As fascinantes histórias de vampiros
Histórias de vampiros sempre são fascinantes. Desde a popularização destas criaturas das trevas, com o clássico da literatura gótica “Drácula” de Bram Stoker, estas criaturas se tornaram populares na cultura, gerando várias lendas, contos, filmes e até jogos. Vampire: The Masquerade – Coteries of New York tem a promessa de entregar um storytelling único envolvendo estas criaturas das sombras.
Alguns anos atrás, tive meu primeiro contato com o livro de Stoker e fiquei intrigado com o quão atmosférico uma leitura pode ser. Embarcar em uma narrativa com seres imortais, sedutores e cheios de mistério é algo único e são poucas obras que conseguem acertar em contar histórias sombrias e cheias de suspense. Atualmente, várias obras tentaram abordar os vampiros de sua própria maneira, gerando outras grandes narrativas, como o famoso livro “Entrevista com o Vampiro” de Anne Rice e até mesmo filmes, como a adaptação da obra literária de Bram Stoker.
Nos games, infelizmente, não temos tantas obras que se destacam ao abordarem vampiros. Claro, a franquia Castlevania, e até mesmo o subestimado Vampyr, são jogos que abordam a temática de uma maneira cativante. Entretanto, falta algo mais, obras que realmente façam justiça ao quão profundas as histórias com criaturas vampíricas podem ser. Assim sendo, enquanto o dia de uma obra-prima com vampiros não chega, temos que aceitar o que temos disponível.
Nesta semana, durante uma busca na PS Plus por algum game interessante que eu ainda não havia testado, me deparei com Vampire: The Masquerade – Coteries of New York. Curioso, decidi testar este visual novel ambientado no mundo de Vampiro: A Máscara.
Vampiro: A Máscara
O universo de Vampire: The Masquerade foi lançado originalmente como um RPG de mesa complexo que busca introduzir os jogadores em um mundo sombrio de intrigas, política e sobrenatural. Ao se aventurar no game, os players assumem o papel de vampiros de diferentes clãs que devem sobreviver em um mundo no qual eles vivem ocultos da sociedade dos humanos. Além disso, as criaturas vampíricas fazem parte de um pacto chamado de A Máscara, que dita uma série de regras que devem ser seguidas para que os mortais não descubram que existem monstros vivendo entre eles.
Como tudo que faz sucesso, eventualmente o RPG acabou sendo adaptado para os video games com o grandioso Vampire: The Masquerade- Bloodlines. A adaptação foi um grande sucesso entre os fãs da obra original, por apresentar com fidelidade o mundo sombrio cheio de intrigas e escolhas complexas. Além disso, uma sequência está sendo desenvolvida pela The Chinese Room, conhecida por jogos como Everybody’s Gone to the Rapture e Amnesia: A Machine for Pigs. Gosto bastante dos games do estúdio e estou ansioso para ver a abordagem deles em relação a esse universo. Entretanto, enquanto esse dia não chega, vamos adentrar o mundo de Vampiro: A Máscara com a narrativa apresentada em Coteries of New York.
Vampire: The Masquerade – Coteries of New York foi desenvolvido pela Draw Distance e lançado no dia 11 de dezembro de 2019 para Nintendo Switch, Xbox One, PlayStation 4 e PC.
Conhecendo o lado obscuro de Nova York
Vampire: The Masquerade – Coteries of New York é um visual novel que introduz os jogadores em uma história original no mundo de Vampiro: A Máscara. Quando o game começa, podemos escolher entre três personagens diferentes, sendo que nossa escolha irá alterar alguns diálogos e escolhas durante a campanha. Entretanto, ambos apresentam uma introdução bem similar. O protagonista se encontra em uma situação ruim e é transformado em vampiro. Logo, um representante da Máscara aparece e pede que o personagem siga suas ordens caso queira sobreviver. Neste começo, podemos abordar a situação de várias maneiras diferentes por meio da escolha de diálogo. Independente das escolhas, somos levados para o mesmo lugar: um julgamento para sermos executados. Porém, uma misteriosa vampira chamada Sophie acaba intervindo e se voluntariando para ser nossa guia neste mundo das trevas. Logo, o pedido é aceito e nossa aventura se inicia.

