Introdução
Resident Evil 4 é um dos games mais influentes já lançados. Na época, o título de ação e survival horror revitalizou o gênero ao apresentar uma nova visão de como poderiam ser os games de terror em terceira pessoa. Embora alguns fãs não apreciem muito a nova abordagem que a franquia Resident Evil seguiu a partir do 4, o fato é que as inovações apresentadas em RE4 mudaram definitivamente o cenário nos jogos.
Pois, o jogo não apenas continuava a história da franquia. Ele conseguiu combinar elementos de survival horror e ação, de uma forma que mantinha o sentimento de suspense no ar. Entretanto, ao decorrer da campanha, o protagonista se tornava mais forte e apto a enfrentar os desafios que encontra pela frente. Além disso, o game apresenta um excelente level design, que consegue conectar vários lugares diferentes de uma forma inédita na época, sendo este um conceito que se tornou relevante para a indústria de uma forma geral. Portanto, com o recente anúncio de Resident Evil 4 Remake, resolvi retornar para este clássico e analisar o que torna esta obra tão amada e aclamada pelos fãs.
Resident Evil 4 foi desenvolvido pela Capcom e lançado no dia 11 de janeiro de 2005 exclusivamente para o Gamecube. Entretanto, nos anos seguintes, o título recebeu versões para PlayStation 2, PlayStation 3, PlayStation 4, Xbox 360, Xbox One, Zeebo, IOS, Android e PC, via Steam.
Leon e a busca por Ashley
Resident Evil 4 começa com uma narração de Leon, descrevendo os acontecimentos de RE2, e a forma que a Umbrella acabou chegando ao fim. Este é um dos primeiros aspectos que deixa a desejar em RE4, pois, vários acontecimentos citados no game, não são mostrados. Logo, fica a cargo do jogador possuir estes conhecimentos prévios ou simplesmente ignorar certas menções. Isto faz com que tenhamos a impressão que a história de Resident Evil 4 é ainda mais rasa do que aparenta, sendo este um dos aspectos que poderiam ser melhorados no futuro Remake.

A narração revela que Leon é um agente que recebeu uma missão pelo próprio presidente dos EUA. Portanto, o protagonista precisa ir até um misterioso local e resgatar a filha do Presidente, sendo que a garota foi sequestrada por motivos desconhecidos. Assim sendo, após esta pequena introdução, o game apresenta Leon em um carro com outros dois policiais indo em direção a esta misteriosa região.
Ao chegar lá, ele começa a investigar e se depara com pessoas infectadas que fazem parte de um culto chamado de Los Iluminados. Após sobrevivermos a uma emboscada feita por eles, recebemos o objetivo de descobrir o que realmente está acontecendo naquele local e salvar Ashley o mais rápido possível.
A narrativa não é o ponto forte
Resident Evil 4 não entrega uma narrativa profunda. Inclusive, pode ser considerada uma das mais rasas de toda a franquia. O game não expande os acontecimentos anteriores da série e, ao mesmo tempo, cita muitos acontecimentos importantes que ocorreram fora do jogo. Para exemplificar, um dos chefes do game é um velho parceiro de missões do Leon. Quando a batalha chega, o título tenta criar um ar de rivalidade entre os personagens, como se a luta deles fosse a conclusão de uma história que vem sendo construída a muito tempo. Porém, para o jogador, o que vemos é um embate final entre rivais que nunca conhecemos.

Além disso, a história central do jogo foca apenas em salvarmos a Ashley. Não temos desenvolvimento de nenhum personagem aqui, e dificilmente nos importaremos com o que acontece com eles. O título também propositalmente torna alguns personagens insuportáveis, para termos uma certa antipatia por eles. Por exemplo, pense em tudo o que não se deve fazer ao ser resgatado. Bem, Ashley faz tudo isso. Corre para frente dos inimigos, age de forma imatura e claro, grita “Leon Help!” a todo momento. Obviamente, pode-se dizer que isso faz sentido, considerando que ela não estava preparada para tal situação. Entretanto, mesmo com esta observação, as atitudes dela acabam irritando mais do que deveriam.
Diálogos cafonas e um senso de humor duvidoso
Resident Evil sempre foi uma série com diálogos cafonas, afinal, quem não lembra do famoso “Jill Sandwich” de RE1. Entretanto, Resident Evil 4 abusa demais deste aspecto, tornando as coisas mais “filme trash” do que deveria ser. Leon possui um senso de humor peculiar, no qual ele está sempre falando frases sarcásticas e piadinhas sem graça. E este não é o problema. A grande questão é que não temos uma história bem desenvolvida aqui e nada explica certas atitudes do protagonista do game. Logo, mesmo que as ações do Leon sejam consideradas por muitos fãs como algo incrível e “OMG, olha como ele desvia de laser realizando acrobacias do circo de soleil”, narrativamente falando, isto não faz sentido e só torna o enredo ainda mais vazio.
Além disso, o jogo abusa dos mais caricatos vilões no título, com grandes diálogos explicando como eles são do mal e querem dominar tudo. As interações do Leon com estes personagens proporcionam conversas simplesmente inacreditáveis e cafonas. Porém, admito que algumas são tão ruins que se tornam divertidas de se ver.
Survival horror, to fora. A ação chegou pra te conquistar!
Outro aspecto bastante debatido até os dias de hoje, é se Resident Evil 4 é realmente um survival horror. Particularmente, nunca senti medo jogando o game, apesar do título apresentar alguns segmentos mais voltados para o horror. Assim sendo, eu diria que RE4 é mais uma obra de suspense e ação, do que um survival horror. Pois, o fator de sobrevivência não é muito presente no jogo, já que sempre temos bastante munição em nossas mãos. Portanto, a não ser que o jogador se descuide no gerenciamento de itens, ter ervas para se curar ou munição para atirar nunca é um problema.

