Introdução
Nioh é um RPG de ação, ao estilo Soulslike, desenvolvido pela Team Ninja e publicado pela Koei Tecmo. Lançado originalmente para PS4 e PCs em 2017, chega com uma versão remasterizada para PS5, junto de sua continuação, no dia 5 de fevereiro de 2021. Esta remasterização, além de trazer os dois jogos da série junto de todas as suas DLCs, também apresenta melhorias gráficas e de desempenho para tirar proveito do hardware da nova geração.
Aqui, vamos falar apenas do primeiro jogo. Em outro artigo falaremos da continuação e suas diferenças.
Narrativa Meio Histórico
Nesta história, acompanhamos as aventuras de um soldado Irlandês chamado William, detentor de um espírito-guardião chamado Saorise, que concedeu imortalidade a ele.
No início, é narrado sobre a existência de uma pedra mágica chamada Amrita, descoberta no Japão, e que concede poderes aos homens. Porém, esta também é responsável em transformar as pessoas em Yokais, seres metade humano e metade demônio do folclore japonês. Por isso, diferentes países estão em guerra para pôr as mãos nestas pedras.
William também se envolverá nestas batalhas, mas por outros motivos. Este sendo que seu espírito-guardião foi roubado dele por um feiticeiro tatuado, que usará este espírito para tomar o controle de toda a Amrita no Japão. Portanto, nosso personagem também viaja para o Japão, na tentativa de recuperar seu espírito-guardião.
Chegando lá, ele se envolve com a política dos lordes locais, que também estão em guerra entre si, além de batalharem contra exércitos de Yokai que começaram a aparecer em grandes números. É assim que nos alistamos ao Ieyasu Tokugawa, que futuramente se tornará o primeiro Shogum do Japão, em sua batalha contra o clã Toyotomi, apoiado pelo feiticeiro que roubou seu espírito.
Assim, acompanhamos a missão de William em viajar pelo país, derrotando poderosos Yokais e buscando pistas do paradeiro do feiticeiro para se reunir novamente a seus espírito-guardião.
Dark Ninja Souls
Nioh vem para responder à pergunta: E se Dark Souls tivesse um combate rápido e um sistema de loot ao estilo Diablo? Portanto, a resposta é um jogo com um combate extremamente satisfatório, e um sistema que te incentiva a analisar todos os equipamentos que você consegue. Assim, você está sempre se fortalecendo e vendo os números na tela ficando maiores.

Os jogos da From Software servem como grande inspiração para Nioh em diversas características. Primeiramente, seu combate é bastante punitivo e baseado em stamina, chamada de Ki aqui. Também temos o fato de ganharmos pontos de experiência, chamada de amrita, que devem ser usados em checkpoints para comprar status. Finalmente, ao morrer perdemos toda a sua amrita, mas pode recuperá-la se tocar no ponto da região onde morremos.
Não é só “SoulsLike”
Porém, ele acrescenta muito mais mecânica em cima desta base. Em relação ao combate, você pode alternar entre 3 poses de combate: alta, média e baixa. Cada pose modifica a forma como o seu personagem de comporta ao utilizar a arma selecionada. Geralmente, a pose alta usa golpes mais lentos e poderosos que drenam muito ki do oponente. Já os golpes baixos são muito mais rápidos e ainda te dá mais agilidade na esquiva, porém são golpes muito mais fracos. A pose média balanceia o dano com a velocidade e fortalece o poder do seu bloqueio.
Similarmente a Dark Souls, você está o tempo todo gerenciando sua stamina, gasta para atacar, esquivar e defender. Porém, aqui também temos uma mecânica de recuperação ativa do Ki. Ao atacar, pequenas luzes azuis circundam seu personagem, e que te dão uma chance de recuperar parte do Ki gasto se apertar o botão R1 no momento certo, o que é chamado de explosão de Ki. Além disso, esta explosão pode ativar alguns efeitos especiais, se liberados na árvore de habilidade.
Apesar de parecer uma mecânica simples, isso adiciona mais uma camada de habilidade exigida do jogador. Por isso, você presta muito mais atenção ao combate e às oportunidades de recuperar seu Ki e se manter na vantagem contra os oponentes.
Combate Variado
Para combater, você tem uma grande seleção de armas japonesas para escolher. Dentre as escolhas, temos as clássicas como katanas e lanças, mas também temos armas um pouco mais estranhas, como Kusarigama (uma corrente com uma foice na ponta) e tonfas (cassetetes ninjas).
Além do combate direto, você pode utilizar apetrechos ninjas e magias Onmyo. Do lado ninja, você pode utilizar armas de arremesso, como kunais e Shurikens, mas também colocar armadilhas e bombas de fumaça. Já as magias Onmyo são talismãs que te permitem conjurar algum feitiço, seja atirar uma bola de fogo, aumentar sua defesa elemental, ou imbuir sua arma com algum elemento.

