Introdução
“A humanidade acaba aqui”. Quantas vezes já ouvimos essa frase em diversos filmes, jogos e livros sobre o apocalipse? Quantas vezes nos perguntamos isso em momentos em que a humanidade extrapolou seus limites e os do planeta? Ao dar início a Dead Space, todas essas questões voltam à nossa cabeça. Como a humanidade acaba? Bom, nas mais de 20 horas de gameplay, descobri que ela termina horrivelmente.
Mesmo assim, isso não me impediu de aproveitar cada minuto que passei com o game. E vou te falar logo de cara: é um dos grandes remakes já feitos pela indústria. Nessa review, você vai descobrir o motivo disso (sem trocadilhos com a desenvolvedora do jogo).
Lançado em 27 de janeiro de 2023, Dead Space foi desenvolvido pela Motive Studios e distribuído pela EA Games. O jogo está disponível para PC (Origin, Steam e Epic), Xbox Series S|X e Playstation 5.
Novas chegadas
Antes de mais nada, é importante falar que eu nunca joguei a trilogia original de Dead Space, lançada entre 2008 e 2013. Primordialmente, sabia por cima que era um jogo de terror em terceira pessoa que se passava no espaço. Minhas informações sobre a saga terminam aqui.
Por outro lado, quando o remake foi anunciado, no início do ano passado, me animei com a ideia de jogá-lo. Gostei bastante do remake de Resident Evil 2 e me diverti com o terceiro, apesar dos problemas. Imaginei, portanto, que Dead Space seguiria na mesma linha que o clássico de survival horror.
No século XXIV, a humanidade explora novos mundos através de naves extratoras, capazes de destruir planetas inteiros em busca de recursos para a Terra. Uma dessas naves é a USG Ishimura, que, no início do game, encerra suas atividades com uma última missão: minerar o planeta Édige VII, intocado até o momento.

À primeira vista, conhecemos Isaac Clarke e a tripulação da USG Kellion. Eles estão com o destino marcado para a Ishimura, onde a companheira de Isaac, a médica Nicole Brennan, está. Não há respostas de Nicole e Isaac está desesperado para encontrá-la. Ao atracarem na Ishimura, Isaac e seus colegas entendem que algo está muito errado ali.
Imediatamente, percebo que Dead Space não terá muito a ver com Resident Evil. A atmosfera é muito mais tensa. Um arrepio percorre minha espinha conforme entro na primeira área do jogo. Logo depois, testemunho Isaac assistir parado a um amigo morrer nas mãos de uma criatura assustadora. A experiência traumatiza e, eventualmente, tenho certeza de que a jornada que não será nada parecida com o clássico da Capcom.
Tratamento intensivo

A partir daí, o jogo realmente começa. Isaac é separado de seus companheiros e deve encontrar seu caminho até eles. Nossa missão é desvendar os mistérios da USG Ishimura e descobrir o paradeiro de Nicole Brennan, além de colocar a nave para funcionar. Isaac Clarke parte sozinho em sua aventura, ao passo que tem a ajuda de Zach Hammond e Kendra Daniels.
Algo que me chamou muito a atenção em Dead Space é que ele quase não possui cutscenes longas ou muito detalhistas. Ou seja, muitas das informações do jogo são dadas através dos diálogos entre Isaac e sua equipe, e também nos textos distribuídos pelos cenários. Dessa forma, um pouco da história pode-se perder ao longo da gameplay, uma vez que a atenção do jogador pode estar em atacar os inimigos ou fugir deles.
Todavia, gostei muito da apresentação dela e das reviravoltas. A cada momento, a tensão cresce e se torna palpável. Apesar de conter alguns jump scares, nenhum está ali de graça ou apenas “para assustar”. São genuinamente feitos para aumentar a intensidade da história e deixar você cada vez mais imerso no jogo. Gosto muito de jogos de terror em terceira pessoa que passam a mesma sensação de Dead Space: essa ideia de que estamos presos em um lugar e precisamos sair o mais rápido possível, senão morremos.
Os mistérios da Ishimura estão intrínsecos na busca de Isaac e, acabamos nos envolvendo na trama, que mistura desde seitas religiosas até a criação de criaturas bizarras por cientistas malucos. Como resultado, Dead Space entrega uma história coesa, assustadora e muito interessante.
Correção de curso