O game segue uma jogabilidade bem simples em que apenas escolhemos diálogos e ações durante toda a campanha. Nosso principal objetivo é criar relações com outros vampiros na cidade para podermos estabelecer contatos importantes. Pois, mesmo no mundo vampírico, existem várias hierarquias e vampiros buscando objetivos únicos de relevância e poder. O jogo deixa este aspecto dos personagens claro deste o começo, sendo que nem mesmo Sophie salvou a protagonista da morte por motivos altruístas e sim puramente egoístas. Durante a nossa jornada iremos conhecer outros personagens relevantes, incluindo uma vampira ligada em tecnologia que usa suas habilidades sobrenaturais para supostamente obter fama. Cada um destes enigmáticos vampiros tem suas próprias motivações e cabe ao jogador decidir se vai ajudá-los ou não em troca de sua lealdade.
O título consegue estabelecer muito bem este aspecto das relações durante a campanha. Pois, nossas escolhas influenciam diretamente o rumo da história e o final da jornada. Entretanto, embora o game acerte na profundidade e originalidade de cada relação, temos um número limitado de personagens.
A sede por sangue
Outro fator importante é a sede de sangue da protagonista. O jogo funciona na base de noites, onde a cada noite devemos interagir com outros vampiros, criar relações e progredir neste mundo de trevas. Entretanto, de tempos em tempos, temos que nos preocupar com a sede por sangue. É possível ignorar a sede, mas isto limitará alguns diálogos e pode fazer com que a personagem perca totalmente o controle perto de humanos e compromete a Máscara. Porém, se abusarmos do sangue quando a personagem se alimentar, ela pode se viciar e acabar novamente perdendo o controle.

Portanto, é preciso equilíbrio em relação ao consumo de sangue, para que a protagonista consiga avançar durante as noites sem muitos problemas. Quando o vampiro precisa se alimentar, o título faz um bom trabalho em dar um pequeno desenvolvimento para estes segmentos. Quando encontramos o humano que será vítima do “abraço do vampiro”, existe sempre uma conversa prévia. Isto acaba dando personalidade para os personagens que deveriam ser apenas o alimento do vampiro e às vezes até faz o jogador questionar se morder aquela pessoa realmente é a melhor opção. Este foi um fator surpreende e que realmente adiciona bastante variedade durante os diálogos na campanha.
Uma narrativa que poderia ser mais
Embora Vampire: The Masquerade – Coteries of New York tenha grandes destaques durante os desenvolvimentos de personagens, ainda existem problemas. O maior deles é que a narrativa principal é desfocada e não sabe aonde quer chegar. Durante a história criamos relações com outros vampiros e tomamos decisões que envolvem moralidade, porém, o título acaba não desenvolvendo estes fatores em arcos de personagens e os tornando realmente relevantes. Embora este mundo vampírico pareça fascinante, sombrio e único em um primeiro momento, a falta de uma real narrativa levando estes personagens para algum lugar é algo que decepciona.

Além disso, outro problema presente no título é a protagonista. Embora tenhamos várias opções de diálogos durante as conversas, não existe a real sensação que estamos moldando uma personagem. Pois, embora as escolhas supostamente tenham consequências e moldam a personalidade da protagonista, não é isso que acontece. Para exemplificar, temos vários momentos em que podemos tomar atitudes mais agressivas em conversas com outros vampiros. Inicialmente o jogo deixa claro que estas escolhas terão consequências relevantes para o rumo da história. Porém, isto acaba nunca acontecendo.
Trilha sonora
Vampire: The Masquerade – Coteries of New York apresenta uma trilha sonora de destaque inicialmente. O game apresenta faixas sombrias instrumentais que constroem muito bem a atmosfera do jogo. Entretanto, o título poderia ter mais variação neste aspecto, sendo após as primeiras duas horas, a maioria das músicas se repete por todo o jogo.
Gráficos e desempenho
Vampire: The Masquerade – Coteries of New York apresenta visuais estáticos na maior parte do tempo com um grande foco na parte artística das imagens. Entretanto, isto faz com que cada cena do jogo tenha excelentes níveis de detalhes, passando a sensação de estamos olhando para uma pintura. Além disso, o jogo acerta ao criar ambientes sombrios e com uma atmosfera gótica. Isto faz com que o jogador realmente se sinta em uma narrativa obscura e cheia de elementos sobrenaturais.
Minha experiência foi no PlayStation 5. O título é um visual novel, portanto, é bem leve e não apresentou nenhum problema de desempenho e nem travamentos. Os loadings também são bem rápidos, graças ao SSD do PS5.
Conclusão
Vampire: The Masquerade – Coteries of New York apresenta personagens interessantes e cheios de personalidade. Entretanto, eles estão inseridos em uma campanha que não sabe para onde ir e a maioria deles acaba sendo sub desenvolvido, deixando o sentimento de que poderiam ter sido melhor aproveitados. Além disso, o jogo falha com o protagonista ao não entregar um arco de personagem que torna nossas decisões durante a campanha realmente relevantes. Mesmo com estes problemas, Vampire: The Masquerade – Coteries of New York me conquistou com sua atmosfera sombria e gótica, sendo uma jornada que recomendo apesar de tudo, desde que o título esteja em promoção ou dentro de algum serviço de assinatura como a PS Plus.
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