Industria é um Shooter em primeira pessoa lançado no ano passado para PC, mas que agora chega à nova geração de consoles. Com um punhado de inspirações, como Bioshock, Half-Life e até Resident Evil, o game foi desenvolvido pelo Estúdio Bleakmill e a HeadUp Games.
Apesar das inspirações bem conhecidas, Industria se esforça para criar uma identidade própria e, entre erros e acertos, conseguiu esse objetivo. Lançado em 9 de junho deste ano, está disponível, além dos PC’s, para Xbox Series S|X e Playstation 5.
História
Industria tem um enredo bem misterioso e envolvente em seu início. A história, assim como o restante do jogo de uma maneira geral, tinha tudo para ser sensacional, mas, infelizmente, cai de rendimento conforme avançamos.
Você joga como Nora, uma trabalhadora da empresa Atlas, com sede em Berlim Oriental, em 1989, pouco antes do fim da Guerra Fria. Seu marido e colega de trabalho, Walter Rebel, desaparece e você parte para encontrá-lo.
Contudo, ao seguir os passos de Walter, ela acaba viajando no tempo e no espaço para uma cidade fictícia que parece ter sido palco de uma guerra entre homens e máquinas. Aqui parece não haver mais ninguém no mundo, além de uma pessoa que vai ajudar Nora a tentar encontrar seu marido.

A história, o arco narrativo e a escrita são bons, não só com as palavras, mas também no que diz respeito à narrativa visual. É possível ver o esforço em usar o design dos níveis de uma maneira que interage com os acontecimentos. As paisagens jogam entre a realidade, um mundo fictício e um estranho mundo de “sonhos”.
Entretanto, o problema do enredo de Industria está em sua conclusão. O encerramento é vago, insatisfatório e repentino. Há uma dezena de perguntas sem respostas. Mesmo pensando em uma possível continuação no futuro, faltou coerência da desenvolvedora para trabalhar melhor a história e encerrar deixando um fio para o futuro, mas encerrando um ciclo.
Alguns diálogos são bem escritos, emocionantes e adoráveis, especialmente os de Brent, o homem perdido do mundo pós-guerra. Mas, infelizmente faltou desenvolvimento e conclusão, o que é uma pena.
O Jogo
Em Industria, logo no início você tem uma escolha importante, se vai se aventurar no modo normal ou no hardcore. O hardcore torna o jogo bem mais difícil, limitando ainda mais a quantidade de munição e itens de cura no caminho, bem ao estilo survival horror.
Falando nisso, neste modo não há salvamento automático, será necessário encontrar máquinas de escrever, assim como em Resident Evil, para guardar seu progresso. Mas elas não são muito comuns e ficam bem afastadas uma das outras.

Industria trabalha como um FPS “padrão”, você pode andar, correr e agachar, além das mecânicas de combate. Este é dividido em duas vertentes, as armas, que não são muitas: Uma pistola, uma Metralhadora, uma Shotgun e um Rifle de Longo alcance. Além disso, há um machado para quebrar caixas e abrir portas cortando tábuas, mas que também pode ser usado para golpear os inimigos.
O início do jogo te força a usar o machado, devido à falta de armas e munição. Há também alguns puzzles para resolver, no intuito de seguir em frente, como acionar um sistema elétrico para usar um elevador ou criar uma substância que tire a ferrugem de uma porta para poder abri-la.
Isso, unido ao enredo intrigante no começo, cria uma alta expectativa no jogador, contudo, mais uma vez, Industria deixa isso se perder com o prosseguimento da história. Esses quebra-cabeças são reutilizados, e nem tantas vezes assim. É basicamente uma série de “interaja com isso e abra a porta”, sem quase nenhuma dificuldade.
Há pouca variedade de máquinas inimigas, contudo eles têm estilos de ataques diferenciados, além de belos visuais. Por exemplo, um pequeno robô que vai em sua direção para explodir, tipo um suicida, enquanto outros usam armas ou facas.
Aspectos Técnicos
Industria tem boa intenção visual, contudo o jogo fica abaixo do esperado de jogos lançados para a nova geração. Além disso, a iluminação é ruim e os efeitos de sombra são estranhos.
Industria usa de antigos artifícios, como neblina para esconder a falta de detalhes em áreas visíveis mais distantes, algumas partes do cenário muito escuras para tentar esconder falta de polimento e falhas gráficas. Contudo, é importante fazer uma menção honrosa para o visual dos inimigos robóticos.

Os efeitos sonoros e a trilha também deixam a desejar. As músicas são boas, mas ausentes demais. Não há tantos diálogos assim durante a gameplay e usar as músicas para preencher esse “vazio” teria ajudado na imersão ao jogo.
Entretanto, apesar das limitações visuais e alguns erros, o mundo de Industria é interessante. A cidade, com seus quartos abandonados, pátios e máquinas estranhas espalhadas por uma guerra que aconteceu que você nunca vê. No entanto, os verdadeiros momentos de destaque são as seções mais surreais ambientadas na misteriosa biblioteca e nos estranhos teatros.
Aliás, a trilha sonora durante esses momentos “bizarros” é emotiva e funciona para criar a tensão necessária. Enquanto isso, o trabalho de voz dos atores é excelente, a dublagem, totalmente em inglês, traz sentimento e paixão, ajudando a dar vida ao mundo. O jogo está todo legendado para o português do Brasil.
Problemas
Como já é perceptível, Industria cometeu alguns deslizes. Além do que já foi citado acima, um destaque negativo é a IA dos inimigos. A inteligência artificial praticamente não existe e faz com que todos os inimigos reajam da mesma maneira: ficam parados ou andando em círculos, e correndo para nós em linha reta quando somos avistados para atacar de perto.
Chega até ser difícil de imaginar como os humanos perderam essa guerra para Robôs tão estúpidos.
Somando isso ao fato de existir uma variedade pequena de inimigos e com a ausência total de chefes, que poderiam ser grandiosas máquinas, por exemplo, não é surpreendente que alguns possam se entediar durante o gameplay.
Um detalhe, que pode ser considerado ou não uma falha, é o curto tempo de jogo. Zerei a primeira vez em menos de 6 e horas e explorei muito o mundo, indo e voltando de locais, procurando documentos e fuçando em cada canto.
Uma segunda jogatina não deve passar de 4 horas, mas isso pode até ser “bom”, considerando a pouca variedade de coisas para se fazer em Industria. Um pequeno paradoxo imposto por essas questões.
Conclusão
Graças a um mundo totalmente dominado por máquinas, a atmosfera de Industria é opressiva. Os inimigos, apesar de poucos, são visualmente bonitos e mereciam uma IA mais digna. A jogabilidade não chega a ser um destaque, mas com certeza não atrapalha a experiência. Industria poderia ser um clássico cult, mas os vários pequenos tropeços impedem isso.
O jogo causa um sentimento de dualidade. Ele é legal, é interessante, mas parece incompleto e mal finalizado.
Sua conclusão foi muito apressada para fazer sentido, terminando tão rápido quanto começou. Sua atmosfera e enredo parecem entusiásticos, mas a jogabilidade repetitiva e história apressada podem frustrar.
Industria não é um jogo ruim, é um ótimo conceito com uma execução questionável. Espero que a desenvolvedora Bleakmil tenha oportunidade e aporte para fazer uma continuação onde o jogo realmente alcance o seu potencial.
*Chave cedida para análise