Um dia, você recebe a mensagem de uma prima que nunca conheceu pessoalmente. A mãe dela, sua tia, morreu, e ela te convidou para acompanhar os preparativos do enterro. Desde já, você se depara com personagens intrigantes, criaturas assustadoras e fantasmas do passado te atormentado. Este é o início de Scarlet Hollow, uma visual novel que te instiga pela atmosfera assustadora e diálogos bem escritos.
Scarlet Hollow é o primeiro jogo da Black Tabby Games. Escrito por Abby Howard e Tony Howard-Arias, o game está disponível em early access na Steam. Os três primeiros episódios são jogáveis no PC.
Terror, mas com carinho
À primeira vista, Scarlet Hollow não é um jogo de terror comum, pois não é como The Quarry ou Resident Evil. Pois, o game demora a chegar na parte aterrorizante. Em suma, devo ter levado algumas horas de exploração e diálogos para finalmente encontrar algo que considerasse “assustador”.
Do mesmo modo, o jogo se segura na relação interpessoal dos personagens para então explorar seu lado mais creepy. Você é prima de Tabitha Scarlet, que acabou de perder a mãe. Vocês não se falam há anos, mas, mesmo assim, ela te chama para o funeral de Pearlanne Scarlet.
Portanto, é seu objetivo descobrir o que acontece na cidadezinha de Scarlet Hollow. A Holler, como os habitantes a chamam, é conhecida por suas minas de carvão. Sua família, os Scarlet, possui uma mansão no topo de uma montanha, que impossivelmente ainda se mantém de pé. Tabitha mora lá, e convida você a passar sua semana ali antes do enterro.
A Mansão Scarlet em ruínas está disponível para explorar, assim como a cidadezinha. E é assim que você parte em busca de aventuras e mistérios. O desenrolar do primeiro episódio é bem lento. Contudo, é a paciência que faz você aproveitar tudo o que Scarlet Hollow tem a oferecer.
Conforme as linhas de diálogos passam, mais enigmas aparecem ao seu redor. De minas abandonadas até uma caça fantasmas, tudo parece ser possível em Scarlet Hollow. E, ao contrário de outras histórias, o jogo não traz isso de maneira confusa. Os Howards entregam um texto conciso, afiado e, acima de tudo, muito divertido.
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Personagens deliciosamente cativantes
Tabitha é insuportavelmente chata. É resoluta, fria e obtusa. Stella é divertida, inteligente e muito animada. Kaneeka é sensata, apavorada com a ideia de deixar sua família e cética.
Foi com essas três personagens que passei grande parte da minha aventura em Scarlet Hollow. Com Stella e Kaneeka, me aventurei em uma mina abandonada. Com Stella, aprendi mais sobre criptídeos da região e comecei a caminhar para um relacionamento. Por outro lado, Tabitha não se mostrou receptiva ao discutir seus traumas.
Além dessas três, outros personagens incríveis também fazem parte do elenco diverso do jogo. Sybil é a idosa esotérica que vende chá. Avery é não binário e divertidíssimo de se ter por perto. Duke é um fazendeiro marrento que te acompanha por parte do primeiro episódio. Oscar é o bibliotecário da cidade que está sempre disposto a ajudar.
Na página do Kickstarter do jogo, Abby Howard promete escolhas de diálogos que permitem diferenças gritantes em diversos momentos do jogo. Como resultado, você tem 5 interesses românticos e o jeito de se aproximar de cada um é completamente diferente dos outros.
Em Scarlet Hollow, os personagens não só gostam ou desgostam de você. Eles se tornam amigos, rivais, adversários, melhores amigos ou simplesmente conhecidos da cidade. Em síntese, os relacionamentos no jogo importam mais do que é deixado mostrar.
Ambientação e gráficos
Scarlet Hollow é uma visual novel, portanto, os gráficos não devem chamar a atenção do jogador à primeira vista. Contudo, os desenhos feitos à mão por Abby Howard trazem o gamer para a atmosfera sombria e abandonada que a cidade passa.
Os tons do jogo são em sépia, mas não é nada que canse após horas de jogatina. Tudo é amarelado, como se Holler fosse velha, fora de lugar no tempo e espaço. Apesar de uma personagem ser youtuber, seus arredores são antigos. Nada de tecnológico chegou por ali nas últimas décadas.
Não tem como falar de outra forma: a caracterização dos personagens é linda. Cada um é unicamente desenhado, com expressões diferentes para momentos diversos do jogo. Os desenhos interagem com os backgrounds, se unindo a eles da melhor maneira possível.
E, ao contrário de diversas outras visual novels, as personagens trocam de roupa a cada episódio! Não são roupas idênticas umas às outras, já que cada personagem tem sua personalidade e se veste à sua maneira. É um carinho muito grande que os produtores têm para com o jogo.
Vale a pena?
Em early access na Steam, Scarlet Hollow possui apenas três episódios liberados. O primeiro episódio, inclusive, está de graça. A previsão para o quarto episódio é que chegue em outubro, antes ou depois do Halloween. Separado em sete episódios (um para cada dia que passamos em Holler), o jogo faz bom uso desse método de lançamento. Os desenvolvedores sabem manter o suspense.
Se você adora visual novels e gosta de suspense, o jogo da Black Tabby é perfeito para você. Para apaixonados em histórias de fantasmas e animais mitológicos, Scarlet Hollow também é um prato cheio. O único porém aqui é que o jogo não é localizado para a nossa língua, o que pode acabar sendo um problema para a maioria dos brasileiros.
Contudo, se a língua não é uma barreira para você, eu diria que Scarlet Hollow é um dos melhores visual novels do ano. E digo mais, deve ser um dos melhores jogos de suspense/terror também.
*Chave cedida para análise