cuidado, sempre deixando apenas os itens essenciais. Minha recomendação, é sempre deixar munição e itens de cura no inventário, pois a qualquer momento eles podem ser úteis. Além disso, o game apresenta o clássico item box, local onde podemos guardar recursos.
Passado, presente e futuro colidem
Um dos grandes diferenciais de Fobia é sua “câmera temporal”. Ao usá-la, podemos ver diferentes linhas do tempo no cenário, o que nos permite ver mensagens escondidas e até mesmo abrir algumas passagens obstruídas.

Este elemento me lembrou Fatal Frame e foi muito bem usado aqui. Pois, este é um elemento que precisamos usar com atenção ao decorrer da narrativa, principalmente para encontrar mensagens ocultas que nos ajudam a entender melhor a história
O combate é limitado e isto é excelente
Um dos aspectos que mais se destaca em Fobia é a forma que o combate é apresentado. Diferente de jogos mais recentes do gênero, que fornecem quase que um arsenal de exército para o jogador, aqui, a coisa não funciona assim. Embora tenhamos uma progressão em relação às armas, nunca é algo que será abundante, me lembrando até The Evil Within. Assim sendo, ao decorrer da campanha encontramos pistolas, metralhadoras e até mesmo uma shotgun. E embora estar armado nos forneça uma certa confiança, é preciso cuidado para não usar demais a munição e ficar sem opções de reação.

Falando nisso, Fobia consegue oferecer uma boa liberdade na forma que o protagonista aborda as situações envolvendo criaturas. Nem sempre precisamos lutar, é possível apenas ignorá-las e seguir. Isto, infelizmente, por conta da inteligência artificial deixar a desejar. Logo, é fácil demais apenas esperar em um canto e então avançar, sendo que em determinados momentos passei correndo atrás do monstro e ele não me avistou. Entretanto, se o combate for necessário, o ideal é sempre tirar no coração, o ponto mais fraco das criaturas comuns. Vale lembrar que o título também apresenta um sistema de melhorias. Ao decorrer do jogo, encontramos alguns cubos que podem ser usados para dar upgrade nas armas e até mesmo na câmera temporal.
O título também apresenta algumas batalhas contra chefes. E estes momentos são excelentes. O jogo apresenta visuais verdadeiramente assustadores e ameaçadores para os monstros. Logo, sempre que eu encontrava estes chefes, sentia um frio na espinha.
Trilha sonora
Fobia – St. Dinfna Hotel apresenta uma excelente trilha sonora. O game usa diversas músicas clássicas, aumentando a imersão e fornece um tom de antiguidade aos cenários. Portanto, ao explorarmos os vários cantos do hotel, sentimos como se vários períodos colidissem. Sentimento este que se torna ainda mais forte graças aos itens espalhados pelos ambientes e remetem a outras épocas. O jogo também faz um excelente uso dos barulhos ambientes, sejam eles a chuva, passos e madeira rangindo. Isto torna a experiência ainda mais aterrorizante, sendo que em alguns segmentos o sentimento de apreensão ao avançar é extremamente presente.
Gráficos
A ambientação de Fobia é lindíssima. Por estarmos falando aqui de um estúdio indie, o trabalho dos desenvolvedores no game é invejável, superando até mesmo alguns games grandes do gênero. A ambientação no hotel, os itens cuidadosamente encaixados no cenário, sejam eles quadros, objetos antigos ou até mesmo vestígios de criaturas, tudo isto ajuda o game na construção de uma atmosfera aterrorizante, mas ao mesmo tempo, bela. Além disso, o título apresenta uma boa variação de cenários, sendo que para a minha surpresa, não se limita apenas aos cômodos do hotel. Pois, em determinados segmentos da campanha, visitaremos outros locais e eles mantêm a excelente qualidade visual.

Entretanto, nem tudo é perfeito. O game acaba deixando a desejar na variação do design de monstros comuns. Pois, a maioria deles apresenta a mesma identidade visual. Este é um aspecto que poderia ser melhor, porém, não prejudica a imersão na narrativa.
Desempenho
Minha experiência foi no PC, com uma GTX 1650. O game rodou com os gráficos no alto a 60 FPS sem quedas. Não tive problemas envolvendo bugs e nem travamentos.
Conclusão
Fobia – St. Dinfna Hotel é um dos melhores survival horrors de 2022. Considerando que este foi o primeiro grande projeto da Pulsatrix Studios, é elogiável o nível de qualidade entregue nesta obra. O game é uma carta de amor a este gênero tão amado, e os desenvolvedores deixam claro em cada canto da obra, o quão apaixonados eles são. Embora tenha alguns problemas aqui e ali e não tenha uma história extremamente memorável, Fobia – St. Dinfna Hotel consegue entregar uma aventura interessante, cativante e principalmente, aterrorizante.
* Chave cedida para análise no PC