Uma franquia em queda
Resident Evil uma vez alcançou o topo. Com o grande sucesso de RE4 em 2005, a franquia iniciou um ritmo de ascensão que se estendeu por muitos anos. Mesmo com a preocupação de antigos fãs em torno do rumo que a série estava tomando, a Capcom decidiu que o grande foco seria na ação, tornando assim Resident Evil uma franquia blockbuster. Tivemos um gostinho disso com RE5, que teve um foco bem maior nos combates e menos no horror. Mesmo assim, o game conseguiu ter uma recepção boa entre os fãs, por expandir de uma forma significativa a história principal da franquia.
Neste meio tempo, também houve alguns spin-offs de sucesso, como Resident Evil Revelations, sendo este um dos meus jogos favoritos. Portanto, com a série cada vez mais em alta, a desenvolvedora decidiu que era hora de fazer o maior e mais grandioso game da franquia, Resident Evil 6. Com isto, tínhamos produtores dizendo que o game seria o maior e mais ambicioso da série, entregando uma mistura perfeita entre ação e horror. Basicamente, tudo o que os fãs queriam. No entanto, chegou o dia, 12 de novembro de 2012 e RE6 foi um fracasso…
O começo do fim
Resident Evil 6 recebeu notas baixas entre os fãs e a crítica. Logo, a grande aposta da Capcom, de que este game seria o maior da série, logo foi por aguá abaixo, tornando o futuro da franquia incerto. Após este lançamento catastrófico, que não atingiu nem as estimativas de vendas da desenvolvedora, tivemos um tempo de silêncio da série.
Alguns anos depois, mais precisamento no dia 21 de junho de 2016, foi lançado Umbrella Corps, um jogo multiplayer de qualidade questionável. O título atingiu um total de 38% de aprovação no Metacritic, se tornando o título com a pior avaliação da série. Logo, para muitos, inclusive o redator que vos fala, Resident Evil havia seguido o caminho de Silent Hill, e sumiria por um bom tempo. Felizmente, todos estávamos errados.
Resident Evil 7 e a volta do survival horror
Embora a ação tenha sido um sucesso para RE4, a verdade é que este caminho não estava mais dando certo. Portanto, existiam dois caminhos possíveis, o esquecimento ou uma reinvenção total do que realmente torna RE um jogo amado pelos fãs. Assim sendo, para a surpresa de todos, durante e E3 de 2017, foi apresentado o primeiro teaser de Resident Evil 7. Agora em uma perspectiva em primeira pessoa, o game prometia voltar às raízes do survival horror e levar os jogadores em uma experiência de terror imersiva.
É importante dizer que neste mesmo período, estava sendo desenvolvida a RE Engine. Está era uma Engine inédita criada durante o desenvolvimento de Resident Evil 7 e tinha a promessa de apresentar visuais impactantes e mais próximos do fotorrealismo. Foi assim que, no dia 27 de janeiro de 2017, RE7 foi lançado para Xbox One, PlayStation 4 e PC. E foi neste dia, que Resident Evil renasceu das cinzas.
A busca por Mia
Resident Evil 7 começa com o protagonista, Ethan Winters, recebendo um misterioso e-mail de sua esposa Mia. Ela havia desaparecido por anos após ter ido em um trabalho de babá. Entretanto, Ethan, recebeu um novo e-mail dizendo que se ele recebesse notícias dela, deveria se manter afastado. Seguindo o exemplo de todo marido que recebe noticias estranhas e misteriosas de sua esposa, ele decide ir sozinho até o Arizona, local que ela supostamente faria este trabalho.

Chegando lá, começamos a explorar o local e nos deparamos com coisas estranhas. Animais mortos, barulhos estranhos no ambiente e temos a sensação imediata de que algo está errado. Após caminhar um pouco, ele consegue entrar em uma grande casa e começa a procurar pela Mia. Durante este segmento de exploração, encontramos algumas pistas do que aconteceu anteriormente ali, como por exemplo, uma fita com a filmagem de um grupo de caçadores de fantasmas, que se aventurou na casa. Ao assistirmos à filmagem, fica claro que as coisas não acabaram muito bem para aquelas pessoas. Pois, elas foram atacadas por um homem misterioso.
Assim sendo, depois de uma longa exploração e resolvermos alguns puzzles, encontramos Mia presa em uma cela no porão. Após a libertarmos, ela fala coisas estranhas e sem sentido, como se esperasse que algo acontecesse. E bom, acontece, pois, em determinado momento ela some e quando reaparece, assume a forma de uma criatura e nos ataca com uma faca. Após lutarmos contra ela, temos o objetivo de escapar da casa. Entretanto, os planos de Ethan são frustrados quando somos capturados por Jack, o chefe da família Baker. E é a partir daí que a luta do protagonista começa.
Um verdadeiro horror de sobrevivência
O grande acerto de Resident Evil 7 é trazer a franquia novamente para as boas garras do horror. Diferente dos games anteriores que priorizavam a ação, aqui temos uma obra que é um survival horror primeiro. Portanto, temos muitos ambientes escuros, fechados e claustrofóbicos, sendo esta a característica que define a casa dos Baker. Um local apertado, sujo e que ainda possui a presença de criaturas formadas por mofo. Além disso, temos um acesso muito limitado a recursos e armas, tornando a tarefa de sobreviver extremamente desafiadora, mesmo para os já experientes neste gênero.

