Introdução
Jogos sobre espaço, sejam em escalas gigantescas como o recente Starfield, ou em escala menor como Dead Space, sempre ganharam meu coração. Na maioria das vezes, são jogos contemplativos, que nos fazem olhar para nós mesmos e perceber o quão minúsculos somos na imensidão do universo. Sejam jogos de terror, exploração, ação ou aventura, jogos no espaço são incontáveis, principalmente de alguns anos para cá. Fort Solis veio para se colocar entre eles, mas será que ele tem o suficiente para se destacar como um grande jogo no espaço? É o que essa análise busca responder.
Lançado em agosto de 2023, Fort Solis está disponível para Playstation 5 e PC (Steam). O jogo foi desenvolvido pela Fallen Leaf e Black Drakkar Games, e publicado pela Dear Villagers.
História
Fort Solis conta a história de Jack Leary, um engenheiro que trabalha em Marte e está no seu último dia antes das merecidas férias. Ele é colega de Jessica Appleton, outra engenheira que é seu oposto; enquanto Jack é durão e resiliente, Jessica é mais sensível e compreensiva. Ambos fazem reparos em uma estação do Planeta Vermelho até que um alarme soa da base de mineração chamada Fort Solis. Dessa forma, um preocupado Jack vai até a base, e assim o jogo começa.
Durante 4 capítulos, testemunhamos a exploração de Jack na base de mineração enquanto ele conversa com Jessica e narra o que está acontecendo. É uma história que começa bem, mas que falha ao longo do jogo.
O objetivo principal é descobrir o que houve em Fort Solis e o motivo da base estar tão vazia. Os dois primeiros capítulos do jogo são interessantes e nos enchem de expectativas para os capítulos finais. Contudo, o final é apressado e não desenvolve o início da boa história que tivemos até ali.
Ao final do jogo, fiquei com a sensação de que deveria ter algo a mais na história. Apesar de ser um jogo curto, de pouco mais de 4 horas de duração, senti que ele poderia ter explorado um pouco mais seu universo e seus personagens. Parece que precisava de um empurrãozinho, que infelizmente não veio.
Personagens
Se a história não atingiu seu ápice, isso não é culpa das personagens do jogo. Fort Solis conta com um elenco principal estelar, que ajudam a criar a atmosfera engajante do jogo. Roger Clark, o Arthur Morgan de Red Dead Redemption 2, é Jack Leary. Julia Brown, de The Alienist, é a intérprete da Jessica; e, por fim, Troy Baker, que dispensa apresentações, é o médico Wyatt Taylor.
Como dito, Jack e Jessica são engenheiros que trabalham juntos na mesma empresa/departamento. Logo de início, dá para entender que a relação que os dois possuem é de amizade e companheirismo. São as pequenas conversas entre eles que me ganharam ao longo do primeiro capítulo do jogo. Jack sempre está brincando com Jessica, que sempre responde com um comentário sarcástico sobre a vida de Jack.
Apesar dos dois serem carismáticos, perdem um pouco desse carisma ao focarem na história principal. Falta urgência em ambos os personagens, algo que o jogo não facilita de jeito nenhum.
O personagem de Troy Baker, Wyatt, é uma espécie de sombra que fica atrás de Jack e Jessica o tempo todo. Sempre sussurrando “Vocês não sabem o que eu precisei fazer” e “Eu fiz porque precisei” e coisas assim. Honestamente, depois de um tempo, se tornam um pé no saco. Talvez, Wyatt seja o personagem mais subaproveitado do jogo.
Como resultado, o jogo se sustenta basicamente por Jack e Jessica, que roubam a cena no escopo todo.
Jogabilidade
Fort Solis tem uma jogabilidade simples e direta. Você caminha, mexe no seu mapa e investiga a base de mineração através de cliques no mouse ou apertando o X no Playstation. O jogo me lembra clássicos da Supermassive Games, como Until Dawn. Basicamente, é um point and click com gráficos de nova geração.
Muita gente pode encontrar problemas nesse tipo de jogabilidade, mas eu acho interessante e adoro jogos com essa proposta. Assim como Until Dawn, Fort Solis possui momentos de quick time events (QTE) na hora do “combate”.
Contudo, ao contrário de jogos da Supermassive, esses instantes não levam a outros finais ou perda de personagens. Jack pode simplesmente levar uma pancada no rosto e seguir com sua vida. É um pouco decepcionante não ver resultados dos seus reflexos péssimos, mas entendo as decisões dos desenvolvedores.
Outra coisa bem irritante ao longo da jornada de Jack, é que o personagem não corre em momento nenhum quando estamos no controle. Às vezes, a sensação de urgência crescia e o personagem se movia lentamente, não compreendendo o perigo que corria. Tudo isso tirou um pouco da imersão do jogo.
Gráficos e performance
Não tem como negar: Fort Solis é uma monstruosidade quando o assunto são seus gráficos. O jogo é absurdamente bonito e assustadoramente realista. Todos os personagens são bem construídos e detalhados. Em alguns momentos, é possível perceber a tensão no rosto dos personagens.
Os cenários são belamente feitos, utilizando a falta de pessoas na base de mineração para estabelecer um ambiente hostil e um tanto quanto assustador. Em certos momentos, atravessamos o Planeta Vermelho em uma tempestade de areia e tudo parece aterrorizante. De fato, é um jogo feito para mostrar a Unreal Engine 5 e sua qualidade absurda.
Porém, ao longo da jogatina, tive alguns problemas de performance e queda de frames. É um jogo pequeno, que se passa em ambientes fechados, e ainda assim, senti algumas travadas. Considerando que Jack é um personagem lento, isso tornou a jogabilidade ainda mais truncada.
Vale a pena?
Ao final das minhas quase 4 horas jogando Fort Solis, tive a impressão de que ele poderia ser mais. O jogo poderia ter mais horas para explorar a história interessante, mas capada. Ele poderia explorar mais seus personagens interessantes e ter utilizado melhor o talento de Troy Baker.
É um jogo absurdamente bonito, e acaba sendo uma amostra do que o futuro dos games nos espera graficamente. No entanto, a lentidão do personagem e a queda de frames tornaram o jogo mais truncado. Além disso, Fort Solis não possui muitas opções de acessibilidade, contando com legendas minúsculas sem a possibilidade de mudança.
Não é um jogo tão caro, considerando o preço dos jogos atualmente, mas que definitivamente não vale a pena em seu preço cheio. Fort Solis tinha muito potencial para ser um suspense inteligente e cativante, porém, perdeu-se na tentativa de ser muito menos do que ele poderia ser.
*Chave cedida para análise.