Fora os equipamentos, você também pode escolher um espírito-guardião para equipar. Estes espíritos dão diferentes bônus ao personagem, e ainda permitem que você use um modo especial, onde você incorpora ele e fica super poderoso e imortal por alguns segundos. Ótimo para derrotar bosses ou monstros mais difíceis.
No entanto, Nioh não se contenta em apenas te dar muitas opções para personalizar seu personagem, mas também construiu todo um sistema de evolução que te incentiva a experimentar essas opções.
Incentivo à Experimentação
Todas as armas que você encontra têm um nível de afinidade, que é basicamente uma barra de experiência para a arma. Conforme você luta e mata monstros, sua arma ganha experiência e vai se fortalecendo até um limite. Você evoluir uma arma, também evolui o seu nível de proficiência com armas, o que te dá pontos de habilidade. Você pode usar estes pontos para liberar novos golpes e efeitos em suas armas, sendo que cada tipo de arma tem sua própria árvore. Porém, quando uma arma chega ao nível de afinidade máximo, você deixa de evoluir seus pontos de habilidade.
Outro efeito positivo deste sistema, é que você pode trocar armas de afinidade máxima por uma quantidade grande de amrita nos santuários. Portanto, é de seu interesse não continuar com a mesma arma por muito tempo, pois o jogo te recompensa com uma evolução mais rápida do que se você ficar com a mesma arma o jogo todo.
Além das armas, tanto as magias Onmyo quanto os apetrechos ninjas dão pontos de habilidade para suas respectivas árvores, liberando novos itens e ainda mais opções de personalização. Assim, você não tem medo de mudar seu estilo de combate e se adaptar às diferentes situações do jogo, pois só tem a ganhar fazendo isso.
Diablo Ninja
Similarmente ao combate, o sistema de loot de Nioh também incentiva a experimentação e variedade. Como Diablo, os equipamentos trazem atributos de ataque e defesa, mas também vários bônus ao status do seu personagem. Assim, uma arma pode ter mais ataque que a outra, mas também trazer bônus a sua vida, à velocidade de recuperação de ki, e ainda pode aumentar a quantidade de Amrita ganho.
Aqui, os inimigos soltam novos equipamentos com uma grande frequência. Cada equipamento tem um nível e uma raridade associados. Itens de raridade mais alta apresentam mais habilidades bônus. Rapidamente sua mochila está cheia de itens para escolher e decidir a sua build.
Contudo, a maioria destes itens não será útil para equipar, mas você pode trocá-los por amrita nos santuários, ou desmontar no ferreiro para conseguir materiais. Pois, Nioh também tem um sistema de crafting, onde você pode fortalecer equipamentos antigos, ou tentar criar algum novo. Porém, as missões te dão uma quantidade tão grande de itens novos, que esta é uma área do jogo que fica redundante e pouco aproveitada.
Muito Item é bom, mas também é ruim
Este sistema tem um lado bom, mas um lado ruim também. Em relação ao lado bom, é uma forma de você constantemente ter novas armas para experimentar. A falta de um sistema de upgrades das armas também te deixa dependente de encontrar armas mais fortes através de Loot dos monstros, e incentiva o “desapego” a uma arma específica. Em um Dark Souls, por exemplo, você dificilmente vai querer trocar a sua espada +10 por outra nova, depois de tantas horas com ela.
Assim, todas as mecânicas te guiam a ir trocando de armas e testando novos estilos. Consequentemente, o combate de Nioh é pouco cansativo, pois se torna menos repetitivo.
Porém, o lado ruim deste sistema é que não há um incentivo para você realmente escolher os equipamentos que você usará. Como o jogo é dividido em missões, cada uma tendo um level associado, elas também balanceiam suas recompensas para este nível. Portanto, qualquer que seja o equipamento que você tenha agora, na próxima missão ele já estará obsoleto. Assim, não há razão para se preocupar com os bônus de um equipamento novo, ele só precisa ter mais defesa ou ataque que o anterior.
Durante meu tempo com o jogo, escolhi sempre as armas e armaduras que o jogo indicava serem mais fortes, sem me importar muito com os bônus. No máximo, me preocupava em colocar algum acessório com resistência específica.
Narrativa meio confusa também
É até incrível dizer isso, mas a história de Nioh é levemente baseada em fatos reais. Apesar de todos os seus elementos sobrenaturais, como a presença de espíritos e monstros do folclore japonês, seus personagens e acontecimentos seguem a história do navegador inglês William Adams. Assim como em Nioh, ele também se tornou um importante conselheiro do futuro Shogum do japão e o ajudou a conseguir a vitória.