Resident Evil 7 traz de volta aquele sentimento presente em RE1, de estarmos em um perigo imerso e sem muito com o que nos defender. Ethan não é um super soldado que sai dando voadora nos inimigos como se fosse o Homem Aranha. Ele é uma pessoa normal, que mal sabe atirar direito. Isso torna a jornada dele no game ainda mais imersiva e assustadora, e isto é potencializado ainda mais graças à perspectiva em primeira pessoa. Este elemento foi um dos grandes acertos do título, que consegue deixar os jogadores com pavor, temor e, ao mesmo tempo, nos intrigar ao ponto de ter a coragem de seguir em frente, fornecendo gradualmente mais armas para podermos lutar.
Uma história com personagens cativantes, com exceção do protagonista
Resident Evil apresenta um excelente elenco de personagens. Jack, o perseguidor principal do game é ameaçador e consegue transmitir pavor aos jogadores durante o game. Ele nos segue de maneira incansável, destrói paredes e não importa o quanto lutemos, ele sempre volta. Além disso, os outros membros da familia Baker também estão infectados e cada um deles apresenta uma caracteristica única que será usada contra Ethan em perseguições ou batalhas. Por isso, durante a nossa jornada em RE7, exploraremos vários cantos da casa em busca de itens específicos para avançar e teremos que lidar com os residentes, seja usando de furtividade e “recuadas estratégicas” ou nossas armas.

Durante a história, iremos descobrir como eles foram infectados e qual a força maior por trás desta tragédia. Assim sendo, o game faz um bom trabalho adicionando camadas de profundidade nestes personagens, o que os torna interessantes e, ao mesmo tempo, ameaçadores.
Porém, o mesmo não pode ser dito do protagonista.
Ethan possui poucas falas de desenvolvimento durante a campanha. Sempre que ele fala alguma coisa é reagindo a algum acontecimento. Ele xinga quando dá de cara com os inimigos ou fala em cenas especificas apenas para que o outro personagem explique algo. Portanto, fica evidente que o protagonista poderia ter recebido um melhor desenvolvimento na história.
Aliás, falando na narrativa, o jogo faz um excelente trabalho para que o jogador junte as peças e descubra as coisas sozinho. O título apresenta os já conhecidos documentos. Logo, ao decorrer da exploração e busca por recursos, encontraremos informações que expandem a história e a tornam ainda mais rica.
A jogabilidade foca na imersão e no horror
Como foi dito anteriormente, RE7 apresenta uma perspectiva em primeira pessoa. Logo, Ethan pode andar, correr, se defender com as mãos, atirar usando pistolas, espingardas e até mesmo usar um lança chama. Quando o jogo começa, não temos muito com o que nos defender além de um canivete. Entretanto, na medida que avançamos na história, o protagonista vai encontrando novas armas e ficando mais preparado para os perigos que enfrentará. Similarmente, os jogadores também vão se tornando mais confiantes e aptos para bater de frente com os monstros. Este aspecto transmite um excelente sentimento de satisfação, pois realmente nos sentimos mais fortes e com um sentimento recompensador de termos finalmente derrotado aquele vilão que nos perseguiu por tanto tempo.

Falando em recursos, outro aspecto que precisa ser mencionado são as salas seguras. Em alguns cenários do game, os inimigos não podem nos atacar e podemos usar este espaço para gerenciar nossos itens. Dessa forma, temos acesso a um baú no qual podemos guardar itens e colocar no inventário o que será necessário no momento. Também é possível usar compostos químicos para criar munição e cura. Entretanto, temos que encontrar pólvora e ervas pelo cenário para fazer a mistura química. Estas salas seguras são algo que sempre estiveram presentes nos games clássicos de RE, e foi um toque especial elas terem voltado em Resident Evil 7.
Trilha sonora
Resident Evil 7 é um game que prioriza os sons ambientes. Portanto, temos um grande destaque aqui no som de madeiras rangindo, monstros emergindo das sombras e até mesmo dos disparos das nossas armas. Estes elementos foram construídos de uma maneira extremamente convincente, transmitindo uma grande imersão ao jogador. Além disso, esse silencio aumenta a tensão, pois não temos certeza do que irá aparecer na nossa frente e muitas vezes podemos ser enganados pelos sons.
A trilha sonora é presente em alguns momentos específicos, como lutas de chefes. A sala segura também é um local que introduz uma faixa característica marcante, sendo este um elemento que também está presente nos jogos clássicos.
Gráfico e desempenho
Resident Evil 7 apresenta visuais realistas e bem variados. Por mais que a maior parte do jogo se passe dentro de uma casa, cada um dos comodos que visitamos são muito bem detalhados. Desse modo, encontraremos salas, cozinhas, quartos e até mesmo um porão sujo. Estes locais são cheios de objetos que transmitem o aspecto sujo da ambientação. Ambientes escuros também se mostram muito presentes na obra, o que aumenta a tensão e o sentimento de horror. É importante frisar que RE7 foi o primeiro título a usar a RE Engine, sendo que este foi um aspecto que se destacou no game, tornando esta a Engine padrão para os games seguintes da Capcom.

Em relação ao desempenho, joguei no PC, com uma GTX 1650. O game é bem otimizado e rodou a mais de 60 FPS com os gráficos no alto. Além disso, não tive nenhum problema envolvendo bugs ou travamentos e os loadings também são rápidos.
Conclusão
Resident Evil 7 é uma obra-prima. Mais do que isso, o game trouxe de volta tudo que os fãs de Resident Evil queriam, uma jornada aterrorizante e imersiva, que transmite a verdadeira essência de um survival horror.