Introdução
Chegando como um furacão, Multiversus é o Brawler da Warner Bros. que mistura personagens de suas várias franquias. Assim, podemos ver quem venceria numa luta entre Batman e Steven Universo, Tom e Jerry contra o Pernalonga, e até entre o Super-Homem e Salsicha.
Um jogo de luta com crossover entre personagens de diversas mídias não é novidade, com o famosos Smash Bros. da Nintendo tendo criado esta fórmula a mais de duas décadas. Especialmente nesta era onde o MCU é um sucesso, e as pessoas parecem ávidas por consumir este tipo de experiência, misturando seus personagens favoritos. Os números que Multiversus alcançou pouco depois de seu lançamento apenas confirmam essa ideia. Só na primeira semana, ele já bateu 150 mil jogadores simultâneos na steam, um número e tanto.
Pois bem, estive entre estes jogadores, e tenho algumas coisas a falar sobre este jogo, que provavelmente continuará a ser assunto por muitos meses pela frente.
O beta aberto já está disponível na Playstation, Xbox, Steam e Epic, desde o dia 19 de julho, desenvolvido pela Warner Bros Games, e totalmente de graça para jogar.
Heróis VS Cartoons
A jogabilidade básica de Multiversus segue a fórmula dos Brawlers à risca. Portanto, temos um jogo de luta de no máximo disputado em arenas pequenas, onde o objetivo não é zerar o HP do oponente, mas jogá-lo para fora da tela. Por isso, os personagens não têm uma barra de vida tradicional, como em jogos estilo Street Fighter ou Mortal Kombat. No lugar, cada golpe que o personagem leva aumenta a potência com que ele é arremessado para longe, indicado pelo número embaixo dele. Assim, um personagem com apenas 10 de dano vai ser apenas empurrado para o lado com as pancadas, enquanto um com 150 voa igual cobrança de pênalti em campeonato de futebol amador. Passando dos limites da tela, o personagem perde uma vida, mas volta para o centro da arena com 0 de dano, pronto para voltar para a porradaria.
Existem três modalidades de jogo, 1 contra 1, duplas, e Todos contra Todos, com quatro personagens. Multiversus tenta se destacar de outros jogos do gênero ao focar no modo de jogo entre duplas. Neste modo, você e mais um jogador competem contra outra dupla. Cada dupla tem quatro vidas, gastas quando alguém é jogado para fora da tela. Esse foco também guiou as habilidades dos personagens.
Algo importante para um jogo de luta é a sensação das pancadas, e o jogo acerta bem neste ponto. Tanto os golpes normais, quanto os especiais, têm um bom peso em suas animações, e dão aquela boa sensação de poder.
A explosão que aparece quando alguém é jogado para fora da arena também tem uma sensação boa, em especial pelo fato de você poder personalizar o efeito que dá. Assim, mesmo que a explosão base não te agrade, você pode conseguir uma melhor.
Ajudando seu Parceiro
Cada personagem tem um papel diferente, identificado como Pugilista, Assassino, Tanque, Mago e Suporte. Eles têm acesso a três habilidades especiais, com efeitos e tempos de espera diferentes. Muitas dessas habilidades servem para bater em seu oponente, mas outras focam mais em ajudar você e sua dupla. Já no tutorial, o jogo deixa claro a importância do trabalho em equipe ao nos ensinar sobre o poder do Cachorrena, personagem original do jogo. Ele consegue criar uma corda que o liga a seu parceiro, podendo puxá-lo a qualquer momento. Isso permite que sua dupla jogue de forma mais agressiva, até pulando para fora da arena atrás de algum oponente, com a certeza de que você o salvará de uma queda fatal (ou esperança, nunca sabemos se o jogador do outro lado sabe o que está fazendo).
No entanto, esse tipo de habilidade não é exclusiva a personagens de suporte. Até mesmo lutadores, como a Garnet do Steven Universo ou o Batman, têm habilidades focadas em auxiliar seu parceiro. No caso do Batman, ele pode jogar uma bomba de fumaça, que desacelera inimigos e melhora a esquiva do seu time.
O trabalho em equipe também deve ser levado em conta na preparação para a luta. Antes de uma partida, além de escolher um personagem, também escolhemos as melhorias, que afetam ambos os jogadores, e concedem um segundo bônus se ambos usarem a mesma habilidade. Esta é uma mecânica bastante interessante, já que é uma camada a mais de estratégia para duplas que querem se tornar mais competitivas.
Audiovisual
Com tantos personagens de origem diferente, os desenvolvedores resolveram padronizá-los em um estilo só. Assim, temos o Finn da Hora da Aventura compartilhando o mesmo tipo de traço que a Velma do Scooby-Doo. Infelizmente, o estilo que eles escolheram foi um que me desagradou. Apesar de bem colorido, os personagens têm uma textura que parecem bonecos de massinha de modelar. Essa padronização some com a individualidade de cada um, sabotando a ideia de que temos um elenco baseado em personagens de épocas e estilos totalmente diferentes.