Além disso, a maior parte do jogo focs em lutar com os inimigos, tendo até mesmo alguns momentos absurdamente “épicos” durante as batalhas de chefe. Mas isso veio na forma do uso excessivo de quick time events durante estes segmentos mais cinemáticos. Apesar de ser um recurso bem comum na época, este aspecto envelheceu mal.
Um gameplay divertido e inovador
O maior destaque em Resident Evil 4 com certeza é a sua jogabilidade. Na época, o game representou uma grande inovação no gênero. Pois, onde antes a franquia usava o formato de câmera fixa, o título apresentou uma perspectiva em terceira pessoa. Assim, Leon pode andar, correr, atirar usando diversas armas, pular sobre alguns objetos e até mesmo executar ataques corpo a corpo nos inimigos. O jogo apresentou uma gigantesca evolução na época com seu gameplay viciante e que transportava os jogadores para aquele mundo de suspense.

Além disso, ele apresenta uma grande variedade de inimigos, como os ganados, cultistas e até mesmo criaturas que são uma evolução da infecção do vírus apresentado no jogo. Esta grande variação torna a jogabilidade ainda mais dinâmica, pois o jogador precisa se adaptar durante os confrontos e usar as armas mais eficazes sempre que possível. Por exemplo, usar granadas flash contra vilões com a infecção avançada é uma forma vantajosa de se avançar em segmentos com muitos inimigos.
Gerenciamento de armas e o mercador
O jogo apresenta a tão amada maleta, sendo que os players podem usa-lá como inventário para gerenciar as principais armas e itens de cura do game. Ao longo da aventura, encontraremos uma figura misteriosa chamada de mercador. Ele venderá armas, itens e upgrades em nossas armas em troca de tesouros que encontramos pela ilha.

Este personagem é bem marcante, justamente pelo seu ar enigmático e a forma com que ele aparece nos lugares mais inusitados. Existem até teorias de fãs, que dizem que ele e Leon são a mesma pessoa.
Portanto, ao acessarmos a loja do mercador, podemos comparar diferentes armas como pistolas, shotguns e até mesmo um lança-granada. Este sistema evidencia ainda mais como o jogo se mantêm distante do survival horror, e prefere uma abordagem mais focada na ação. Além disso, ao decorrer da história, a loja vai adicionando mais e mais armas, o que faz com que o jogador sinta que o protagonista está ficando cada vez mais forte e preparado para enfrentar os inimigos.
Trilha sonora
Resident Evil 4 apresenta uma excelente trilha sonora. O game sabe apresentar faixas que combinam com os acontecimentos apresentados em tela e nos cenários que exploramos. Portanto, no começo do título, ao chegarmos na vila, a obra apresenta músicas com mais suspense, deixando no ar o mistério do que o jogador encontrará pela frente. Este aspecto torna a atmosfera do game algo único e que consegue transmitir uma grandeza atmosférica que enrique a jornada ao decorrer da campanha.
Além disso, durante os segmentos mais focados na ação, o título também faz um bom trabalho ao apresentar faixas únicas e variadas, o que torna estes momentos de combate distintos, e até mesmo marcantes.
Gráfico e desempenho
Minha experiência foi no PC com uma GTX 1650. A versão do título é um relançamento em HD, com texturas melhoradas e alguns elementos do cenário retrabalhados. Embora o jogo apresenta algumas melhorias visuais em objetos especificos, como armas e itens no cenário em geral, fica evidente que esta melhoria poderia ter sido melhor. Pois, o título deixa a desejar nas texturas, sendo que principalmente no segmento do castelo, elas são borradas e não trazem uma boa representação do cenário. Além disso, neste segmento ainda, o game apresenta quedas de FPS inexplicaveis, o que mostra que a obra poderia ter tido uma melhor otimização.

Em relação ao design visual, o título faz um bom trabalho. O game apresenta localidades diversificadas, como o vilarejo com um aspecto sombrio, o castelo de forma mais macabra e até mesmo um laboratorio com criaturas. Logo, a obra fez um bom trabalho em diversificar os cenários, cada um com sua propria atmosfera e desafios. Além disso, o design dos personagens é muito bem feito, com destaque para Leon e os chefes.
Conclusão
Resident Evil 4 é um game que marcou uma geração. O título apresentou inovações no genero survival horror e ação que são vistas até os dias de hoje. Embora sua história poderia ser melhor, a obra acerta ao entregar uma jogabilidade viciante e divertida.
Além disso, o jogo faz um excelente trabalho ao criar uma atmosfera de suspense que irá acompanhar os jogadores por grande parte da campanha. A trilha sonora também impressiona, ao potencializar ainda mais a atmosfera criada.
Por fim, Resident Evil 4 é um dos jogos mais importantes já lançados. O título representou um marco no mundo dos games e na infancia de muitos fãs. Portanto, com o Remake anunciado para o dia 23 de março de 2023, resta torcer para que a reimaginação seja tão marcante quanto a obra original.