Introdução
Muitos anos atrás, eu comprei meu primeiro computador, numa época em que a emulação ainda iniciava sua trajetória. Por isso, recebi com toda a felicidade um CD gravado por um amigo: coletânea de jogos de NEO GEO. Minha felicidade era grande. Afinal, quem viveu a era dos fliperamas, sabe como era difícil ter acesso à biblioteca do console da SNK.
Ainda deslumbrado com a possibilidade de jogar os títulos não vistos por mim na era do lançamento, pulei os tradicionais King of Fighters, Aero Fighters, Metal Slug e parti para os nomes desconhecidos. Ali, logo no início da lista havia um jogo com nome pequeno e um print interessante: Breakers. Configurei o controle (que era conectado pela porta da impressora), joguei e me apaixonei.
Depois de jogar várias fichas, fiquei me perguntando o que faltou para esse jogo chegar aos fliperamas brasileiros. O jogo tinha muito a oferecer e rivalizava direto com os grandes da época em qualidade e tudo. Para piorar, o game não teve port para os consoles que costumavam receber versões de jogos do arcade. Por essa razão, a série Breakers atingiu o status de cult: jogo que não fez sucesso estrondoso na época, mas conseguiu uma quantidade de fãs fiéis.
Entretanto, o destino nos reservou uma grata surpresa. A QUByte Interactive, nos trouxe uma remasterização dos dois títulos da série: Breakers e Breakers Revenge. Assim, quem não pôde jogar na época, agora vai. E sem precisar pagar fichas por partidas.
Breakers Collection chega quebrando tudo em PlayStation 5, Nintendo Switch, PlayStation 4, Xbox One, Microsoft Windows, Xbox Series X e Series S.
Os Breakers
Breakers foi lançado para a plataforma de arcade NEO GEO em 17 de dezembro de 1996. Versões caseiras foram lançadas para o console de cartucho NEO GEO em 21 de março de 1997 e para o NEO GEO CD em 25 de abril de 1997. Em seguida, a atualização chamada de Breakers Revenge foi lançada exclusivamente para os fliperamas em 3 de julho de 1998.
Importante a mencionar é que a série Breakers pertence a Visco Corporation e não à SNK. Provavelmente isso dificultou ports para SEGA Saturn e Playstation na época. Os consoles que geralmente recebiam versões caseiras dos jogos da grande dos arcades.
Há poucas diferenças entre um título e outro, que se resume ao balanceamento e um personagem a mais: Saizo Tobikage. Além de que em Revenger, podemos utilizar o último chefe. Por essa razão, vamos nos referir aqui aos dois jogos como se fossem apenas um: Breakers.
Hoje, Breakers pode parecer simples. Porém, ele seguia a fórmula de sucesso de jogos de luta nos anos 90 e com um toque único que lhe permitia se diferenciar do resto. Por ser lançado para NEO GEO, contava com o sistema de quatro botões: dois socos e dois chutes. Havia algo inovador na época e que se consagrou melhor no Street Fighter Ex Plus desenvolvido pela ARIKA: cancelar golpes especiais em super especiais. Evidentemente, ficou ofuscado pela falta de visibilidade de Breakers, mas temos que reconhecer que a Visco fizera antes.
Breakers possuía algo ideal para jogos de luta: fácil de aprender e difícil de dominar. Pois, não havia muitos golpes secretos ou comandos complexos, muito menos mecânicas absurdas. Entretanto, trabalhava bem o básico para apenas pôr a ficha e se divertir.
Efeito Breakers
Como dito anteriormente, Breakers utilizou a fórmula básica dos jogos de luta, mas de forma excelente. Isso se revela nos gráficos, arte e som. A começar pela arte que por si só é sensacional e bonita até hoje. Sprites grandes e coloridos, lembrando que estamos nos referindo a um trabalho feito nos anos 90. Sobre sua arte, podemos conferir na seção de extras. Caso o jogador tenha “preguiça” de vasculhar essa opção, basta terminar a partida, pois verá uma imagem bem trabalhada do personagem vencedor.
A música também possui seu charme combinando com a dinâmica das lutas, que são bem agitadas. Mas o destaque vai para os efeitos sonoros que marcam muito bem. Os sons dos golpes, falas dos personagens e do narrador são outro destaque. Por todas essas questões, fica difícil entender como o jogo não foi melhor aproveitado na época, já que contemplava tudo o que um fliperama pedia.
A coleção Breakers
O trabalho realizado pela QUByte Interactive merece todo o mérito. Apesar de, à primeira vista, parecer apenas uma emulação, o jogador recebe um port de qualidade. Começando pela resposta dos controles. Para quem já joga fighting games, vai perceber que Breakers possui uma resposta ótima, algo que em emulação pura e simples sofre prejuízo. Porém, os desenvolvedores trabalharam bem nesta parte.
O modo treino possui diversas ferramentas para praticar e aprender os comandos do jogo. Temos até a descrição das hitboxes para que os jogadores tenham ideia de como determinado ataque funciona. Além disso, possui uma descrição detalhada de dano para o player avaliar se vale à pena o custo benefício de alguma ação.
Para os iniciantes, existe a possibilidade de deixar a lista de golpes especiais visíveis na tela, da mesma forma como ficavam nas máquinas de fliperama. Dessa forma, o jogador não precisa pausar o jogo para ficar conferindo, e não atrapalha por ficar nas bordas. Porém, se o jogador usar o modo tela cheia, não poderá ter essa opção.
Falando em tela cheia, importante lembrar que o jogo inicialmente teve planejamento para TVs e monitores antigos. Por isso, a experiência pode ter problemas caso use a “tela esticada”. Mas nada que atrapalhe muito, já que esse detalhe afeta mais os jogadores competitivos.
Por último, mas não menos importante, o netcode rollback, que é, até o momento, o melhor netcode para jogos de luta. Afinal, ele faz com que a luta rode mais fluída, chegando a parecer como se estivesse jogando offline.
Os lobbys têm opção de escolher por região e servidor, facilitando para pessoas que querem evitar enfrentar adversários que moram muito longe e por consequência, acaba tendo uma luta com maior chance de lag.
O que faltou na coleção?
Apesar do excelente trabalho, Breakers deixou a desejar em alguns aspectos. Se o trabalho de conversão para as plataformas atuais foi ótimo, não podemos dizer o mesmo do conteúdo. Mesmo que tudo feito no port tenha bons resultados, faltaram coisas básicas de jogos de lutas atuais, como um modo missão ou tutorial, por exemplo. Assim, se houvesse, poderia ser mais uma forma de iniciar novos jogadores nesse título que tem muito a oferecer.
Ainda que o jogo tenha sua simplicidade, existe muita profundidade. Um modo de desafio de combos, por exemplo, ajudaria a situar novos jogadores. Entretanto, isso não tira o mérito da coleção. Apenas deixa uma sensação de algo faltando. Por outro lado, a diversão é mantida.
(re)Conheça Breakers
Breakers Collection trouxe de volta um jogo que ficou perdido no tempo. Um jogo que merecia mais do que teve. Mas isso é passado. Afinal, a QUByte Interactive trouxe a oportunidade de conhecer (ou re-conhecer) um excelente título de jogo de luta. Mesmo que você não tenha vivido a era dos fliperamas, vale conferir por ser um jogo intuitivo. Aproveite para conhecer o trabalho deste estúdio BR que trabalha para manter viva a memória de jogos que marcaram o público brasileiro.
*Análise realizada em console Playstation 4 modelo FAT com chave cedida