Sobre as arenas, elas também representam lugares que encontramos nestas histórias. No momento são poucas, mas nenhuma delas é muito interessante. Falta ainda criar alguma arena que seja realmente memorável, e digna de algum comentário mais profundo. Elas funcionam bem, e têm até algumas “gimmicks” que as diferenciam, como a Batcaverna ter uma revoada de morcegos em certos momentos, mas nada o suficiente que te distraia do combate.
Na parte da música, o jogo faz um ótimo trabalho em trazer arranjos de músicas conhecidas destes universos. Da mesma forma que as arenas, as músicas são funcionais, mas não empolgam.
Universo Expandido Warner
Multiversus foi certamente uma surpresa. Essa ideia de colocar personagens de diferentes filmes e desenhos para lutar, é uma que sempre empolga. Porém, nem sempre é algo que dá tão certo. Final de 2021 tivemos o Brawler da Nickelodeon, com a mesmíssima proposta de Multiversus, só que ao invés de responder à pergunta “Superman Vs Salsicha, quem vence?” a pergunta era “Bob Esponja Vs Avatar Korra”. Por mais divertida que sejam as possibilidades, o jogo teve apenas um sucesso moderado. Para comparação, o jogo tem pouco mais de 4000 avaliações na steam, com 10 meses do seu lançamento. Enquanto isso, Multiversus já tem mais de 50 mil, e menos de um mês de vida.
Há dois fatores que ajudaram muito nesse sucesso meteórico. Primeiramente, não podemos desprezar o poder que estes personagens têm. O elenco do Multiversus, apesar de pequeno, está cheio de carinhas famosas. Afinal, é difícil encontrar alguém que não saiba quem é o Super-homem, a Mulher-Maravilha, Pernalonga ou Tom e Jerry. Estampar estes rostos em propagandas causa uma certa empolgação em qualquer, já que você reconhece quem eles são, e fica curioso para saber como uma luta entre Arya Stark e o Taz vai funcionar.
Em seguida, temos talvez o elemento mais importante de todos: é free-to-play. Poder testar um jogo sem pagar, é um grande chamariz para as pessoas que estavam levemente curiosas, mas que talvez não estivessem dispostas a gastar para isso. Isso também gera um caso de feedback positivo bem interessante, já que pessoas curiosas para testar jogam, e depois recomendam para os amigos. Aqueles que não estavam curiosos antes, acabam ouvindo tanto falar, que vão lá baixar para entender todos os memes da internet.
Monetização
Este é um tópico importante de se falar em um jogo free-to-play. Multiversus segue o modelo padrão para jogos desse tipo.
Isto é, você começa com apenas quatro personagens liberados, e pode comprar mais com moedas de ouro, ou a moeda premium, chamada de Gleamium. O ritmo que você recebe moedas de ouro com partidas e completando missões diárias, garante que você pode comprar alguém novo a cada poucas partidas. Para liberar o Salsicha, por exemplo, bastam só 5 partidas para isso. Considerando que cada personagem pode subir de nível para liberar novas habilidades, você pode jogar o suficiente para aprender como um personagem funciona, e já tem dinheiro para comprar outro em seguida. Uma boa forma de incentivar a testar cada personagem, e dar a sensação de progresso.
A principal monetização do jogo está em seu passe de batalha. Ele funciona como qualquer outro, as batalhas te dão pontos no passe, que vai liberando recompensas a cada novo nível. Há a trilha gratuita e a premium, que custa 300 gleamium, trazendo Skins, ícones e emotes exclusivos. Atualmente, o menor pacote de moedas que você pode comprar é o de 450 por R$14,99. Portanto, um passe de batalha para a temporada toda te custará isso, e ainda sobram alguns trocados para comprar outras coisas, como um ícone de usuário ou uma voz de narrador nova. Personagens também podem ser comprados usando Gleamium, mas estes já são um tanto caros. O Salsicha, por exemplo, custa 700 Gleamiums, que você consegue por R$29,99 comprando o pacote de 1000.
Ou seja, o jogo até faz um bom trabalho em recompensar os jogadores Free-to-Play, dando um bom conteúdo sem precisar pagar nada. Para aqueles que querem uma coisa a mais, o passe de batalha já é o suficiente. Portanto, ele evita a monetização predatória de outros jogos (especialmente os que tem Immortal no nome…).
Conclusão
Multiversus chegou com tudo e pegou todos de surpresa com seu estrondoso sucesso. Não é à toa também, já que um jogo deste porte, com um elenco tão famoso, e free-to-play ainda por cima, é raro de se ver.
O foco nas lutas em duplas significa que o jogo tem um espaço próprio, que não precisa competir com outros do gênero, como um Smash Bros. da Nintendo. Este foco traz uma camada estratégica a mais que vai agradar bastante aqueles que gostam de construir equipes e planejar as melhores combinações de personagem. Para os casuais, há muito o que se aproveitar aqui, cumprindo as missões diárias e evoluindo cada personagem.
A única parte que me desagradou foi o visual dos personagens, que, para mim, perderam a individualidade, ficando com um estilo padronizado. Isso afeta a sensação de termos personagens de histórias completamente diferentes, e separados no tempo em décadas.
Portanto, é um jogo fácil de se gostar, e sendo free-to-play, é mais fácil ainda de experimentar se você ainda está em dúvida. Então, não custa nada baixar para ver se te agrada.
*Chave cedida para análise