Apesar de sua premissa interessante, de misturar acontecimentos históricos com fantasia, a narrativa de Nioh acaba ficando enrolada ao tentar alcançar um meio-termo entre uma narrativa direta e algo mais aberto a interpretação como no caso de Dark Souls.
O jogo é separado em missões, principais e secundárias, em que cada uma se passa em um cenário diferente, onde você enfrenta diversos monstros, pode resolver algum puzzle simples, e no final derrota um boss. Cada missão tem um texto e uma cutscene no começo e no fim, explicando o que você vai fazer, e o desfecho da missão. Apesar disso, muita coisa fica omissa da narrativa, que acaba se tornando muito confusa.

Mesmo com esses trechos de narrativa, as missões parecem desconexas umas das outras, e o que você vai fazer ali nunca fica realmente claro. Você só sabe que tem de matar um Yokai no final.
Igualmente, as cutscenes não ajudam, pois, apesar de muito curtas, apresentam diversos personagens diferentes que te jogam de uma situação para outra de forma muito abrupta e sem muita explicação. Como dito acima, a história se baseia em acontecimentos reais, então interagimos com diversas “celebridades” do período. Porém, são muitos nomes para lembrar, e personagens que aparecem alguns segundos de cada vez, e dizem poucas palavras.
Nioh & Yokais
A arte de Nioh também tem um lado positivo e um negativo. Pelo lado positivo, o jogo é muito bonito e apresenta cenários cheios de detalhes e cantos a se explorar. O design dos monstros é bem legal, e são bem diferentes do que estamos acostumados a ver em RPGs SoulsLike, por serem baseados no folclore japonês. Outro ponto a se elogiar é o design de armas e armaduras para seu personagem, que apresenta uma boa variedade de armaduras samurais, robes de clérigos e uniformes ninja.
Os espíritos-guardiões são um show à parte. Todos eles são baseados em divindades desta mitologia, e são muito bem trabalhados e passam um ar de serem criaturas divinas.
Porém, há pouca variedade nos monstros. Infelizmente, mesmo após dezenas de horas de jogo, estava enfrentando a mesma variação de monstros da primeira fase, só que usando uma arma diferente, ou tendo outra cor.
Já a trilha sonora do jogo apresenta uma boa variação de temas, sendo que estas músicas geralmente ficam reservadas para os bosses. Geralmente, eles tendem para o lado épico, mas são poucas as músicas que realmente empolgaram.
A Remasterização e nova geração
A versão que analisei recebeu melhorias para a nova geração, e testei no Playstation 5. Nesta versão, você pode escolher entre 3 modos gráficos: Qualidade, 4K ou 120 fps. O modo qualidade é o padrão e apresenta um gráfico com uma qualidade levemente superior ao 4K, que sacrifica alguns detalhes gráficos, como a qualidade de sombras e texturas à distância, para entregar uma resolução melhor. Já o modo 120 fps oferece uma resolução mais baixa para entregar 120 quadros por segundo.

Porém, o grande diferencial desta edição é o tempo de Loading. Chega a ser inacreditável o quão rápido este jogo carrega, pois ele leva pouco menos de 2 segundos para carregar. Assim, o tempo entre você morrer e voltar para o último checkpoint é quase nulo, o que diminui bastante a frustração das mortes. Em comparação, a versão de PS4 demora quase 20 segundos em cada loading.
Conclusão
Nioh é um ótimo jogo ao estilo SoulsLike, que não se contetou em apenas repetir a fórmula, e acrescentou diversos detalhes que o destacam do resto. O seu sistema de afinidade das armas, e os equipamentos estilo Diablo, te incentivam a experimentar todos os tipos de arma, e a constantemente trocá-las, deixando o combate sempre novo e nunca repetitivo.
Esta versão para PS5 está linda graficamente, e apresenta um Loading quase instantâneo, o que aprimora muito a experiência. Os dias de ficar navegando na internet do celular enquanto espera o Loading ficaram no passado.
O design dos monstros é muito legal, e toda a ambientação baseada no período do Japão medieval são bem diferentes e apresentam muitos cenários bonitos e variados.
Infelizmente, sua história é bastante confusa e contada de um jeito estranho, sendo a parte mais fraca do jogo. Muito personagens com poucas falas e acontecimentos mau-explicados me impediram de me aprofundar mais do que eu desejava neste mundo.
Para encerrar, Nioh é um jogo com um combate viciante e desafiador, que testará suas habilidades a todo momento, mas que é muito recompensador quando você supera estes desafios. Portanto, é um jogo essencial para fãs do gênero SoulsLike.
* Chave cedida para análise