Introdução
Bramble: The Mountain King é um conto de fadas, porém não do jeito que você esperaria.
Quando pensamos em contos de fadas, o que nos vêm à mente são belas histórias, cheias de seres fantásticos e magia, geralmente atreladas a uma lição de moral, e que terminam com um reconfortante “E Viveram Felizes Para Sempre”.
No entanto, esta é uma visão relativamente moderna dessas histórias, já que muitas foram “Disneyficadas”, tornadas mais leves para serem contadas para crianças modernas. Se você já leu a versão dos Irmãos Grimm, a mais próxima do original que temos hoje em dia, deve saber como elas são cheias de momentos perturbadores.
Dessa forma, Bramble: The Mountain King é um conto de fadas baseado no folclore nórdico, que resgata o original objetivo dessas histórias: aterrorizar crianças para elas obedecerem aos pais.
Lançado no dia 27 de abril de 2023, e desenvolvido pelo Dimfrost Studio, o jogo está disponível para Steam, Playstation 4 e 5, Xbox e Nintendo Switch.
Era uma vez, Numa Casinha no meio do nada…
Em uma noite enluarada, dois irmãos dormiam em sua casa na beira da floresta. Então, assustado, o irmão mais novo acorda de um pesadelo, e busca o conforto de sua irmã mais velha. Para sua surpresa, ele encontra sua cama vazia. A irmã mais velha saiu pela janela do quarto em direção à floresta. Sabendo dos perigos desse pequeno passeio, ele sai em busca da irmã.
Não demora muito para os irmãos se encontrarem, e começarem uma pequena aventura na floresta. No caminho, eles encontram seres mágicos e fantásticos, como fadas e gnomos, além de brincar com os animaizinhos da floresta. Ainda sobra um tempo para fazer amizade com o Rei Sapo da lagoa, e viajar montado em um porco-espinho, e para o menino encontrar a “Pedra da Coragem”, sua única arma nesse mundo.
Tudo ia bem, até que a noite cai, e o clima de conto de fadas da Disney é substituído pelos Irmãos Grimm. A partir daí, essa pequena aventura se transforma num pesadelo, com a irmã raptada por um Troll da floresta, e o irmão viajando pela floresta tentando salvá-la.
No caminho, ele encontrará diversas criaturas do folclore nórdico, todos relacionados a alguma tragédia ou história macabra. Temos o demônio metamorfo, que se transforma em uma bela mulher para atrair homens para a morte na floresta. Ainda temos a velha que traz a praga e a morte para todos os vilarejos que ela visita. Não podemos esquecer também do Rei da Montanha, que dá nome ao jogo.
Por fim, esta não é uma história que termina com um “Feliz para sempre”. Mas sim com um “E viveram os restos do dia no psicólogo para tratar os traumas”.
Pouco jogo…
A jogabilidade de Bramble pode ser descrita como extremamente simples. Os cenários são lineares, com alguns colecionáveis escondidos em algum canto escuro. Assim, boa parte do jogo é apenas andar para a frente em um cenário 3D, e eventualmente ter de resolver algum pequeno puzzle para avançar. A grande maioria se resume a encontrar uma alavanca ou apoio que nos deixe seguir em frente. Existe apenas um puzzle de combinação de símbolos no meio do jogo que exige um pouco mais de raciocínio. De resto, temos apenas sessões de plataforma, e algumas de Stealth, onde devemos passar escondidos dos monstros.
A parte mais interessante da jogabilidade está em seus chefões. Novamente, a maioria é um puzzle mais elaborado, onde devemos descobrir como criar aberturas para usar nossa “Pedra da Coragem”.
Quem já jogou Inside ou Little Nightmares vai reconhecer o tipo de jogo que Bramble é. Porém, ele é mais simples do que os jogos que o inspiraram, sem ter nenhuma parte mecanicamente interessante. No entanto, não é pelo desafio que jogamos essa obra, mas sim por seu mundo e seus monstros.
..Mas Muito Folclore
Se dependesse apenas de sua jogabilidade e puzzles, Bramble não chamaria muita atenção, já que não faz nada de muito excitante. Porém, todo o resto compensa, e mais do que supera.
A viagem de Bramble é uma cheia de horrores e magia. Em um momento, estamos no meio da floresta brincando de esconde-esconde com os bebês gnomos. De repente, estamos chafurdando em tripas de porco, na cabana de um Troll açougueiro, tentando não chamar atenção enquanto ele estripa estes animais. Ao escapar desse pesadelo, vamos parar em um lago com um demônio que controla as pessoas com suas músicas, e temos de escapar dele também.
São esses cenários que elevam a experiência em Bramble. Entrar em uma nova cena traz uma nova criatura e um novo cenário. O jogo não é muito longo, com cerca de 5 horas de duração, mas os desenvolvedores usaram muito bem esse tempo. Afinal, apesar de não ter muita variedade na jogabilidade, é incrível a quantidade de cenários e criaturas que encontramos.
Quanto a isso, temos aqui que fazer uma distinção entre um jogo ter uma boa direção de arte e ter bons gráficos. A direção de arte em Bramble é ótima, com cada lugar tendo a própria identidade visual, e muitos monstros sendo bem diferentes do que já vimos. No entanto, os gráficos do jogo não são tão bons assim, com texturas de baixa resolução e personagens com movimentos travados e expressões vazias. Como a câmera do jogo está sempre longe do personagem, fica fácil de ignorar esses problemas e apenas aproveitar a cena.
Completando o pacote, a trilha sonora é toda orquestrada, e constrói bem o clima das cenas, variando desde a “floresta encantada das fadas e duende” até a “casa dos horrores do demônio sanguinário”.
Conclusão
Bramble: The Mountain King é uma ótima experiência visual e narrativa. Embora tenha mecânicas bem simples, é o mundo que vende o jogo, e por isso, eu digo que este jogo vale a pena. Seus monstros, cenários e todo o folclore envolvido, me prenderam de uma forma que eu queria muito saber o que mais ia acontecer. Grande variação de cenários e monstros colaboram para manter a experiência sempre interessante nas suas pouco mais de 5 horas de jogo.
Apesar de não ser exatamente um jogo de terror, no sentido de dar medo ou te assustar, ele ainda é cheio de momentos fortes, com bastante morte e sofrimento no caminho. Assim que você abre o jogo, vem um aviso de que esta obra contém cenas de suicídio, infanticídio, desmembramentos, e outras coisas desagradáveis. Fazendo dele, então, um jogo não recomendado para os fracos de estômago.
Por fim, Bramble é um autêntico conto de fadas clássicos, desenhado para aterrorizar crianças e ensiná-las a não fugir de casa à noite. Ainda mais quando se mora na beira de uma floresta mágica.
*Chave cedida para análise