Introdução
BROK the InvestiGator já começa mostrando serviço. Você inicia o jogo em uma sala em chamas e, obviamente, sai clicando por aí para descobrir como sair dela. Então, Brok exclama “Eu preciso sair daqui!” e você ganha a liberdade de socar a porta até escapar para o outro lado. Em menos de cinco minutos, o game já deixa explícito seu gênero: uma mistura divertida de point-and-click com beat ’em up.
Lançado em agosto de 2022 para PCs (Steam), BROK the InvestiGator ganha sua versão para consoles no dia 1 de março de 2023. O jogo está disponível para Playstation 4 e 5, sistemas Xbox e Nintendo Switch. Desenvolvido e publicado pela COWCAT, o game conta com apenas um único desenvolvedor, sendo apenas seu segundo jogo.
História
Em primeiro lugar, o jogo conta a história do detetive particular Brok, um jacaré antropomorfo, e seu enteado, um adolescente gato (no caso, ele é um animal mesmo), Graff. Ambos vivem em um futuro distópico onde os robôs assumiram a maioria das tarefas, como a polícia, e a sociedade se divide em duas. Os Slumers são “cidadãos de segunda classe” que vivem nas favelas da cidade e precisam sobreviver às tiranias dos Drumers, que, por outro lado, moram afastados em um domo protegido pelos robôs e com qualidade de vida elevada.
Traumatizado por um evento envolvendo a mãe de Graff, Brok tenta deixar a vida nos eixos para dar o melhor ao enteado. Enquanto isso, Graff tenta lidar com a vida adolescente e com os exames da escola, que podem dar a ele uma vida no domo. Com uma ligação estranha, Brok parte no primeiro capítulo para resolver um caso que envolve drogas, depressão e falsidade ideológica.
A partir daí, a história entrelaça esses dois seres que, apesar de morarem juntos, pouco têm em comum. Nos seis capítulos, compartilhamos os dois pontos de vista, e o jogo nos faz mergulhar no trauma desses dois personagens mais do que eu inicialmente pensei que faria. A história é bem construída e, mesmo que os plot twists sejam manjados, não deixa de ser interessante vê-los no conjunto da obra.
Point ’em up
À primeira vista, a ideia de juntar dois gêneros tão distintos parece um tanto quanto bizarra, para dizer o mínimo. Contudo, BROK the InvestiGator aproveita muito bem dessa miscelânea para entreter e dar um respiro de ar fresco para ambos os gêneros tão clássicos da indústria.
Do ponto de vista de um point-and-click, o game oferece inicialmente puzzles fáceis, mas que aumentam sua dificuldade ao longo do jogo. Alguns objetos, como um controle remoto que desliga câmeras, parecem tão explícitos para resolvê-los que podem ser chamados de “Solução para o puzzle 23”.
Como dito anteriormente, jogamos com Brok e Graff, e podemos trocar entre os personagens para avançar com a história. No entanto, isso não funciona muito bem, uma vez que é possível terminar uma parte do capítulo apenas com Graff e sequer voltar ao Brok no decorrer.
Se por acaso você estiver preso em uma parte, é possível comprar dicas para avançar com “ads”, que ficam nos celulares dos personagens. Esses ads estão escondidos no cenário de diversas maneiras e, por si só, é um passatempo divertido. Na procura deles, você pode descobrir a resposta para o puzzle ou juntá-los para garantir mais ajuda no futuro.
O jogo está em português brasileiro, algo que sempre gosto de elogiar, principalmente se o game foca na narrativa. No entanto, alguns erros gramaticais acontecem e algumas palavras, como “sigh” (suspiro, em inglês), não foram traduzidas. Mesmo assim, não é nada que irá atrapalhar a gameplay.
Beat-and-click
BROK the InvestiGator é um jogo point-and-click com elementos de beat ’em up. Brok e Graff lutam muito bem e podem cair no soco quando necessário. Aqui, é possível atacar utilizando apenas o clique do mouse ou um aperto de botão, além de alguns ataques especiais. A maioria das lutas envolve os robôs do domo, mas isso não significa que você não irá lutar com outras pessoas e até policiais.
Em muitos momentos da história, Brok ou Graff terão duas opções para resolver seus problemas: com inteligência ou violência. O caminho mais simples é sempre o da violência, mas não quer dizer que ele é o mais fácil. No primeiro capítulo, pensei que poderia lidar com um ratão do esgoto do Domo apenas com socos, mas descobri da pior maneira possível que não era a resposta certa para aquele momento. Com os meus ads, descobri uma maneira de enganá-los e, assim, passar pelo caminho que estava obstruído.
Conforme lutamos, ganhamos XP e aumentamos o nível de Brok. Conseguimos escolher se queremos mais vida ou aumentar a força do ataque, que está disponível para Brok quando ele alcança mais de 50% de saúde. Assim, o termômetro vai aumentar gradualmente, permitindo que Brok lance um ataque em inimigos.
Um dos tópicos principais do game é evitar a violência e como ela nos traumatiza. Portanto, o jogo sempre te indica que a melhor solução não é distribuir socos a esmo. Apesar de as lutas serem bem divertidas, não mostram todo seu potencial.
Arte e ambientação
BROK the InvestiGator é bastante bonito. Os designs dos animais antropomorfos me lembraram desenhos antigos dos anos 1990, que nunca perderam o charme com o passar dos anos. Os sprites dos personagens são um pouco repetitivos, mas não atrapalham durante o gameplay. Já os robôs, que tanto nos perseguem ao longo da trama, oferecem um design pacato, mas direto. Suas linhas são diferentes das dos antropomorfos, que são bem mais humanas.
Sendo um game situado em uma distopia, a ambientação faz jus ao tema. Os Slums são amarelados, mal-acabados e destruídos pela ação de vândalos e do tempo. O próprio apartamento de Brok e Graff é datado, cheio de louças sem lavar e roupas espalhadas pelo lugar. Os prédios não são nada convidativos e demonstram como aquela parte da sociedade está largada às traças.
Por outro lado, o Domo é um lugar que claramente está acima de tudo. As cores dos cenários são mais azuladas, nada está estragado, e a única parte que lembra os Slums é o esgoto. As reações de Brok sobre o local também engrandecem o cenário.
Vale a pena?
Ao olharmos o todo, BROK the InvestiGator parece um experimento de Fabrice Breton, desenvolvedor francês do jogo. Felizmente, é um experimento que deu certo. É um game original de verdade. A mistura de point-and-click, beat ’em up em lateral com visual novel pode parecer, assim como a própria trama do jogo, vir de um futuro distópico. Esses gêneros podem se confundir no começo, mas entregaram aqui uma história interessante e coesa.
Tudo isso é muito impressionante justamente por vir de uma desenvolvedora com um homem só. Mesmo com algumas falhas na parte do combate, ainda é um jogo muito divertido e com um grande fator de replay por conta das múltiplas escolhas. Ao final do jogo, fiquei me perguntando se posso ter mais desse mundo e desses personagens.
Brok pode não ser o cara certo para o trabalho, mas certamente são suas boas intenções e seu coração que me manteve até o final do jogo.
*Chave cedida para análise