Se, assim como eu, você nunca jogou o Dead Space original, então não precisa se preocupar. O jogo é um remake que beira à perfeição, trazendo a atmosfera intensa do original, ao mesmo tempo em que traz inovações, como missões secundárias e novos meios para se alcançar um objetivo.
A jogabilidade do jogo é simples. É possível andar e correr (ainda que bem lentamente), atirar com diversas armas e dar socos e pisões. É no combate que o survival horror brilha. Ao contrário de Resident Evil, onde podemos atirar diversas vezes na cabeça do zumbi, em Dead Space é diferente. As criaturas só são mortas ao serem desmembradas, aumentando a tensão e os perigos do jogo. Ao contrário do original, em que essa tarefa era bem mais fácil, aqui as criaturas demoram um pouco mais para morrer.
A minha mira não é exatamente a das melhores, o que deixou o jogo bem complicado para mim. No entanto, não deixei de me divertir (e passar raiva) nos momentos em que diversos monstros corriam na minha direção. É preciso força de vontade, paciência e uma mira excelente para atravessar as diversas áreas assustadoramente sombrias da Ishimura.
O salvamento do jogo é feito automaticamente em cada checkpoint, mas também é possível fazê-lo em estações de salvamento. Se você jogar no normal, não encontrará muitas dificuldades. Apesar de o jogo conter um modo com mira automática, testei e não funcionou muito bem. Todavia, as armas são bastante diferenciadas entre si e, ao jogar com o Dualsense, é possível sentir como elas se comportam na mão de Isaac.
Análise de The Callisto Protocol
Obliteração iminente

A ambientação é um dos pontos mais altos neste remake. Dead Space oferece cenários perturbadores, silenciosos e cheios de sangue. A cada passo que damos no jogo, nos deixamos levar para dentro deste universo. Não há um momento em que eu não fiquei tensa durante uma passagem de sala ou andando por um corredor escuro.
Assim que Isaac entra na USG Ishimura, o jogador percebe que é um ambiente diferenciado – já um clássico dos games modernos. Da mesma forma, é interessante perceber como o tom das conversas mudam ao longo do jogo. O que antes era casual e focado, se transforma em diálogos desesperados e frustrantes.
Os efeitos de luzes do game estão de cair o queixo no Playstation 5, onde joguei. O modo qualidade traz o ray-tracing como destaque, o que torna o jogo mais insanamente bonito, apesar dos 30 FPS. Por outro lado, o modo desempenho foca nos 60 FPS e deixa o jogo levemente menos bonito (como se isso fosse possível). O jogo é competente nos dois modos.
Algo que definitivamente chama a atenção de Dead Space é sua trilha sonora. Jogando com fone de ouvido, a experiência torna-se muito mais imersiva. Ouvir os monstros à espreita, escutar os próprios passos no silêncio profundo da Ishimura e sentir o frio na barriga ao escutar um membro se decepando é incrivelmente satisfatório, para não dizer perturbador.
No entanto, em alguns momentos, presenciei alguns bugs que não chegaram a incomodar, mas eram, no mínimo, estranhos. Inimigos atravessando paredes, que não reconhecem você, que morrem e continuam girando em seu próprio eixo… clássicos assim. Uma vez, morri e o jogo não deu respawn automático, ficou na mesma tela com os inimigos parados e Isaac morto na minha frente.
Devoção letal
No início do texto, falei sobre a semelhança de Dead Space com Resident Evil. De fato, o remake da Motive Studios me lembrou bastante o remake do segundo jogo da franquia. São dois survival horrors, focados em zumbis, que se passam em um local fechado e com bastante exploração. É fácil compará-los.
Contudo, esse confronto termina aqui. Dead Space é muito mais letal, mais escárnio. É um jogo que passa a sensação de desespero e solidão de um jeito muito mais natural que Resident Evil. Antes de jogar Dead Space, considerava Resident Evil 2 Remake um dos melhores jogos refeitos. Agora, depois que passar 20 horas na Ishimura, mudo essa ideia.
Mesmo para quem não jogou o original, Dead Space se mostra novamente como uma grata surpresa no mercado de jogos, tão abarrotados com remakes e remasterizações. Extremamente bem polido no Playstation 5, mesmo com bugs citados acima, a EA e a Motive entregam um dos melhores terrores do ano, e também um dos melhores jogos de 2023.
Há rumores de que a Motive já estaria interessada em refazer o segundo jogo da franquia, lançado originalmente em 2011. Dessa forma, nos resta aguardar quais serão os planos da empresa após esse remake impecável.
A humanidade acaba na USG Ishimura, no século XXIV. Mas ela também se renova e entretém muito bem quem ainda está aqui no século XXI.