Introdução
Antes de a tecnologia ser acessível como é hoje, amigos e amigas se reuniam na casa de alguém do grupo com um livro em mãos (ou até mesmo sem) e muita criatividade. Então, eles deixavam suas preocupações de lado e viajavam para um mundo completamente diferente, com novos rostos e personalidades. TaleSpire é o resultado da evolução no mundo de Pen and Paper Role-Playing Game.
Conforme a tecnologia avançou, novas maneiras de jogar RPG nasceram, principalmente em video-games. TaleSpire é mais um desses meios, cujo objetivo é dar recursos para quem deseja criar seu mundo como sempre imaginou. Com acesso antecipado na Steam desde 15 de abril, a obra é uma ótima surpresa.
O que é Role-Playing Game?
Em primeiro lugar, devemos nos atentar a tradução da sigla RPG. Ou seja, é um jogo de interpretação de papéis, sejam eles quais forem. Desde o momento em que você assume o controle de uma personagem que possui traços únicos de personalidade e pode tomar decisões, já pode ser considerado RPG.
Porém, mesmo que Life is Strange se encaixe nessa descrição, ninguém o coloca na categoria. Querendo ou não, controlamos Max e tomamos diversas decisões que mudam a história da obra. Usando o final do jogo como exemplo, a decisão feita afeta diretamente na personalidade da sua Max. Diferentes decisões resultam em perfis distintos.
Contudo, vemos apenas jogos que possuem evolução de habilidades e atributos classificados como RPG. Às vezes, jogos que você nem pode tomar decisões narrativas e seu herói serve apenas como suporte são rotulados como RPG, enquanto outros que realmente são interpretativos, não.
Dito isso, surgiram discussões na internet recentemente sobre o que poderia ser considerado um “RPG de verdade” ou não devido à popularização das streams de RPG’s de mesa. Isso pelo fato dessas streams serem, em sua maioria, bem produzidas em questões audiovisuais. Um lado defendia que tudo isso é mais um show do que um jogo, enquanto o outro dizia que o nível da produção não interfere no fato de ainda ser um game.
É ai que TaleSpire entra. Ele surge como uma alternativa de produzir campanhas e aventuras de RPG muito ricas no visual. Com a promessa de criar lindos cenários para os combates ou para uma cena de taverna, o título veio para inspirar.

Alguns problemas de adesão
Com o intuito de ser uma opção mais livre para a criação dos mestres em suas campanhas e aventuras, TaleSpire exige esforço de seu usuário. Criar uma cena aqui leva tempo, requer dedicação e criatividade.
É importante realçar que usar esse software requer muito tempo. Não apenas é preciso aprender a controlar a câmera como também memorizar como rotacionar objetos e controlar a altura de construção. Mesmo eu que tenho experiência com programas 3D tive conflitos e dificuldades para acostumar.
Isto é, o próprio objetivo da obra pode ser um revés para sua adesão. Visto que a maior parte do público de RPG de mesa (ou RPG de papel e caneta, como preferir) é mais velho e já trabalham, tornando encontrar tempo livre para usar o TaleSpire antes dos jogos uma tarefa difícil.
Para fechar, um outro desafio da obra é a acessibilidade. Considerando o cenário brasileiro, pagar cinquenta reais em uma plataforma para jogar RPG pode não ser o pior dos cenários, o maior obstáculo é com relação aos computadores, já que quanto maior o cenário, mais o software exige do computador.
Além disso, conseguir montar um grupo que jogue RPG já não é uma tarefa fácil, devido às obrigações de cada um. Imagine encontrar um grupo que todos consigam utilizar a obra sem empecilhos, pode ser mais difícil ainda.
Ou seja, por mais legal que a ideia seja, introduzir ela no mercado pode não ser a tarefa mais fácil. Ainda mais quando todos precisam comprar o produto. Talvez uma opção que o preço seja maior e só o mestre precise ter, enquanto os jogadores entram por uma versão gratuita, amenizasse o problema.

Riqueza e beleza
Por outro lado, a riqueza de detalhes e imersão que uma sessão de jogo pode alcançar utilizando o TaleSpire é enorme. Não existe no mercado algum concorrente direto com ele. Outras plataformas para jogar RPG’s conversam com a obra, como, por exemplo, o Roll20 ou Foundry VTT.
Afinal, você pode construir toda uma cidade, uma vila ou então somente um castelo, com o interior muito bem detalhado. Isso, além de ajudar o mestre a ter ideias, enriquece o mundo e conta novas histórias. Na vila, os aventureiros podem entrar (ou não) em cada casa, que terá uma história diferente da outra.
Em questão de masmorras e outros perigos é onde TaleSpire se destaca. Com um arsenal de miniaturas bem interessante logo no lançamento, é possível criar diversos tipos de dungeons, de vários tamanhos e infestadas de armadilhas, tesouros e outros detalhes, todos bonitos e bem feitos.
Para jogadores que não estão acostumados a utilizar somente da imaginação para jogar, o título em questão ajuda muito na ambientação. Cada jogador consegue controlar sua miniatura, o mestre do jogo consegue controlar o mundo, abrindo portas e animando NPC’s. É tudo responsivo, de uma maneira que não vimos antes.

Construindo
Por fim, o lugar onde os mestres mais gastarão seu tempo: na construção. Gastei cerca de 5h para construir uma pequena taverna de dois andares. Óbvio que eu estava aprendendo a usar o software, mas acho legal registrar.
No início foi caótico lidar com os comandos de movimentação na cena, pois são diferentes do que eu estava acostumado com programas de modelagem 3D. Talvez fosse mais legal que os comandos fossem parecidos, afinal, TaleSpire não é muito diferente deles.
Mas, não se assuste, eles são simples. Embora no início tenha sido difícil, ao final dessas 5h eu já estava bem familiarizado e o trabalho fluiu bem. Outro problema que tive foram algumas desconexões com os servidores, mas logo voltaram e não perdi nenhum progresso.
As opções para construir são grandes e separadas em três: cenários, miniaturas e detalhes. Dentro dessas três divisões base, existem outras categorias que separam muito bem cada objeto. O menu foi muito bem construído e ajuda o usuário a não se perder.
Por exemplo, você pode ir na primeira sessão e selecionar taverna e montar sua base. Na terceira sessão você tem os itens que vão construir o interior dessa taverna, como mesas, comidas e caixas. Por fim, a terceira sessão possui as miniaturas para você povoar sua taverna.
Ainda que a quantidade de modelos para usar não seja de grande variedade, é bom lembrar que a obra acabou de sair em acesso antecipado e tem recebido updates frequentemente. Agora é questão de tempo para que as opções sejam inúmeras.

Conclusão
Primeiramente, o jogo ainda não está pronto e está longe de estar. Existem diversos recursos que podem ser implementados para melhorar a experiência e não precisar de algo além da própria obra para jogar. Não existe opção de montar uma ficha de personagem dentro de TaleSpire, talvez nunca exista ou talvez seja o próximo update, ou então uma opção de mostrar uma imagem para os jogadores, como há no Roll20. Mas, mesmo assim, ainda é uma experiência divertida e empolgante utilizar esse software para suas sessões. Já é possível criar diversas cenas épicas e lindas, o potencial que TaleSpide pode atingir é enorme. Para amantes de RPG de mesa, o título dá água na boca e recomendo a todos que deem uma chance, seja jogar ou então construir algo, te garanto que será uma experiência diferente!
* Chave cedida para análise